1. Retoma do crescimento mundial: a desaceleração abrupta do crescimento económico na China, os riscos associados de uma nova crise financeira e as incertezas políticas em países centrais (e.g., referendo britânico, eleições nos EUA) levaram a um forte abrandamento da economia mundial entre o final de 2015 e a primeira metade de 2016 (os países da OCDE cresceram abaixo de 2% nos primeiros três trimestres de 2016, algo que não aconteceu antes nem depois). A UE reagiu reduzindo a pressão austeritária. À medida que a tensão desanuviou, o crescimento mundial regressou e com ele a procura externa dirigida à economia nacional.
2. Desvalorização cambial: o euro desvalorizou face ao dólar no primeiro trimestre de 2017 (de cerca de 1€=1,10$ no trimestre homólogo para cerca de 1€=1,05), dando uma ajuda à competitividade-preço das exportações da zona euro face a concorrentes de várias partes do mundo que vendem em moeda americana.
3. Crescimento e desvio do turismo internacional: o crescimento económico mundial, a desvalorização do euro, a instabilidade que se vive em várias partes do mundo e a relativa segurança de Portugal (e.g., ausência de guerra e terrorismo) por comparação com outros destinos concorrentes, têm favorecido a actividade turística em Portugal. Como resultado,os proveitos da hotelaria estão a crescer acima de 10% há 21 meses consecutivos.
4. Continuação da descida das taxas de juro: a Euribor a 6 meses não parou de cair no último ano - rondava os -0,15% no início de 2016 e passou para cerca de -0,25% no início de 2017. Isto cria condições favoráveis à actividade económica em geral e ao investimento em particular.
5. Aumento da confiança: os factores acima referidos contribuem para melhorar a confiança dos agentes económicos. A política de devolução de rendimentos, o aumento do salário mínimo, a criação de emprego (em parte explicada pelo contexto internacional favorável) e, acima de tudo, o fim do discurso governamental sobre a perpetuação da pobreza e das dificuldades, explicam boa parte da forte recuperação da confiança dos consumidores. Confiança gera procura, procura gera actividade, actividade gera investimento, investimento cria emprego, emprego gera rendimentos, rendimentos geram procura, etc.
6. Estabilização do sector bancário: um das fontes principais de desaceleração da economia portuguesa no início de 2016 foi a incerteza sobre a situação da banca. O conjunto de intervenções ocorridas desde então (resolução do BANIF, capitalização da CGD, reorganização accionista do BCP e do BPI), a par da melhoria da situação económica, contribuiram para estabilizar a situação na banca. Isto reflecte-se na confiança geral na economia portuguesa e nas condições de financiamento às actividades económicas.
7. Retoma da construção e do imobiliário: crescimento do turismo, melhoria das condições de financiamento e aumento dos rendimentos das famílias - tudo isto, juntamente com uma utilização mais intensiva dos fundos europeus (a que provavelmente não é alheio o facto de ser ano de eleições autárquicas), contribui para uma retoma da construção, sector que vive em crise há mais de 15 anos. As vendas de cimento cresceram 19,2% no 1º trimestre de 2017, de longe o valor mais elevado do último quinquénio. O mesmo se passa no imobiliário: a avaliação bancária das habitações está a aproximar-se dos níveis pré-crise. Não o sabemos ainda, mas é provável que a retoma da construção seja o factor mais relevante por detrás do aumento do investimento (segundo o INE, um dos motores do bom desempenho do PIB português neste início de ano).
Não ponho em causa os fatores explicativos que elenca. Todos eles interferem com o processo de crescimento do País. Contudo, o contributo de cada um deles não possui a mesma natureza nem é exercido com a mesma intensidade. Além de que, alguns deles, não exercem a sua influência de forma autónoma o que, aliás, dificulta o isolamento do efeito específico de cada um deles. Por outro lado, a ação do Governo influencia direta ou indiretamente o funcionamento de pelos menos dois deles: O aumento da confiança e a estabilização do setor bancário. Por conseguinte, parece-me excessivo afirmar que os processos de crescimento, mesmo a curto-prazo, resultem apenas da ação de fatores exógenos. Na verdade, o alcance dessa afirmação apenas poderá ser apurada através do isolamento da influência exercida pelos fatores controlados pelo Governo.
