segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Para João Miguel Tavares, a igualdade é ninguém ter direitos
É sempre muito instrutivo acompanhar a nossa estimada direita, sobretudo a que se toma por democrática e sofisticada. JMT, na senda dos apoios a Trump e Le Pen, resolveu atirar-se ao direito à greve dos funcionários públicos. Vejam a acutilância dos argumentos:
"Muitos funcionários públicos nem os salários perdem, porque os sindicatos quotizam-se para repor o dinheiro."
E os sindicatos quotizam-se junto de quem, caro JMT? Vendem rifas na rua?
"Pior: essas greves são feitas num sector onde o trabalhador nunca corre o risco de perder o emprego."
É, de facto, uma pena a proteção do trabalho. Se se pudesse despedir os grevistas, andava tudo mais mansinho.
"Nos Estados Unidos, estão mesmo proibidos de fazer greve na maior parte dos estados, incluindo Nova Iorque."
Um exemplo para todos nós, vindo de um país que está nos últimos lugares da OCDE em desigualdade de rendimentos, taxa de pobreza, taxa de pobreza infantil e taxa de trabalhadores pobres, nesta última batido pela Polónia, que é um dos outros dois exemplos para JMT. O terceiro é um paraíso fiscal (Luxemburgo).
"As greves no sector público não são um problema apenas entre o trabalhador e o seu empregador – como acontece, por exemplo, no caso da Autoeuropa, que é uma questão entre a Volkswagen e os seus funcionários, com a qual pouco ou nada temos a ver."
Os argumentos da direita sobre greves e Autoeuropa são de geometria muito variável. Se os estivadores fazem greve, estão a prejudicar o país porque a Autoeuropa não consegue escoar os automóveis. Se são os próprios trabalhadores da Autoeuropa que param e a discussão é outra, então já não faz mal. E se a greve for na EDP? E se for na Fertagus? Ou nos CTT? Também só afectam o patrão e o trabalhador? A verdade é que todas as greves afectam terceiros. JMT defende o direito à greve, desde que seja o de trabalhadores que podem ser despedidos no dia seguinte.
"Se o sector público tem privilégios únicos, também deveria ter obrigações exclusivas. Algo tem de mudar."
Os trabalhadores da Função Pública gozam de direitos de trabalho elementares, nos quais assentaram todas as democracias europeias e um contrato social que deu à Europa o maior período de prosperidade de sempre. Um privilegiado é alguém que ganha mais do que qualquer funcionário público para ser a voz dos donos. E que, vendo trabalhadores com direitos e trabalhadores sem direitos, não hesita: Tire-se os direitos a todos.
O JMT deve andar a ver se o Ronaldo lhe arranja um tacho no governo; assentava que nem uma luva. Mas olhe que no caso da Autoeuropa bem andava a direita toda molhada a dizer que era desta que vinha o diabo, pelo que nem o discurso bate certo (estão chocados, imagino).
ResponderEliminarEsse Tavares é simplesmente um assumido imbecil.
ResponderEliminarmfj
João Miguel Tavares é um dos propagandistas pagos incumbidos de aplicarem nos Média a velha táctica "Dividir para reinar", nada mais...
ResponderEliminarPerder tempo com um saloio desses é que não!
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ResponderEliminarQuando os herdeiros do Engº Belmiro, chegarem à conclusão que o "público" será sempre um jornal de poucos leitores, sem qualquer viabilidade económica. o jmt terá de ir pregar para outra freguesia. Talvez o "observador" se ainda existir, lhe dê abrigo…...
Não foi um contrato social que deu à Europa o maior período de prosperidade de sempre.
ResponderEliminarFoi o maior período de prosperidade de sempre permitiu um contrato social.
Eu prefiro uma abordagem didática.
ResponderEliminarComo os direitos laborais estão directamente ligados ao aumento da desigualdade prefiro argumentar com os estudos que demonstram o quão lesivo é a repressão de direitos e salários.
Par isso acho úteis os trabalhos de Branko Milanovic, como neste Artigo do Brave New Europe:
https://braveneweurope.com/branko-milanovic-why-inequality-matters
"More recently, with much better data on income distribution, the argument that inequality and growth are negatively correlated has gained ground."
"Mais recentemente, com dados muito melhores sobre a distribuição do rendimento, o argumento de que a desigualdade e o crescimento estão correlacionados negativamente ganhou terreno."
"inequality may be good for future incomes of the rich (that is, they become even richer) but it may be bad for future incomes of the poor (that is, they fall further behind). In this dynamic framework, growth rate itself is no longer something homogeneous as indeed it is not in the real life. When we say that the American economy is growing at 3% per year, it simply means that the person with the average income is getting better off at that rate; it tells us nothing about how much better off, or worse off, others are getting."
