domingo, 14 de janeiro de 2018

Onde pára o desemprego jovem?

1. A capa do Público da passada segunda-feira e o Expresso de ontem dão conta de um aumento do desemprego jovem (15 a 24 anos) de 24,6 para 25,6% entre setembro e outubro, ao arrepio do que estaria a verificar-se na generalidade dos países europeus (chegando o Público a afirmar que Portugal é o país da UE28 em que o desemprego jovem mais aumenta).

2. O aumento de 1 ponto percentual noticiado pelo Público e pelo Expresso resulta da comparação entre o valor definitivo registado em setembro e o valor provisório de outubro (ambos divulgados em dezembro). Contudo, sabendo que o INE tem revisto em baixa as estatísticas mensais de desemprego e caso tivesse sido considerado o valor definitivo de outubro - divulgado no dia a seguir à notícia do Público e quatro dias antes da notícia do Expresso - o alegado aumento do desemprego jovem passaria a ser dez vezes menor: +0,1 pontos percentuais, que resultam da diferença entre uma taxa de 24,5% em setembro e 24,6% em outubro (surgindo novembro já com um valor provisório mais baixo, a cair para os 23,7%).

3. Deve acrescidamente sublinhar-se que existe uma tendência para que o desemprego jovem aumente entre setembro e outubro, refletindo a situação de muitos jovens que terminam ciclos de estudo e formação e que, nessa altura, se encontram disponíveis para ingressar no mercado de trabalho. Deste ponto de vista, aliás, o aumento do desemprego jovem de 2017 é um dos dois mais baixos registados nos últimos dez anos, em que o peso relativo dos jovens desempregados desceu em apenas três deles (2010, 2013 e 2016), como mostra o gráfico seguinte:


4. Numa escala temporal mais ampla (que recorre à comparação da média dos onze primeiros meses de cada ano), refira-se aliás que a tendência tem sido a de um ritmo de diminuição do desemprego jovem superior ao do desemprego: -6 pontos percentuais entre 2013 e 2015 (neste caso certamente inflacionado pelo volume da, então, criação artificial de emprego) e -8 pontos percentuais entre 2015 e 2017. Isto quando a taxa de desemprego apenas cai -4 pontos percentuais em cada um dos períodos. Em termos europeus, a mesma tendência: tendo disparado entre 2011 e 2013, o desemprego jovem tem descido a um ritmo mais expressivo em Portugal que na Europa, ao contrário do que sugerem as recentes e circunstanciais notícias do Público e do Expresso.


5. Quer isto dizer que não há problemas com o desemprego jovem em Portugal? Seguramente que não. Desde logo, porque continuamos a registar, apesar da recuperação, taxas de desemprego neste grupo etário que são das mais elevadas da Europa (apenas superadas por países como a Espanha ou a Itália), persistindo igualmente problemas de precariedade e baixos salários (acentuados pelo facto de uma parte considerável da criação de emprego se verificar em setores onde essas questões têm maior relevo). O que não é possível é sugerir, a partir daí, que estamos em processo de divergência com a Europa, em termos de emprego jovem.

11 comentários:

  1. Há problemas reais com o emprego em Portugal, atados como estamos a uma moeda que serve fundamentalmente os interesses do centro da europa

    Há problemas reais com o emprego jovem, aqui abordados pelo Nuno Serra

    Agora aqui a questão passa no entanto por um outro nível. Pela denúncia de uma comunicação social perfeitamente armadilhada e emparelhada com o retrocesso social verificado na governação de Passos e Portas.

    Todos os indicadores mostram que tal é um processo planeado, concertado e premeditado, reunindo jornais tidos como de referência que quotidianamente servem uma agenda mediática que pouco tem a ver com a realidade, com os factos e com a sua importância.

    Este do emprego jovem é apenas um deles. Mas que deve ser denunciado e apresentado na praça pública como o autor do post o faz.

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  2. A propósito da manipulação mediática servida por interesses muito poderosos, um excerto de um texto de Agostinho Lopes:

