segunda-feira, 12 de março de 2018

Os motores do crescimento português


Ficámos recentemente a conhecer os dados preliminares das Contas Nacionais relativos a 2017. Esses dados permitem-nos fazer um primeiro balanço em relação a como evoluíram na primeira metade da actual legislatura as componentes do produto – consumo privado, consumo público, investimento, exportações e importações – e de que forma contribuíram para o crescimento nestes dois anos, que foi, em termos reais, de 1,6% em 2016 e 2,7% em 2017.

A este propósito, voltou a ganhar vigor um debate que vem grassando há algum tempo acerca de qual tem sido o verdadeiro motor do crescimento da economia portuguesa. Em causa está saber até que ponto é que o crescimento tem assentado mais na procura interna ou na procura externa, mais no consumo ou mais no investimento. A questão não é meramente analítica mas também claramente política: na impossibilidade de argumentar que a política económica deste governo não tem produzido bons resultados, uma parte da direita passou a afirmar que o sucesso verificado se deveu ao governo ter feito o contrário do que anunciara, seguindo uma política económica “de direita” e apostando no investimento e nas exportações em detrimento do consumo privado.

A controvérsia é alimentada adicionalmente por uma questão técnica. É que, das componentes que referi em cima, quatro contribuem positivamente para o PIB mas uma (as importações) contribui negativamente, não havendo consenso relativamente à forma mais correcta de considerar esta última. O INE, por exemplo, agrupa as importações juntamente com as exportações para calcular a procura externa líquida. Já o Banco de Portugal considera que o consumo público e privado, o investimento e as exportações têm todos uma parte importada e por esse motivo “distribui” as importações por cada uma das outras componentes, de modo a aferir o contributo líquido destas. É devido a esta diferença de metodologia que o INE pôde concluir, no Destaque recentemente distribuído e citado nos jornais, que a procura externa líquida teve um contributo negativo (-0,2%) para o crescimento do ano passado, ao passo que o Banco de Portugal, no mais recente Boletim Económico (Dezembro de 2017), projectava para 2017 contributos positivos da procura interna e externa de 1,1% e 1,5% respectivamente. E é também por isso que o Fórum para a Competitividade, um think tank de direita, tem criticado o INE por apresentar os dados do PIB “de forma enganadora, (...) levando os decisores políticos a cometer erros muito graves, de privilegiar a procura interna, quando a chave do crescimento está nas exportações”.


No que diz respeito à metodologia, neste caso são o Banco de Portugal e o Fórum para a Competitividade, e não o INE, quem tem mais razão. Não faz sentido imputar a totalidade das importações às exportações e concluir que a procura externa teve um contributo menor ou negativo para o crescimento, quando boa parte do aumento das importações se deveu à expansão da procura interna e não teve nada a ver com as exportações.

Mas a razão da direita fica-se por aqui. É que se alguma coisa os dados dos dois últimos anos mostram é que o crescimento robusto se deveu tanto à procura interna como às exportações, não havendo contradição ou rivalidade entre uma coisa e a outra. Olhando para os dados das contas nacionais agora disponibilizados, vemos que, no conjunto dos dois anos, o consumo e as exportações tiveram contributos brutos (isto é, não deduzindo as importações) relativamente idênticos para o crescimento verificado: 41% e 46%, respectivamente. Os restantes 13% vieram do investimento, principalmente em 2017. A questão técnica de como passar daqui para os contributos líquidos pode ser discutida, mas será sempre mais favorável à procura interna, visto que é geralmente reconhecido que as exportações têm um maior conteúdo importado do que as outras componentes. A conclusão é, portanto, que o crescimento dos dois últimos anos não teve um motor único, mas sim dois: a procura interna e a procura externa, com contributos relativamente semelhantes. Sem uma ou a outra, o crescimento teria sido muito menor do que foi.

Porém, ainda mais importante do que isso é a conclusão, inegável, que a política de valorização de salários e pensões não só não impediu o crescimento vigoroso do investimento e das exportações, como muito provavelmente foi decisiva para restaurar a confiança que impulsionou o investimento. A direita está errada quando alega que estes resultados validam a sua estratégia. É exactamente o contrário: são uma refutação categórica das ideias de desvalorização interna e austeridade expansionista que durante anos assombraram o debate público.


Adenda - cálculos:

Os valores referidos em cima têm por base os dados anuais nominais das Contas Nacionais recentemente publicado pelo INE e disponíveis aqui (ficheiro A.1.2.5.1, o primeiro da lista). Neles verificamos que o consumo público e privado (C+G), o investimento (I), as exportações (X), as importações (M) e o PIB (C+G+I+X-M) apresentaram os seguintes valores em 2015, 2016 e 2017 (em milhões de Euros):


C+G
I
X
M
C+G+I+X
PIB (C+G+I+X-M)
2015
150,310.6
28,451.5
72,647.6
71,600.6
251,409.7
179,809.1
2016Po
154,697.8
28,718.1
74,436.3
72,358.3
257,852.3
185,494.0
2017Pe
159,685.1
31,471.0
83,227.2
81,261.4
274,383.3
193,121.9

A partir destes dados, podemos calcular a variação absoluta de cada uma destas componentes entre 2015-2016, 2016-2017 e no biénio 2015-2017:


C+G
I
X
M
C+G+I+X
PIB (C+G+I+X-M)
Variação 2015-2016
4,387.3
266.6
1,788.8
757.7
6,442.6
5,684.9
Variação 2016-2017
4,987.3
2,752.9
8,790.8
8,903.0
16,531.0
7,627.9
Variação 2015-2017
9,374.5
3,019.5
10,579.6
9,660.8
22,973.6
13,312.8

E a partir daqui calculamos o peso relativo da variação de (C+G), I e X, respectivamente, na variação total de C+G+I+X, i.e., nas componentes positivas do PIB. Não deduzir as importações equivale a distribuí-las proporcionalmente pelas componentes positivas, i.e., assumir que têm idênticos conteúdos importados em termos relativos, o que, quando muito, favorece as exportações, que habitualmente têm maior conteúdo importado. Os resultados são os seguintes:


C+G
I
X
C+G+I+X
Var. 2015-2016 (%)
68.1%
4.1%
27.8%
100.0%
Var. 2016-2017 (%)
30.2%
16.7%
53.2%
100.0%
Var. 2015-2017 (%)
40.8%
13.1%
46.1%
100.0%

De onde se conclui que o contributo do consumo para o crescimento durante os primeiros dois anos da legislatura foi de 41%, o do investimento foi de 13% e o das exportações foi de 46%, tal como referido no texto. Vemos também que as contribuições relativas se alteraram bastante do primeiro ano para o segundo, mas isso não se deveu ao consumo ter tido um contributo absoluto menor no segundo ano (se olharmos para a primeira coluna da segunda tabela, vemos que esse contributo foi até um pouco maior). O que aconteceu foi que em 2017 tanto as exportações como o investimento tiveram crescimentos extraordinários, que fizeram com que um crescimento semelhante do consumo tivesse um peso relativo menor. E o mais importante de tudo, como referi no texto, é que estes aumentos extraordinários das exportações e do investimento não só não foram impedidos pela devolução de rendimentos como, especialmente no caso do investimento, foram muito provavelmente impulsionados por ela.

