sexta-feira, 28 de julho de 2017
Já não nos vemos gregos?
Imaginem que um Ministro das Finanças de um país europeu periférico telefona a um seu conselheiro norte-americano para discutir o cenário de incumprimento do pagamento de uma parte da dívida, prestes a vencer, ao Fundo Monetário Internacional. Pouco tempo depois de terminada a chamada o seu conselheiro liga-lhe de volta a informá-lo de que acabou de receber um telefonema dos serviços secretos do seu país, questionando-o sobre a plausibilidade de tal cenário.
Os EUA têm um papel directo na crise da Zona Euro, ainda que se confirme que delegam na Alemanha e nas instituições europeias que esta controla a manutenção da ordem neoliberal deste lado do Atlântico. Por isso, as conversas mais relevantes do tal Ministro são com o seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble. Interpelado, já em desespero de causa, sobre se aceitaria o ultimato dos credores, apostados em perpetuar um regime austeritário, caso fosse Ministro de um país periférico, Schäuble responde: “enquanto patriota, não; é mau para o seu povo”.
Esta são só duas das muitas histórias relatadas no recente livro Adults in the Room de Yanis Varoufakis, Ministro das Finanças grego durante o primeiro semestre de 2015, sobre a sua experiência governativa e sobre o contexto que precedeu a vitória eleitoral, sem precedentes na história europeia das últimas décadas, da esquerda radical, seguida pela sua capitulação. Tratou-se, lembremo-lo com a ajuda de Varoufakis, de um governo de um país transformado numa “colónia de dívida”, vítima de “tortura orçamental” continuada e de um “golpe de Estado financeiro”, em larga medida organizado pelo Eurogrupo e pelo Banco Central Europeu (BCE), confirmando a natureza pós-democrática da União Europeia, em geral, e do Euro, em particular.
Misto de memórias, de livro de economia e de thriller político, a obra é um relato dos bastidores de uma moeda disfuncional em termos económicos, mas politicamente funcional, servindo os interesses da finança europeia e suas elites políticas. Uma pergunta clássica ecoa implicitamente ao longo do livro: que fazer? Se fizermos fé em Varoufakis, um académico especialista em teoria dos jogos – uma ferramenta económica convencional para analisar interacções estratégicas –, só um caminho seria racional e foi com este que Alexis Tsipras se comprometeu pessoalmente com Varoufakis. Começar por procurar um acordo europeu que permitisse virar a página da austeridade, garantido também por uma reestruturação substancial da dívida grega e por reformas da disfuncional Zona Euro. Para obter um tal acordo, Varoufakis argumenta que o governo grego sabia que tinha de estar disposto a negociar no mais cooperativo espírito europeísta mas que, perante a eventual recusa por parte da antiga troika e dos países que a suportam, pior do que romper, entrar em incumprimento, iniciar um sistema alternativo de pagamentos e eventualmente sair do Euro seria aceitar o prolongamento da lógica que tinha conduzido a sociedade grega a uma catástrofe humanitária. O sucesso desta linha dependia então de uma liderança com nervos de aço e firmeza de propósito. Os problemas da narrativa começam pela identificação da natureza do adversário e dos seus propósitos.
O resto do artigo, em escrito em co-autoria com Nuno Teles, pode ser lido no Público.
A política económica alemã na crise foi exactamente a oposta da dos estados unidos. Para quem põe tudo no mesmo saco para continuar a alimentar a história do neoliberalismo é uma contradição. Acho que é tempo de se libertarem das narrativas neo marxistas pseudo cientificas.
ResponderEliminar"A política económica alemã na crise foi exactamente a oposta da dos estados unidos"
ResponderEliminarAnónimo, às 18:30
Conte outra!
Se as coisas estão assim tão boas nos EUA, e se não há neoliberalismo por aquelas bandas porque é que Trump é hoje presidente?
