O suplemento de
economia do Expresso deste fim-de-semana inclui uma entrevista com o economista
Ricardo Reis acerca da economia portuguesa. O título, chamado à primeira página do suplemento, anuncia o veredicto: “Este ano não é óptimo em termos de crescimento. É medíocre, na melhor das hipóteses”. Fiquei intrigado:
que critério seria este à luz do qual um crescimento real de 2,6% é considerado
medíocre, na melhor das hipóteses? A experiência recente não seria certamente, já
que este é o ano de mais forte crescimento desde 2000.
Fui ver. Explica
então Ricardo Reis, logo no início da entrevista, que “Portugal está a crescer
mais do que o esperado, mas continua a crescer abaixo da União Europeia”. Bem,
isto seria um critério razoável, mas há um problema. É que embora a comparação
seja relevante, a afirmação está errada: segundo as previsões de outono da Comissão, o crescimento económico na UE em 2017 será de 2,3% e na zona euro será de 2,2%.
Logo a seguir, porém,
o entrevistado parece emendar a mão e introduz uma subtileza: “O resto da Europa
está a crescer ainda mais acima do que tinham sido as previsões iniciais. Como
tal, o desempenho económico não é particularmente bom”. Ou seja, o desempenho
da economia portuguesa não é julgado positiva ou negativamente consoante seja melhor ou pior em
termos absolutos; consoante seja melhor ou pior do que o passado recente; ou consoante
seja melhor ou pior face à média europeia. Não: a bitola considerada apropriada
é até que ponto o desempenho excedeu as previsões iniciais. Um bocado forçado,
convenhamos.
Mas logo a seguir
surge nova afirmação surpreendente: “As boas notícias são que este crescimento não
está a vir do lado do estímulo da procura, mas si do turismo e das exportações”.
Foi nesta altura que pensei que devemos estar a olhar para países diferentes. É
que se é certo que as exportações, que incluem o turismo, têm tido um
crescimento notável, as Contas Nacionais mostram bem que os contributos da
procura interna e da procura externa líquida para o crescimento do PIB nos
últimos trimestres não são de todo como refere o entrevistado:
(Fonte: INE)
Percebo que
Ricardo Reis discorde do rumo do nosso país e que defenda políticas diferentes.
Eu próprio acho que há aspectos que devem ser criticados e que podem ser
melhorados. Mas recomenda-se um pouco mais de atenção aos factos. A não ser que
o problema não esteja tanto na atenção aos factos mas antes, como afirma o
próprio entrevistado a certa altura, no facto das coisas que os
economistas afirmam serem muitas vezes “mais ideológicas do que científicas”.
Um muito bem-vindo regresso de Alexandre Abreu.
ResponderEliminarDuma forma elegante mostra que Ricardo Reis, o economista, que não o heterónimo, é um aldrabão.
Palavra um pouco forte para quem se move nos meios onde se move. Primeiro Nova Iorque, depois Londres, onde é ou era professor na London School of Economics.
Um tipo peculiar, um daqueles que fornece os dogmas e o arsenal para o neoliberalismo predador e que "ensina" economia. Mostrando também por aqui a qualidade intrínseca desta escola, destas escolas, verdadeiros pastos para criar muitos reizinhos desta igualha.
Serão "recompensados" devidamente pelo seu trabalho. "Ensinar" é um dos processos. Há outros, directos e indirectos. Recebeu um prémio, o Germán Bernácer de Economia 2017, para os jovens economistas. Prémio organizado pelo Banco de Espanha, onde esteve presente o seu governador e o ex-colega desse governador, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio
Tudo entre amigos. Tudo "bons amigos".É a estas coisas que está entregue a economia.
O grande poder económico precisa destes reizinhos. Têm lugar cativo na imprensa e apesar dos fatos de corte clássico e do perfume com que se atestam, são cúmplices empenhados, calculistas, frios e sem escrúpulos da transferência da riqueza de baixo para cima.
Reis, que assim desta forma papagueia despudoradamente o "mediocre" crescimento da economia portuguesa deste ano, é o mesmo que dizia que a austeridade não tinha sido particularmente má.
