terça-feira, 17 de julho de 2018
João Semedo (1951-2018)
Sabemos que para o capitalismo moderno tudo é uma mercadoria, tudo se pode pôr à venda. O sucesso está em saber promover e vender o produto, seja um bem ou um serviço. Esta cultura mercantil e consumista alastra, perverte todos os domínios da sociedade e adultera os nossos modos de vida e de estar. Ela é, precisamente, o contrário do humanismo que reclamamos para o SNS. Uma cirurgia não é uma mercadoria e muito menos um espectáculo para ter público. Deixemos as nossas coronárias, vesículas e fígados de fora dessa cultura que degrada o ser humano. Saibamos proteger a saúde, as grávidas e as crianças. Precisamente em nome da humanização dos cuidados prestados pelo SNS.
9 de Janeiro de 2016
A primeira coisa a fazer para resolver um problema é conhecê-lo. Procurar as suas causas, ver os seus contornos, perceber como evolui, avaliar a sua dimensão e os impactos que pode provocar. Não creio que seja apenas no domínio do pensamento científico que deva proceder-se assim. Pelo contrário, tal método é o melhor, seja qual for a natureza da situação com que nos defrontamos (...) Julgo que o governo, as autoridades e os profissionais de saúde – na esmagadora maioria dos casos – têm estado bem. Mas é preciso ir mais longe nas medidas: não basta as escolas informarem os centros de saúde dos alunos sem vacinas ou obrigá-los a uma quarentena, é preciso responsabilizar e dotar os centros de saúde dos meios que lhes permitam contactar as famílias, ir ao seu encontro, explicar as vantagens da vacinação, convencer pela persuasão e aplicar as vacinas em falta. Não acredito que haja uma mãe ou um pai que recusem. Não se pode é ficar à espera que eles apareçam. Ou que os filhos apanhem sarampo.
27 de Abril de 2017
Dois excertos que ilustram o cuidado de João Semedo, aquilo que sabia tão bem: as pessoas fazem o melhor de que são capazes nas circunstâncias que são as suas; a política que conta trata precisamente da humanização das suas circunstâncias e do desenvolvimento das suas capacidades. Esta fórmula, que aqui se costuma usar, não é uma abstração.
De facto, o Serviço Nacional de Saúde, ao qual dedicou uma parte importante, talvez a mais importante, da sua vida profissional e política, é um esforço colectivo, assente na provisão pública, que concretiza este conhecimento humanista.
João Semedo vai fazer muita falta neste e noutros esforços colectivos.
Se o tivesse conhecido talvez tivesse sido seu amigo. À família, amigos e ao seu actual partido já apresentei as públicas condolências.
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