quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O escorpião

Para todos aqueles que julgavam que Marcelo Rebelo de Sousa deixara, com a idade, de ser o escorpião que não resiste à sua natureza, eis que ele ressurge por entre os afectos.

Disse Marcelo nos Açores (emitido no Telejornal de hoje):

A clarificação efectuada no Parlamento convida-nos agora a passar a uma nova fase. E a nova fase é esperar do Governo e esperar dos partidos políticos estarem à altura da confiança parlamentar e sobretudo das expectativas altas e das exigências dos portugueses. É o que nós esperamos. Isto não tem nada de agitação política. 
Por outras palavras, a estratégia do presidente da República é transformar uma moção de censura à forma como o Governo actuou nos incêndios numa espécie de cimento, em que o Bloco de Esquerda e o PCP, por muito que esperneiem, ficaram colados para sempre ao Governo. Isto apesar de tanto o Bloco como o PCP se terem demarcado do Governo - em diversas matérias e até na questão dos incêndios, vidé o que se passou na sessão parlamentar.

Mas para Marcelo nada disso contará. Ou tudo fará para que isso não conte. 

A partir de agora, Marcelo vai passar, através das suas intervenções, a responsabilizar também os dois partidos que apoiam o Governo. E isso tem dois efeitos:
1) obrigará os dois partidos a tentar demarcar-se ainda mais do Governo para evitar os efeitos das mensagens do presidente, o que, a acontecer, fragilizará continuamente o Governo;
2) Se as coisas correrem mal a este PS que está no Governo, a direita emergirá - em bloco - como alternativa e, por sua vez, fará emergir a direita do PS para substituir Costa.

Ou seja, tudo isto tem tudo a ver com "agitação política".

Resta saber se a consciência dos portugueses socialistas, bloquistas e comunistas não irá avivar-se e começar a afirmá-lo nas sondagens de popularidade do presidente da República. Marcelo arrisca-se a muito, porque poderá ver o seu papel e o seu capital político reduzido.

E pensar que alguém vê afectos em tudo isto...

PS: as informações surgidas do dia seguinte a esta crónica, dão mostras de um PS disposto a partir a louça (até aqui) e de um Presidente que está já a perder o pé e a cair na guerrilha política.

16 comentários:


  1. Concordo.
    Entretanto o dito cujo disse que foi eleito para cumprir e fazer cumprir a CRP. Vamos pois apertar com ele para que honre o juramento. Portanto, ele, vigilante, vai exigir o direito ao trabalho, à segurança no emprego, à saúde, à educação, à habitação, etc. Cá estaremos para o próximo deslize...

    João Pedro

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  2. Eram afectos em demasia para serem sinceros...!

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  3. Quantas cabeças somará «a consciência dos portugueses socialistas, bloquistas e comunistas», isto é, os verdadeiros socialistas, bloquistas e comunistas?
    Seguramente uma larga minoria.
    Comecem a administrar o capitalismo se querem manter-se nas bordas do poder.

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  4. Marcelo é o que é. Um homem de Direita. E vai, como todos os Presidentes antes dele, favorecer o seu campo ideológico. Sobre isto, nada de novo. Quando elegemos um chefe de Estado, não elegemos um árbitro imparcial. Será pois bom que aqueles que se identificam com o PS, o BE ou o PCP-PEV se lembrem disso da próxima vez que forem votar nas Presidenciais. E será igualmente bom, que, se a convergência das Esquerdas não puder continuar nas próximas legislativas, pelo menos permita a seleção de um candidato único logo à primeira volta em 2022. O que se passou há cerca de 2 anos deixou o caminho de Belém aberto a MRS...

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  5. Eram de facto afectos em demasia.

    Tal como é em demasia as patetices em torno de vacuidades como "larga minoria". Ou em torno da "administração do capitalismo" apresentada quase como chantagem, isto, e cita-se, se "querem manter-se nas bordas do poder". Todas estas coisas vindo de quem andava bem há pouco a zurzir nos afectos presidenciais

    Sem o querer e mais uma vez a confirmação....o poder repousa no grande poder económico e é papagueado com termos como "empresas" e "capitalismo". São os "consultores financeiros do Capital" que o repetem desta forma tão pueril.

