Mário Centeno e Miguel Castro Coelho escreveram um artigo no Voxeu, o sítio de divulgação da economia convencional europeia, a louvar o seu trabalho na “viragem” da economia portuguesa. Algumas notas rápidas:
1. Atribuir a recuperação económica aos inegáveis avanços de décadas na educação em Portugal é só uma manifestação de fé. Como o próprio Centeno e Coelho afirmam, esses avanços vêm de trás e precedem a longa estagnação da economia portuguesa a partir de 2001. Se os avanços na educação são condição para uma economia diversificada e desenvolvida, eles não são suficientes, como o caso português bem mostra. Não basta investir do lado da oferta. A procura de qualificações e as políticas públicas que as promovam (por exemplo, através de uma política industrial e cambial) são o outro lado da moeda que tem faltado em Portugal. Nesta recente recuperação da economia, alimentada pelo turismo e imobiliário, com desinvestimento nos serviços públicos (onde a necessidade de qualificações se concentra), dificilmente se pode atribuir uma relação causal entre progresso educativo e crescimento económico.
2. O aumento da capacidade exportadora da economia portuguesa é celebrado, mas a palavra turismo não aparece uma única vez. Não é difícil perceber a razão por detrás. Dar relevância a este sector mina o argumento de que estamos num processo de reestruturação económica, em convergência com os países mais ricos, graças às “reformas estruturais” entretanto empreendidas.
3. Nem uma palavra crítica é dedicada à reforma laboral do anterior governo. Pelo contrário, as sucessivas reformas laborais e a "flexibilidade" gerada são, mais uma vez, celebradas: temos fluxos de trabalhadores entre emprego e desemprego parecidos com os dos EUA. Urra!? A experiência de oscilar entre os dois estados deve ser formidável para os trabalhadores... Nada que surpreenda vindo de quem sempre defendeu o recuo dos direitos do trabalho. Talvez fique mais claro a relutância deste governo em reverter uma reforma antes criticada pelo Partido Socialista.
4. Os dados do investimento usados no artigo são bem estranhos. O aumento de 9% em 2017 é sublinhado, mas não nos dizem qual é a base. Pelo contrário, oferecem-nos um gráfico com o rácio entre investimento (privado) e valor bruto acrescentado. Como o segundo também caiu, parece que estamos em linha com a restante UE. Portugal é um dos países europeus com mais baixo investimento na Europa e o país com mais baixo investimento público em percentagem do PIB.
5. Este artigo parece (mais) uma provocação aos partidos que suportam o governo.
1. Atribuir a recuperação económica aos inegáveis avanços de décadas na educação em Portugal é só uma manifestação de fé. Como o próprio Centeno e Coelho afirmam, esses avanços vêm de trás e precedem a longa estagnação da economia portuguesa a partir de 2001. Se os avanços na educação são condição para uma economia diversificada e desenvolvida, eles não são suficientes, como o caso português bem mostra. Não basta investir do lado da oferta. A procura de qualificações e as políticas públicas que as promovam (por exemplo, através de uma política industrial e cambial) são o outro lado da moeda que tem faltado em Portugal. Nesta recente recuperação da economia, alimentada pelo turismo e imobiliário, com desinvestimento nos serviços públicos (onde a necessidade de qualificações se concentra), dificilmente se pode atribuir uma relação causal entre progresso educativo e crescimento económico.
2. O aumento da capacidade exportadora da economia portuguesa é celebrado, mas a palavra turismo não aparece uma única vez. Não é difícil perceber a razão por detrás. Dar relevância a este sector mina o argumento de que estamos num processo de reestruturação económica, em convergência com os países mais ricos, graças às “reformas estruturais” entretanto empreendidas.
3. Nem uma palavra crítica é dedicada à reforma laboral do anterior governo. Pelo contrário, as sucessivas reformas laborais e a "flexibilidade" gerada são, mais uma vez, celebradas: temos fluxos de trabalhadores entre emprego e desemprego parecidos com os dos EUA. Urra!? A experiência de oscilar entre os dois estados deve ser formidável para os trabalhadores... Nada que surpreenda vindo de quem sempre defendeu o recuo dos direitos do trabalho. Talvez fique mais claro a relutância deste governo em reverter uma reforma antes criticada pelo Partido Socialista.
4. Os dados do investimento usados no artigo são bem estranhos. O aumento de 9% em 2017 é sublinhado, mas não nos dizem qual é a base. Pelo contrário, oferecem-nos um gráfico com o rácio entre investimento (privado) e valor bruto acrescentado. Como o segundo também caiu, parece que estamos em linha com a restante UE. Portugal é um dos países europeus com mais baixo investimento na Europa e o país com mais baixo investimento público em percentagem do PIB.
5. Este artigo parece (mais) uma provocação aos partidos que suportam o governo.
De acordo. Mas a exclamação (irónica) de entusiamo devia ser «Hurra», com "h", senão é tempo verbal do verbo urrar. Para isso, mais valia antepor-lhe um "z" ao início. Ficava mais em conformidade.
ResponderEliminarMuito bem!
ResponderEliminar"Nesta recente recuperação da economia, alimentada pelo turismo e imobiliário ..."
ResponderEliminarCaro Nuno Teles, está completamente enganado. A recuperação da economia deveu-se essencialmente ao fim da austeridade, da reversão de cortes salariais e ao consequente aumento do consumo e procura interna.
