Francisco Nobre Guedes foi o primeiro comissário nacional da Mocidade Portuguesa e, depois, quando foi substituído por Marcelo Caetano em 1940, foi nomeado embaixador em Berlim, pelas suas opiniões pró-nazis e anti-comunistas. Nobre Guedes substituiu então Veiga Simões, chamado a Lisboa porque terá informado Salazar da ofensiva alemã depois de receber essa informação da resistência alemã (ver António Telo, Portugal na Segunda Guerra, Perspectivas e Realidades, pag. 117/130).
Entretanto, passaram uns 80 anos e as coisas evoluíram ou reformataram-se. Mas também ninguém se pergunta a que corresponderia hoje o fascismo dos anos 30 do século 20. Poderia corresponder a algo como o afirmado hoje pelo seu neto Luís Nobre Guedes a um inquérito do Público, sobre em quem votaria nas eleições no Brasil? Disse ele, que escolheria um de dois caminhos: a abstenção ou o voto em Bolsonaro. A sério? Bolsonaro? Como é possível?
“Votaria convictamente contra o PT. Dizer que votaria a favor, é mais difícil. Acho o PT a maior tragédia que o Brasil conheceu. Aquela corrupção generalizada, a violência, a pobreza"
A violência? A pobreza?! Mas era maior a pobreza anterior ao PT, uma pobreza que aumentou com a aplicação de políticas que Nobre Guedes hoje defenderia, aliás ao arrepio das políticas originais do PT. E sobre a corrupção, de acordo com a informação difundida há mais processos contra outros partidos do que contra o PT. Sobre a corrupção em Portugal, hoje uma ameaça larvar à transparência e consistência da democracia nacional - e que passa também pelos múltiplos inquéritos que pendem sobre o grupo Espírito Santo - não tem um pensamento que abarque esse fenómeno. Parece que corrupção é apenas PT, um subproduto das esquerdas (ainda iremos ver muito deste argumento contra o PS), a restante parece ser entendida como o normal funcionamento da democracia, dos negócios que movem a economia e que, entretanto, dão emprego às pessoas comuns.
Acho que era minha obrigação, como democrata, votar contra aquilo que põe em causa a democracia que é este reino do PT. É como vejo as coisas, se calhar mal, mas é assim”.
Disse isso recordando as eleições em que o comunista Álvaro Cunhal apelou ao voto no socialista Mário Soares (pediu aos militantes parta tapar a cara e pôr a cruz), porque o adversário era a direita representada por Freitas do Amaral.
“O que eu acho que põe em causa a democracia do Brasil era uma eventual vitória do PT, que originaria uma profunda revolta social e popular” (sic!!), afirma. “Não concordo com Bolsonaro em inúmeras coisas, com aquilo que tem dito, estou mesmo nos antípodas, mas concordo muito e bastante na parte económica”, afirma Nobre Guedes, sem concretizar, no entanto, quais as propostas ou afirmações de Bolsonaro que merecem discordância. “Na parte política, quem me conhece sabe que não subscrevo muitas coisas que tem dito”, declara. Quais, em concreto? As que se referem aos homossexuais? Às mulheres? Aos negros? “Não ouvi, tem de se ver o contexto [em que foram ditas as afirmações de Bolsonaro], mas sim, são coisas unânimes em se discordar. Mas, para mim, a questão é ser condescendente ou não com o tempo que o PT esteve no poder”, afirma.A democracia não existe, como regime inacabado nem como um bem em si. É um contínuo jogo de forças, fruto de quem tem mais força a cada momento. O regresso da ditadura não é apenas um risco para lá do oceano.
Tudo poderia ser dito sem ir buscar o vôvô.
ResponderEliminarMas a tentação é irresistível…
Quanto ao PT:
- onde o discurso anticorrupção?
- onde o mea culpa da sua própria corrupção? Prometendo libertar Lula?
Bem merecem a vitória do Bolsonaro. Pode ser que alguém venha a controlar o grunho, mas para já diz pelo menos ao que vem.
Exactamente. Uma precisão: o diplomata era Veiga Simões e não Veiga Simão.
ResponderEliminarUm fascista tanto é o que tortura como o que encolhe os ombros, com o solTrump lá vão pondos os cornos de fora como o caracol!
ResponderEliminarNão sabe, não conhece, mas apoia porque é da direita reaccionária. Diga-o com coragem, homem.
ResponderEliminarMeu caro João
ResponderEliminarHá quanto tempo não nos vemos nem sequer nos encontramos... Sei lá, talvez do Quaternário Superior...🤣 Homem, temos de mastigar um dia destes. Estou velhíssimo (//) mas ainda tenho dentes...
Ora bem. Passámos uns anitos a fingir que discordávamos, mas no fundo mentíamo-nos e sabíamos que o fazíamos. É a altura duma citação "erudita" Noblesse oblige...
mas não vim cá para iniciar troca de galhardetes nem para saudosismos bacocos. Vim apenas para te dar uma abraço e dizer qua concordo como o que escreveste. Se quiseres entrar em contacto comigo (não é obrigatório), o meu imeile (preciosa criação cá do ancião) é
ferreira20091941@gmail.com
Um abração do teu amigo e admirador
Henrique Antunes Ferreira
PS (Continuo a ser, mas aqui é Post Scriptum) Aqui sou mais conhecido como O Avô do Vicente Ferreira
Caro Ricardo Alves,
ResponderEliminarFoi um erro de simpatia. Foi emendar. Obrigado
Jose armado mais uma vez em virgem
ResponderEliminarHá algum tempo andou a usar o vocabulário de Bolsonaro. Começou a utilizar o termo “ esquerdopata” e a imitar o fascista
Bolsonaro retribuiu-lhe os amores e, por um processo de simpatia simplório, começa a usar o vocabulário típico de Jose.
Só que em vez de “coitadinhos”, vá de usar o “ coitadismos”
Agora jose, todo contente e a abanar-se, proclama o desejo da vitória do fdp. Assim desse jeito manso, a ver se passa
“ ao menos diz ao que vem”. ... e adivinha-se esfuziante pelo facto do fascista ter direito a cumprir o que promete
Como se chama a alguém assim?
Este é um excelente post
ResponderEliminarPorque chama o nome aos bois e não hesita em fazer a ligação entre o passado e o presente. E entre o lado de lá do oceano e o lado de cá
A história não se repete. Todos temos direito ao bom nome independentemente do que fizeram os nossos antepassados ou os nossos descendentes maiores
Acontece que o antepassado de Nobre Guedes , um tal Francisco ng , carinhosamente tratado como vovô por um seu apaniguado, foi um verdadeiro fdp. Mesmo pessoas ligadas ao regime anterior sabiam que era um assumido simpatizante nazi. E afastavam-se dele.
Nobre Guedes , o do presente, não terá culpa que o seu ascendente fosse a trampa que foi. Já a terá por ser o que é, ou seja, ele próprio como tal.
Mas a ligação entre os dois e a referência a tal afinidade impõe-se
A hereditariedade do poder ( e o poder da hereditariedade) é um fenómeno por demais generalizado e por demais nefasto para ser passado em claro.
Imensos estudos demonstram que esta realidade é tramada. No fundo é o círculo familiar a replicar os seus interesses de classe
Ou de como um fdp nazi teve um neto como o Guedes é apenas a confirmação que a serpente continua bem viva