O Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, foi ao parlamento afirmar que "o Governo assume a hipótese de explorar petróleo ao largo do Algarve".
Esta é a primeira vez que o governo assume explicitamente a defesa da exploração de petróleo em Portugal. Até aqui, vários membros do executivo têm-se escudado na ideia de que o país tem de conhecer os seus recursos naturais, como forma de justificar o contrato com o consórcio ENI/GALP para exploração de petróleo ao largo de Aljezur. Na verdade, nunca foi um argumento convincente: o contrato inclui todas as fases do processo, desde a prospecção à exploração. Agora, o Ministro do Ambiente não só admite a possibilidade, como assume o desejo de que Portugal se torne um país produtor de petróleo. Porém, insiste em justificar a decisão alimentando equívocos e deixando por esclarecer questões-chave.
Primeiro, é falsa a ideia de que Portugal poderá tornar-se independente em termos energéticos com base nestes contratos. Caso encontre petróleo, o consórcio ENI/GALP não está obrigado a vendê-lo em Portugal a preços mais favoráveis. Vendê-lo-á nos mercados internacionais, a quem pagar mais. Os lucros ficarão para si e as contrapartidas para o Estado português serão mínimas. O Ministro do Ambiente continua a não falar desta questão. Pelo contrário, insiste em alimentar a fábula do enriquecimento fácil do país com base em contratos muito pouco favoráveis (e cujo processo de aprovação é questionável a vários níveis).
Segundo, a promessa de que a exploração não avançará sem um estudo prévio de impacte ambiental é pouco tranquilizadora. É sabido que o risco de desastre ambiental é mínimo, desde que sejam tomadas todas as precauções. Por isso, e porque ninguém se atreverá a parar o processo depois de terem sido gastas centenas de milhões de euros na fase de prospecção, nenhum estudo de impacte ambiental irá fazer parar este processo. Se houver petróleo haverá exploração. Mas os acidentes, por pouco prováveis que sejam, acontecem - como se tem visto em várias partes do mundo. E quando acontecem os efeitos são desastrosos. O contrato com a ENI/GALP não protege o país dessa eventualidade: em caso de acidente, será o Estado português e as populações afectadas a assumir o grosso dos custos ambientais, sociais e económicos. O Ministro do Ambiente continua a não falar desta questão. Neste caso, prefere mesmo fingir que não é nada com ele.
Finalmente, o Ministro do Ambiente continua a não conseguir explicar como é que o apoio, agora finalmente assumido, à exploração de petróleo em Portugal é compatível com os compromissos assumidos pelo Estado português no Acordo de Paris. Existe hoje o reconhecimento internacional de que o combate às alterações climáticas se faz não apenas pela redução do consumo de hidrocarbonetos, mas também pela redução da sua produção. É verdade que os tempos mudaram: Obama saiu da presidência dos EUA e deixou no seu lugar alguém que fez letra morta daquele Acordo (e de outros). Isto reduz drasticamente a probabilidade de vermos diminuir a produção de hidrocarbonetos à escala mundial nas próximas décadas. O que o Ministro do Ambiente parece estar a dizer-nos é que não cabe a Portugal preocupar-se com isso. É verdadeiramente caricato que seja o responsável pela pasta do Ambiente a assumi-lo.
Bom, dizer que os hidrocarbonetos serão vendidos no mercado internacional e não cá é equivalente a dizer que são exportados, melhorando portanto a balança comercial. O que é sem dúvida bom.
ResponderEliminarQuanto à compatibilidade com os acordos de Paris, os acordos não referem a localização da produção, e prevê-se ainda uma subida de procura mundial de hidrocarbonetos até 2040(IEA), mesmo com implementação total. Não se mantém uma civilização tecnológica fornecida de energia com boas intenções.
Importante sim é substituir o carvão que é utilizado na produção de electricidade por fontes de mais baixo carbono, substituição em que o gás natural é uma peça fundamental (já que o nuclear parece ser tabu.)
E depois há questões de segurança de abastecimento, e de estarmos a financiar regimes esquisitos ao custo de vários milhares de milhões de euros por ano.
Acordo de Paris? Mesmo esse está completamente ultrapassado!
ResponderEliminar«Using a set of numerical experiments from 39 CMIP5 climate models, we project the emergence time for 4◦C global warming with respect to pre-industrial levels and associated climate changes under the RCP8.5 greenhouse gas concentration scenario. Results show that, according to the 39 models, the median year in which 4◦C global warming will occur is 2084»
«The RCP8.5 scenario is a high emissions scenario [Que é onde estamos!], and
one that does not include any specific climate mitigation (Riahi et al., 2011). Under this scenario, 29 out of the 39 models reach a 4◦C global warming by 2100, with the earliest at 2064» !!!
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2Fs00376-018-7160-4.pdf
Ou o ministro é profundamente ignorante ou faz parte de um gang de criminosos!
