quinta-feira, 4 de abril de 2019
Aníbal já está em campanha
O mesmo Cavaco Silva que no início de 2011 disse haver «limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos», exortando os portugueses a «despertarem da letargia» - e que ficou mudo e quedo quando o governo seguinte aplicou severos cortes nos serviços públicos e no rendimento das famílias - vem agora sugerir, com um governo e uma maioria de esquerda no poder, que o SNS se degradou devido à baixa do IVA da restauração. Mais precisamente, o ex-ministro das Finanças (1980-1981), ex-Primeiro-Ministro (1985-1995) e ex-Presidente da República (2006-2016) - que gosta de se apresentar como não-político (ou, no limite, como político não-profissional) - referiu ontem não poder «deixar de ligar a perda de receita, com a descida do IVA da restauração, à acentuada degradação da qualidade do Serviço Nacional de Saúde».
Para estabelecer esta relação, a raiar a demagogia, entre o IVA e o SNS, Cavaco Silva dá por adquirido que o Estado perdeu receita com o setor da restauração e que o SNS ficou privado do correspondente montante. Sucede, porém, que é mesmo muito difícil falar em «prejuízo», para o Estado, no caso da redução do IVA da restauração (dada a criação de emprego no setor e o consequente aumento das contribuições para a Segurança Social e redução da despesas com prestações de desemprego, como se demonstrou aqui). E, mais difícil ainda, acusar o atual Governo de desinvestir em Saúde (ao contrário do que fez o anterior, com o inequívoco apoio do ex-Presidente da República). De facto, pode discutir-se se o esforço de recuperação do SNS (financeiro e em recursos humanos) é suficiente para dar resposta ao aumento da procura (mais consultas e cirurgias). O que não é sério é sugerir que houve uma redução orçamental do setor nos anos mais recentes.
Curiosamente, o pensamento económico em que assenta a manhosa relação de causalidade estabelecida por Cavaco Silva parece estar em perfeita sintonia com as medidas de regresso à austeridade punitiva recentemente propostas por Joaquim Miranda Sarmento, porta-voz de Rui Rio para a área de finanças públicas: regresso das 40 horas na função pública, reposição do IVA da restauração em 23%, alargamento na base de incidência do IRS (de modo a incluir as famílias mais pobres) ou a cobrança de 500€ de IRC para empresas que apresentem prejuízos, entre outras. Isto é, não só o PSD parece não ter extraído nenhuma lição sobre os reais impactos da «austeridade expansionista» como temos Cavaco Silva, o não-político, de novo em campanha.
Quase me comovi quando li que o aumento dos lucros dos patrões da restauração até pode ser uma vantagem para o emprego, o Estado e a economia.
ResponderEliminarNão foi depois do consulado do Silva das Finanças, Ministro do Cavaco, que Portugal teve que recorrer ao FMI pela segunda vez, o que deu origem a um Programa de Austeridade que teve consequências sociais porventura piores que as do de 2011-2015, porque o País era mais pobre na altura (lembram-se do Bispo de Setúbal denunciar a existência de famílias com fome no seu distrito)?
ResponderEliminarCavaco, o do safa, safou-se, o PS afundou-se em 1985 e ele foi PM durante 10 anos (e PR durante mais dez).
Se calhar deviam lembrá-lo disso...
Que jeito davam os 4 mil milhões que já custou o bpn no SNS. Uma relação que não colava com o discurso pretendido.
ResponderEliminarLigar o IVA da restauração às dificuldades que o SNS atravessa é uma justificação tão básica como responsabilizar e existência do rendimento mínimo pelas dificuldades das finanças públicas. Que mais barbaridades nos esperam em período eleitoral!
ResponderEliminarNão há dúvida que o patrocínio de Cavaco Silva a um modelo que parece encontrar adeptos entusiastas numa fileira de adeptos saudosistas de uma política em que a fiscalidade punitiva garanta o aumento da receita,à custa dos rendimentos,parcos e degradados de grande parte dos portugueses,reflecte no essencial,o seu pensamento e o modelo em que se revê.A austeritária visão da sociedade que deve ser sacrificada para libertar o investimento público,emparceira com a mesquinhez da actuação em todos os cargos públicos que desempenhou.
ResponderEliminarMais uma coisa, mais uma, de entre tantas , que liga José a Cavaco ( ou vice-versa)
ResponderEliminarAmbos quase se comovem.
São uns manhosos com pinta de coitadinhos ( Passos dixit)
É que enquanto um quase se comove nos braços do outro, não se fala na idiotice desonesta da Cavacal personagem.
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