    Infelizmente para quem resolve fazer estas pantominas, já todos percebemos que não há só um escorpião.

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  6. Caro José,
    A julgar pelos votantes - e é a única forma de lá chegar, enquanto não houver softwares de definição de pensamentos políticos individualizados - ainda são a maioria, uma larga maioria.

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  7. Bom, era certo e sabido que a lua-de-mel só duraria enquanto Passos Coelho fosse líder do PSD. Talvez as pessoas tão enlevadas no abraço de urso em que o afectuoso Presidente as envolveu ao longo da sua carreira de comentador ao longo de 10 anos não o tenham visto.

    E a coisa só piorará quando Rui Rio vier aí num cavalo branco numa manhã de nevoeiro. Ou será fumaça?

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  8. Caro João,
    Fui claro de que tratava d«os verdadeiros socialistas, bloquistas e comunistas», não dos clubistas, dos calculistas e dos outros.
    Os verdadeiros são só aqueles que querem os meios de produção fora das mãos de privados, que isso sim, é ser anticapitalista. Tudo o mais é folklore.

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  9. Como afirmou, e bem, o Jaime Santos, Marcelo nunca deixou de ser um homem de direita e, louve-se as destrinças de estilo para com o seu antecessor, não haja duvidas de que se o PSD tivesse um líder à altura de Marcelo este "afectuoso" PR já teria accionado a bomba "antónia" sobre a AR ... com todo o carinho, claro está!

    Contudo, não podemos também olvidar que o governo pôs-se a jeito pois se cair num buraco é acidente, cair uma segunda vez no mesmo buraco é coisa de néscio portanto sem esquecer o imperativo que é a CDU e o BE de apoiarem o governo no parlamento acredito que do mesmo modo será sempre o PS que irá colher aquilo que semeou pois se já colheu nas urnas o seu bom desempenho na retoma económica (como se viu nas eleições autárquicas) também será o PS que será lembrado pelos fogos de 2017 onde os partidos de apoio que sempre se souberam preservar (daí declinarem cargos governamentais) terão toda a legitimidade de manterem esta aura critica independente em consonância com o seu eleitorado que sabe perfeitamente o que realmente sempre esteve em jogo.

    A bem da verdade, desde que a união das esquerdas se tornou realidade se andou sempre à procura de uma brecha na muralha convergente (já se tentou de um tudo!) mas tanto os partidos que sustentam o governo tal como o próprio governo em si sempre souberam estar á altura das suas responsabilidades sendo que não acredito que os "incendiários" da direita do ps, á direita do ps e até o próprio PR que por muita pirotecnia que usem ou por sucessivos fogo posto "criminoso" não terão qualquer capacidade pirómana suficiente capaz de tornar uma simples "queimada" controlada num fogo descontrolado pois a união das esquerdas sabe perfeitamente que vivemos tempos de mudança no aparelho parlamentar onde é imperativo que esta solução mostre resultados positivos o suficiente para que passe a constar como uma nova alternativa governativa ao conhecido "arco da governação" ou a uma direita coligada.

    Assim, com o ressuscitar da AD com a PAF, as esquerdas finalmente perceberam (tarde mas ainda a tempo) de que são um case study ao nível supranacional para contra-ciclo do perigoso populismo que se alastra pela Europa portanto impõe-se que tudo se faça para que dê certo.

    ps- Constato já de algum tempo para cá que tanto o Publico como o DN têm dado destaque a historiadores que esmiúçam Lenine à luz critica dos nossos dias. Fazem-no bem e nada tenho a acrescentar embora a intenção sistémica só ambos os jornais (ou quem neles mandam) a saberão pois cria um certo engulho saber que a jornalista Daphne Caruana Galizia não tem tido tal tratamento editorial dos seus "pares" portugueses depois de ter sido morta num atentado á bomba por andar a investigar os panamá papers onde até constam vários nomes da finança nacional e ou "anónimos" lusitanos, ou seja, Lenine é noticia pelo sua coloquialidade e Daphne Caruana Galizia é uma não noticia por não ter um passado relevante.

