1. O título deste post inspira-se na frase de um cartaz dos Gato Fedorento e vem ainda a propósito das recentes declarações de Cavaco Silva, que de uma penada reduz a complexa questão da sustentabilidade das pensões a um problema demográfico e, enquanto problema demográfico, a uma mera questão de natalidade (desprezando tudo o que possa ter que ver com fluxos migratórios). Para Cavaco, «o problema tem que ser resolvido através de uma política muito forte de apoio à natalidade», de «políticas que sejam capazes de convencer os casais a ter mais filhos».
2. Este menosprezo sonso pela importância das migrações para a sustentabilidade demográfica do país não é novo. Perante a sangria migratória de 2011 a 2015 (apenas comparável, nos seus valores, com os anos sessenta do século passado) - quando o governo de Coelho e Portas convidava os portugueses a emigrar e a sair da sua «zona de conforto» - não há memória de uma palavra relevante do ex-presidente sobre o assunto. Quando muito, ficou o sinal dado pela ex-primeira-dama Maria Cavaco Silva, que considerou, nessa altura, que a «emigração sempre existira, mesmo sem crise», preferindo portanto enaltecer a «abertura ao mundo como um mundo de oportunidades».
3. O problema é que, mesmo do estrito ponto de vista da natalidade, o recente recrudescer da emigração deveria ter inquietado Cavaco Silva. De facto, do total de emigrantes nesse período (cerca de 586 mil), mais de 90% (540 mil) encontrava-se em idade ativa (15 a 64 anos), o que não é despiciente para um país com cerca de 10 milhões de habitantes. E mesmo considerando apenas os emigrantes com menos de 40 anos (e portanto com maiores níveis de fecundidade), obtém-se um valor que ronda os 392 mil (67% do total), permitindo perceber com clareza o impacto negativo, a curto, médio e longo prazo, para uma eventual recuperação da taxa de natalidade.
4. A emigração é contudo apenas uma parte da história. A outra diz respeito à importância da imigração, que desde os anos noventa do século passado tem contribuído para atenuar o declínio demográfico português. Aliás, os recentes sinais de inversão da tendência de perda de população residente (que se mantém contudo no negativo), devem-se essencialmente ao contributo da população residente estrangeira. De outro modo, isto é, caso se considerassem apenas os residentes nacionais, Portugal registaria uma quebra da sua população residente na ordem dos -0,4% ao ano (e não de -0,2%, que se registam ao considerar o total da população residente).
5. Além disso, importa igualmente não subestimar a diferença entre as taxas de natalidade registadas no universo dos residentes estrangeiros e no universo dos residentes nacionais, situada em mais de dez pontos percentuais (ou seja, com um valor próximo dos 20 mil nados-vivos com mãe estrangeira por cada mil estrangeiros e de apenas 8 por mil no caso de mães portuguesas). Aliás, não só essa diferença é expressiva como tem vindo a acentuar-se nos últimos anos, dada a estagnação da taxa de natalidade no universo da população residente nacional.
6. Como é hábito, ninguém pediu a Cavaco Silva para desenvolver o seu ponto e explicar em que se traduziria a sua «política muito forte de apoio à natalidade». Contudo, dado não ser propriamente um crítico do empobrecimento competitivo (e da flexibilização das relações laborais que se lhe associa, para além do corte de rendimentos), e uma vez que desvaloriza a importância da imigração e do acolhimento de refugiados para o reequilíbrio demográfico, é legítimo pensar que o ex-presidente possa ter apenas em mente os tradicionais subsídios e, eventualmente, uma espécie de campanha porta-a-porta, para «convencer os casais a ter mais filhos».
Entre um Cavaco a oferecer subsidios porta a porta e um Bloquista a convencer refugiados ou emigrantes a ficar em Portugal nao ha muitas diferencas a nivel de ilusao:
ResponderEliminar- Ninguem emigrou a conselho do Passos ou do Portas. As razoes sao economicas. Se temporalmente podemos ter imigrantes como substituicao devido ao diferencial de rendimento com os seus paises a medio prazo esta situacao nao é sustentavel resultando na volta dos imigrantes bem sucedidos e na getizacao dos restantes.
- Nas ultimas decadas varios governos de diversas cores nao foram capazes de integrar muitas das milhares de pessoas vindas ex-colonias e seus descendentes que falam a mesma lingua apesar de muitos serem portugueses.
- Toda a gente sabe o que se passa com a integracao dos refugiados e a pouca capacidade de atracao de Portugal para essas pessoas.
Sim, é verdade que ninguém emigrou a conselho, mas emigrou por necessidade daquilo que a dupla Pedro e Paulo fizeram ao país. E o atraso provocado pelas "reformas" foi de tal ordem que será difícil que tão cedo se recupere.
ResponderEliminarE depois vem a conversa dos "governos de muitas cores" como nivelador da coisa. Se há algo que os gráficos apresentados parecem apontar é que, apesar das dificuldades dos "governos de várias cores", foi com um governo "azul banana" que a capacidade de afugentar gente atingiu os píncaros. Um governo "azul banana" diga-se de passagem que governou com o à vontade que o dito Cavaco lhe deu.
E por aí se vê que há um Mundo diferença no grau de ilusão entre as afirmações de Cavaco e o espantalho retórico que o Daniel Marques usa.
E não adianta falar do problema da integração dos refugiados como se isso fosse um problema isolado. O problema não é integrar, é fixar refugiados. E o problema de fixar refugiados só se resolve quando se resolver o problema de fixar os nascidos em Portugal.