Opções de classe do referido sujeito, claro.
É que nem o perfume com que se atesta oculta o cheiro da carne humana com que se alimenta
Caro Alexandre,
ResponderEliminarConcordo com quase tudo o que foi dito, e faço uma questão:
Antes de afirmar que o principal motor desse referido crescimento foi a procura interna ou não, não seria, em primeiro lugar, preciso deduzir as componentes da procura das respetivas importações, para poder chegar a uma conclusão?
Que a procura interna seja desvalorizada por uma corrente de economistas de élite,não é surpreendente e é uma visão que tem adeptos alargados por várias capelas,inclusive, para todos que não reparem,ou fingem não reparar,que o aumento da oferta do crédito ao consumo cresce em paralelo com o crédito à habitação,o que não deixa de ser preocupante,como nota o Banco de Portugal,mas que,como é óbvio,representa o aumento da procura invisível para alguns.
ResponderEliminarBoas, Alexandre. Longe de mim defender o “desatento” Ricardo Reis – como elegantemente o tratou –, aquela estirpe de economista que o Samir Amin gosta de caraterizar como de “espírito demasiado inculto”, mas a questão tem bastante mais que se lhe diga.
ResponderEliminarA forma como o INE calcula os contributos da procura interna e das exportações para o crescimento é útil mas não é a mais relevante. É mais apropriado (se bem que mais difícil) calcular os contributos efetivos das componentes da procura, como o Banco de Portugal começou a fazer desde 2014, e não apenas os seus contributos brutos, como continua a fazer o INE. Tanto a procura interna como as exportações têm um substancial conteúdo importado, mais estas do que aquela. Ou seja, quando aumentam, aumentam também, desigualmente num e noutro caso, as importações requeridas pelos seus volumes. A metodologia do INE não permite apreciar os verdadeiros contributos nacionais das duas componentes, da procura interna e das exportações, embrulhando-os com os das correspondentes importações. Essa metodologia tem as suas vantagens, designadamente na consideração do saldo da balança comercial, mas para se averiguar quais das componentes nacionais puxa mais pelo crescimento é mais adequado subtrair aos valores globais da procura interna e das exportações o valor do seu conteúdo importado, como na metodologia do Banco de Portugal.
Considerando mais corretamente o contributo líquido de importações para o crescimento do PIB o caso muda de figura. Como refere o crescimento anual das previsões de outono da Comissão Europeia, farei o mesmo com as previsões de outubro do Banco de Portugal (razoavelmente fiáveis para o próprio ano, não muito mais do que isso). Para o crescimento anual de 2,5% previsto para 2017, a procura interna contribui com 0,7% e as exportações contribuem com 1,8% (BP, Boletim Económico, outubro de 2017, p. 91, quadro 1). Isto é, as exportações contribuem mais do que a procura interna para o crescimento. E o mesmo sucedeu em 2016. Não é, por isso, absurda nem sequer especialmente surpreendente a afirmação de Ricardo Reis.
Há estatísticas para todos os gostos.
ResponderEliminarMas se ouço falar em crescimentos baseados na procura interna logo vejo a balança comercial a meter água e a dívida a bombar.
Nada mais fácil para tapar os défices do Estado: crescer com distribuição de dívida...e quem vier atrás que feche a porta.
Entretanto se me puderem explicar como se distinguem estatisticamente a minhas despesas em dinheiro das equivalentes de um turista, ficarei grato.
O que é extraordinário é como grandes figuras da economia que muito justamente gozam de prestigio académico e reconhecimento técnico e cientifico são sistemáticamente ignoradas pelos decisores politicos em questões basilares de economia politica e monetária.
ResponderEliminarE depois vemos figuras menores e que repetidamente cometeram erros clamorosos e que custaram somas avultadas de recursos dos países que as enpregaram guindarem-se a posições de destaque quer nos media quer em organizações internacionais de relevo.
Serão tantos decisores politicos estúpidos?
Não! Os aparentes erros e maus resultados são na esmagadora maioria dos casos formas disfarçadas de favorecer clientelas politicas.
