Lembram-se do Filipa de Lencastre? Um esclarecedor artigo de Isabel Leiria no Expresso Diário de ontem permite ter agora uma noção mais clara da dimensão (e do impacto) do esquema das «moradas falsas» para efeitos de matrícula: «Quase 40% dos alunos do pré-escolar, 1º e 5º ano do Filipa de Lencastre, em Lisboa, não têm os pais como encarregados de educação. Trata-se de uma escola pública que liderou o ranking nacional em 2016 e foi terceira em 2017, sendo das mais procuradas pelas famílias».
Os números impressionam: das 45 vagas do pré-escolar, 17 (38%) são de crianças cujos pais delegaram as competências de encarregados de educação em terceiros; no 1º ano do básico, 39 das 98 vagas (40%) correspondem às mesmas circunstâncias; no 5º ano, 66 das 189 vagas disponíveis, idem. Ou seja, quase metade dos alunos que frequentam inícios de ciclo têm como encarregados de educação pessoas a quem os pais delegam essa função. E como a vaga é garantida nos anos de continuidade, os pais chamam a si esse estatuto logo de seguida, «quando o critério residência deixa de ser relevante» (como sucede por exemplo no 2º ano, em que a delegação de competências cai de 40 para 17%).
Deve referir-se que nem todas estas situações de delegação de competências correspondem a casos de matrículas forjadas (por alguma razão a percentagem não passa de 40 para 0% na transição do 1º para o 2º ano). Tal como deve sublinhar-se que o Agrupamento de Escolas Filipa de Lencastre está longe de ser caso único, sendo apenas o mais mediatizado nos últimos tempos e aquele cujos contornos hoje se conhecem melhor.
No seu conjunto, de facto, estas situações mostram pelo menos três coisas: que a cultura da concorrência e dos rankings não é uma abstração, tendo consequências muito concretas; que as direções das escolas pactuam e promovem este tipo de esquemas, procedendo a uma efetiva seleção de alunos, em nome das boas posições nos rankings (impedindo dessa forma que muitos dos que realmente residem na sua área de influência as frequentem); e, por último, que vão na direção certa as medidas recentemente adotadas pelo Ministério da Educação, no sentido de se proceder a um controlo muito mais apertado deste tipo de fraude. Por tudo isto, quando ouvirem falar em igualdade de oportunidades, e do papel da escola na mobilidade social, lembrem-se de todos os «Filipa de Lencastre», que existem de norte a sul do país.
«as direções das escolas pactuam e promovem este tipo de esquemas, procedendo a uma efetiva seleção de alunos» fica por explicar uma vez que sempre têm que lidar com o universo que se lhes apresenta, cumprindo regras. Quem faz a selecção são os pais, seleccionando escolas.
ResponderEliminar«quando ouvirem falar em igualdade de oportunidades, e do papel da escola na mobilidade social, lembrem-se…» fica por esclarecer em que é que a residência é o definidor de oportunidades igualitárias e se o papel da escola na mobilidade social não requereria uma qualquer promoção de migrações entre zonas económico-sociais.
O que fica claro é que assegurar igualdade é misturar, apostando que o mau e o bom dêem um qualquer medíocre ideal e dispensem esforço adicional de agir sobre o mau, cuja mera identificação sempre é tida por ofensa à dignidade humana!!!
O corretês na sua expressão mais óbvia.
Dois comentários .
ResponderEliminar1) Esta situação é muito anterior aos ranking oficiais.
2) Há muita seleção na Escola Pública.
Muito bem!
ResponderEliminarBom post.
ResponderEliminarA meu ver só penso que não faz sentido que o critério "morada do encarregado de educação" seja mais relevante para atribuição de vaga escolar do que o local de trabalho do mesmo encarregado de educação. Ainda por cima num governo apoiado por uma maioria de esquerda que deveria defender os interesses dos trabalhadores face aos interesses dos que podem residir em zonas privilegiadas de uma cidade.
Vitor pimentel ferreira começa,como sempre aliás, por dizer como aqueles deputados da assembleia nacional:
ResponderEliminar"Bom post". "Muito bem"
Depois dá a volta ao prego e resolve repetir o já dito e redito. Como sempre aliás.
Com uma diferença.Agora na defesa de quem pode trabalhar nas zonas privilegiadas da cidade.
O governo (que é do PS) mexe-lhe com a ideologia e a forma de governar, apesar de tudo por vezes diferente da forma de governar da tralha neoliberal pura e dura
Mais uma vez jose mostrando o seu corretês em português:
ResponderEliminar" fica por explicar uma vez que sempre têm que lidar com o universo que se lhes apresenta, cumprindo regras. Quem faz a selecção são os pais, seleccionando escolas."
Não. Quem faz a selecção são os pais. Quem pactua e promove este tipo de esquemas são direcções de escolas, procedendo a uma efetiva seleção de alunos, em nome das boas posições nos rankings (impedindo dessa forma que muitos dos que realmente residem na sua área de influência as frequentem).
Lembremo-nos que este post vai em sentido contrário de todo o corretês político de quem defende os rankings e outras fantochadas. Mostra que estes são manipulados e manipuláveis. E que a cultura da concorrência e dos rankings não é uma abstração.
(Mostra também o espírito de advogado adormecido que há no jose: "cumprindo regras". Adaptando-as de acordo aos seus critérios de corretês político ao serviço dos seus intentos ideológicos)
A % de alunos fora da área é responsável pela grande % de sucesso da escola!
ResponderEliminarÉ, Marco?
ResponderEliminarVocemecê parece aquele tipo que justificava o seu insucesso escolar pelo facto de estar na escola da área da sua residência.
Depois terá emigrado para a Holanda ou para a Alemanha já não sei bem.
Mas confessemos que com argumentos destes o problema do Marco ( e daquele outro tipo) não é da área da residência, nem da escola. O problema é mais fundo e mais grave.
(Talvez algum acompanhamento mais profissional?)