Praticamente todo o rendimento na era de Obama (a recuperação, dizem...) foi para 1% da população.
https://www.nytimes.com/2014/09/27/upshot/the-benefits-of-economic-expansions-are-increasingly-going-to-the-richest-americans.html?rref=upshot&_r=0&abt=0002&abg=1
95% do trabalho criado é trabalho precário.
https://www.investing.com/news/economy-news/nearly-95-of-all-job-growth-during-obama-era-part-time,-contract-work-449057
Os EUA estão dominados por neoliberais e neoconservadores há décadas e isto explica o muito mal que grassa o mundo!
Narrativas neo-marxistas pseudo-qualquer coisa?
ResponderEliminarO anónimo não está bom da cabeça.Pelo facto da sua "narrativa" não ser de uso universal e por todos aceite, avança com investidas contra o "neo-marxismo" e contra a pseudo-qualquer coisa.
Não gosta que se desmascare o neoliberalismo. E coloca umas frases batida que só traduzem um slogan.
É que a ordem neo-liberal prolifera tanto deste lado do Atlântico, como do outro lado. E só mesmo um narrador duma particular narrativa tem o desplante de tentar fazer vender as suas tretas invocando o "neo-marxismo" e outros papões do género.Como argumento a juntar ao slogan não está mal.Mas é duma impotência confrangedora
Muito bom texto. Dá vontade de ler mais, de descobrir os bastidores desta serpente de mil-cabeças que é a UE . E o modo de pensar e de agir desta fina flor da máfia
ResponderEliminarConfesso que sempre irrita a cena da 'moeda disfuncional'.
ResponderEliminarDisfuncional significa que não se adapta à cobardia dos políticos e lhes favoreceu a irresponsabilidade.
Herr jose tem destes achaques.
ResponderEliminarOscila entre as suas próprias fragilidades e irritações particulares e as suas patibulares afirmações. Já lá iremos.
Agora embora se mostrando assaz ternurento com a "moeda disfuncional", revela simultaneamente um agastamento pelo facto de a terem identificado como aquilo que é.
Estará ainda à espera da pergunta certa para a resposta adequada?Tal como os cobardes políticos neoliberais que acham que o Brexit não tinha a pergunta certa? Nem o referendo grego a pergunta adequada?
Esta irresponsabilidade assim táo docemente parida por herr jose tem a ver com a sua tentativa para ver se esconde a pesporrência exaltada e esganiçada com que proclamava há dias:
ResponderEliminar"Esperneiem quanto vos aprouver, que o exercício só traz benefícios".
Infelizmente tal pesporrência não oculta o favorecimento da sua própria irresponsabilidade, antes a acentua e reafirma.
Embora se fique na dúvida se tal facto é mesmo real ou se se trata apenas duma encenação. Das do género a que nos habituaram os vendedores de banha da cobra dos caminhos únicos, tão do agrado do grande patronato predador e vampiresco. E tão cobarde como o que demonstrou em Abril de 74
Políticos cobardes há muitos.
ResponderEliminarPor exemplo um que ficou conhecido como tal pela sua política de ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Passos Coelho de seu nome. Roubava salários e pensões e férias e direitos sociais.E depois rastejava quase que abjectamente em torno de Merkel,que por vezes chegava a ficar incomodada pelo comportamento excessivo daquele.
Outro cobarde era Paulo Núncio , enviado para cobrar impostos a quem menos tinha e aos remediados mas que simultaneamente propiciava a fuga dos tubarões para os offshores da ordem.
Os EUA e a UE são dois lindos gémeos siameses neoliberais que, enquanto não vão juntamente ao fundo, nos proporcionam um curioso e mui deprimente espetáculo: por mais pancada de criar bicho que o gémeo de além-Atlântico faça desabar sobre o gémeo do Velho Mundo (a última traulitada foi a das sanções à Federação Russa), este desfaz-se em juras de amor e manifestações de afeto por aquele.