"a desigualdade pode ser boa para os rendimentos futuros dos ricos (isto é, tornam-se ainda mais ricos), mas pode ser má para os rendimentos futuros dos pobres (isto é, eles ficam ainda mais para trás). Nesse contexto dinâmico, a própria taxa de crescimento não é mais algo homogéneo como de fato não é na vida real Quando dizemos que a economia americana está a crescer a 3% ao ano, isso simplesmente significa que a pessoa com o rendimento médio está ficando melhor a esse ritmo; nada sobre o quanto melhor, ou pior, os outros estão a ficar."
"Excluding a certain group of people from good education, be it because of their insufficient income or gender or race, can never be good for the economy, or at least it can never be preferable to their inclusion."
"Excluir um certo grupo de pessoas da boa educação, seja por rendimentos insuficientes, por gênero ou por raça, nunca pode ser bom para a economia, ou pelo menos nunca pode ser preferível à inclusão deles."
"High inequality has also political effects. The rich have more political power and they use that political power to promote own interests and to entrench their relative position in the society. This means that all the negative effects due to exclusion and lack of equality of opportunity are reinforced and made permanent..."
"A elevada desigualdade também tem efeitos políticos. Os ricos têm mais poder político e usam esse poder político para promover interesses próprios e consolidar a sua posição relativa na sociedade. Isso significa que todos os efeitos negativos devidos à exclusão e à falta de igualdade de oportunidades são reforçados e tornados permanentes ... "
S.T.
E se João Miguel Tavares fizer parte do clube dos misteriosos assassinos da "Curva de Phillips"?
ResponderEliminarhttps://www.theguardian.com/business/2017/nov/05/missing-pay-rises-the-ever-deepening-economics-mystery
S.T.
As greves no sector público representam a manutenção do status quo. Trabalham menos horas que no público, reformam-se mais cedo e têm direito automático a seguro da saúde (ADSE), o que os demais do privado não têm. Até aí, como cidadão e utilizador dos serviços públicos, ainda aceito, mesmo que tal viole o princípio da igualdade plasmado no art. 13.º da CRP.
ResponderEliminarQuando a pequena burguesia agrafada à cadeira do estado faz birra e greve, prejudicando o quotidiano aos mais pobres e desfavorecidos que precisam dos serviços públicos, desde transportes à saúde, aí o caldo fica entornado.
O patrão dos funcionários públicos é o povo, não é o grande capital.
É esse o motivo pelo qual em muitos países da Europa, os servidores públicos estão proibidos de fazer greve.
https://www.veraveritas.eu/2018/08/a-hipocrisia-dos-sindicatos-da-funcao.html?m=1
Mesmo na Dinamarca, para contrabalançar o caso dos EUA, um funcionário público pode fazer greve, mas a lei não o protege do despedimento caso o faça. Na Alemanha os funcionários públicos estão proibidos de fazer greve. Por isso não precisa de dar o exemplo dos EUA.
Portanto não sabe a ponta de um corno do que fala...
EliminarA Adse não é um seguro de saúde e os funcionários públicos pagam adse E seg social... O sr só paga seg social.
Burgueses? Burgueses são os privados que fogem aos impostos.
O privado não é patrão do público por duas razoes: os trabalhadores do público também descontam e por outro lado não trabalham de borla.
Se realmente o público não faz nada, curtem-se em casa, eduquem os filhos em casa e paguem impostos sem fugir... Depois falamos.
Quanto ao caso da Alemanha... Hilariante o seu comentário sobre a greve na Alemanha. Perfeita ignorância
Os funcionários públicos estão transformados nos 'mamões' da colectividade.
ResponderEliminarEstando genericamente acima do nível dos trabalhadores do privado - remuneração, carreiras, mordomias, segurança de emprego - berram a todo o tempo por mais.
O seu maior poder reivindicativo - incomodam muita mais gente - é um poder que deriva do monopólio a quem prestam serviços - por não haver concorrência aos seus serviços - monopólio esse dirigido por gestores temporários que dependem dos seus votos para continuarem nos seus poleiros.
Esses gestores dispõem de receitas que podem gerar por força de lei e serviço da força pública.
Dizerem-me que são trabalhadores como os outros é conversa sem sentido outro do que ignorar privilégios concordes com opções ideológicas.
"Dizerem-me que são trabalhadores como os outros é conversa sem sentido outro do que ignorar privilégios concordes com opções ideológicas."
ResponderEliminarMas nem vale a pena dizer que são trabalhadores como os outros, porque é própria Lei a fazer a destrinça. Para os do privado aplica-se o Código do Trabalho (quando se aplica, pois sabemos como andam os falsos recibos verdes), para o funcionalismo aplica-se a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas.
O patrão dos funcionários públicos é o povo, não é o grande capital.
