A declaração oficial de Emmanuel Macron, na noite passada, é uma falsa resposta aos problemas colocados pelos protestos em todo o país.
O gráfico ao lado mostra como se distribuíram os salários em 2016, a partir dos dados do INSEE, o INE francês. Cerca de 60% dos assalariados recebia menos de 2 mil euros. Cerca de 30% recebia menos de 1500 euros, sendo que, nesse ano, o salário mínimo era de 1356 euros (actualmente está próximo dos 1500 euros).
O gráfico seguinte mostra a distribuição por decis da distribuição do rendimento (não apenas salarial), de acordo com dados compilados pelo jornal Le Monde.
Como é visível, os dois últimos decis - os "mais ricos" - concentram mais de 40% da riqueza criada. Os 20% mais pobres absorviam pouco mais de 10% do rendimento. Conforme um estudo do INSEE, as pessoas pertencentes aos 1% mais ricos recebiam mais de sete vezes o rendimento médio da população no seu conjunto e detinham 6,8% do total da riqueza. Eram gerentes em 60% dos casos e empresários em 10%.
Os dois gráficos revelam o grau de desigualdade que reina em França.
Esta é uma situação que, segundo o INSEE, se vem verificando desde 1998, pelo menos do que foi seguido estatisticamente. O peso dos grupos que eram os mais bem pagos aumentou significativamente em detrimento dos rendimentos intermédios ou mesmo baixos, uma situação que os estudos do INSEE qualificam como diferindo dos casos de polarização, como o dos Estados Unidos. Entre 1998 e 2015, como refere outro estudo, aumentou o fosso entre pobres e ricos, tendo apenas se reduzido ligeiramente desde 2010, tudo baseado na riqueza financeira e no sector imobiliário. Cerca de 70% dos agregados mais ricos beneficiaram da subida do valor da propriedade (mais 133% nesse período). A riqueza financeira aumentou 75% entre 1998 e 2015, sobretudo durante o período de 2004/2010, beneficiando todos menos os mais pobres. A propriedade foi aquilo que explicou o fosso entre os pobres e os ricos.
Por outro lado, a linha de pobreza fixou-se em 1015 euros mensais, que impregnava 14,2% da população francesa, limiar esse - segundo o INSEE - que era um das mais baixos na União Europeia. O desemprego foi uma das causas principais de pobreza (37,5% dos casos). Recorde-se que o salário mínimo se situa muito próximo desse limiar de pobreza. Ou seja, quem o recebe pouco consegue sobreviver quando mais elevar-se socialmente.
Estas desigualdades são fruto de um modelo de funcionamento económico que, como noutros países, optou por reduzir ao máximo os custos laborais - vulgo salários - como forma de ganhar competitividade e conceder margem de manobra às empresas. Mas nada disso se inverte por artes mágicas ou pequenas medidas.
Por isso, não é de estranhar a desconfiança do movimento Coletes Amarelos às medidas anunciadas por Macron. Sobretudo porque elas representam, sim, uma prenda pública às empresas. Ver próximo post.
Falta o gráfico da distribuição de competências.
ResponderEliminarSó ouço falar em remunerações.
Trabalho a horas certas e ócios nos intervalos é o padrão da vida digna a pedir remunerações dignas da propaganda de esquerda.
Nunca se questionam que outros têm que não ter horários nem para trabalho nem ócios para garantir essa massa de gente a quem nunca nada de mais exigente é proposto ou será inútil ser exigido.
"... To be clear, Macron's offered cuts come with a price tag of about €11 billion according to Les Echos, and will leave the country with a budget gap of 3.5% of GDP in 2019, with one government official said the deficit may be higher than 3.6%.
ResponderEliminarBy comparison, Italy's initial projections put its deficit target at 2.4%, a number which Europe has repeatedly refused to consider....".
Certamente que Centeno se vai impor. Macron que tenha juízo.
Centeno? E se fica sem o sininho?
ResponderEliminarCenteno está tão afeiçoado ao sininho do eurogrupo que nunca lhe passaria pela cabeça desafiar o napoleãozinho. É que podia perder o posto...
E como previsto por Alberto Bagnai há um ano, a França não cumprirá o tratado de Maastricht nem os critérios de défice acordados.
Blogpost aqui, para quem leia italiano:
http://goofynomics.blogspot.com/2018/12/qed-89-macron-un-anno-dopo.html
Com gráficozinhos e tudo para explicar como o não-cumprimento já estava nas cartas (ou nos gráficos) há um ano.
E como já tive ocasião de comentar, isso reforça e muito a posição italiana. Moscovici vai ter que deglutir o batráqio. LOL
Adicionalmente fornece um excelente pretexto para Merkel fazer aquilo que melhor sabe, isto é, NADA, nadica de nada!
Como se sabe desde que Macron foi eleito que espera debalde resposta às suas propostas de reforma da EU. Agora já nem é preciso Merkel dar-lhe resposta.
E assim se remetem para as calendas as esperanças dos que pensavam que seria possível reformar a EU. Mais Europa? É já a seguir... :)
S.T.
Basicamente porque não passa de um aldrabãozeco e ainda por cima a soldo. O que diga-se de passagem é cada vez mais corrente na política. Por enquanto refiro-me só à parte do "a soldo". Um testa de ferro ou uma marioneta. Uma forma cada vez mais em voga para muitos lobbies contornarem as eleições democráticas.
ResponderEliminarMas porque motivo nos EUA, onde as desigualdades são muitíssimo maiores, não existe este movimento? Ou mesmo em Portugal ou Espanha? A França deve ser dos países do mundo, onde apesar de tudo, essa desigualdade salarial é menor. Esta análise, mais uma vez, é extremamente redutora. E acima de tudo, ideologicamente parcial.
ResponderEliminarST, o link está em italiano. Pode colocar aqui a tradução do texto? Obrigado
ResponderEliminarLamento, mas o meu nível de proficiência do italiano torna demasiado trabalhosa uma tradução minimamente decente. Quanto ao italiano estão por vossa conta.
ResponderEliminarS.T.
Para uma análise do SMIC e do poder de compra em França, ver no Les Crises este post recente de Jacques Sapir:
ResponderEliminarhttps://www.les-crises.fr/russeurope-en-exil-la-parole-presidentielle-a-t-elle-encore-un-effet-sur-la-realite-par-jacques-sapir/
S.T.
A França tem uma tradição muito grande de movimentos insurreccionais. A resistência à ocupação nazi ainda perdura na memória colectiva francesa, com muitas famílias a contarem as histórias de como o tio X era o condutor do comboio de deportados no dia Y, que foi atacado pelos maquis comandados pelo tio Z. Montes de histórias semelhantes.
ResponderEliminarEssas histórias de resistência geram um sentido de justiça independente da ordem legal vigente. Está bem fresco na cabeça dos franceses a diferença entre legalidade e legitimidade. E ao longo da história uma boa percentagem de insurreições saiu triunfante em França.
A Alemanha tem uma mentalidade muito mais disciplinada e conformista. Basta ver como o povo alemão aguenta ser pago muito abaixo do que o nível de produtividade alemã permitiria. Um tal conformismo raia o masoquismo.
Para isso também muito contribui a compra de sindicalistas em posições chave pelo poder político-partidário ou directamente pelo complexo bancário-exportador alemão.
Mas, de toda a EU, os assalariados alemães seriam dos que mais razões teriam para para se rebelarem, mas por educação, psicologia e cultura, são reprimidos e recalcados.
S.T.