Realmente só falta dizer que a política do governo anterior é que fazia sentido!
ResponderEliminarFinalmente – e só por razões tácticas – a esquerda assume que o progresso geringonço é fantasia oportunística e conjuntural.
Quanto a soluções, só uma para exemplo: «as políticas públicas que … (por exemplo, através de uma política industrial e cambial) ...». Acontece que é a única que não está disponível, por três razões:
- em vez de capital temos dívida e poucochinho crédito.
- temos democracia em vez da ditadura que mobilizaria e acumularia capital
- para termos ditadura de esquerda e moeda, não teríamos mercado.
Entretanto, entretenham-se a distribuir, consumir e invetivar o capital.
Era a este Centeno, tomado como idiota útil de Bruxelas, que alguém um dia chamou do mais radical dos radicais.
ResponderEliminarEm cinco parágrafos desmonta-se o artigo de Centeno e Coelho. Incisivos.
Bom trabalho o de Nuno Teles
Herr José sempre a tresler
ResponderEliminarFalar na pulitika do governo anterior?
Só para os mafiosos e os rentistas.
Mas não ê tão romântico esse pendor para a ditadura do herr José
ResponderEliminarA herança dos tempos das costas quentes do estado novo ...
Oh Jose, há que admirar a paciência em insistir na cassete propagandista. A política, mais décima menos décima, é a mesma, é o ponto do autor, e não funciona porque sim nem com uns, nem com outros.
ResponderEliminarÉ o chamado "artigo a dar graxa ao cágado". LOL É normal.
ResponderEliminarDeviam era estar a trabalhar no plano B e no plano C
https://www.bloomberg.com/view/articles/2018-06-01/italy-needs-a-euro-exit-plan-and-so-does-the-rest-of-europe
Entretanto o banco JPMorgan considera que a melhor opção de Itália seria dizer "Ciao, euroinómanos!":
https://www.zerohedge.com/news/2018-06-02/jpmorgans-stunning-conclusion-italian-exit-may-be-romes-best-option
S.T.
A esquerdalhada a apoiar o America First! é o último número da palhaçada com que nos vêm entretendo.
ResponderEliminarÀ força de não terem nada para dar sempre procuram promover inimigos que demonizam para se fazerem acreditar em contraponto. Só quem não os conhece...
"só falta dizer que a política do governo anterior é que fazia sentido!"?
ResponderEliminarE com o ponto de exclamação da ordem a tentar fazer-se passar por coisa séria?
Aquela política das ditas reformas estruturais do Passos e companhia e agora citadas indirectamente por Rui Rio, numa espécie de tiro no pé quase que cómico?
O que fazia sentido era "isto"?
As "reformas estruturais que mais não significaram do que ataques aos direitos dos trabalhadores, com o congelamento do salário mínimo nacional durante quase quatro anos, com o congelamento das reformas e pensões e com o congelamento e redução das remunerações na administração pública, com cortes nas indemnizações por despedimentos, nos montantes e condições de concessão do subsídio de desemprego, no pagamento das horas extraordinárias e trabalho suplementar, com a redução do emprego na administração pública, com a suspensão parcial dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores da administração pública, reformados e pensionistas, com a criação da sobretaxa extraordinária de IRS em 2011 e a sobretaxa de IRS a partir de 2013, a revisão e limitação dos benefícios fiscais em sede de IRS, as alterações dos escalões e aumento das taxas do IRS, o aumento da taxa normal de IVA para 23%, a sujeição do consumo de electricidade e gás natural à taxa normal de IVA e as reestruturações das taxas de IVA.
Reformas estruturais que mais não significaram do que cortes nas prestações sociais não contributivas (abono de família, complemento solidário para idosos e rendimento social de inserção), aumento das taxas moderadoras, cortes nas despesas com Saúde e cortes nas despesas com Educação.
Reformas estruturais e políticas de austeridade que ao mesmo tempo que significaram uma redução dos rendimentos do trabalho de cerca de 3,4 mil milhões de euros entre 2011 e 2015, corresponderam a um aumento do excedente bruto de exploração (lucros, juros e rendas) de cerca de 4 mil milhões de euros.
Objectivamente da aplicação do chamado programa de assistência económica e financeira (programa da troika) o que resultou foi o agravamento da distribuição do rendimento nacional em detrimento dos rendimentos do trabalho e a favor dos rendimentos do capital."
Se realmente alguém diz que o que fazia sentido ( com o ponto de exclamação típico das carpideiras profissionais) era esta trampa acima descrita...
ResponderEliminarbebe, está doente, senil, confuso...ou quer mais a dita: ditadura ou a denta dura do Passos
Entre a ditadura e a denta dura, José hesita
ResponderEliminarMas prefere tentar o caminho da palhaçada
Só quem não o conhece
A des_conversa, estádio último da inanidade argumentativa.
ResponderEliminarDes-conversa?
ResponderEliminarTal como quando se fala em palhaçada e em esquerdalhada? Só quem os não conhece?
Ou quando se pressentem as lágrimas húmidas de saudades passadas (e futuras) pela ditadura que mobilizaria e acumularia capital?
Mais uma vez este a assumir a táctica da virgem ofendida...depois do elogio à canalha
Infelizmente estas habilidades argumentativas assim escondidas não passam. Nem em travesti de inanidades