24 comentários:

  1. Se o aumento da procura interna promove invariavelmente o aumento do consumo, sendo muitos produtos importados (automóveis e combustíveis representam 1/4 das importações de bens), como é que o autor pode afirmar no final do texto que o aumento da procura interna não impede as exportações e não provoca desequilíbrios externos? Este é o problema recorrente dos autores deste blogue, fazem análises a priori corretas, e conclusões completamente descabidas.

    Os Gregos são homens, Sócrates é homem, logo Sócrates é Grego! Ou será Beirão?

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  2. E, se me permite, também temos a questão do aumento do bem estar do cidadão, reflexo da restituição de rendimentos.
    Para lá das considerações Económicas.

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  3. «a política de valorização de salários» - deve entender-se que à parte a relativa insignificância do salário mínimo só há valorização das funções e carreiras públicas. E como sempre, a bandeira é o crescimento, essa manta maior da despesa pública e dívida pública.

    «estes aumentos extraordinários das exportações e do investimento não só não foram impedidos pela devolução de rendimentos como, especialmente no caso do investimento, foram muito provavelmente impulsionados por ela.» Nem o investimento é extraordinário nem onde o seja tem provavelmente nada a ver com isso. Nas exportações vai sem reservas.

    A «devolução de rendimentos» e a «política de valorização de salários» sempre são colocadas como o instrumento mágico de política económica quando no essencial a sua principal função é fazer acreditar que a ‘esquerda’ é um caminho certo e agradável, promovendo um optimismo de que sempre se ignoram as consequências na quebra da poupança e no aumento da dívida.

    Nestas análises sempre se ignora o papel dos juros negativos, que impulsionam em especial os investimentos de particulares e sustentam a bolha imobiliária em curso. Quando os juros subirem, a reformulação da política de «devolução de rendimentos e de valorização de salários» vai ser interessante de seguir.

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  4. Já o disse aqui.

    Independentemente de críticas que possam ou não fazer-se ao conteúdo do texto, é de registar a lisura, a correcção e a transparência que o autor da posta imprime aos seus textos.

    Também aqui se mostra a diferença para com o comportamento de uma direita as mais das vezes boçal

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  5. Caro Alexandre, por azelhice minha, pus o meu comentário noutro post do blog. Repito-o então, aproveitando para melhorá-lo.

    Os contributos para o crescimento, calculados da forma que faz o Alexandre, não são o mais relevante e até são enganadores.

    Desde logo porque o que interessa é o crescimento real do PIB, não o crescimento nominal. Nesse sentido deveria ter trabalhado com os dados do PIB a preços de mercado na ótica da despesa encadeados em volume (ficheiro A.1.2.5.6 em vez do referido ficheiro A.1.2.5.1). Mesmo dentro de cada ano, as taxas de variação do deflator implícito para cada componente são bastante díspares, o que distorce significativamente o contributo real de cada uma. Por exemplo, em 2015, 2016 e 2017, enquanto o consumo, privado e público, teve um deflator implícito de respetivamente 0,7%, 1,1% e 1,5%, as exportações tiveram respetivamente de -1,3%, -1,9% e 3,6%, muito diferente. A metodologia do Alexandre não permite distinguir os contributos reais das várias componentes das meras alterações de preços. É para evitar este tipo de distorções na análise que o crescimento deve ser calculado e apresentado em termos reais, aliás como é geralmente o caso.

    Os crescimentos reais do PIB em 2015, 2016 e 2017 foram de 1,8%, 1,6% e 2,7% (os crescimentos nominais de 3,9%, 3,2% e 4,1%). A questão que se coloca, por conseguinte, é de como as várias componentes do PIB (na ótica da despesa) contribuíram para o crescimento real.

    Mas há aqui, quanto a mim, outra inadequação (a roçar a incorreção). Porque o crescimento do PIB seria calculado, com maior acerto e pertinência, como a variação relativa (o acréscimo percentual) em relação ao ano anterior, em vez da variação absoluta (o acréscimo absoluto) em relação ao ano anterior. É por isso que o crescimento plurianual do PIB é calculado como uma média geométrica e não como uma média aritmética.

    Ou seja, o crescimento do PIB, deve ser calculado como a sua variação percentual em relação ao ano anterior, o [(PIB(n) – PIB(n-1))/PIB(n-1)] em %, não como a sua variação absoluta, o [(PIB(n) – PIB(n-1)].

    A metodologia do Alexandre pretende determinar, com demasiada ligeireza, os pesos relativos dos contributos de cada componente para o crescimento absoluto do PIB (nominal), mas ainda mais relevante é apurar o verdadeiro contributo de cada componente para o crescimento percentual do PIB (real).

    Por exemplo, tomemos o ano de 2016. Que relevância tem, neste contexto, saber que a variação absoluta do consumo final foi de 4.387,3 enquanto a das exportações foi apenas de 1.788,8, a primeira contribuindo com 68,1% e a segunda apenas com 27,8% para a variação absoluta do conjunto das componentes positivas do PIB nesse ano?

    Dito assim parece que o consumo final contribuiu muito mais, mas isso é extremamente enganador. Repare-se que a componente do consumo é muito maior que a componente das exportações, 150.310,6 M€ no caso da primeira e 72.647,6 M€ no caso da segunda no final de 2015 (tomo inicialmente os números do PIB nominal do Alexandre). Por isso, na realidade, o crescimento nominal do consumo foi pouco maior que o das exportações: enquanto o consumo aumentou 2,9%, as exportações aumentaram 2,5%.

    (continua)

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  6. (continuação)

    Mas, ainda assim, parece que os crescimentos do consumo e das exportações, em 2016, foram semelhantes, com alguma vantagem, um crescimento de 2,9% em relação a um crescimento de 2,5%, para o primeiro. Aqui é que entra em jogo a – chamemos-lhe assim, sem qualquer ofensa – falácia da análise nominal em vez da análise real.

    Porque na verdade as exportações aumentaram mais que o consumo! O que se passa é que, em 2016, os preços das exportações diminuíram 1,9% e os preços do consumo (interno) aumentaram 1,1%. Ou seja, na verdade as exportações aumentaram mais, aumentaram 4,4%, enquanto o consumo aumentou menos, aumentou apenas 1,8% (cf. as taxas de variação em volume das duas componentes no ficheiro A.1.2.5.8). A componente das exportações “esforçou-se” mais que a componente do consumo, mas ao contrário desta foi penalizada com preços que baixaram, certamente não por vontade dos produtores portugueses.

    Tomar o crescimento nominal em vez do crescimento real das componentes e tomar as variações absolutas em vez das variações relativas (percentuais) de cada uma, como se não fossem de dimensão profundamente desigual, distorce e dificulta bastante o apuramento real dos contributos de cada componente para o crescimento económico.

    Tanto a metodologia do INE como a metodologia (muito mais correta) do Banco de Portugal trabalham com as variações em volume (reais) das componentes e determinam os seus contributos (brutos no primeiro caso, líquidos no segundo) para a taxa de crescimento do PIB multiplicando as taxas de crescimento de cada componente (ou seja as suas variações relativas, não absolutas) pelos pesos das respetivas componentes no PIB.

    Onde as metodologia do INE e do BP divergem é que enquanto a primeira se fica pelos contributos brutos a segunda calcula os contributos líquidos, isto é, desconta corretamente a parte importada requerida, direta ou indiretamente, pelo consumo privado, pelo consumo público, pelo investimento e pelas exportações, separadamente para cada uma destas componentes. Para tal, utiliza a informação, apurada aproximadamente com base nas matrizes de input-output, dos conteúdos importados de cada uma daquelas componentes.