ResponderEliminarTendo a concordar com o comentário do Rui Nunes, tanto mais que, como ele sublinha, as razões não tem todas o mesmo peso. Há duas que são mais determinantes que todas as outras: a política monetária do BCE e a retoma da confiança.
ResponderEliminarAinda não são conhecidos os números das diferentes componentes do PIB do 1º trimestre de 2017, mas sabemos com base no crescimento do 3º e 4º trimestre de 2016, que o forte incremento do consumo privado teve um peso de mais de 80% no total do crescimento registado. O INE diz que "a procura interna manteve um contributo positivo elevado" ainda que o consumo privado tenha desacelerado no inicio de 2017. Assim o factor "retoma da confiança" é decisivo no crescimento do PIB no 1º trimestre de 2017. E isso é mérito, pricnipalmente, da política de reposição de rendimentos (e não só) seguida.
Rui e Joaquim,
ResponderEliminarnunca disse que a acção dos governos nacionais é irrelevante (se assim fosse não preocuparia muito com a forma como o país é governado). O que digo é que os factores externos são geralmente determinantes. E sim, não têm todos o mesmo peso e interagem fortemente, por ser impossível aferir o contributo de cada um com os dados que dispomos é que opto por elencar todos os aspectos que me parecem relevantes.
Um bom e lúcido post
ResponderEliminarCaro RPM:
ResponderEliminarÀs vezes é muito mauzinho.
Já viu o problema que pôs ao troll José?
Pôs o homem entre a espada (nunca pode concordar com nenhum post ou comentário) e a parede (não pode deixar de estar de acordo com o conteúdo do seu post, pois o Ricardo não atribui os louros ao Governo).
Daí que o troll ainda não tenha comentado, quase 24 horas é tempo demais para ele debitar a sua sentença definitiva e «científica», tanto mais que se trata de um Físico, portanto, um homem das «ciências duras».
-------------
Só fico com uma dúvida: dir-se-á Físicotroll ou Trollfísico, para caracterizar a criatura?
Todas essas 7 razões são fortemente conjunturais. E reduzimo-nos a um estado em que o que nos determina é-nos exterior, não depende de nós.
ResponderEliminarRPM, não referiu o Programa 2020, isto é, o facto de os fundos europeus estarem a chegar à economia quer através de agentes económicos privados (lucrativo e não lucrativo) e públicos (administração central e local). Porque não lhe atribui importância como factor explicativo do crescimento verificado?
ResponderEliminarComo é óbvio porque é dinheiro da UE. E qualquer dinheiro vindo da Europa, para um camarada, é dinheiro do demo.
EliminarOu seja, a grande maioria dos fatores, são externos! Viva o Costa!
ResponderEliminarViva o Costa porque provou uma coisa.
ResponderEliminarQue a via de sentido único era uma treta do tamanho da gula dos mercados.
E do apetite dos vampiros que os servem
Ou talvez significa que se o anterior governo continuasse com as mesmas políticas, o crescimento seria o dobro.
EliminarPorquê?
EliminarO dobro do empobrecimento com toda a certeza?
É que por mais que se tente fazer demagogia barata, as palavras estão aí. Para desmascarar os propagandistas e as demagogias baratas.
Foi Passos que disse que era necessário empobrecer. Foi Passos e a sua coorte que andaram todo o ano de 2016 a arrotarem postas de pescada sobre a falência da solução democrática encontrada e a avisar da vinda do diabo. Para depois do verão de 2016?
Há mais. Mas é preciso algo mais do que estas tretas que o anónimo debita em favor dos trastes que nos governaram
É que isto é um blog sério e nao propriamente um locus onde se despejam patetices de forma impune
Um factor apenas, no entanto um dos mais importantes. 2020. Só não se quantifica os danos em 2023!
ResponderEliminarEste factor seria o único adicional se não quisermos, naturalmente esmiuçar a abrupta subida imobiliária no início de 2017.