domingo, 14 de abril de 2019

O síndrome da nêspera

No seguimento de A nêspera, declamada por Mário Viegas, ontem oportunamente lembrado pelo Nuno Serra, recordo um editorial do Nuno Teles no Le Monde diplomatique - edição portuguesa, de Julho de 2017, precisamente intitulado O síndrome da nêspera:

“A estagnação, dita secular, e a instabilidade financeira vieram para ficar, tornando as contradições do capitalismo financeirizado cada vez mais salientes. A União Europeia e suas instituições estão enredadas na tentativa de reanimar um regime de acumulação ferido e limitado pela crise, com um sistema bancário falido, permanentes desequilíbrios entre países do Sul e do Norte e níveis de endividamento que pairam como espada de Dâmocles sobre o nosso futuro (...) Portugal parece ser o exemplo último do que o sociólogo alemão Wolfgang Streeck chama de ‘Estado de Consolidação’, onde governos ‘sociais-democratas’, com renovada capacidade orçamental prometem reversão da austeridade, mas permanecem trancados no compromisso com: (1) um orçamento sem défice, ainda que associado a despesas de salários e pensões; (2) redução do investimento público e concomitante multiplicação das parcerias público-privadas; (3) degradação nos serviços públicos e introdução de mimetismo de mercado nestes sectores; (4) surgimento de poderosos actores privados e do terceiro sector no que eram até há pouco áreas de provisão pública. Mesmo por outros meios, observamos como os processos impostos pela União Europeia aquando dos resgates financeiros continuam a fazer o seu percurso de esvaziamento das capacidades públicas e de individualização da provisão.”

Entretanto, aproveito para também relembrar o artigo do Nuno Teles na Jacobin sobre as ilusões portuguesas, que permanece igualmente actual. Enfim, se o Nuno Teles não vem ao blogue, o blogue vai até ao recente Professor adjunto no Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.

7 comentários:

  1. Parabéns Teles. Pelos artigos, pelas opiniões e, claro está, pela nomeação.

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  2. «Um regime de acumulação ferido e limitado pela crise.»

    A crise chama-se Estado: acumulador de impostos pela sanha tributária e a promoção do consumo, gastador incontinente e investidor incompetente.

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  3. Pois, e as nêsperas que vociferam contras as velhas também acabam comidas, mas com requintes de malvadez... É o que acontece às nêsperas que não têm nem planos, nem espinhos. Não são menos suculentas pelo facto de falarem muito... São as denominadas nêsperas fanfarronas...

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  4. @Jaime Santos

    https://www.youtube.com/watch?v=xxGLWy4FNTU

    "Mais vale ser um cão raivoso
    que uma sardinha
    metida, entalada na lata
    educadinha
    pronta a ser comida,
    engolida, digerida
    e cagadinha
    Mais vale ser diferente da sardinha
    um cão raivoso que sabe onde ferra
    ferra fascistas e chama-lhe um figo
    olhos atentos e patas na terra."

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  5. Jaime Santos tem uma paixão assolapada pelos planos.
    E quanto mais "cunning" melhor.

    Infelizmente Jaime Santos é uma espécie de Baldrick à portuguesa:

    https://www.youtube.com/watch?v=ACnqI1l4I9s

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  6. Incontinente, incontinente só mesmo o comentador das 17 e 34

    Tão incontinente que não se veda. De defensor das mamas do estado fascista ao defensor das mamas do neoliberalismo mais ultrajante

    Os factos são tramados. Já não pode o referido comentador ficar continente com as suas odes aos banqueiros terratenentes e o consumismo gastador destes Ou os investimentos predadores de ladroagem encartada, Snob e com tiques de aristocracia decadente e impotente

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  7. O Estado nunca é neutro. Condicionando decisivamente a sua acção está o poder político, está quem detém o poder.

    Esquecer que quem governou foi o bloco central de interesses, foram coisas como Cavaco Silva, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates ou Passos Coelho é manifestamente tomar os demais por parvos ou por imbecis e vir tentar fazer a rábula dos demagogos neoliberais ou de extrema-direita

    Nunca se registou um tão grande aumento de impostos como nos tempos de chumbo de Passos/Portas. Nunca o consumo foi tão glorificado e pretensamente justificado para meia dúzia de sacripantas, que viam os seus proventos escandalosos ser defendidos pelos da sua classe.

    Gastador incontinente foi precisamente o Estado sob a batuta de quem promulgou perdões fiscais e quem até criou governantes para dirigir a fuga para paraísos fiscais. Ou quem permitiu que a banca e os banqueiros falidos fossem recuperados pelo dinheiro dos que trabalham.

    Investidor incompetente foi precisamente o Estado, dirigido pelos que privatizaram os bons pedaços, se serviram e serviram a sua corte de boys. Os que criaram as PPP. Os envolvidos nos Swap-

    Quando se caraquejava pela ida além da troika o que se queria era mesmo mais "investimentos" do género e mais privatizações criminosas.Com a gula aguçada sobre a Segurança social ou sobre o SNS.

    Tentar sacudir a água do capote enquanto se tenta usar os processos de saque e os seus resultados como justificação para mais saques é servir os mesmíssimos interesses dos saqueadores.

    Algo que todos já sabemos. Para desgosto de quem pensa que isto é a caixa de comentários de algum pasquim em acção

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