JMT utiliza uma greve provocatória que roça a ilegalidade, para pôr em causa o direito à greve dos funcionários públicos. Conhecendo-se o seu posicionamento ideológico não surpreende que o faça. Estranha-se sim que, quem pensa de forma diferente, não se interrogue sobre a quem serve uma greve de 40 dias dirigida a um dos pontos mais sensíveis do Serviço Nacional de saúde (os blocos operatórios dos hospitais centrais).
ResponderEliminarO gaiato francês quebrou finalmente o silêncio. Com o país literalmente a arder e entretido que tem estado com os donos a ver como param as modas. Decidiram-se agora por uns trocos à plebe. Só se o grande povo francês não tivesse um pingo de dignidade como a persona politica inventada pela alta finança francesa.
ResponderEliminarTudo bem, só que JMT até tem razão. Se os Funcionários Públicos acham que estão assim tão mal, que fujam para o privado.
ResponderEliminarNão temos visto disso pois não?.
Se o poder reivindicativo dos sindicatos da função pública é assim tão forte, como é que ainda há salários reais na f.p. bastante abaixo em relação há 10/15 anos atrás?
ResponderEliminarE porque motivos os salários na função pública são em média superiores às profissões congéneres no setor privado?
EliminarDesculpem a intromissão. O avô do Vicente Ferreira vem aqui só para dizer que concorda a 12.098,6% com o autor do artigo. E fica à espera da segunda parte. Boa noite
ResponderEliminarA propaganda tem consequências.
ResponderEliminarA geringonça começou por condenar, por desnecessária, a austeridade passada.
Propõe-se como alternativa, cortando investimento e promovendo reversões.
Retoma todo o excesso do passado sendo um direito, como o caso das 35 horas, carreiras e mais desbundas abrilescas.
Vem agora dizer que os direitos não são para toda a clientela da função pública porque não há dinheiro?
O título da coluna que o Público reserva, em regra na última página, em lugar de honra, ao Sr. Tavares, é “O respeitinho não é bonito”.
ResponderEliminarEste nome da coluna até me é muito simpático. Não obstante o que isso já me causou na vida, sempre também achei (como continuo a achar) que “o respeitinho não é bonito”.
É natural, eu, trabalhador da função pública que vivi 28 anos da minha vida num tempo e lugar (e modo) onde, durante 48, senti-o bem, ai de quem “faltasse ao respeitinho”.
Por isso, não vejo que venha mal ao mundo (bem pelo contrário) que alguém “falte ao respeitinho”.
E mesmo que seja já não só ao “respeitinho” mas ao respeito, isso não tem que ser julgado do ponto de vista jornalístico mas, sim, quando muito, moral ou penalmente.
Daí que se compreenda que o sr. Tavares, para cumprir o contrato com o Público que lhe paga para alimentar a tal coluna com o título que esta mantém, tenha que (e ainda bem) arranjar alguma coisa (ou alguém) para “faltar ao respeitinho”, até porque, com certeza, se “o respeitinho não é bonito", ninguém é de pedra, “o dinheirinho é muito bonito”.
Agora, deu-lhe para “faltar ao respeitinho” aos funcionários públicos. Quanto às greves, em geral, sem excepções, põe em causa deverem manter o direito à greve.
O que eu não sei é se, nisto, degenerou de lhes “faltar ao respeitinho” para lhes faltar ao respeito, querendo vê-los regressar a um regime de há mais de 80 anos atrás, ao regime salazarento do Estatuto do Trabalho Nacional (aprovado pelo Decreto-Lei 23048, de 23/9/1933):
“Art. 37º A suspensão concertada de serviços públicos ou de interesse colectivo importará a demissão dos delinquentes, além de outras responsabilidades que a lei prescrever.
“(...) Art. 39º Aos funcionários do Estado, dos corpos e corporações administrativas, bem como aos operários dos respectivos quadros permanentes, é vedado constituirem-se em sindicatos privativos ou fazer parte de quaisquer organismos corporativos.
§ único. Aos funcionários do Estado, dos corpos e corporações administrativas que exerçam profissões livres é contudo permitido fazer parte de organismos corporativos da respectiva profissão, mas nesta última qualidade e não reconhecendo o Estado capacidade aqueles organismos para com ele tratarem dos interêsses dos mesmos como funcionários“ (...)”.
Com isto, com certeza, “respeitosamente”, defende que os funcionários públicos devem passar (de novo) a chamar-se "servidores do Estado”. ...
E teríamos então (de novo), sem “respeito(inho)” nenhum, o chefe de secção a referir-se, ainda mais abominavelmente que a "os meus colaboradores", a "os meus servidores"...
Bonito(inho), não era, Sr. Tavares?
Ó Aónio, mas isso não é verdade. Mostra os dados.
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