O negócio funciona para "economistas" que fornecem alibis e ganham prebendas por isso e os politicos podem sempre dizer que não são técnicos e que foi um "honest mistake".
Ainda em Junho passado 130 economistas subscreveram uma carta em apoio das propostas do Labour sem qualquer efeito prático.
http://www.primeeconomics.org/articles/guws3cyv3ctq9g7vg754p2zyymvc2f
Passou-se o mesmo aquando da adopção do Euro, aquando da chamada crise das dividas e em relação ao problema da Grécia: As boas práticas e as soluções técnicas fundamentadas foram ignoradas em função de "interesses".
Este senhor Reis é apenas mais um a fazer uns fretes para ver se lhe arranjam um tacho.
"Quem vier por ultimo que feche a porta"
ResponderEliminarIsso não contraria a versão dum banqueiro que disse mais ou menos isto.
"ai aguentam, aguentam"?
É que no tempo do dito, não se escutava qualquer preocupação com o descalabro que a austeridade acarretava. Pelo contrário berrava-se histericamente por mais austeridade,por mais troika, pelo fim dos direitos adquiridos, por mais roubos de salários e de pensões. Mas isso sabe bem o tal jose que foi um dos que mais berrava.
E o dinheiro dado aos bancos como contributo para o aumento da dívida? E os swaps da Albuquerque? E as PPP de Cavaco e restante cambada?
E agora é isto. Um bombar contínuo a favor da transposição da dívida privada para a pública
O traço do Cuco às 22:05.
ResponderEliminarA nebulosa da treta esquerdalha.
À parte o dinheiro mobilizado pelo Estado para o acionista Estado, a mais nenhum acionista de banco deu o Estado dinheiro...que chatice, soava tão bem: ' o dinheiro para os banqueiros'!!!
Mas lá vão dizendo 'para os bancos' insinuando que é a mesma coisa. Vigários!
Caro anónimo das 19:31,
ResponderEliminarEsse reparo é muito bom e por isso gostaria de continuar um pouco mais a discussão. No fundo, trata-se de saber como responder da melhor maneira à questão de qual das duas componentes do PIB (procura interna ou exportações) tem contribuído mais para o seu crescimento. A metodologia implícita à abordagem do INE, em que me apoiei inicialmente, passa por comparar a variação da procura interna com a variação da procura externa líquida (i.e. X-M). Em contrapartida, o BP, considerando (correctamente) que o aumento das importações não pode ser atribuído exclusivamente ao aumento das exportações (e, consequentemente, deduzido integralmente de X), compara a variação da procura interna com a variação das exportações, sendo cada uma delas deduzida do respectivo conteúdo importado estimado. Efectivamente, esta segunda metodologia parece-me mais correcta para efeitos da pergunta a que queremos responder, pelo que agradeço a explicação e reconheço que a minha abordagem inicial não era satisfatória. Dito isto, porém, tenho bastantes dúvidas em relação à forma como o BP aplica na prática esta metodologia. Para o ano de 2017, por exemplo, a conclusão de que as exportações contribuirão com 1,8% e a procura interna com 0,7% para o crescimento previsto de 2,5% parece-me incompreensível: é que sendo a procura interna um pouco menos de 2,5 vezes maior em volume do que as exportações, mesmo uma taxa de crescimento das exportações 3 vezes maior do que a da procura interna (que não o é: as estimativas são de 7,1% e 2,5% respectivamente, usando a mesma fonte) nunca poderia produzir um contributo para a variação do PIB mais de duas vezes superior (1,8% face a 0,7%) a não ser que o conteúdo importado estimado fosse, em termos percentuais, muito maior para a procura interna do que para as exportações (o que não só não faz sentido intuitivamente como contraria a nota metodológica do BP sobre este assunto, de junho de 2014, que refere conteúdos importados estimados de 25% para a procura interna e 38% para as exportações).
Em termos mais gerais, considerando uma procura interna 2,25 vezes maior em volume do que as exportações, por um lado, e conteúdos importados respectivos de 25% e 38%, por outro, podemos concluir que a taxa de crescimento das exportações terá de ser (0,38/0,25)*2,25= 3,42 vezes maior do que a taxa de crescimento da procura interna para que o seu contributo para o crescimento do PIB seja superior.