    A metodologia do Alexandre, para além da incorreção da análise do PIB em termos nominais em vez de reais, para além de só permitir o cálculo dos pesos relativos de cada componente para o crescimento, da forma que calcula esses pesos relativos, equivalente como muito bem diz a distribuir as importações proporcionalmente pelas componentes positivas do PIB, isto é, a assumir que estas componentes têm idêntica proporção de importações, não permite distinguir os contributos brutos dos contributos líquidos de cada componente para o crescimento. Ou seja, não se distingue no fundo a metodologia do INE da metodologia do BP, que o próprio Alexandre considera mais correta.

    A análise fica bastante empobrecida e, mesmo no que diz respeito aos pesos de cada contributo, manifestamente incorreta, por não ter considerado as variações em volume e por ter admitido conteúdos importados (proporcionalmente) idênticos em cada componente positiva do PIB.

    (continua)

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  7. (conclusão)

    Os cálculos ainda não foram atualizados este ano pelo Banco de Portugal. Tudo o que temos é a avaliação para 2016 e a projeção para 2017 apresentadas por esta instituição em dezembro do ano passado (no respetivo Boletim Económico, p. 7, quadro 1.1).

    Nela podemos ver que o contributo da procura interna (consumo público e privado + investimento) e o contributo da procura externa (exportações) foram aproximados e relevantes, como conclui acertadamente o Alexandre Abreu, apesar das distorções da sua análise.

    Os contributos da procura interna e das exportações para o crescimento, de 1,6%, em 2016 foram respetivamente de 0,7% e de 0,9%. Os seus contributos para o crescimento, de 2,7%, em 2017 foram respetivamente de 1,2% (há uma gralha no texto que lhe retira uma décima) e de 1,5%. É possível que estes números, especialmente os relativos a 2017, ainda sofram revisões.

    Mas a conclusão fundamental do Alexandre mantém-se. Não se pode desvalorizar, muito menos menosprezar, nenhum dos dois “motores” do crescimento português, o da procura interna e o da procura externa.

    Uma das grandes vantagens da metodologia do Banco de Portugal é que permite responder com toda a facilidade à pergunta de quanto teria sido o crescimento, por exemplo em 2017, se não tivesse aumentado a procura interna ou se não tivesse aumentado a procura externa.

    Se a procura interna (consumo + investimento) não tivesse aumentado em 2017, se apenas tivesse aumentado a procura externa (exportações), a economia nacional teria crescido 1,5%. A propósito, não teria crescido -0,2%, ou seja não teria decrescido, como pode sugerir absurdamente a metodologia do INE (cf. recente destaque do INE, de 28 de fevereiro de 2018, p. 2, quadro dos contributos) ao não subtrair os conteúdos importados dos crescimentos brutos e ao comparar o contributo bruto da procura interna com o contributo da procura externa líquida, entendida como a diferença entre as exportações e todas as importações, seja as que entram nas exportações, seja as que entram no consumo e investimento. Se a procura externa (exportações) não tivesse aumentado em 2017, se apenas tivesse aumentado a procura interna, a economia nacional teria crescido 1,2%.

    Repito que nisto tem muita razão o Alexandre. Ambas foram cruciais para o crescimento registado nestes dois anos.

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  8. (resposta ao comentário inadvertidamente inserido no post anterior mas que diz respeito a este:)

    Caro comentador,

    Obrigado por esta estimulante troca de ideias. Já no passado aprendi bastante consigo e continuo a fazê-lo agora.

    Dito isto, desta feita não concordo com o argumento segundo o qual a análise com base em dados nominais é menos relevante do que a análise com base em dados reais. É verdade o que diz, que com os dados assim considerados não conseguimos distinguir um aumento em volume das exportações (ou do consumo, etc) de um “mero” aumento de preços. Mas e daí? Se o deflator da componente específica for maior do que o deflator do PIB, isso quer dizer que a mesma quantidade é vendida a um preço mais elevado face à generalidade dos preços praticados na nossa economia, o que é vantajoso para os produtores dessa componente e, de uma forma geral, para a economia. Num tal caso, o “mero” aumento de preços valoriza as receitas sem penalizar (tanto) o poder aquisitivo interno das mesmas – logo não é tão “mero” quanto isso.

    Concordará decerto que efectuar uma comparação dos contributos das diversas componentes utilizando dados nominais equivale a utilizar o mesmo deflator para todas as componentes (uma vez que nos interessam os contributos relativos e não os valores absolutos). Ora, colocando-nos numa óptica de rendimento, faz todo o sentido que utilizemos o mesmo deflator: os rendimentos provenientes da venda de exportações não são utilizados para adquirir exportações. Utilizar deflatores específicos faz todo o sentido para percebermos qual foi a variação do volume de produção de cada componente, mas não para percebermos qual foi a sua contribuição para um fluxo de rendimento agregado como é o PIB. Para este último efeito, contam e interessam, no sentido em que acrescem ao rendimento real dos portugueses, tanto os acréscimos que provêm de aumentos da quantidade produzida como os que provêm de um maior aumento relativo dos preços dessa componente (na medida em que este aumento exceda o aumento de preços da própria economia).

    Concretizando relativamente ao exemplo de 2016, não é injusto penalizar as exportações em termos do cálculo do seu contributo estimado para o crescimento nesse ano em resultado dos preços das mesmas se terem reduzido enquanto os preços internos aumentaram. No limite, de que nos serve exportar o dobro em volume se os preços se reduzirem em ¾ e, consequentemente, a receita das exportações passar a metade do que era? Concordará com certeza que, independentemente do quanto os exportadores possam estar a esforçar-se, o contributo das exportações é, num tal cenário, claramente negativo.

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  9. (continuação)

    Por outro lado, também não concordo com a segunda crítica. É verdade que o cálculo dos contributos de cada componente com base nas variações absolutas torna a comparação sensível ao peso inicial de cada componente: se o consumo tiver um peso inicial quatro vezes superior às exportações e as duas componentes registarem o mesmo crescimento relativo, o contributo do consumo surgirá como tendo sido quatro vezes maior. Mas porque havemos de considerar como igualmente importantes fluxos que têm importâncias muito diferenciadas na economia? Pelo contrário, o correcto é que consideremos os respectivos contributos para gerar o crescimento do rendimento agregado como o resultado tanto do seu crescimento relativo como do seu peso no rendimento agregado – o que nos traz de volta para os valores absolutos.

    Claro que a análise do crescimento relativo da cada componente tem um lugar muito importante no debate. É sem dúvida muito significativo (e positivo) que as exportações tenham registado no ano passado um crescimento real de 7,9%. Mas quando o que está em causa é um debate político que incide sobre se devemos apostar na procura interna ou na procura externa, a comparação não pode ser apenas entre as taxas de crescimento de cada componente. Temos também de ter em conta o peso relativo de cada uma na geração de rendimento na economia. Para este último efeito, e independentemente desta discussão metodológica que o convido a continuar, estamos em todo o caso de acordo: não podemos nem devemos subestimar qualquer uma das componentes.