    "Será que o domínio absoluto de um pensamento quase único, unidireccional, pejado de ignorância e falta de rigor, de sistemática ausência de real investigação jornalística, de repetição de chavões e empestado de preconceitos, tem alguma coisa a ver com a prática liquidação da cultura de resistência, rebeldia, empenhamento social e cívico, coragem profissional de toda uma geração profissional saneada pelo 25 de Novembro? Mesmo sabendo que uma parte deles, felizmente, ainda anda por aí, a remar contra a maré. (Mesmo sabendo, que é também o resultado da quase total eliminação da comunicação social pública, pela sua entrega aos media do capital privado, ditos «independentes»).
    Eu tenho de perceber, por exemplo, como é que esta comunicação social foi capaz de alinhar, a propósito da revisão da Lei do Financiamento dos Partidos, na espantosa concentração de mentiras, exibição de ignorância e má-fé ao serviço da exploração mais rasteira de populismo e demagogia, em nome da defesa da transparência do regime democrático.
    Eu tenho de perceber por exemplo, porque é que esta comunicação social, que andou meses e anos a massacrar-nos com textos e notícias sobre a calamidade de um tal Corbyn à frente do Partido Trabalhista e das suas mirabolantes e pré-históricas propostas, para quem o mínimo que se previa eram as setes pragas do Egito, para o Partido e a nação, e que desde as últimas eleições no Reino de Sua Magestade, aparentemente, o fez desaparecer. Será que o Sr Corbyn faleceu e nós não demos por tal!? Será que o Labour mudou de líder? Será porque, segundo parece, as sondagens dão aos trabalhistas quase 10 pontos percentuais de vantagem?!
    Eu tenho de perceber por exemplo, a razão da duplicidade, mistificação e mentira mediáticas na abordagem das guerras da Síria e do Médio Oriente. Porque é que o filme de Alepo é a preto, e o de Mossul é a branco, ou mesmo a azul. Aliás, a batalha de Alepo chegou ao fim, sem que os jornalistas e comentadores do Público, Expresso e outros media, ditos de referência, enxergassem um único daesh em Alepo. Porque é que os fundamentalistas islâmicos eram guerrilheiros contra os soviéticos e são talibãs contra os EUA. Porque é que o Assad é um ditador e um bandido e os patrocinadores do terrorismo de Estado, como Bush (bem substituído por Trump) e Blair…são democratas respeitados!

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  3. Não percebi. Cresce ou não cresce?

    (A questão de 'Porque é que o Assad é um ditador e um bandido' vai-me atormentar por largo tempo...!)

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  4. O das 14 e 50 faz-se literalmente de parvo

    Quer à viva força justificar as parangonas dos seus pasquins de estimação.

    Mas basta ler o post. Está lá tudo. Agora jose só acrescenta a sua desonestidade. Travestida da figura de parvo que.

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  5. ( a questão de Assad vai atormentar por muito tempo o coitado do jose.

    O que temos nós a ver com isso? Porque motivo esse seu choradinho?

    Mas afinal o 25 de Abril também o tem assaz perturbado. E há tanto tempo.
    Ou bem mais recentemente a inquietação que uma coisa apelidada de geringonça lhe suscita.

    Porque então agora esta cena piegas?)

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  6. No caso da convergência ou não da taxa de desemprego jovem, em relação à UE, talvez seja importante ver os valores da emigração portuguesa não? Estou em crer que os valores portugueses não se verificam em quase nenhum outro pais da UE. Além disso segundo penso estar informado, em 2017 saíram por volta de 80 mil portugueses, ou seja, um valor mais ou menos em linha do que acontecia na fase crítica da Troika! Bem sabemos que os valores do desemprego português são artificialmente diminuídos há muito tempo... De qualquer forma, é um bom contributo do autor, para o esclarecimento da desinformação dos média "respeitáveis"!

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  7. Caro anónimo das 11 e 54:

    Os números da emigração portuguesa não estão em linha com o verificado na fase crítica da troika.

    Emigração em 2016 (último ano em que há dados estatísticos validados) atingiu o valor mais baixo em cinco anos.

    Em 2013, segundo dados da Pordata emigraram 128 108. Em 2014 emigraram 134.624

    Entretanto na apresentação do relatório da OCDE “Perspectivas da Migração – 2017”, o professor Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia e de Ordenamento do Território, disse acreditar que a emigração em Portugal vai abrandar ainda mais, porém não para aqueles que têm maior grau académico.

    “Fuga de cérebros” representa 40% da emigração portuguesa anual, estima o académico
    Na apresentação do relatório da OCDE “Perspectivas da Migração – 2017”. Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia e de Ordenamento do Território, disse acreditar que a emigração em Portugal vai abrandar ainda mais, porém não para aqueles que têm maior grau académico.professor.

    Dádiva dos anos de chumbo da governação troikista-passista.

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  8. Caro anónimo das 18:59

    Está em linha, no sentido em que em 2001 em Portugal, a emigração era de "apenas" 40000 portugueses por ano a emigrar. Desde essa altura foi sempre em subida, gradualmente, tendo como pináculo a crise financeira internacional e suas consequências. A troika chgou por volta de 2011 e se reparar no gráfico que lhe mando em link, a emigração era nesse ano 80.000! Mas apenas está a fugir ao cerne do meu argumento: esta emigração em massa, especificamente portuguesa, com composição variável de ano para ano, tem ou não que ser tida em conta, para se dizer se existe ou não uma convergência real de Portugal com a UE, na taxa de desemprego jovem? Claro que a resposta não poderá deixar de ser positiva!

    https://www.google.pt/search?q=evolu%C3%A7%C3%A3o+temporal+da+emigra%C3%A7%C3%A3o+portuguesa&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwirgc-fnNzYAhVFaxQKHfWqA7EQ_AUICigB&biw=1280&bih=918#imgrc=ehU-WFEYMLQk4M:

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  9. Caro anónimo das 10 e 52:

    Não terá percebido a minha intervenção que se focou naquela sua referência a uma linha que segundo disse estava" mais ou menos em linha".

    E depois mandou solicito um gráfico a demonstrar a sua tese sobre a tal linha.

    Se verificar o gráfico é de um chamado "observatório da Emigração do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa".

