terça-feira, 25 de setembro de 2018

Palavras, pensamento e poder


«Orwell percebeu o caminho para o mundo actual de fake news, de relativização da verdade e dos factos, da “verdade alternativa”, do tribalismo, do combate ao saber a favor da ignorância atrevida das redes sociais, da crise das mediações a favor de uma valorização da pressa, do tempo instantâneo, do fim do tempo lento, do silêncio, e da pseudopresença num mundo de comunicações vazias, ideal para o controlo afectivo, social e político. (...) Descreveu, pela primeira vez no 1984, o mundo da manipulação e geral degenerescência da linguagem, das palavras e das ideias. Um mundo onde quem manda reduz as palavras em circulação a uma linguagem gutural, a preto e branco, sem capacidade expressiva e criadora, mas também desprovida da capacidade de transportar raciocínios e argumentos lógicos, mas apenas banhar-nos em pathos. Ele escreveu uma distopia, nós vivemos nessa distopia.
(...) O exemplo português é um entre muitos dos anos do Governo da troika-PSD-CDS, que começam a ser perigosamente esquecidos. Quando começaram os cortes em salários, pensões, reformas, despesas sociais, durante dois ou três dias, mesmo os membros do Governo usavam a expressão verdadeira de “cortes”. Depois, de um dia para o outro, e de forma concertada, deixaram de falar de “cortes” para falar em “poupanças”. O mais grave é que, como no mundo do Big Brother, a expressão começou a impregnar a linguagem comum, a começar pela da comunicação social, que nesses dias e nalguns casos até hoje mostrou uma especial capacidade de ser manipulada pelo “economês”. Leia-se pois o 1984, ou “releia-se”, que é a forma politicamente correcta de se dizer que se leu sem se ter lido, até porque é um livro que não engana ninguém logo à primeira frase: “Era um dia de Abril, frio e cheio de sol, e os relógios batiam as treze horas.”»

José Pacheco Pereira, Por que é que devíamos estar todos a ler o 1984?

8 comentários:

  1. O marxismo soviético inspirou o 1984.

    Em 101 anos de propaganda pelo regime e seus cooptados, é o páthos da cultura correcta.

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  2. O “phatos” do josé é tão cómico a tentar sacudir a poeira das gravíssimas acusações a este modelo de sociedade de trampa

    E do contributo inestimável dos criminosos que nos governaram até há bem pouco tempo e pelos quais josé berrava e pedia por mais

    Um verdadeiro contorcionista

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  3. Quanto ao José, está a degenerar de tal forma que já nem lê Pacheco Pereira.

    E é bem verdade que "if your only tool is a hammer everything looks like a nail"

    Isto é, para a pobreza ideológica de José tudo se assemelha a fantasmas soviéticos e marxistas.

    Benza-o a deusa Bastet, não o lamba o gato da vizinha... LOL

    S.T.

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  4. "Depois, de um dia para o outro, e de forma concertada, deixaram de falar de “cortes” para falar em 'poupanças'”

    E depois vieram as cativações. Pacheco Pereira esqueceu-se dessa parte da história.

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  5. E o mais caricato,meus caros Anónimo e S.T. é que pobre e atormentada criatura,já não perde tempo com JPP,nem a oportunidade que este lhe sugere de ler o 1984.Talvez,que o Triunfo dos Porcos,lhe possa dizer algo mais.

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  6. «... relativização da verdade e dos factos, da “verdade alternativa”, do tribalismo, do combate ao saber…»

    Quem não reconhece os compromissos com o papel da propriedade na corrupção do homo, o materialismo histórico, o partido como guia da transformação e outras bojardas?

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  7. Bojardas.

    Aí está um bom termo para catalogar com algum gozo as fífias ao lado da atormentada criatura.

    A verdade alternativa, o tribalismo, o combate ao saber, a relativização da verdade e dos factos...tudo marcas ainda presentes dum quotidiano que se agudizou e de que que maneira durante a governação austeritária e troikista de Passos Coelho.

    Estes exercícios circenses da criatura atormentada...

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  8. Eu, por mim, aprecio a heterodoxia do pensamento de Branko Milanovic:

    http://glineq.blogspot.com/2018/09/hayekian-communism.html

    Aprecio sobretudo aqueles que conseguem pensar fora do quadro limitado em que foram condicionados, quer por educação, quer por afinidade ideológica.

    As lições a retirar de 1984 são múltiplas e derivam sobretudo da facilidade tecnológica com que se invade a privacidade, se viola a liberdade de pensamento e se manipulam as mentes da populaça. E isso tanto é válido para a situação presente da China como para a situação podre da comunicação social portuguesa.

    E talvez não seja demais recordar o trilema de Rodrik, aqui muito sucintamente explicado pelo próprio na sua aplicação à EU:

    The Trilemma Facing the Eurozone | Dani Rodrik | CWT Shorts
    https://www.youtube.com/watch?v=Pj6lFu_x98s
    (Recorde-se que este video já é de 2015)

    Os problemas com que as sociedades humanas do século XXI se confrontam são complexos e não se compadecem com a rigidez da caracterização ideológica que mais das vezes é aplicada na sua análise.

    S.T.

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