    Finalmente, a metodologia que adoptei permite também estimar com toda a facilidade qual teria sido o crescimento do PIB se o crescimento da procura interna/externa tivesse sido zero. Para o caso de 2017, basta converter os contributos relativos obtidos (C:30%; I:17%; X=53%) nas respectivas partes de 2,7%. Conclui-se que dos 2,7% de crescimento real verificado em 2017, 1,4% vieram das exportações e 1,3% vieram da procura interna (C+I). Parece-me que isto só se distingue das conclusões do BdP na medida em que aos contributos das componentes não são aplicados deflatores distintos mas um mesmo deflator - o que me parece ser mais correcto pelos motivos expostos em cima.

    Um abraço.

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  10. O grego, Sócrates e o pimentel.

    Uma mistura daquelas velhas e trôpegas. Porque citada repetidamente. Já repetidamente etiquetada, respondida e confrontada.

    O que este tipo faz para aparecer nas notícias

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  11. Caro João Pimentel,
    Penso que o aumento do consumo não leva necessariamente ao aumento do consumo externo. Essa percentagem dos 25% pode descer não é necessariamente imutável. Um exemplo de favorecimento do consumo interno a meu ver foi a descida da taxa de IVA da restauração, que é um dos setores em que a incorporação da mão de obra nacional é maior.
    Por outro lado um maior consumo interno também pode ser um fator virtuoso que permite a empresas produtoras nacionais ganhar massa crítica, desenvolver produtos e serviços e iniciar as exportações.
    Agora na minha opinião faz é sentido promover ao máximo que o aumento do consumo seja interno e não externo.
    Por outro lado, e aí este governo esteve muito mal na minha opinião, foi na atribuição de apoios significativos do Portugal 2020 à abertura de mais restaurantes Burger King e Macdonalds.... Não sei se ainda vão a tempo de emendar a mão, mas por muito emprego que criem acho que não faz sentido nenhum dsubsidiar a implementação desse tipo de restauração estrangeira em Portugal.

    De qualquer forma na minha opnião o crescimento económico atual e a crise anterior devem-se provavelmente em 80-90% a decisões tomadas a nível central no BCE e apenas 10-20% à política nacional, por isso discutir de forma demasiado detalhada as decisões políticas tomadas a nível nacional enquanto se ignora o que foi decidido a nível europeu é um bocado atirar areia para os olhos. É muito mais relevante as negociações que fazemos com a europa e a promoção do lobby que defenda os interesses portugueses a nível europeu do que esta microgestão de mais ou menos austeridade nacional. É olhar para a árvore ignorando a floresta.

    Caso os autores deste blogue me permitam uma sugestão, gostaria de sugerir que fizessem mais artigos sobre o que se passa na Comissão Europeia, no BCE, no Parlmento Europeu etc que possa ter relevância para Portugal, caso estejam informados sobre esses tópicos obviamente. São assuntos que têm muitas vezes mais importância do que estas questiúnculas de politica nacional, mas sobre os quais é bastante difícil obter informação e opinião em Português. E eu penso que é uma pena não se fazer esse debate...

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  12. Partilho a opinião expressa pelo Vítor, sem desmerecer as anáĺises rigorosas de Alexandre Abreu e do anónimo comentador de 13 de março de 2018 às 12:27 que são importantes para se perceber os limites desta política de recuperação. Mas recordo que sem as manobras do Sr Dragui baixando as taxas de juro e contendo a apreciação do Euro as politicas de Centeno nãq teriam sequer sido possíveis.

    Normalmente comento com links para conteúdos em inglês, francês e mais raramente italiano fazendo por vezes um pequeno resumo em português mas confiando que a quem interesse tenha pelo menos erudição suficiente para ler inglês e francês, mas para muito boa gente talvez não seja suficiente. Recordo que o blog "Les Crises", que acolhe o "exilado" Jacques Sapir, recorre habitualmente à colaboração de leitores-tradutores benévolos que assim apoiam o blog.

    Lembro também a pobreza dos meios de comunicação "clássicos" onde não passa nada que vá além da propaganda europeísta e com um enviesamento de direita neoliberal muito óbvio.
    Portanto, se quiserem uma informação mais diversificada não se queixem, comecem a "fazê-la"!
    S.T.

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  13. Olá novamente Alexandre.

    Coloquei, de facto, o comentário erradamente no post precedente, ao qual responde (às 14:28), mas verifico que entretanto a recolocação melhorada, em que preciso melhor a minha crítica, sempre construtiva, já saiu (às 12:26-12:27), embora na ordem de disposição dos comentários preceda o do Alexandre.

    Longe de mim afirmar que a análise com base em dados nominais não tem utilidade ou relevância. Refiro-me apenas a este contexto, ou a esta discussão pública, em que se avaliam a taxa de crescimento do PIB e os contributos de cada componente do PIB para essa taxa de crescimento.

    Evidentemente, se, por qualquer motivo geral ou específico, interessar estudar a taxa de crescimento nominal do PIB, a análise dos contributos para esse crescimento deve ser feita, coerentemente, em termos nominais. Mas se a preocupação for estudar a taxa de crescimento real do PIB, que é geralmente a que está em discussão, nomeadamente com as metodologias do INE e do Banco de Portugal, então a análise dos contributos para esse crescimento deve ser feita em termos reais (em volume).

    O próprio Alexandre, no seu post original, que reproduz o artigo no Expresso, deixa perfeitamente claro, logo no primeiro parágrafo, que pretende analisar os contributos para o crescimento real do PIB, de 1,6% em 2016 e de 2,7% em 2017 (não dos crescimentos nominais de 3,2% e 4,1% do PIB nesses mesmos anos). A sua discussão subsequente, sobre as metodologias do INE ou do BP, com que concordo, mantém-se nesse registo, do apuramento dos contributos para o crescimento real.

    É por isso com alguma inconsistência que, no penúltimo parágrafo do artigo, na análise desses contributos, salta para uma explicação conduzida em termos nominais. Uma explicação sem aviso, que não só não previne que já não está propriamente a levar a cabo o propósito explicitamente assumido desde o início, a análise do crescimento real, como, mais grave, como é feita sem notificação, deixa o leitor na convicção de que os pesos dos contributos apontados se referem aos contributos reais (o que estaria errado).

    Também não me parece inteiramente correto afirmar que se o deflator de uma componente específica for maior do que o deflator do PIB, o que é vantajoso para os produtores dessa componente, seja “de uma forma geral” vantajoso para a economia. No caso das componentes internas – consumos privado e público e investimento –, como se trata de uma troca exclusivamente interna, o que uns ganham com o aumento de preços acima da média outros perdem, ganham os “produtores” perdem os “consumidores”, ganham os “vendedores” perdem os “compradores”. Averiguar se esta vantagem de uns sobre outros – por exemplo do empresário nacional que vende o equipamento, produzido no país e vendido a um preço superior à média da inflação, em relação ao outro empresário nacional que o compra, ou por exemplo do empresário nacional que vendeu o artigo de consumo, cá produzido e vendido acima da inflação, em relação ao consumidor nacional que o adquire –, se esta vantagem, quando exclusivamente interna, é vantajosa para a economia e o crescimento nacionais é outra discussão, que sinto que nos desviaria do assunto e me parece desnecessária.