ResponderEliminarQuanto à saúde económica do siamês colombino, ela há de ser extraordinária como é sempre extraordinária em países que necessitam de uns míseros 5 triliões de dólares para recuperar as suas decrépitas infraestruturas e têm uma dívida externa que se mantém a flutuar à custa de máquinas impressoras do sucedâneo do papel higiénico que é o dólar. O Mundo tem de aprender é com quem sabe...
Daqui se percebe o equívoco em que anda enredada toda a Esquerda radical. O problema não são os resquícios de europeísmo de alguns é, isso sim, a incapacidade de uns e de outros de pensarem uma alternativa coerente e sobretudo de não esconderem as suas consequências. Recordo-lhes que andam a dizer o mesmo há cinco anos, pelo menos. Muito bem, rompemos com o Euro. E depois, nacionaliza-se uma grande parte da Economia, que irá falir devido à saída, a começar pela banca? Como defendemos a nova moeda e controlámos a inflação? Com que reservas de moeda forte? Quais os planos de contingência para evitar uma rotura do fornecimento de bens de primeira necessidade? Isto tudo, claro, que não tornará as pessoas nada soberanas, nunca é assumido, porque não seria aceite (olhe-se para a Venezuela). E, portanto, chegamos à conclusão que a tal 'rutura democrática' ou não está a ser pensada de todo e os seus proponentes são uns ingénuos incompetentes, ou está a ser pensada mas não será nada democrática, será um puro experimento leninista (o que já não seria a primeira vez)... Para isso, francamente, é melhor a troika...
ResponderEliminarGabo a paciência do JSantos de ainda dar cera para o velório da saída do euro!!!
ResponderEliminarYanis Varoufakis foi vilipendiado por ter apresentado propostas economicamente viáveis que implicavam justiça e por defender incondicionalmente aqueles que depositaram confiança nele. Qualquer cidadão digno entende a seriedade e o comprometimento como valores essenciais, Yanis Varoufakis não é um exemplo neste aspecto é uma inspiração, são pessoas como ele que nos unem e que nos aumentam.
ResponderEliminarJaime Santos o seu melhor ou pior é argumento que já só serve para quem está apostado na manutenção do "status quo" actual e mesmo para esses... A politica do mal menor anda de mãos dadas com a da não alternativa, parece-me de uma irresponsabilidade absoluta continuar a abordar as coisas dessa forma, quantos anos mais vão ser necessários para essa dialéctica ser colocada para trás?
ResponderEliminarClássico.
ResponderEliminarA esquerda está enredada num equivoco. Quem o diz de forma definitiva é aquele que não se conforma com o facto de não se mudar de ideias todos os dias pares. Como é o caso dele
Há pelo menos cinco anos que a esquerda anda a dizer o mesmo, Santo Nome do deus da moda e do oportunismo
Uma tristeza pegada que acaba por desembocar num amen à troika. Nem mesmo envergonhado?
Gaba herr jose a paciência de.
ResponderEliminarPorque motivo passa então o tempo aqui a dar tanta cera?
Uma avezinha tonta. A ver para que lado pode trazer a sua ideologia em processo de propaganda. Tenta tudo. Mesmo que tenha que tropeçar a cada passo naquilo que disse há pouco
A "esquerda radical" é aquela que não entra no enorme Centrão que há de dar cabo da vida de todos nós, não é? E reduzir os problemas da Venezuela, um Estado permanentemente desestabilizado pelos escroques do costume, a questões de moeda soberana e de falta de reservas de moeda estrangeira é de uma aguda e muito vasta perspicácia.
ResponderEliminarNão há meio de entendermos que a Europa de hoje é um mero capacho dos EUA. A Europa é aquele continente para o qual a Segunda Guerra Mundial nunca acabou. Não só nunca acabou como também se prepara - caso continue a fazer o néscio papel do parvo alegre que se dedica a aguilhoar o urso russo com vara curta - para correr o sério risco de começar a Terceira e... última. Entretanto, o Império Ianque paga os bons serviços de rafeiro a essa Europa com altíssimas mostras de respeito como foi o caso da respeitosa aprovação pelo Congresso norte-americano de sanções contra a Federação Russa que vão, pura e simplesmente, destruir a economia europeia (com a Alemanha â cabeça). Comamos, pois, a nossa quotidiana côdea de pão com o piedoso pensamento nos pobrezinhos da Venezuela, pobrezinhos esses que só o são porque o malandro do Maduro teima malevolamente em não seguir a cartilha e em não adotar a moeda da velha Europa...