Um último exemplo ainda, com base nos dados em volume do INE relativos ao trimestre mais recente (T3 2017). Neste trimestre, a procura interna registou um valor de 45909 M€, face a 44478 M€ no trimestre homólogo de 2016 (i.e., um crescimento de 3,2% ou, em termos absolutos, um aumento de 1431 M€). No mesmo trimestre, as exportações registaram um valor de 20651 M€, que compara com 19344 M€ no trimestre homólogo (i.e., um crescimento de 6,8%, ou um aumento absoluto de 1307 M€). Ou seja, comparando apenas os aumentos absolutos (PI: 1431 M€; X: 1307 M€), e admitindo, como é razoável, que o conteúdo importado das exportações em termos relativos é no mínimo idêntico ao da procura interna, como é possível afirmar que o contributo das exportações para o crescimento do PIB tem sido mais significativo do que o da procura interna? Ou, por maioria de razão, que tem sido mais de duas vezes maior? Não parece ser esse o caso: apesar do impressionante dinamismo das exportações, o que os dados parecem mostrar é que o contributo da procura interna tem sido ainda maior - e isto é bastante importante do ponto de vista da discussão política.
Mas talvez eu esteja a ver isto mal. Se assim for, queira explicá-lo aqui - todos ganharemos com isso.
Obrigado e cumprimentos.
Aliás, corrigindo o que escrevi aqui em cima na formulação mais geral, a taxa de crescimento das exportações deverá ser pelo menos [(1-0,25)/(1-0,38)]*2,25 = 2,72 vezes maior do que a da procura interna para que o seu contributo para o PIB seja maior. Parece-me que assim é que é.
ResponderEliminarMais uma vez os pesadelos de jose com os seus cucos de estimação que o afligem tanto e tanto o perturbam
ResponderEliminarSubamos o nível para estarmos um pouco à altura do nível do post e de alguns dos comentários.
Vejamos esta afirmação verdadeiramente surpreendente de jose:
"a mais nenhum acionista de banco deu o Estado dinheiro...que chatice, soava tão bem: ' o dinheiro para os banqueiros'!!!Mas lá vão dizendo 'para os bancos' insinuando que é a mesma coisa. Vigários!"
A surpresa deriva que nem há um mês este jose dizia esta coisa espantosa:
"Dar dinheiro aos bancos é mantra de treteiros esquerdalhos."
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/11/cds-pp-depois-dos-cortes-bonanca.html
E estas coisas ainda mais espantosas:
"A lógica é um tabu de esquerda, coisa reacionária:
- Os bancos têm dono? Sim, os bancos têm dono.
- Pode o banco ficar mais rico sem que os donos enriqueçam? Não, enriquecendo os bancos enriquecem os donos dos bancos.
- Algum dono de banco ficou mais rico com dinheiro DADO pelo Estado ao bancos? Não.
Logo, o Estado não deu dinheiro aos bancos"
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/11/algo-se-vai-passar-na-saude.html
Devidamente desmontadas tais calinadas de bradar aos céus, o que faz agora Jose?
Atira para canto e renega o que dissera há dias?
Uma tristeza pegada. Que falta de nível.Que falta de coluna vertebral. Vígaro foi o que ele disse?
Olá novamente, Alexandre.
ResponderEliminarAntes de mais uma emenda aos dados que transmiti – sobre os contributos da procura interna e das exportações, líquidos de importações, para o crescimento do PIB –, que correspondiam à projeção de junho do Banco de Portugal, entretanto atualizada em outubro. A revisão altera significativamente os contributos de cada componente, mas não altera a substância da questão, de que em 2017 (e também em 2016), segundo o Banco de Portugal, o crescimento económico nacional se deve mais às exportações do que à procura interna. Os contributos projetados são, respetivamente para as primeiras e para a segunda, de 1,5% e 1,0% em 2017. Sobre a justeza dos números se verá adiante.