    Desnecessária porque todas as considerações do Alexandre, no sustento da afirmação da presumível vantagem para a economia nacional, se reportam às vendas exteriores da produção nacional, isto é, apenas às exportações e, nessa medida, estamos de acordo. Não quero atribuir-lhe raciocínios que talvez não tenha feito, mas atrevo-me a pensar que o Alexandre, pelas considerações que faz nos parágrafos da primeira parte do comentário, se referia, quanto às vantagens para a economia nacional de um deflator superior ao do PIB, não a uma qualquer componente específica (indiferentemente ao consumo, ao investimento ou às exportações), mas mais precisamente às exportações. Se assim for, concordamos.

    (continua)

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  14. (continuação)

    É claro que o fluxo de rendimentos gerado pelas exportações traduz simultaneamente a sua quantidade e o seu preço. Como diz o Alexandre, de que serve duplicar as exportações se os preços se reduzirem a um quarto, diminuindo a respetiva receita para metade?

    Podia-se sempre responder que, dada essa alteração dos preços, serve pelo menos para evitar que a receita não se reduza também a um quarto. E cá está um dos problemas da análise em termos nominais: face a uma redução para metade da receita não permite discernir se tal se deveu, por exemplo, a uma diminuição das quantidades exportadas para metade, o que poderia depender dos produtores nacionais, a uma diminuição dos preços para metade, o que geralmente não dependeria dos produtores nacionais, se a alguma combinação particular de movimentos do esforço produtivo exportador nacional e dos preços do mercado mundial (dos preços nos mercados de destino das exportações).

    O problema da análise em termos nominais é que obscurece a análise. E é da análise que fundamentalmente se trata aqui. Como reconhece o Alexandre, não permite distinguir o aumento em volume de uma componente do aumento dos respetivos preços. Uma das vantagens da análise em termos reais é que pode ser facilmente complementada com a análise em termos nominais, nomeadamente, como insiste bem o Alexandre, para se apreciarem os fluxos de rendimentos que se devem a alterações de preços no exterior do país. Mas o inverso já não é tão fácil, a análise feita em termos nominais dificulta a consideração dos fatores internos do crescimento nacional.

    A própria possibilidade de alterar o crescimento nominal do PIB apenas pela “mera” alteração dos preços das exportações, talvez pudesse levar a considerar separadamente um terceiro fator impulsionador do crescimento, além do esforço produtivo nacional para satisfazer o mercado interno e do esforço produtivo nacional para satisfazer o mercado externo, diferente destes em natureza, na medida em que não depende do país: o “motor” das alterações de preços do mercado mundial (ou dos preços nos mercados das exportações). Este “motor” é muito relevante, por exemplo, nos países produtores de petróleo, com as enormes oscilações a que está sujeito o preço internacional do crude. Em Portugal este fator é muito menos importante (os preços internacionais são bastante relevantes para as importações e, por essa via, afetam o crescimento, mas, embora relacionada, essa é uma conversa distinta). Concordo que a alteração dos preços das exportações (que o Alexandre considera na procura externa) deve ser levado em conta na contabilização do rendimento nacional. Já concordo menos com a sua especial pertinência quando se discute como o rendimento nacional depende da ação dos portugueses, dos seus trabalhadores, das suas empresas, das suas instituições. E sobretudo discordo que a consideração desse fator venha obscurecer a análise dos contributos para o aumento do produto nacional.

    Não posso também concordar, ao contrário da suposição do Alexandre (mas talvez compreenda mal o que quer dizer), que efetuar uma comparação das diversas componentes utilizando dados nominais equivale a utilizar o mesmo deflator para todas as componentes, uma vez que, segundo as suas próprias palavras, nos interessam os contributos relativos e não os valores absolutos. É precisamente por nos interessarem os contributos relativos que não posso concordar, porque sendo os deflatores de cada componente de facto bastante diferentes (como mostrei no comentário anterior), os contributos das diversas componentes, em termos nominais, ficam com valores absolutos diferentes do que teriam se o deflator fosse o mesmo para todas e, por conseguinte, também com pesos relativos diferentes do que teriam se o deflator fosse o mesmo.

    (continua)

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  15. (continuação)

    Pode-se ver isto facilmente. Basta admitir, por exemplo em 2017, que o deflator do consumo, privado e público, em vez de 1,5% fosse, admitamos o exagero para evidenciar o ponto, de cerca de 5%. Nesse caso, como a taxa de variação em volume desta componente foi de 1,7%, que admitimos se manter, a taxa de variação em valor passaria a ser de cerca de 6,7% (não me preocupo com os arredondamentos) em vez da verificada de 3,2%, o que aumentaria significativamente o acréscimo nominal absoluto do consumo final. No entanto, como as taxas de variação em volume e do deflator das exportações se teriam mantido, a sua taxa de variação em valor também se teria mantido e o seu acréscimo absoluto não sofreria alterações. Mas alterando o contributo de uma componente e não de outra(s), alterar-se-iam necessariamente os pesos relativos de cada uma.

    Na verdade, é praticamente ao contrário do que diz o Alexandre. Efetuar a comparação das diversas componentes utilizando dados reais é que equivale a utilizar um mesmo deflator, neste caso nulo, para todas as componentes e não distorce os contributos relativos de cada componente. Se trabalhamos com os dados nominais, então não estamos a utilizar o mesmo deflator para todas as componentes e os pesos dos contributos de cada uma refletem, não apenas as variações reais do volume (os “aumentos da quantidade produzida [dessa componente]”), como esses diferentes deflatores (o “maior aumento relativo dos preços dessa componente”).

    Quanto à segunda crítica, a questão não está em considerar igualmente importantes fluxos que têm importância muito diferenciada na economia, resultado dos seus desiguais crescimento relativo e peso no rendimento agregado. Percebi que poderia ter deixado esta impressão e procurei, quando refiz rapidamente o comentário para o colocar na caixa certa, atenuá-la, mas a observação do Alexandre refere-se especialmente à versão inicial.

    A questão está em que a consideração dos acréscimos absolutos nominais distorce de tal forma os verdadeiros contributos reais, que chega a invertê-los! Dei o exemplo da variação absoluta, apresentada em termos nominais, do consumo final e das exportações em 2016. Adapto o cálculo para a mesma metodologia do Alexandre, só que apresentada em termos reais.

    Em termos nominais, o acréscimo absoluto do consumo foi de 4.387,3 M€, superior ao acréscimo absoluto das exportações que foi de 1.788,8 M€ (dados do quadro do Alexandre). Mas em termos reais, o acréscimo absoluto do consumo foi de 2.571,1 M€, inferior ao acréscimo absoluto das exportações que foi de 3.277,4 M€ (Contas Nacionais, ficheiro A.1.2.5.6, dados encadeados em volume, ano de referência = 2011). O maior contributo para o crescimento (real) do PIB em 2016 foi das exportações, ao contrário do que indicava a análise em termos nominais!

    (continua)

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  16. (conclusão)

    Apresentei da mesma forma que o Alexandre, mas acho-a mais limitada que o estudo dos contributos de cada componente para o crescimento relativo (percentual), e não absoluto, do PIB. O Alexandre diz, no final, que a sua maneira também permite obter com a mesma facilidade o contributo individual de cada componente.