    Ora é ir consultar os números que estão na base deste e doutros gráficos. E verificar que as Estimativas das saídas totais de emigrantes portugueses, 2000-2016 ( 2017 de que fala é uma miragem que fica bem no texto mas que não tem qualquer base estatística ainda) têm duas grandes fontes

    Verificar assim que o Quadro elaborado pelo Observatório da Emigração,apresenta valores de duas bases de dados permitindo a construção de gráficos diferentes [A] Instituto Nacional de Estatística (INE), Inquérito aos Movimentos Migratórios de Saída (1992 a 2007) e Estimativas Anuais da Emigração (desde 2008), com base em dados do Inquérito Permanente ao Emprego, em Pordata, Base de Dados de Portugal Contemporâneo;e [B] Observatório da Emigração com base nos dados sobre as entradas de portugueses nos países de destino.

    Ora o que eu citei foram os dados da Pordata. Que tenho por mais fidedignos que os dados sobre a "entrada de portugueses nos países de destino"

    E aí verifica-se que não há qualquer linha que esteja mais ou menos em linha com. Verifica-se que a emigração em 2011 teria sido não os 80 000 citados (por acaso o Observatório fala em 85 000 e não em 80 000) mas segundo a Pordata 100,978.

    E o mais do resto é consultar os quadros

    E não, não estamos a fugir ao cerne da sua questão. Para dizer a verdade nem sequer coloquei em causa aquilo que diz ser o seu "cerne". Nem sequer estou para aí virado. O que me limitei foi corrigir uma afirmação que acho não corresponder à verdade. Por uma questão de rigor


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  10. Caro anónimo das 20:38

    Deve compreender que a motivação do post, que contextualiza esta nossa discussão, foi a de corrigir informação pouco rigorosa e não verdadeira relativamente à taxa de desemprego jovem portuguesa em comparação com a UE. Desta forma o único cerne é saber se os dados que corrigem a suposta incorrecção dos jornais, são rigorosos e se apresentam como verdadeiros e não como artificias. Assim o meu cerne mantém-se e é o único que interessa para quem está verdadeiramente a discutir a questão. E por isso mais uma vez afirmo que não sabemos VERDADEIRAMENTE qual a taxa de desemprego jovem portuguesa, por motivo da emigração em massa. Qualquer afirmação sobre a putativa evolução da taxa portuguesa em relação à da UE, é, até informação mais detalhada, pura especulação! Isto é o que interessa para quem não vista demasiadamente "a camisola"! Para demagogia barata em assuntos secundários não conte comigo. Lavo daqui as minhas mãos e agradeço ao autor professo do post, pelo contributo dado no esclarecimento. Aliás este blog tem sido um dos meus referenciais no que toca às manipulações sistemáticas das taxas de desemprego, em Portugal. Por isso obrigado aos seus artífices.

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  11. Caro anónimo das 23 e 34:

    Como compreende dispenso-me do mau gosto de definir o que é demagogia e muito menos o que é demagogia barata. Podemos, qualquer de nós, consultar um dicionário e evitamos assim esse tipo de picardias.

    Mas o que não compreendo é o que é isso de "demagogia barata em assuntos secundários".
    A demagogia (barata ou não) ou o é, ou não. Não tem a ver com os assuntos serem secundários ou primários.

    Mandam a honestidade e a frontalidade mínimas que , quando se denota alguma falta de rigor como essa do "em linha com", se deve chamar a atenção para o facto.

    Foi o que fiz e escusa de agradecer esse cuidado que tive no que toca a corrigir algo em que parece que estava equivocado. Com dados precisos e objectivos. Numa "manifesta" manifestação de optimismo ouso pensar que talvez as fontes invocadas e os dados apresentados lhe sejam úteis no futuro.

    Se o anónimo ficou incomodado com o facto é uma questão exclusivamente sua. Mas nada mais me motivou do que o rigor das coisas.

    Rigor que curiosamente o caro anónimo vai depois invocar para se lastimar pelo facto de o não terem corrigido, apoiado, contraditado e o diabo a sete. No que a mim me diz respeito não costumo abordar assuntos em que não me sinto particularmente à vontade e cujo contributo pessoal não traz nada à discussão. Mais uma vez apelo ao rigor.

    Por isso repito que o reparo teve como alvo o que já lho repeti várias vezes. E por mais voltas que dê a tentar fugir ao que é objectivo, o que contextualiza esta nossa discussão são dados e linhas.Objectivamente. Mais nada, embora eu lastime esse seu jeito truculento e pouco sério de vir falar na "camisola" vestida como se este fosse o caso.

    Por uma questão de respeito para comigo próprio e pelo caro anónimo nem penso sequer em lhe devolver essa espécie de insinuação.

    É uma questão também de rigor, mas é também algo mais que todavia não explicito para não parecer indelicado

    Quanto ao seu lavar de mãos isso é algo que é da sua exclusiva competência.

    E sim,concordo em absoluto consigo quando diz que este post "é um bom contributo do autor, para o esclarecimento da desinformação dos média "respeitáveis"!"

    Sem acrimónia

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