quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Luz e trevas, num mundo que se move
«No tempo que se agita e que permanentemente se move, ao Papa 266 bastava seguir o curso dos antecessores e assumir que a Igreja, solidificada em verdades intemporais, observa quase estagnada os ousados movimentos do mundo. (...) A mudança que Francisco está a impor aproxima-o dos fiéis mas afasta-o da Igreja conservadora. Juntemos à tolerância religiosa o acolhimento dos homossexuais e dos divorciados na Igreja. "Quem sou eu para os julgar?", pergunta Francisco. O Papa sabe que o mundo se move e aconselha a Igreja a não fechar os olhos a esse movimento. Alguma Igreja, mal o ouve, fecha... (...) Há gestos do Papa que o fizeram descer à terra. Também eles são questionados pelo lado mais conservador da Igreja. Lavou os pés a mulheres, a refugiados e a toxicodependentes. A primeira viagem que fez foi a Lampedusa, ilha italiana onde desaguam milhares de refugiados. Essa primeira viagem foi de acolhimento. Filho de imigrantes, Bergoglio conhece-lhes por dentro o sofrimento. Francisco mexeu no poder da cúpula, incluindo no topo do Banco do Vaticano. Fez inimigos. O maior deles é o cardeal americano Raymond Burke, demitido do cargo que exercia no Tribunal do Vaticano. Burke é um conservador de vestes faustosas que, de acordo com a investigação do The Guardian, inspira figuras proeminentes da direita norte-americana, algumas delas muito próximas do Presidente Trump».
Excerto da síntese da SIC Notícias, que vale a pena ver na íntegra, sobre o artigo publicado pelo The Guardian, traduzido no Público do dia 24. A investigação do jornal britânico dá conta da reação dos setores mais conservadores da Igreja, «que temem que este novo espírito» a divida «ou até que a destrua». Para lá da divergência em torno de questões doutrinárias (como as «verdades intemporais», associadas à «infalibilidade papal», ou a questão do divórcio), os recentes «choques e ódios dentro da Igreja» derivam igualmente das posições do Papa «sobre as alterações climáticas, as migrações ou o capitalismo». Tal como sucedeu num outro momento de encruzilhada da história da Igreja, esta luta no seu interior, entre conservadores e progressistas, reflete divergências e alinhamentos políticos mais amplos, com o «mundo que se move».
A humanidade sempre viveu o problema das suas contradições históricas e este será, porventura o elemento determinante da sua evolução. Contudo, não podemos deixar que progrida a ideia de que o extremismo islamita só pode ser combatido com o extremismo cristão. A ligação dos extremistas cristãos aos diversos focos de partidos de extrema direita deve preocupar-nos, a todos. Mas tudo isto tem de ter uma causa que ainda não foi dada a conhecer.
ResponderEliminarCom ou sem Francisco, a ICAR é uma organização em decadência.
ResponderEliminarCristo (se é que esse personagem alguma vez existiu...) seria crucificado pelos zelotas cristãos da actualidade, e na cruz poderia-se ler "esquerdista radical".
Não vá mais longe.
ResponderEliminarVon Mises um dos gurus do neoliberalismo declarou que cristo era um agitador radical, uma espécie de bolchevique inimigo da civilização e da boa economia.
Como é que os supostos democratas cristãos hoje alinham entusiasticamente com o neoliberalismo é verdadeiramente indicativo de como esses partidos e até a maior parte dos social-democratas e até socialistas foram instrumentalizados pelos neoliberais.