A atual solução governativa assenta num entendimento político cujo núcleo central é a devolução de rendimentos aos trabalhadores e pensionistas, tanto por uma questão de dignidade e de justiça social como enquanto meio para a recuperação económica. É isso mesmo que tem vindo a ser feito ao longo desta legislatura, de formas tão diversas e acertadas quanto os aumentos do salário mínimo, as atualizações das pensões, a introdução de novas prestações sociais, a eliminação da sobretaxa, o descongelamento das carreiras ou as alterações aos escalões do IRS.
Tendo em conta todas estas medidas e os resultados claramente positivos que produziram, percebe-se mal que o governo se prepare agora para, no último ano da legislatura, cortar os salários de boa parte dos funcionários públicos. O que está em causa para 2019 não é um corte nominal nos salários da função pública, claro está, mas um corte em termos reais resultante da inflação prevista de cerca de 1,5%. No próximo ano, quem não tiver um aumento nominal de pelo menos 1,5% verá o seu poder de compra reduzido de forma bem real. De acordo com a proposta de Orçamento do Estado, deverá ser o caso de boa parte dos funcionários públicos, para os quais esta nova perda acrescerá aos cerca de 20% de perda do salário real acumulados em média desde a viragem do século.
Depois de em todos os anos desta legislatura o governo ter reposto salários da função pública através da eliminação dos cortes e outras medidas, no próximo ano podem regressar os retrocessos caso o governo mantenha a intenção de dedicar a este fim apenas 50 milhões de euros, que independentemente da forma como possam vir a ser distribuídos estão longe de chegar para compensar a deterioração do poder de compra decorrente da inflação. E ainda menos se perceberá que assim seja se, como sugeriu recentemente o economista Ricardo Cabral, isso se dever ao excesso de zelo do ministro das finanças no cumprimento de absurdas regras orçamentais europeias relativas à evolução da despesa nominal.
O governo deve explicar claramente aos portugueses porque é que, num contexto de crescimento económico, pretende voltar a cortar em termos reais os salários dos funcionários públicos. E, de preferência, deve reconsiderar esta intenção, garantindo no mínimo a preservação do rendimento real de todos através do recurso à dotação provisional para este fim. Por um questão de justiça, de motivação e de consistência com a linha de atuação do próprio governo.
Os funcionários públicos não devem ser diferenciados dos restantes funcionários, e como é claro não devem perder poder de compra.
ResponderEliminarCaros ladrões... Desafio-vos
ResponderEliminarA espreitarem a análise feita pelo sindicato dos quadros técnicos do estado sobre a matéria... Lá poderão ver como serão, de forma desimulada, feitos os cortes. Publiquem esse parecer é o que vos peço.
O princípio de que a riqueza e as condições de vida só conhecem um rumo - crescimento e melhoria - é o mito elevado à condição de direito.
ResponderEliminarAcresce que as condições de realização de 'conquistas' nunca são questionadas, sempre são justas e merecidas, importando nada se os autores políticos são parvos ou corruptos.
É o afamado espírito abrilesco.
Sobre os cortes aconselho a leitura do comunicado do Sindicato dos Quadros Técnicos de Estado (STE) pq. está lá tudo explicado, designadamente como um Governo dito de esquerda mente a todos os portugueses.
ResponderEliminarEu diria que faz parte da táctica de diabolizar a inflação fazendo sentir aos assalariados as perdas de poder de compra. Recorde-se que a Bélgica e a Itália tinham em tempos dispositivos automáticos de actualização dos salários em função da inflação, o que retirava o stress de ter que se lutar por uma coisa que nem deveria ter que ser objecto de negociação.
ResponderEliminarA meu ver isto é psy-ops de Centeno.
S.T.
"O governo deve explicar claramente aos portugueses porque é que, num contexto de crescimento económico, pretende voltar a cortar em termos reais os salários dos funcionários públicos."
ResponderEliminarA este texto ( e a esta frase) responde alguém deste modo:
"O princípio de que a riqueza e as condições de vida só conhecem um rumo - crescimento e melhoria - é o mito elevado à condição de direito"
Pois é isso mesmo que assistimos há anos,com tendência a um agravamento progressivo. A riqueza e as condições de vida só conhecem mesmo um rumo, o dos acumuladores do Capital. Cada vez mais ricos,cada vez com melhores condições de vida.
Que se manifesta em indicadores claros e indesmentíveis ( a realidade é tramada para desconstruir a propaganda dos abutres). E para além destes dados objectivos, também se revela na realidade quotidiana de forma empírica. É o viver das rendas e do trabalho alheio, são as montadas em cavalos suspeitos, são as piscinas e os pomares, são os ginásios e o convívio de classe
Acresce que as condições de apropriação das riquezas e dos meios de produção bem como as de heranças duvidosas, provenientes de negócios mafiosos e esconços ' nunca são questionadas, sempre são justas e merecidas, importando nada se o Capital e os autores políticos que têm ao seu serviço são parvos ou corruptos.
ResponderEliminarDe facto não têm nada de parvo. E são verdadeiros vampiros a querer abocanhar qualquer bocado-o que resulta do trabalho alheio e o que resulta das suas actividades mafiosas
O afamado espírito de Abril colocou alguns entraves nesta apropriação néscia da riqueza por parte das classes possidentes, que viram as suas fortunas crescer de forma desmesurável, no tempo em que tinham a cobertura do estado novo e dos seus agentes repressivos,nomeadamente a Pide.
ResponderEliminarPor isso há assim tanto ódio por parte de tais classes para com Abril. Ódio e ressabiamento que vive paredes meias com o endeusar aos mais ricos e aos proventos pornográficos dos senhores do Capital.
E assistimos ao elogiar destes, quantas vezes de forma ternurenta e subserviente, desde os terratenentes banqueiros até aos Mexias de rendimentos exorbitantes, desde Barrosos a Portas, com os seus negócios escuros
A toda esta cambada há registos de autênticos "poeminhas" em louvor do seu saque.
A riqueza e a condição de vida destes nunca são questionadas por estes autênticos prosadores cantantes da sua classe de vampiros