Quanto à primeira objeção, e aceitando como aproximação os pressupostos numéricos (não exatos, mas razoáveis, visto que as percentagens dos conteúdos importados variam lentamente e que, apesar de diferenças nas casas decimais, a relação entre procura interna e exportações está perto da de 2016), a nova fórmula, corrigida, que compara as taxas de crescimento da procura interna e das exportações parece-me bem. Designando por “a” a taxa de crescimento da procura interna (PI) e por “b” a taxa de crescimento das exportações (X), para que o contributo da segunda para o crescimento do PIB fosse superior ao da primeira seria necessário que b*(X/PIB)*(1-0,38) > a*(PI/PIB)*(1-0,25), em que PIB representa o PIB do período anterior (neste caso 2016), (X/PIB) e (PI/PIB) os pesos relativos das exportações e da procura interna nesse período, b*(X/PIB) e a*(PI/PIB) os contributos brutos de cada componente para o crescimento e as expressões completas de cada lado da desigualdade os respetivos contributos líquidos. Ou seja, simplificando e substituindo na fórmula, que b*X*0,62 > a*(2,25X)*0,75. Isto é, a taxa de crescimento das exportações teria que ser (2,25*0,75)/0,62 = 2,72 vezes maior do que a taxa de crescimento da procura interna.
Mas que tem isso de especial? Na verdade, segundo o que se previa em outubro, será 2,84 vezes maior (taxas de crescimento de 7,1% para as exportações e de 2,5% para a procura interna).
No entanto, concordo que esse valor não permite uma saliência tão expressiva no contributo das exportações sobre o da procura interna para o crescimento do PIB como pretende o Banco de Portugal, cujos cálculos são efetivamente muito estranhos. Estranhos e injustificados nos resultados para os vários anos, sugerindo (admitindo?) um conteúdo importado da procura interna inverosimilmente elevado (e, como bem acrescenta o Alexandre, irrealisticamente superior ao das exportações). Outra indicação que sugere uma grande gatafunhada é a enorme variação, da projeção de junho para a de outubro, do contributo líquido de importações da procura interna (de 0,7% para 1,0%) para uma pequeníssima variação do seu crescimento (de 2,6% para 2,5%), ainda por cima de sentido oposto; nada parece justificar uma tão forte revisão do conteúdo importado da procura interna, que, segundo as próprias palavras do Banco de Portugal (na nota metodológica referida pelo Alexandre), varia de forma “muito gradual” ao longo dos anos.
Quanto à segunda objeção, o último exemplo do Alexandre, note-se desde logo que o crescimento absoluto da procura interna só é superior ao das exportações por se tratar de um trimestre particular, o terceiro de 2017, em que a taxa de crescimento homóloga da procura interna foi (até agora) a maior do ano e a das exportações a menor do ano; se o cálculo fosse feito para o conjunto dos três trimestres recenseados de 2017, o crescimento absoluto da procura interna seria inferior. Se isso é suficiente para garantir desde já que o contributo corretamente calculado, isto é, líquido de importações, da procura interna é inferior ao das exportações este ano, acho que não, que dependerá do quarto trimestre. Mas a sua aferição dependerá também, neste e nos anos passados, das explicações que o Banco de Portugal, na melhor das hipóteses, nos deve.
Abraço.
Já te disse que deves ler deeevaaagariiinho.
ResponderEliminarCaro Alexandre Abreu
ResponderEliminarO seu comentário das 00:26 é um excelente exemplo de como a blogoesfera pode ser útil, pela forma serena e sustentada como respondeu ("agradeço a explicação e reconheço que a minha abordagem inicial não era satisfatória."). Só tenho pena que represente menos de 0,001% dos comentários na blogoesfera em geral (estimados por mim :) ).
Ainda assim devo dizer-lhe que só por acaso consultei os comentários ao seu post (por causa dos outros 99,999%). Sugeria portanto que, nestes casos, fizesse uma chamada de atenção no próprio post (para o comentário do anónimo e para o seu).
Obrigado e cumprimentos
Anónimo (outro que não o das 19:31)
Desatento e um pouco confuso este jose.
ResponderEliminarAgora a quem se dirigirá?
