No seguimento de A nêspera, declamada por Mário Viegas, ontem oportunamente lembrado pelo Nuno Serra, recordo um editorial do Nuno Teles no Le Monde diplomatique - edição portuguesa, de Julho de 2017, precisamente intitulado O síndrome da nêspera:
“A estagnação, dita secular, e a instabilidade financeira vieram para ficar, tornando as contradições do capitalismo financeirizado cada vez mais salientes. A União Europeia e suas instituições estão enredadas na tentativa de reanimar um regime de acumulação ferido e limitado pela crise, com um sistema bancário falido, permanentes desequilíbrios entre países do Sul e do Norte e níveis de endividamento que pairam como espada de Dâmocles sobre o nosso futuro (...) Portugal parece ser o exemplo último do que o sociólogo alemão Wolfgang Streeck chama de ‘Estado de Consolidação’, onde governos ‘sociais-democratas’, com renovada capacidade orçamental prometem reversão da austeridade, mas permanecem trancados no compromisso com: (1) um orçamento sem défice, ainda que associado a despesas de salários e pensões; (2) redução do investimento público e concomitante multiplicação das parcerias público-privadas; (3) degradação nos serviços públicos e introdução de mimetismo de mercado nestes sectores; (4) surgimento de poderosos actores privados e do terceiro sector no que eram até há pouco áreas de provisão pública. Mesmo por outros meios, observamos como os processos impostos pela União Europeia aquando dos resgates financeiros continuam a fazer o seu percurso de esvaziamento das capacidades públicas e de individualização da provisão.”
Entretanto, aproveito para também relembrar o artigo do Nuno Teles na Jacobin sobre as ilusões portuguesas, que permanece igualmente actual. Enfim, se o Nuno Teles não vem ao blogue, o blogue vai até ao recente Professor adjunto no Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.
Parabéns Teles. Pelos artigos, pelas opiniões e, claro está, pela nomeação.
ResponderEliminar«Um regime de acumulação ferido e limitado pela crise.»
ResponderEliminarA crise chama-se Estado: acumulador de impostos pela sanha tributária e a promoção do consumo, gastador incontinente e investidor incompetente.
Pois, e as nêsperas que vociferam contras as velhas também acabam comidas, mas com requintes de malvadez... É o que acontece às nêsperas que não têm nem planos, nem espinhos. Não são menos suculentas pelo facto de falarem muito... São as denominadas nêsperas fanfarronas...
ResponderEliminar@Jaime Santos
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=xxGLWy4FNTU
"Mais vale ser um cão raivoso
que uma sardinha
metida, entalada na lata
educadinha
pronta a ser comida,
engolida, digerida
e cagadinha
Mais vale ser diferente da sardinha
um cão raivoso que sabe onde ferra
ferra fascistas e chama-lhe um figo
olhos atentos e patas na terra."
Jaime Santos tem uma paixão assolapada pelos planos.
ResponderEliminarE quanto mais "cunning" melhor.
Infelizmente Jaime Santos é uma espécie de Baldrick à portuguesa:
https://www.youtube.com/watch?v=ACnqI1l4I9s
Incontinente, incontinente só mesmo o comentador das 17 e 34
ResponderEliminarTão incontinente que não se veda. De defensor das mamas do estado fascista ao defensor das mamas do neoliberalismo mais ultrajante
Os factos são tramados. Já não pode o referido comentador ficar continente com as suas odes aos banqueiros terratenentes e o consumismo gastador destes Ou os investimentos predadores de ladroagem encartada, Snob e com tiques de aristocracia decadente e impotente
O Estado nunca é neutro. Condicionando decisivamente a sua acção está o poder político, está quem detém o poder.
ResponderEliminarEsquecer que quem governou foi o bloco central de interesses, foram coisas como Cavaco Silva, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates ou Passos Coelho é manifestamente tomar os demais por parvos ou por imbecis e vir tentar fazer a rábula dos demagogos neoliberais ou de extrema-direita
Nunca se registou um tão grande aumento de impostos como nos tempos de chumbo de Passos/Portas. Nunca o consumo foi tão glorificado e pretensamente justificado para meia dúzia de sacripantas, que viam os seus proventos escandalosos ser defendidos pelos da sua classe.
Gastador incontinente foi precisamente o Estado sob a batuta de quem promulgou perdões fiscais e quem até criou governantes para dirigir a fuga para paraísos fiscais. Ou quem permitiu que a banca e os banqueiros falidos fossem recuperados pelo dinheiro dos que trabalham.
Investidor incompetente foi precisamente o Estado, dirigido pelos que privatizaram os bons pedaços, se serviram e serviram a sua corte de boys. Os que criaram as PPP. Os envolvidos nos Swap-
Quando se caraquejava pela ida além da troika o que se queria era mesmo mais "investimentos" do género e mais privatizações criminosas.Com a gula aguçada sobre a Segurança social ou sobre o SNS.
Tentar sacudir a água do capote enquanto se tenta usar os processos de saque e os seus resultados como justificação para mais saques é servir os mesmíssimos interesses dos saqueadores.
Algo que todos já sabemos. Para desgosto de quem pensa que isto é a caixa de comentários de algum pasquim em acção