segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O poder que nunca teriam nas urnas

«Por que é que a direita mais radical, a versão nacional da alt-right americana, que tem como órgão de expressão o Observador, não se preocupa com o CDS, mas sim com o PSD? (...) Porque instrumentalmente é o PSD que tem os votos e não o CDS, e é o PSD que pode, como se viu, prosseguir uma política agressiva que corresponda aos seus interesses e visão do mundo. (...) A nossa alt-right está para o PSD e Passos Coelho como a sua congénere americana está para Trump: não o reconhecem como sendo dos “deles”, mas têm perfeitamente consciência que foi ele que lhes deu o poder que nunca teriam nas urnas. (...) Acresce que a direita tipo do PNR não lhes serve para nada, visto que é o exercício do poder político que lhes interessa e não a ortodoxia política, nem mimetismos das “frentes nacionais” europeias. Como tiveram a sorte grande, agora não lhes basta a terminação.
(...) Começaram a construir uma rede de influência na comunicação social (o projecto do Observador é isso mesmo), nas redes sociais, nos think tanks das universidades e fundações, num establishment intelectual e de influência que conta com poderosos apoios financeiros. Tiveram uma história com algumas ambiguidades, desde a fase de “filhos do Independente”, depois ligados ao surto dos blogues, e em que cultivavam uma aliança natural, geracional, cultural com uma parte da esquerda, com troca mútua de cumprimentos e elogios, uniram-se nos programas do “engraçadismo” e partilharam algumas causas do “politicamente correcto” que agora abominam. Depois passaram para o serious business.
(...) Não é uma direita nacionalista e isolacionista, perceberam a importância que a Europa e os seus diktats económicos tinham em permitir-lhes uma tentativa de engenharia social que nunca passaria nas urnas se fosse apresentada aos eleitores. Esta foi, aliás, uma função essencial do PSD de Passos Coelho e que os levou a abandonarem as suas reservas ao federalismo e intervencionismo cosmopolita da Europa, para se tornarem europeístas. Não é por acaso que estão contra o nacionalismo catalão, não só pela sua afinidade com o espanholismo de génese falangista, mas também porque os equilíbrios do poder na Europa precisam do PP espanhol, como cá precisam do PSD.
(...) O que eles não querem é que o PSD olhe de novo, com uma visão reformista, para os problemas sociais da sociedade portuguesa, para a enorme pobreza que subsiste, para a dignidade do trabalho, para o controlo dos grupos económicos, para uma política de emigração equilibrada e justa, para uma constante preocupação com a existência de um elevador social que precisa do Estado e de impostos progressivos, que garanta direitos mínimos aos portugueses no plano da educação, habitação e da saúde. (...) Por que é que isto afronta a nossa alt-right? Porque, ao diminuir o enorme fosso que separa a riqueza da pobreza e ao dar poder “aos de baixo”, seja sob a forma de direitos sociais, de educação, de trabalho, de viver uma vida digna, põe em causa o direito que os poderosos acham que têm pelo nascimento ou pela natureza à sua liberdade.»

José Pacheco Pereira, O pavor da nossa alt-right com a possibilidade de lhes fugir o PSD

(na foto, sessão no Beato do «Compromisso Portugal», o movimento iniciado em 2004 e que, como oportunamente assinalou o João Ramos de Almeida, regressaria em 2014 sob a forma de «Observador»)

2 comentários:

  1. Ou como José Pacheco Pereira, o catavento-mor da nossa República, gira mais um bocadinho. Para que ponto cardeal apontará, momentaneamente, por certo, desta vez?
    Não deixa de ser um pouco inusitado ver na não adesão do PSD ao quase unânime lusitano coro de louvor ao secessionismo catalão uma colagem ao "espanholismo de génese falangista" (convenhamos, a ideologia do PSD é o capital "uber alles" e não o fascismo). O que equivale a dizer outra coisa: ser o PSOE espanhol companheiro do lusitaníssimo PSD na sua solidária caminhada com esse "espanholismo de génese falangista" ao apoiar as medidas que o Governo do PP tiver por necessárias para parar o Sr. Carles Puidgmont e as suas hostes. Que dirá o portuguesíssimo PS de tudo isto? Teremos nós homo-ideológico divórcio ibérico e posterior boda hétero-ideológica "espanholista de génese falangista"?
    Outra dúvida me assalta: se esse "espanholismo de génese falangista" é, depois de ter sido gerado em Burgos, coisa parida e carinhosamente criada em Madrid, de onde terão vindo os supremacistas nacionalismos catalão e basco que, grosso modo, têm a sua implantação em regiões onde o Carlismo provinciano, fradesco e reacionário teve os seus mais persistentes apoiantes?
    Na minha humilde opinião, muito se engana José Pacheco Pereira ao pensar que o PSD pode olhar de novo para "os problemas sociais da sociedade portuguesa". E isso por uma simples e incontornável razão: o PSD sempre se esteve borrifando para esses mesmos problemas: ou, simplesmente, os ignorou, ou (preferencialmente em vésperas de eleições) sobre eles deitou umas parcas moedas. Se assim não fosse, não estaríamos hoje como estamos.
    Anda Pacheco Pereira à procura de algo que nunca achará, pois não se encontra aquilo que nunca existiu.

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  2. O titulo também poderia ser:
    « CDS: O ovo do Cuco»

    Curiosamente, O Observador online, qual Zandinga dos media partilhou na sua rubrica "Estranha Natureza" o seguinte:

    «Cucos deixam os ovos em ninhos alheios para outros criarem
    21/6/2014, 20:52
    Os cucos são aves parasitas. Expulsam os ovos de outras aves dos respectivos ninhos para lá deixarem o seu»


    http://observador.pt/2014/06/21/cucos-deixam-os-ovos-em-ninhos-alheios-para-outros-criarem/

    Sem duvida. Estranha Natureza esta do Observador eheheheheh!!!!!!!!!!!!!
    A.R.A

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