Já todos percebemos que a estorieta sobre o "não se dar nada aos bancos "é simultaneamente uma patranha e uma idiotice. Que o próprio teve que engolir.E que teve de se contradizer.
Como já todos percebemos que a história de dar dinheiro aos bancos equivale dá-lo aos banqueiros, já que os bancos têm "dono".E estes andaram a singrar pela mão da especulação e da financeirização. Como se viu pela engorda destes e pela engorda dos seus conselhos de administração. Os milhões e milhões de lucros que sucessivamente iam arrecadando e que permitiam também alimentar os seus "consultores financeiros" e os seus economistas como Ricardo Reis
É aquela velhíssima história do aumento da taxa de lucro, em proveito do Capital.
Ricardo Reis fez há dias um texto apologético face a Belmiro de Azevedo. A sua "independência", os "favorzinhos" etc, etc. E para validar cientificamente a coisa até foi buscar dois estudantes de economia. Assim vai a "ciência económica" pela London School of Economics. Enfim, o louvor acéfalo que trucida os factos e cria a versão oficial da coisa.
ResponderEliminarEsqueceu-se de falar na fábrica de criar milionários.
"Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termo laminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o fornecimento dos termo laminados às actividades produtoras. Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.
É fácil imaginar o panorama. A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção.
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou…
(Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado.)
Nem sombra de qualquer referência ao (aos?) processo(s?) que lhe moveu a viúva do banqueiro Pinto Magalhães
Obrigado pelos diversos comentários e em especial ao meu interlocutor mais directo.
ResponderEliminarAcho que chegamos a uma série de conclusões relevantes: sobre a abordagem mais adequada para responder a esta questão; sobre a necessidade de cautela em relação à forma como o BdP a tem aplicado e aos números que tem apresentado; e sobre o facto de, nos últimos tempos, a procura interna e as exportações terem ambas contribuído de forma importante para o crescimento do PIB (a primeira mais por via do seu peso no PIB, as segundas mais por via das suas elevadas taxas de crescimento), não sendo correcto do ponto de vista analítico ou acertado do ponto de vista político menosprezar qualquer uma delas.
Diria que foi uma discussão realmente útil e interessante. Obrigado e um abraço.
Discussão interessante aqui nos comentários. Parabéns
ResponderEliminarNo entanto, a análise do BdP parece-me qualitativamente realista.
No período pós crise que temos vivido, e com a política de reversão acelerada de rendimentos seguida recentemente, parece-me natural e expectável que o crescimento do consumo interno tenha particular expressão em bens duradouros (eletrodomésticos, eletrónica de consumo, automóveis, etc.), com muito maior impacto simultâneo nas importações que o padrão dos últimos anos.
Por outro lado, o aumento mais expressivo das exportações assenta sobretudo no turismo, e esta componente tem muito menos impacto nas importações associadas.
Sobre o outro ponto do post original, se é certo que no final do ano o crescimento do PIB estará provavelmente acima da média da UE, os dados do último trimestre já não mostram isso, sendo assim legítimo suspeitar que a convergência pode não ser sustentável...
Para mim, o ponto principal não é saber se o nosso crescimento é ótimo ou medíocre, acho que não é nem uma coisa nem outra...
É achar que não é sustentável e, sobretudo, que o governo pouco tem a ver com ele
"Para mim, o ponto principal não é saber se o nosso crescimento é ótimo ou medíocre, acho que não é nem uma coisa nem outra...
ResponderEliminarÉ achar que não é sustentável e, sobretudo, que o governo pouco tem a ver com ele"
Milagre que S. Draghi fez :)
O decrescimento sustentável estava garantido pela mão do governo anterior.
ResponderEliminarO crescimento foi o produto duma negociação à esquerda. Com os resultados positivos que só mesmo fundamentalistas se recusam a ver. Ainda não chegam e é preciso ir mais longe
Quanto ao BdP é inquirir quem é que está à frente dele. O bombeiro que chega sempre atrasado.
E que ainda não se percebe porque não foi ainda corrido. Mais regras vindas de cima?
Muito bem.
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