    Mas isso não é bem assim. Desde logo, porque o seu cálculo enferma da inconsistência de procurar explicar um crescimento real de 2,7%, no caso do ano de 2017 (em que o crescimento nominal foi de 4,1%), com base nos acréscimos nominais do consumo, investimento e exportações, respetivamente com o peso de 30%, 17% e 53% no agregado das três componentes (positivas). Se fizer as contas com base nos pesos dos acréscimos absolutos calculados em termos reais verificará que os resultados são um pouco diferentes. E – o que não constitui surpresa nenhuma, mesmo dentro desta aproximação menos rigorosa – que aumenta o contributo relativo das exportações.

    Mas o problema vai mais fundo. No procedimento do Alexandre, ao considerar apenas as componentes positivas admite-se implicitamente que os conteúdos importados (a proporção das partes importadas) dessas componentes são idênticos, o que é falso. Por exemplo, sem ter agora a preocupação de averiguar as percentagens rigorosas, provavelmente nem sequer divulgadas recentemente pelo Banco de Portugal, enquanto o conteúdo importado da procura interna (que reúne o consumo e o investimento) anda próximo dos 25% o conteúdo importado da procura externa (das exportações) anda próximo dos 40%. Foi também por isso que afirmei que a metodologia do Alexandre roça a incorreção.

    Ao não deduzir as importações, ou a distribuí-las de modo uniforme (isto é, de modo proporcional à respetiva grandeza) pelas restantes componentes, a metodologia do Alexandre também não distingue os contributos brutos dos contributos líquidos de cada componente (positiva), repetindo o erro, ou a insuficiência, da metodologia do INE, que tão justamente criticou quando atribuiu mais razão ao Banco de Portugal.

    Um abraço.

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  17. Caro amigo,

    Agradeço mais esta resposta e deixo algumas observações rápidas por falta de tempo para mais:

    i) efectivamente, respondi ao seu comentário original (o que deixou no outro post) e publiquei a minha resposta antes ainda de ler a sua segunda versão;

    ii) tal como diz, quando me referi às vantagens para a economia nacional de um deflator específico superior ao do PIB estava a pensar nas exportações (embora não o tenha deixado claro) e é só para estas que essa frase faz sentido;

    iii) a metodologia do INE deduz a totalidade das importações às exportações. A do BdP deduz a cada componente o seu conteúdo importado estimado com base em matrizes input-output actualizadas regularmente. Esta segunda metodologia é mais correcta, não tenho dúvidas disso e penso tê-lo deixado claro. O problema é que, se bem entendo, o BdP aplica-a de uma forma inextricável de outra opção metodológica, o recurso a deflatores específicos por componente para o cálculo dos contributos reais, de que continuo a discordar (ver pontos seguintes). Tanto por desconhecer as percentagens concretas de conteúdo importado estimadas mais recentemente pelo BdP como por achar que alguns leitores poderiam achar pouco claro o recurso a tal estratégia para, inevitavelmente, favorecer a procura interna (visto que o conteúdo importado das exportações é sempre superior), optei, nas minhas contas, por não deduzir de todo as importações. Isso equivale a considerar implicitamente conteúdos importados relativos iguais, produzindo por isso uma espécie de máximo do que poderá ser o contributo da procura externa e de mínimo do que será o verdadeiro contributo da procura interna. Estou com isso a favorecer deliberadamente o outro lado nesta discussão, de modo a poder dizer que, no mínimo, o contributo da procura interna nestes dois últimos anos terá sido de x% - na realidade terá sido ainda maior.

    iv) na verdade, se bem entendi, a única verdadeira discordância entre nós diz respeito à questão do recurso a dados nominais vs reais, pois penso que também estamos de acordo quanto a serem igualmente importantes o crescimento relativo de cada componente e o seu peso relativo no PIB.

    v) e no que diz então respeito a essa questão, concordamos que o que interessa em última análise é a evolução real do rendimento dos portugueses, não a sua evolução nominal. No que parecemos discordar é quanto a fazer mais sentido, do ponto de vista económico e no contexto desta análise específica, utilizarmos deflatores distintos para cada componente (calculados com base em cabazes de bens distintos) ou um mesmo deflator para todos (o do PIB). Como procurei argumentar, parece-me fazer muito mais sentido que utilizemos o mesmo deflator, uma vez que não estamos interessados em saber como evoluíram as produções de cada componente em volume mas sim em como contribuíram para um fluxo agregado de rendimento que é o PIB, que passa de nominal a real através do seu próprio deflator independentemente de cada fluxo de rendimento particular provir das exportações ou da procura interna.

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  18. vi) Imaginemos um cenário em que a procura interna (PI) e a procura externa (X) têm o mesmo peso inicial na economia e, num determinado ano, a inflação (deflator do PIB) é de 10%, o crescimento nominal da procura interna (PI) e externa (X) é de 20% para ambas, mas em volume PI cresceu 10% enquanto X cresceu 0% (ou seja, o crescimento das exportações foi inteiramente devido à variação dos preços de +20%, enquanto o deflator da procura interna foi, tal como o do PIB, de 10%). O que eu digo é que faz muito mais sentido considerar que o contributo das exportações para o crescimento real de 10% neste ano foi idêntico ao da procura interna, independentemente de quanto se deveu ao preço ou ao volume no caso de cada uma das componentes, uma vez que os acréscimos provindos das duas componentes acresceram igualmente ao rendimento real dos portugueses. Em contrapartida, o meu amigo parece sugerir que devemos considerar que 100% do crescimento real se deveu à procura interna, já que as exportações tiveram neste cenário um crescimento real (considerando o seu deflator próprio) de 0%. Será um ponto de vista possível, mas de que eu discordo. Privilegia a análise do esforço de cada componente em termos da sua variação em volume em detrimento da contribuição de cada uma para gerar rendimento real.

    vii) por último, se se achar, como eu, que faz mais sentido utilizar o mesmo deflator (o do PIB) para passar dos valores nominais para reais no contexto desta análise, então tanto faz calcular os contributos relativos de cada componente (p.e., 54%-46%) antes ou depois de deflacionar os dados nominais. As percentagens serão as mesmas visto que ao deflacioná-los estamos a multiplicá-los a todos pela mesma constante. Daí que eu tenha calculado as percentagens com base nos dados nominais apesar de querer saber os contributos de cada componente para o crescimento real: poderia ter começado por passar os dados de nominais para reais aplicando a todas as colunas o deflator do PIB de cada ano, mas o resultado em termos de percentagens seria o mesmo.

    viii) a chave desta discussão é, realmente, a questão deflatores diferentes/mesmo deflator. Mas se calhar vamos ter de concordar em discordar. Abraço!

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  19. João Pimentel Ferreira14 de março de 2018 às 12:01

    Caro Vìtor

    Eu não nego que o aumento do consumo interno não seja positivo para o crescimento económico, aliás os dados apontos para que seja. Não consigo todavia perceber, após várias leituras de postas no LdB, como é que, ao se aumentarem rendimentos, se tomam políticas públicas para distinguir consumo interno de consumo externo, considerando que estamos num mercado único da UE e numa lógica globalizada. Como digo, analise a compra de carros novos, que é um excelente indicador da devolução de rendimentos e dos impactos que tem no consumo externo. Há uma correlação quase direta entre os níveis de confiança dos consumidores levados a cabo pela devolução de rendimentos, e os níveis de consumo externo. Por isso, sou muito mais defensor ao brutal aumento do Imposto Automóvel e do ISP, acho que fazem muito mais pelo equilíbrio das contas externas.

