quinta-feira, 11 de julho de 2019

Comunista não comenta


Lenine dizia que a política deve dirigir-se a milhões de pessoas. E no tempo de Lenine ainda não havia televisão.

Um estudo recente, aqui já escalpelizado por Nuno Serra, confirmou que o comentário político televisivo está enviesado para a política de direita no nosso país. Para lá disso, confirma-se o que já tínhamos aqui defendido: comunista praticamente não entra, não comenta. De facto, o PCP é o partido mais discriminado no comentário político televisivo. Eu já ouvi gente do meio dizer que é porque os comunistas são previsíveis, dizem sempre as mesmas coisas anacrónicas e tal. E eu digo que previsível é o preconceito anti-comunista.

Os comunistas são a força onde é mais acentuada a discrepância entre o acerto de muitas posições, tantas vezes bem argumentadas, e a forma como essas posições são televisivamente desconsideradas. Para lá das eventuais questões de comunicação, há aqui um evidente preconceito ideológico, de classe. E nem vou falar desta vez das questões europeias, onde acertaram bem mais do que os europeísmos mais ou menos insanos que nos levaram aqui e que são absolutamente dominantes na televisão.

Dou um exemplo mais circunscrito, mas igualmente importante para uma sociedade civilizada: a ferrovia. Se há partido que tem cabalmente denunciado os resultados da política de desinvestimento na, e de desmantelamento da, CP é o PCP, como se atesta lendo uma análise sobre este assunto. Por isso, o PCP está agora em boa posição para avaliar o significado de um primeiro gesto governamental que vai ao encontro do que sempre defendeu: a reintegração da EMEF na CP.

É claro que no comentário político ninguém falará sobre isto a milhões na televisão. Afinal de contas, comunista não entra mesmo. Creio que nenhum leninista ficará surpreendido. A situação está tão má, dentro e fora da televisão, que esta grelha marxista tem hoje uma capacidade explicativa relativamente superior ao que passa por sabedoria convencional na televisão e até fora dela.
 

8 comentários:

  1. A pergunta é óbvia:
    Se vivemos num sistema capitalista, com o Estado alimentado pela iniciativa e produção privada, o que há de «enviesado para a política de direita no nosso país»?
    Será que o capitalismo se gere com sistemas de pensamento socialista?
    Será que se espera que capitalistas se empenhem em criar um sistema socialista?
    Vão substituir-se a 'revolucionários' que mais não fazem que parasitar o sistema?

    Não há enviesamento, há a pura manifestação do mundo real e a recusa do 'faz de conta que vamos a caminho de ser socialistas' que alimenta a esquerdalhada de uma ponta à outra do espectro de esquerda.

    Muito os deprime que a realidade se manifeste!!!

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  2. Integrar a EMEF na CP.
    Sempre e só ajuntar incompetências e criar polos difíceis de definir e onde garantir responsabilidades controladas.
    O que há de estratégico nisso?

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  3. A pergunta devia ser como é que é possível a televisão pública ter um faccioso como o Vitor Gonçalves a fazer de conta que faz entrevistas? Não podemos desterrá-lo outra vez para a terra do Trump? A RTP não pode ser a televisão de pseudo-economistas com o pensamento enviesado de tanta ignorância como o pulha do Gomes Ferreira.

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  4. Como é óbvio concordo com tudo já que só se constatam factos no post. Já não concordei muitas vezes com a estratégia política do PCP ao longo dos anos, o que também vem entroncar neste post. O PCP teve sempre quadros com mais qualidade que a maior parte dos governos. Nunca concordei com a posição de só ter como objectivo fazer oposição. Não que fazer oposição seja pouco digno e falo por mim que tenho sempre tendência para votar em quem presumo que vai ser oposição. Houve várias ocasiões em que o PCP podia claramente ter optado pelo caminho dos governos sombra para ir contestando medida a medida com o objectivo claro de chegar às eleições com uma proposta de governo clara. Infelizmente nunca foi esse o caminho escolhido e chegamos ao dia de hoje a fugir da geringonça como o diabo foge da cruz, com medo de ainda perder mais votos. O PCP nunca devia ter tido receio de ser governo. Sozinho ou coligado. Ganhava o PCP e sobretudo o país. Da mesma maneira que considero pouco edificante este eleitoralismo todo do Bloco no fim de legislatura que só visa distanciar-se da geringonça marcando diferenças. Quando o Bloco ganhou muito com a ruptura a este tipo de pensamento por parte de Catarina Martins. E falo nomeadamente da lei de bases da saúde com que o país tinha muito a ganhar. Ficaram muito mal as acusações de captura do governo. Quando é perfeitamente normal que um partido da dimensão do PS albergue várias sensibilidades. Não sendo a lei de bases que todos desejaríamos eram sempre muitos passos em frente em relação a quem na década de 90 chamou o SNS de doença infantil da Democracia a que urgia pôr um ponto final. Palavras de alguém inclusive entretanto condenado. E julgo inclusive que Costa não podia dar muitas mais garantias em relação às PPPs na actual legislatura. Que sendo más, também valem o que valem na saúde. O maior problema como a suborçamentação crónica nem sequer cabe na lei de bases.

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  5. Não sou velho mas tenho idade suficiente para me lembrar que todas as previsões económicas dos quadros do PCP em relação á nossa entrada na CEE / UE se revelaram acertados. Hoje em dia seriam apodados de nacionalistas de extrema-direita.
    Infelizmente a corrente é cada vez mais difícil de quebrar como o comprovam o fracasso na Grécia, França e presumível fracasso na Itália.
    No que toca ao Brexit o fracasso é por demais evidente, a vontade do povo Inglês está em vias de não ser cumprida, note-se que o "processo" já vai para 3 anos e tal , quando normalmente se demora cerca de 15 dias a decidir bombardear um país e a destrui-lo completamente.
    Os neo-liberais globalistas irão vencer e mais uma vez os povos irão sofrer.

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  6. https://www.greanvillepost.com/2018/10/06/left-anticommunism-the-unkindest-cut/

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  7. comentam pouco mas comentam, o miguel e a sua camisola preta está lá de vez em quando, de resto o mesmo se pode dizer do comentário dos pequenos partidos esses sim que nunca aparecem

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  8. Parabéns pelo post.
    Haja alguém que diga uma verdade que me parece tão evidente e que quase nunca é dita.
    Quanto ao Vitor Gonçalves e Gomes Ferreira, faço minhas as palavras do Paulo Guerra, mas a lista de outros casos é tão longa que não vou dar nomes para não esquecer ninguém, seja na política nacional, questões internacionais, economia, etc...
    A máquina da propaganda está bem montada.

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