« centenas de milhões de euros na fase de prospecção», a parte menos considerada em tudo que se diz!
ResponderEliminarMais uma pedrada no charco.
ResponderEliminarUm bom post
Por acaso, do meu ponto de vista, o problema é mesmo que os contratos não defendam o interesse nacional.
ResponderEliminarPor enquanto, a nível global ainda se mata e morre muito em guerras pelo domínio das fontes de energia fósseis. Vai daí, ignorar um recurso que a curto prazo pode ser utilizado mas a longo prazo não, é capaz de não ser sensato.
Recordo aquilo que já noutros comentários afirmei, a saber, que há uma corrida a ver quem consegue lucrar com um mercado que fatalmente terá que ser substituído por fontes de energia renováveis.
Nesse contexto compreende-se melhor a tentativa da Arábia Saudita há uns anos de rebentar com os produtores de petróleo e gás de xisto dos EUA e com os produtores russos. Ainda nesse contexto percebe-se as correntes sanções ao Irão como forma de criar uma "escassez artificial" que mantenha os preços do barril de petróleo em níveis "interessantes". Idem para a manutenção da Venezuela em condição de "implosão controlada". Já se esqueceram que a OPEP é um cartel?
Bem jogado era conseguir adquirir competências nas técnicas de exploração offshore, porque a implantação de parques eólicos usa o mesmo tipo de equipamentos e técnicas.
A transição para fontes de energia renováveis realisticamente só se fará por vantagem económica destas em relação às energias fósseis porque estas simplesmente representam poder e dinheiro numa escala que a maior parte de nós nem imagina.
Por exemplo, está previsto que o custo do fotovoltaico "made in china" baixe 30% até ao fim do ano. E isto se uma forte desvalorização do Yuan não o tornar ainda mais atractivo.
As guerras comerciais por vezes têm consequências imprevistas... ;)
S.T.
é muito melhor que os outros países explorem e corram os riscos e nós compremos o petroleo já pronto ? fica mais barato ? é mais ecologico? ou vamos deixar de comprar e gastar petroleo ?
ResponderEliminarPortugal tem de ser salvaguardado na exploração do seu próprio petróleo. Todos estes anos temos visto as mais variadas figuras deste país a vender portugal como se fosse seu, actos ilegítimos que nunca têm consequências, penso que esta gente tem de ser apontada por gestão danosa e por acção deliberada contra o interesse da nação.
ResponderEliminarQuando pensam em todos os grandes negócios neste país nos últimos 30 anos com que sensação ficam?
O comentador nunes parece não ter noção do efeito perverso das lógicas de mercado nos países produtores, fiquei sem saber se anda enganado ou se está apenas a enganar.
ResponderEliminarConcordo inteiramente com o artigo. Basta vermos o sonho socialista venezuelano. Com a maior reserva de petróleo da América, e todavia dos mais miseráveis.
ResponderEliminarST tem razão quando diz que "A transição para fontes de energia renováveis realisticamente só se fará por vantagem económica destas em relação às energias fósseis porque estas simplesmente representam poder e dinheiro numa escala que a maior parte de nós nem imagina."
ResponderEliminarChama-se economia de mercado ambientalmente sustentável.
ST lede:
https://www.veraveritas.eu/2017/11/da-saude-publica-nas-economias-de.html?m=1
Por isso é premente os estados taxarem as indústrias fósseis. ST, se não for o estado a taxar as fósseis, a indústria nunca deixará que as renováveis sejam competitivas. Vede o caso da Dinamarca que tem uma electricidade com preços proibitivos com mais de 60% a vir das fósseis.
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ResponderEliminarDizem os brasileiros que "pimenta no cu dos outrso, é refresco". Lembrei-me disso quando li o post. Explico.
A exploração de petróleo não me merece qualquer simpatia. Mas, como concumidor, tento não exagerar na hipocrisia. Enquanto os riscos se limitarem às off shor nigerianas, os impactos são aceitáveis ?
MRocha
Vede vede.
ResponderEliminarVede que este tipo não desgruda da Venezuela. Deve ter inveja da China e dos países subsarianos às voltas com a globalização da gralha científica dinossáurica
É s economia de mercado neoliberal sustentada a tretas
Para o Nunes das 10:41
ResponderEliminarAceitaria pensar nessa possibilidade se, e só se, a exploração do petróleo fosse assegurada pelo Estado, como acontece na Noruega, e os lucros fossem canalizados para a Segurança Social, saúde, educação e políticas mais amigas do ambiente ( a Noruega está a fazê-lo, ie, produz petróleo e vai ser dos primeiros países a abolir a circulação automóvel não elétrica)
Ainda assim, seria apenas uma possibilidade a considerar. Nunca, mas nunca, entregar a exploração da riqueza do subsolo nacional a acionistas privados. Ou escolhemos definitivamente apostar no bem comum ou o planeta continuará doente, orientado por ganâncias parcelares.