    Cumprimentos

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  20. Bom dia Alexandre,

    não há mal em concordar em discordar, ainda por cima quando concordamos em tanta coisa. Mas julgo que o que está por detrás do aparente pomo de discórdia, a questão do(s) deflator(es), é a questão mais profunda do que entendemos por crescimento real.

    Antes de mais referir que o INE também recorre a deflatores específicos por componente para o cálculo dos contributos reais, não é apenas o Banco de Portugal. Aliás, gosto de pensar que o hábito infeliz de deduzir a totalidade das importações às exportações, que provoca tantos mal-entendidos, é mais uma questão de apresentação dos resultados do que propriamente a metodologia com que se obtêm esses resultados, que exige a determinação da variação em volume das componentes do PIB.

    Avançar também desde já que o deflator do PIB não é independente dos deflatores das suas componentes. Adiante mostrarei como pode ser determinado a partir destes. Este é um ponto importante, porque relativiza, para não dizer que desdramatiza, o aparente conflito entre um deflator geral e vários deflatores específicos. A meu ver este conflito não existe.

    Eu julgo que o Alexandre utiliza uma noção incorreta de crescimento real. Em contabilidade nacional, este conceito tem um significado extremamente preciso. A variação real do PIB é o mesmo que a variação em volume do PIB, tem um sentido diria quase que “físico”, representa a variação das quantidades transacionadas de bens e serviços. Na variação real, seja do PIB seja de alguma das suas componentes, exclui-se o efeito da variação dos preços.

    Ao contrário, para a variação nominal do PIB, ou de alguma das suas componentes, contribuem os dois fatores, a variação das quantidades e a variação dos preços.

    Vou utilizar alguma matemática elementar pois estou certo que o Alexandre não se intimida com ela. Para ajudar nalguns raciocínios introduzo, de modo um pouco tosco dadas as limitações da escrita, algumas notações. Peço alguma tolerância e atenção para o facto, provável senão mesmo inevitável, de algumas expressões aparecerem quebradas no final da linha.

    Represento por PIB17(p=17) e por PIB17(p=16), o PIB de 2017 calculado com base nos preços de 2017 e com base nos preços de 2016. Adaptações análogas da mesma notação são evidentes.

    Os crescimentos nominal e real do PIB em 2017 represento respetivamente por CNPIB17 e CRPIB17. Estes crescimentos, que podem ser negativos, são dados por:

    CNPIB17 = PIB17(p=17) / PIB16(p=16) ; entenda-se que se o resultado da fração der, por exemplo, 1,041 (= 1 + 0,041) isso representa um crescimento nominal positivo de 4,1%; se der, por exemplo, 0,959 (= 1 – 0,041) isso representa um crescimento nominal negativo de 4,1%.

    CRPIB17 = PIB17(p=16) / PIB16(p=16) .

    Utilizarei ainda a notação de defPIB17 para o deflator (geral) do PIB de 2017 e as notações de defPI17 e defX17 para os deflatores (específicos) respetivamente da procura interna e das exportações em 2017.

    Temos então:

    defPIB17 = CNPIB17 / CRPIB17 = [PIB17(p=17) / PIB16(p=16)] / [PIB17(p=16) / PIB16(p=16)] = PIB17(p=17) / PIB17(p=16) . Analogamente para os deflatores das componentes.

    Armados com as definições (corretas) e as notações (toscas), estamos em condições de fazer uma pequenina demonstração de como o deflator do PIB é igual à média dos deflatores das componentes, ponderada pelo peso inicial de cada componente no PIB.

    Dado o nosso substancial acordo em torno da metodologia, considero já as componentes da procura interna e das exportações deduzidas dos seus conteúdos importados. Então, partindo do resultado anterior,

    defPIB17 = PIB17(p=17) / PIB17(p=16) = [PI17(p=17) + X17(p=17)] / PIB17(p=16) = [PI17(p=17) / PIB17(p=16)] + [X17(p=17) / PIB17(p=16)] = [PI17(p=17) / PI17(p=16)]*[PI17(p=16) / PIB17(p=16)] + [X17(p=17) / X17(p=16)]*[X17(p=16) / PIB17(p=16)] = defPI17*[PI17(p=16) / PIB17(p=16)] +defX17*[X17(p=16) / PIB17(p=16)] q.e.d.

    As notações são pesadas, mas a demonstração é simples.

    (continua)

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  21. (continuação)

    Chegados aqui fazemos duas objeções ao exemplo da alínea vi) do comentário do Alexandre. Melhor, uma objeçãozinha e uma objeçãozona.

    A pequenina objeção é que os deflatores, por exemplo o da procura interna, não estão bem calculados, do ponto de vista aritmético. Se o crescimento nominal da PI é de 20% e o crescimento real (em volume) é de 10%, então o deflator da procura interna é defPI = 1,20 / 1,10 = 1,0909, ou seja, um deflator de cerca de 9,1% e não de 10%. Esta é pouco mais do que uma questão de arredondamentos, já não se podem desprezar os termos de 2ª ordem. Deixemos isso e tomemos os números tal como propõe o Alexandre.

    A grande objeção é que o exemplo do Alexandre é um exemplo impossível. Se a procura interna (PI) e a procura externa (as exportações, X) têm o mesmo peso inicial na economia e se os crescimentos nominais tanto da procura interna como da procura externa (já subtraídos dos conteúdos importados) são de 20% (CNPI = CNX = 20%), então necessariamente o crescimento nominal do PIB também é de 20% (CNPIB = 20%; aliás, bastaria o facto das duas componentes do PIB terem o mesmo crescimento nominal, nem necessitavam de ter o mesmo peso inicial). Os deflatores da procura interna, da procura externa e do PIB são respetivamente de defPI = 10%, defX = 20% e defPIB = 10%. O crescimento real (em volume) da procura externa foi nulo, CRX = 0%. Então é impossível que o crescimento real (em volume) do PIB seja igual ao da procura interna, CRPIB = CRPI = 10%. O absurdo pode ser mostrado de muitas maneiras. Uma delas, expedita, é a seguinte.

    O PIB é igual à soma das procuras interna (PI) e externa (X), já subtraídas das importações. As duas componentes são inicialmente iguais, ou seja, cada uma é igual a metade do PIB. Represento por dPIB, dPI e dX os acréscimos reais (em volume) do PIB e das suas componentes. dPIB/PIB representa então o seu crescimento real. Logo

    dPIB/PIB = d(PI + X)/PIB = dPI/PIB + dX/PIB = [dPI/PI][PI/PIB] + [dX/X][X/PIB] = 10%*[PIB/2PIB] + 0%*[PIB/2PIB] = 10%/2 + 0%/2 = 5%. O crescimento real (em volume) do PIB seria de 5%, metade do crescimento real (em volume) da procura interna.

    Mas deixemos também esta objeção e entremos no que julgo ser a questão de fundo.

    Vimos que o crescimento real, ou crescimento em volume, seja do PIB seja de qualquer das suas componentes, tem o significado preciso de um crescimento das respetivas quantidades transacionadas. O crescimento real do PIB, em termos absolutos, é a soma dos acréscimos absolutos das suas componentes. Expresso em termos percentuais, é a média dos crescimentos das suas componentes, expressos em termos percentuais, ponderada pelos pesos dessas componentes no PIB. Ou seja, o crescimento geral do PIB, seja considerado em termos absolutos, seja considerado em termos relativos, não está desligado do crescimento específico das componentes. O acréscimo das quantidades de bens e serviços transacionados em toda a economia é a soma dos acréscimos das quantidades de bens e serviços transacionados de cada componente.