O Cuco anda inquieto. Nada lhe corre bem.
ResponderEliminarO capitalismo está de pedra e cal e a esquerda já nem grita nem faz passeatas.
Até o Maduro se aproxima do estado de maduro para cair.
Sempre tem o Putin com suas bombas, uma vez que, num injusto olvido, nunca invoca o coreano que diz fazer ajoelhar os USA.
Ahahah!
ResponderEliminarQue destrambelho destravado, inquieto e perturbado.
Pobre herr Jose. Coitado de herr Jose.
Herr Jose daqui s pouco confundirá os géneros.
Entretanto sonha com cucos. Depois de bater no peito e ter dito amuado que não falava mais com os pássaros.
Uma avezinha um pouco tonta, convenhamos.
Cuco e inquieto. Hum.
ResponderEliminarMais a pedra e a cal e os gritos e as passeatas...pois
Tão sossegado está herr jose que passa aqui tao atafobado.
Horas a fio. Aqui e por toda a net
E sonha com o capitalismo de pedra e cal.
E tem pesadelos e suores frios se lhe falam em deitar mesmo cal...para cima do Capital
Herr José engana-se certamente no género, mas o seu acerto no número não será maior... Olhe, caríssimo Herr José, não é "capitalismo", é "capitalismos". Acontece que aquele que lhe preenche os húmidos sonhos - o novel capitalismo de guerra, neocolonialista e predatoriamente psicopata - está nas vascas da agonia e disso dá sinais à saciedade. Enquanto o nosso neoliberal de sotaque alemão sonhava o seu sonho de um Reich washingtoniano de três mil anos, a "nação excecional" foi pelo cano. E Herr José sabe-o. E lamenta-o. E chora. E geme. E, impotentemente, junta Maduro e Putin no mesmo duo, com o Kim a fazer coro... Nós bem sabemos o que junta esses três, não é, Herr José? E o que junta esses três é aquilo que lhe tira o sono: não são eles farinha do mesmo saco dos seus ídolos rafeiros que lambem o traseiro da "Nação excecional", enquanto oferecem o traseiro dos seus povos como recreio e refrigério dessa mesma nação.
ResponderEliminarEspera sentado...
ResponderEliminarE sentado é coisa que Herr José não tem estado... Tem andado, isso sim, muitíssimo atarefado em trocas e baldrocas afetivas: trocou a sua monógama e muito sólida relação com Frau Merkel por uma muito modernaça relação polígama com a totalidade do ensandecido Congresso norte-americano. Então, Herr José, isso faz-se? Anda a pobre da senhora a levar pancada colateral de criar bicho, perde a senhora horas de sono a dar voltas à cabeça tentando arranjar sucedâneos para os sancionados gás e petróleo russos, e o volúvel Herr José dá-se ao exercício de pular a cerca? Seu maroto...
ResponderEliminarJá lá dizia Mestre Gil que o Amor é caça de altanaria... De altanaria e dada a enormíssimos equívocos, diria humildemente eu, mormente quando o cinegético falcão sofre de reacionária miopia.
Enquanto Herr José se não decide a ir ao oftalmologista, eu assisto sentado, ao vivo e a cores, ao desabar trágico-cómico do seu tão acalentado sonho húmido do Reich Ianque de três mil anos, sim?
De como um texto pode manter todo o seu poder argumentativo e assumir uma ironia d´um caneco
ResponderEliminarEssa da "muito modernaça relação polígama com a totalidade do ensandecido Congresso norte-americano" é de gargalhada