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  10. Folclore ou não folclore...

    Mas de facto não há softwares de definição de pensamentos políticos individualizados.

    Mais folclore nestas contabolizações idiotas? Perdão, folklore para ficar mais folclórico


    Entretanto Jaime Santos tem razão na sua caracterização de Marcelo. Como escreveu JM Correia Pinto "há que cerrar fileiras e continuar sem desfalecimentos nem desânimos. E ainda mais: é sempre de má política elogiar alguém da direita, seja o que for que esse alguém tenha feito, porque breve virá o dia em que esse elogio fica desmentido pelo comportamento do elogiado. A política não é um “chá dançante”, nem um concurso de beleza. A política é algo entre nós e eles. E eles tem projectos e propostas muito diferentes das nossas!"

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  11. A tralha neoliberal-passista tem destas coisas.

    Ainda não engoliu a derrota em Outubro de 2015, em que, duma forma perfeitamente democrática, foram corridos da governação do país. E o país pode respirar mais um pouco

    Agora proclama que a maioria é afinal minoria. E isto porque na cabeça de tal anti-democrática tralha tem que se contabilizar os "verdadeiros" e os outros.

    Se não fosse rísível seria trágico. Está-lhes na massa do sangue

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  12. "Alguém tem dúvidas que o " selfie de Belém " deu o golpe ao Costa ?
    O mestre da intriga , o falso senhor dos afectos , mas bom actor veio-nos lembrar que está sempre pronto a servir a sua vichyssoise
    "O episódio da «vichyssoise» fica para os anais. Este prato ficou mais conhecido quando, há uns anos atrás, Paulo Portas resolveu contar na televisão uma história sobre Marcelo Rebelo de Sousa. Rezava então o jornalista do «Independente» que certo dia procurou saber junto do professor como havia decorrido determinado jantar restrito. Marcelo descreveu-lhe todos os pormenores: quem lá estava, o que haviam falado, até o que haviam comido. Dizia Paulo Portas que Marcelo chegou ao ponto de lhe referir o detalhe da refeição ter começado por uma «vichyssoise». Afinal, soube-se mais tarde que o jantar fora adiado e que não houve «vichyssoise» alguma. Assim acabou a segunda AD, mesmo antes de ter sido constituída."

    (Pena Preta)

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  13. O que aqui foi dito sobre Marcelo é justíssimo e o mesmo pode ter vários cognomes: o "selfies", o intriguista, o agitador político, por debaixo da mesa, atrás da porta, em cima dos telhados, ao telefone às 4 da manhã, a tomar banho com o DDT.
    E já agora: alguém deu procuração a Marcelo para definir "as realidades" que interessam ou não aos portugueses? A não esquecer para quem tiver dúvidas, entretanto e daqui a 3 anos.

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  14. O Sr. Presidente da República manteve a compostura enquanto se lhe não perfilou no horizonte uma alternativa de liderança no seu querido PSD. É de temer que tanto tempo de contenção tenha deveras aumentado e refinado as artes maquiavélicas do senhor de todos os afetos.
    Quanto a Costa, já ele devia ter aprendido que as víboras nem dos seus próprios filhos são amigas.

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  15. Começou por lhes dar toda a cobertura.
    Esperou.
    Deixou-os falar: uma sacrificou as férias, o outro foi de férias e não gosta de se rir à noite.
    Deu-lhes forte e feio e salvou-lhes o coiro.
    A matilha uiva, mas os tratadores sabem quem os leva pela mão.

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  16. Que linguagem patibular.

    Matilha, uiva, coiro, tratadores pela mão

    Linguagem patibular parida nos estábulos onde a pileca lhe tem dado satisfação?

    Não interessa. Aqui apenas o registo. Mais a nota do elogio a essa coisa dissimulada e às suas artes de dissimulador que é Marcelo.


    Quem levará pela mão a matilha parida nas caves fundas de um patronato habituado a viver à custa do orçamento e da exploração de mão-de-obra barata?

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