Persiste na opinião pública a noção de que a generalidade dos incêndios tem origem criminosa, sendo este contudo «um mito profusamente difundido pela comunicação social» e que contribui para uma «desresponsabilização da sociedade» (como assinalou em momento oportuno o relatório da Comissão Técnica Independente que analisou os fogos de junho de 2017). Aliás, uma recente reportagem sobre o incêndio do Pinhal de Leiria empenhou-se em potenciar esta ideia, explorando de forma fantasiosa (como demonstraria um exercício de desconstrução dessa tese) o achismo de que a maioria dos incêndios resulta de «fogo posto».
Deve sublinhar-se, desde logo, que a investigação das causas dos incêndios tem melhorado de modo muito significativo nos últimos anos. De facto, não só aumentou de forma exponencial a percentagem de ocorrências averiguadas no total de ocorrências registadas (de valores inferiores a 10%, até 2007, passa-se para níveis a rondar os 76%, no triénio 2013/15), como o peso percentual de incêndios averiguados e com causa apurada denota um incremento semelhante (se até 2007 apenas era identificada a causa de 3% dos incêndios ocorridos, em 2013/15 esse valor ascende a quase metade do total de ocorrências registadas).
Assim, de acordo com os dados do ICNF para os anos entre 2001 e 2015 - e considerando apenas o universo de incêndios com causa apurada (excluindo portanto as ocorrências não averiguadas e as ocorrências com causa indeterminada) - constata-se que as queimadas (45%) e queimas de lixo (1%) constituem no seu conjunto a principal causa dos incêndios (explicando 46% das ocorrências com causa apurada), situando-se os casos de «incendiarismo» (nas situações de imputabilidade) em apenas 30% do total de ocorrências. Globalmente, estas duas causas explicam 75% do total de incêndios com causa apurada, registados nos últimos quinze anos.
Por último, e mesmo admitindo que a melhoria da capacidade técnica e científica de investigação dos incêndios possa interferir na quantificação das diferentes causas, não deixa de ser interessante constatar a estabilidade, em termos relativos, da preponderância que estes dois fatores (queimadas e «fogo posto») assumem ao longo do período considerado. Ou seja, sim é verdade que a maior parte das ignições têm origem humana. Contudo, uma coisa é reconhecer que se trata, fundamentalmente, de negligência e irresponsabilidade e outra, bem diferente, é apontar o dedo ao «fogo posto» (esvaindo-se assim a converseta de senso comum em torno da «mão criminosa» que supostamente está por detrás dos incêndios).
Como serão divididos quanto à origem os restantes 56% de incendios com causa não apurada?. Incendiários não deixam cartão de visita?.
ResponderEliminarIsto de relatórios sobre incêndios elaborados por "supostos" peritos não passa de um exercício inútil: os incêndios progridem consoante as circunstâncias únicas do tempo e lugar, logo o dispositivo terá que fazer um reajustamento constante, sem qualquer rigor científico que não seja o de posicionar meios na expectativa da proteção de populações e haveres mais significativos; só isto se pode exigir aos combatentes e nada mais: relatórios "à posteriori" com certezas "científicas" só podem uma enorme aldrabice; mas os autores que assumam o Comando da Proteção Civil.
ResponderEliminarum fogo por negligência é muito diferente de um fogo posto; o que deveria ser publicado eram séries com as consequências de fogos em cuja origem esteve negligência ou mão criminosa! alguém faz queimadas á meia noite? no meio do nada? nas piores condições atmosféricas? certamente muitos com origem na negligência progridem para enormes incêndios, o fogo posto será certamente mais eficaz para fogos de grande proporção! façam os estudos!
Não tenho números, mas nunca vi um tão grande esforço na limpeza e prevenção nas zonas rurais.
ResponderEliminarSeria interessante se houvessem números para a venda de motorroçadouras e motosserras. Outro número a ver seria o da venda de combustivel para motores a dois tempos que deve reflectir um aumento significativo nesta primavera.
Nesse aspecto está-se no bom caminho, mas a chave seria encontrar formas de rentabilizar as espécies arbustivas que constituem o coberto vegetal degradado da maior parte das nossas serras ou substitui-las por outras que não os malfadados eucaliptos.
Pesquisa, precisa-se!
S.T.
"Seria interessante se houvessem números" ????????!!!!!!!
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