A velha táctita da esquerda:
ResponderEliminar1 - endividam um país para distribuir pelo seu eleitorado
2 - país endividado fica na mão dos credores
3 - políticas de austeridade que não dizem querer mas não apresentam alternativas credíveis e sérias
4 - crise económica que degenera em emigração jovem
5 - problema no sistema de pensões
6 - a culpa é do Euro, da Alemanha, de Bruxelas da UE
7 - quem mencionar o caso da Venezuela, está a usar apenas espantalhos
Como emigrante que sou, porque "fui expulso" do meu país pelas políticas bancarroteiras da esquerda (a esquerda acusa Passos, pois a esquerda não é pródigo em encadeamentos lógico-temporais), desprezo profundamente toda a esquerda quando se trata de falar do problema da emigração. E todos os emigrantes lusos que conheço pela diáspora, desprezam igualmente profundamente a esquerda lusitana, pois não se deixam levar por ladainhas.
não deve conhecer muitos emigrantes então, não desta última década. Não querem voltar e sabem muito bem que governo os mandou embora.
EliminarO que nós temos assistido nos últimos 20 anos não é mais nem menos que um crime económico colossal que teve como alvo os trabalhadores, a classe média e os mais pobres. Os responsáveis por este crime são o PS, o PSD, o CDS, a Comissão Europeia, o BCE, o FMI e tantas outras entidades “independentes” nacionais como internacionais.
ResponderEliminarAs consequências deste colossal crime económico estão à vista de quem quer ver. O desemprego, a precariedade, os baixos salários, a emigração forçada, a quebra muito significativa da natalidade, a ascensão da caridade como forma de negócio…
É mentira que a emigração sempre existiu em Portugal nas proporções que assistimos na última década!
Aqueles que nasceram depois do 25 de Abril de 1974 não foram preparados para serem expulsos do país, mas foi isso que aconteceu a muitos…
A Maria Cavaco é um bom exemplo de uma privilegiada que não sabe (ou finge não saber) o que se passa em Portugal.
A imigração não pode ser dada como solução para os problemas de Portugal (e Europa) antes que se resolvam os problemas da população nativa. A população nativa tem vindo a ser empobrecida e as suas expectativas de prosperidade foram destruídas.
Vejam o exemplo do concelho de Odemira (e eu vejo com os meus próprios olhos…)! Em Odemira, Zambujeira do Mar, São Teotónio a quantidade de pessoas vindas da Ásia para trabalhar nas plantações é avassaladora, ao ponto de haver mais população não nativa nas ruas que a nativa.
Agora somem este facto ao facto de Odemira ter uma população envelhecida e ao êxodo de muitos jovens devido à austeridade (como se a interioridade não fosse má o suficiente!). Pois é, não se admirem com o aumento do ressentimento...
Urge uma mudança radical!
Caro Nor Tor,
ResponderEliminarEu sou um dos emigrantes economicos destes anos e parte da minha familia passou por Champigny nos 60s assim que falo por experiencia e nao por retorica.
Se suposermos que o mundo comecou em 2011 e nada aconteceu antes, o senhor tem toda a razao. Considerando outra realidade talvez tenha menos.
Fixar sem integrar = Cova da Moura
A esquerda caseira nunca conseguiu compreender porque motivo quase todos os emigrantes não são de esquerda. Basta ver os votos que o PCP/BE obtêm nos círculos eleitoirais para o estrangeiro (UE e países fora da UE). Fica a reflexão.
ResponderEliminarLá isso é verdade ó Aónio.
ResponderEliminarA maior parte dos emigrantes foi para países como a França, onde desfrutam de um estado social melhor do que o nosso, mas votam para que os que cá ficaram tenham um estado social pior.
São simpáticos á brava.
Mas a pensar que lixam os outros também se enterram a si próprios.
Assim andaram a votar na direita que nos andou a vender as maravilhas das privatizações, que os privados é que são eficientes e tal. Que o estado não se deve meter e tal.
Depois, os super-eficientes privados mostraram-lhes bem o que é a eficiência.
Com o BES e outros que tais dezenas de milhares de emigrantes foram encabados até ao fundo pelos seus heróis banqueiros privados.
Farto-me de rir quando vejo aqueles emigrantes todos, a maior parte votantes azuis e laranjas, roubados pelo seu herói banqueiro privado Ricardo salgado.
Mas curiosamente esse pessoal maioritariamente de direita AGORA já quer que o estado os salve e que SOCIALIZE as suas perdas através dos impostos.
Agora querem que gente que nem tinha conta nesses bancos e que nem votou nos partidos das privatizações agora lhes pague o dinheiro que os seus heróis, os super-eficientes empresários privados lhes roubaram.
Eu acho que o estado lhes devia dar era a ponta… Já que são tão espertos que vão pedir o dinheiro ao Salgado.
Face ao comentário que fez vou ter de tentar adivinhar o que realmente queria dizer. Quando diz "se imaginarmos que o mundo começou em 2011" está a falar concretamente de que parte daquilo que eu digo? É que eu digo que o desempenho da PàF é pior do que outros, antes e depois. No seu auge, consegue ser até pior do que a década de 60, mas aqui com outras condicionantes.
ResponderEliminarDepois tenho questões em relação a essa necessidade de dizer que é emigrante. É que os números não se compadecem com a falácia da autoridade. O facto de ser emigrado filho de emigrados, não o torna automaticamente uma autoridade em matéria de emigração. Poderia eu também alegar que sou emigrado e que tenho família que emigrou quer na década de 60 para a Alemanha ou na de 80 para a Holanda. Faz de mim um número, não uma autoridade.
Caro NorTor,
ResponderEliminarO que eu quero dizer é que correlacao nao implica causalidade.
No que respeita ao facto de me afirmar como emigrante, como diz Ortega y Gasset, eu sou eu e a minha circunstancia e se nao a salvo, nao salvo a mim mesmo. Recuso ser um numero.