    Este conceito de quantidades transacionadas perde-se completamente na utilização que o Alexandre faz de PIB real. Para o Alexandre o crescimento real é simplesmente o crescimento nominal “descontado” da variação geral de preços da economia, isto é, da variação média dos preços. O que, por construção, faz com que esta variação “real” do PIB (pus entre aspas para distingui-lo do conceito da contabilidade nacional) coincida com a variação em volume do PIB.

    Mas si isto é válido, repito que por construção, para a totalidade da economia, ou seja, para o PIB, deixa em geral de ser verdade para cada uma das suas componentes, seja os grandes agregados das procuras interna e externa, seja de componentes mais específicas, como por exemplo o consumo privado, o consumo público, o investimento privado ou o investimento público, seja de componentes ainda mais particulares, como por exemplo o consumo privado de uma região do país.

    (continua)

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  22. (continuação)

    E isso é um grande empobrecimento do conceito, que deixa de representar a variação das quantidades transacionadas de bens e serviços, desvirtuando completamente a sua noção de base, além da sua definição formal.

    Com a utilização correta do conceito as coisas são absolutamente transparentes. No exemplo analisado, as exportações reais não cresceram, ou seja, não se transacionaram para o exterior do país mais bens e serviços. Então, sim, é claro que todo o crescimento real do PIB, todo o acréscimo de quantidades transacionadas proveio integralmente da procura interna.

    Mas além da variação das quantidades também há variação dos preços. Por isso a análise só fica completa com a variação nominal do PIB, que reflete não só a variação das quantidades, a variação real, mas também a variação dos preços. Há no estudo do PIB real e do PIB nominal uma dualidade muito enriquecedora da análise, uma análise em termos físicos e em termos de valor.

    Com o Alexandre a análise das quantidades desaparece. Já não há qualquer dualidade. Na verdade, o próprio conceito de crescimento (ou variação) “real” não passa de uma cópia do conceito de crescimento (ou variação) nominal, visto que, como observa o próprio Alexandre, se passa de um para outro pela multiplicação de uma constante, o deflator do PIB ou o seu inverso. O conceito de crescimento ou variação real tornou-se redundante, dispensável.

    Por isso é que, no cálculo dos contributos de cada componente do PIB para o crescimento, é indiferente considerar os acréscimos “reais” ou nominais das várias componentes do PIB. No fundo, são a mesma coisa, a menos de uma constante.

    A enorme riqueza da análise, das quantidades e dos preços, que permitia isolar o contributo da variação das quantidades, com a noção de crescimento ou variação real, e depois complementar com o contributo da variação dos preços, com a noção de crescimento ou variação nominal, fica completamente mutilada, reduzida apenas a uma mera análise dos valores.

    O conceito fica tão esvaziado que mesmo a pretensa justificação da sua redefinição, facilitar a análise dos fluxos de rendimento, fica reduzida à banalidade dos contributos para o rendimento global do país. Porque para os contributos para os rendimentos sectoriais, locais ou particulares, já dispomos do estudo da variação nominal. No caso da variação “real” até esta ligação sectorial, local ou particular, focada num subconjunto do total, se perde, porque o deflator que é usado (a contante que se usa) é sempre o deflator do PIB, não o deflator específico da componente (do subconjunto) particular.

    Com o conceito correto de variação real, ficava-se a saber qual a variação das quantidades transacionadas num âmbito particular, por exemplo, o aumento dos bens e serviços consumidos pelas famílias portuguesas. Com o conceito redefinido pelo Alexandre de variação “real” não se acrescenta nada à análise que não se soubesse já através da variação nominal.

    É por tudo isto que a controvérsia do deflator único / deflatores múltiplos, ou do mesmo deflator / deflatores diferentes, ou do deflator geral / deflatores específicos, me parece uma cortina de fumo para o verdadeiro esvaziamento do conceito de variação real do PIB ou das suas componentes. Acrescento apenas que, por alguma razão, o INE e todos os organismos estatísticos do mundo se preocupam e dedicam tanto a apurar estes deflatores específicos, dispensáveis na metodologia do Alexandre,

    a quem endereço mais um abraço, agradado pelas concordâncias registadas.

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  23. Caro João Pimentel,
    As políticas públicas que se podem tomar não são muitas para apoiar o consumo interno e pelo menos inibir o externo não são muitas de facto. ISP e imposto automóvel já os temos bastante mais elevados do que Espanha penso. Pelo menos no relativo ao ISP quanto mais elevado também mais prejudica os nossos comercializadores, o que apesar de residualemente também gera algum emprego em Portugal.
    Uma subida demasiado exagerada do imposto automóvel também pode resultar num parque automóvel demasiado envelhecido e em acidentes que custam vidas.

    Sinceramente como lhe disse no post acima, as decisões que realmente fazem diferença no nosso desempenho económico são tomadas a nível central (leia-se Europeu) e têm-nos faltado bons negociadores a esse nível infelizmente. O último que me lembro foi o Guterres que efetivamente conseguiu angariar um nível record de fundos europeus. Desde aí que temos sofrido os malefícios da centralização e da moeda única desajustada da economia sem que sejamos minimamente compensados.

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  24. Meu caro,

    Obrigado pela resposta detalhada e muito informativa. Não tenho nenhuma objecção e agradeço especialmente as correcções aos exemplos apressados que introduzi no meu comentário anterior. Recordarei apenas que o meu interesse central, no contexto do debate que motivou este post, é em relação ao problema dos contributos das diversas componentes para o crescimento, e que, como expliquei, considero que é menos relevante ter esta discussão abstraindo da forma como a variação dos preços afecta cada componente. Se as exportações se reduzirem a metade por efeito exclusivo dos preços das mesmas, isso tem efeitos negativos reais (no sentido de substantivos) sobre o rendimento real (no sentido de ajustado ao poder de compra) dos portugueses - efeitos que não são mais nem menos importantes do que os decorrentes da variação das quantidades. Dir-me-á que essa parte da discussão pode perfeitamente ser feita no contexto da análise dos contributos para o crescimento nominal, que na verdade foi o que eu calculei - e terá toda a razão. Só que, ao nível do debate público, não existe uma discussão, complementar ou não, sobre os contributos para o crescimento nominal. O valor considerado significativo no debate público para representar o crescimento português em 2017 é 2,7%, não 4,1%. O Banco de Portugal, tanto quanto sei, não publica a decomposição dos contributos para o crescimento nominal - fá-lo apenas para o crescimento real. Da natural tendência generalizada para privilegiar o crescimento real no debate público (note-se, não por causa deste exprimir a variação das quantidades, mas por representar melhor a variação do rendimento ajustado em termos de poder de compra), tem decorrido uma abordagem à questão da decomposição do crescimento exclusivamente focada nos contributos reais (em volume), que considero menos relevante. Daí que eu tenha adoptado e adaptado uma abordagem nominal, que neste caso continuo a considerar mais relevante, no contexto de um debate que tem sido feito em termos reais - ainda que reconhecendo a justeza das suas objecções. Penso que chegados aqui já estará tudo completamente claro. Obrigado mais uma vez pelo atenção dedicada e por esta estimulante troca de ideias.

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