Contributos para a evolução do PIB em 2016 (INE, Contas Nacionais Trimestrais)
A reacção do PSD aos números do crescimento real do primeiro trimestre é demasiado ridícula para ter eco fora daquela bolha. O partido que andou todo o ano de 2016 a falar da estagnação provocada pela reversão das suas políticas vir agora dizer que o crescimento em 2017 é o resultado das políticas que dizia que tinham sido revertidas está para lá do que os mais extremosos comentadores conseguem reproduzir.
O discurso televisivo da direita é, portanto, outro: os resultados são bons porque o governo se rendeu às evidências e mudou de estratégia,o que seria provado pelo facto de o crescimento ser movido pelas exportações e não pela procura interna. Como o ridículo desta tese é um pouco menos óbvio, vale a pena olhar para a nota do INE, à falta de números mais concretos, pelos quais teremos de aguardar (os sublinhados são meus):
“O Produto Interno Bruto (PIB), em termos homólogos, aumentou 2,8% em volume no 1º trimestre de 2017 (2,0% no trimestre anterior). Esta aceleração resultou do maior contributo da procura externa líquida, que passou de negativo para positivo, refletindo a aceleração em volume mais acentuada das Exportações de Bens e Serviços que a das Importações de Bens e Serviços. A procura interna manteve um contributo positivo elevado, embora inferior ao do trimestre precedente, verificando-se uma desaceleração do consumo privado e uma aceleração do Investimento.”
Na ausência de números concretos, há algumas coisas que se pode já dizer:
1. A procura interna manteve um “contributo positivo elevado”, para usar a expressão do próprio INE, alterando a sua composição. O consumo privado continua a aumentar, embora a um ritmo menos rápido, o que aliás era previsível, uma vez que a devolução de rendimentos abrandou de 2016 para 2017. O que esta estimativa não permite de todo dizer é que o crescimento passou a ser movido pela procura externa e não pela procura interna (ou sequer pelo consumo), como já vários comentadores andam a dizer. Pelo contrário, a nota do INE diz que a procura interna (consumo incluído) continua a ser um contributo importante e (digo eu) o menos incerto, para o crescimento económico. Obviamente, quando a isso se soma uma conjuntura externa favorável, os resultados são melhores.
2. A narrativa televisiva parece assumir um raciocínio primário, de acordo com o qual “a esquerda gosta do consumo” e “a direita gosta das exportações”. É verdade que a direita usou até à exaustão o argumento do comércio internacional para justificar a compressão dos salários, mas isso não torna verdade que a esquerda se esteja a borrifar para a evolução da balança comercial.
3. Convém, no entanto, ter em atenção que a balança comercial deve ser observada dos dois lados, exportações e importações, e não apenas de um, como é e tem sido hábito. É aliás curiosa a forma como tantos “especialistas” optam por avaliar as políticas públicas predominantemente através da variável que é, no curto prazo, menos sensível às políticas públicas e mais dependente da conjuntura económica internacional. O discurso da direita política é, a esse respeito, uma caricatura do equívoco. Se as exportações abrandam, a culpa é da devolução de rendimentos. Se aceleram, o mérito é da conjuntura internacional.
4. A este nível, é também digna de registo a amnésia selectiva de dirigentes e comentadores de direita em relação aos argumentos categóricos que foram por si construídos em torno do impacto devastador do aumento do salário mínimo (e dos salários em geral) na dinâmica das nossas exportações. Já vamos em 11% de aumento acumulado do salário mínimo, os custos do trabalho aumentaram em 2,6%, também de acordo com o INE, e a tal hecatombe, nem vê-la.
Esta evolução, portanto, não faz senão confirmar a ideia de que a política económica actual só peca (e peca muito) pela timidez. A política de devolução de rendimentos tem tido um impacto positivo directo (consumo) e indirecto (investimento) na dinâmica de crescimento. E, ao contrário do que foi mil vezes repetido, não prejudicou em nada a evolução das exportações. Estes resultados devem servir para intensificar a política contra-cíclica, alargando-a a outras áreas das políticas públicas, com destaque para o investimento público, ainda em níveis miseráveis, e a legislação laboral, no combate à precariedade. É evidente que essa intensificação colocará outras questões inadiáveis à esquerda, sobre o país e sobre a Europa. E ainda bem.
O discurso televisivo da direita é, portanto, outro: os resultados são bons porque o governo se rendeu às evidências e mudou de estratégia,o que seria provado pelo facto de o crescimento ser movido pelas exportações e não pela procura interna. Como o ridículo desta tese é um pouco menos óbvio, vale a pena olhar para a nota do INE, à falta de números mais concretos, pelos quais teremos de aguardar (os sublinhados são meus):
“O Produto Interno Bruto (PIB), em termos homólogos, aumentou 2,8% em volume no 1º trimestre de 2017 (2,0% no trimestre anterior). Esta aceleração resultou do maior contributo da procura externa líquida, que passou de negativo para positivo, refletindo a aceleração em volume mais acentuada das Exportações de Bens e Serviços que a das Importações de Bens e Serviços. A procura interna manteve um contributo positivo elevado, embora inferior ao do trimestre precedente, verificando-se uma desaceleração do consumo privado e uma aceleração do Investimento.”
Na ausência de números concretos, há algumas coisas que se pode já dizer:
1. A procura interna manteve um “contributo positivo elevado”, para usar a expressão do próprio INE, alterando a sua composição. O consumo privado continua a aumentar, embora a um ritmo menos rápido, o que aliás era previsível, uma vez que a devolução de rendimentos abrandou de 2016 para 2017. O que esta estimativa não permite de todo dizer é que o crescimento passou a ser movido pela procura externa e não pela procura interna (ou sequer pelo consumo), como já vários comentadores andam a dizer. Pelo contrário, a nota do INE diz que a procura interna (consumo incluído) continua a ser um contributo importante e (digo eu) o menos incerto, para o crescimento económico. Obviamente, quando a isso se soma uma conjuntura externa favorável, os resultados são melhores.
2. A narrativa televisiva parece assumir um raciocínio primário, de acordo com o qual “a esquerda gosta do consumo” e “a direita gosta das exportações”. É verdade que a direita usou até à exaustão o argumento do comércio internacional para justificar a compressão dos salários, mas isso não torna verdade que a esquerda se esteja a borrifar para a evolução da balança comercial.
3. Convém, no entanto, ter em atenção que a balança comercial deve ser observada dos dois lados, exportações e importações, e não apenas de um, como é e tem sido hábito. É aliás curiosa a forma como tantos “especialistas” optam por avaliar as políticas públicas predominantemente através da variável que é, no curto prazo, menos sensível às políticas públicas e mais dependente da conjuntura económica internacional. O discurso da direita política é, a esse respeito, uma caricatura do equívoco. Se as exportações abrandam, a culpa é da devolução de rendimentos. Se aceleram, o mérito é da conjuntura internacional.
4. A este nível, é também digna de registo a amnésia selectiva de dirigentes e comentadores de direita em relação aos argumentos categóricos que foram por si construídos em torno do impacto devastador do aumento do salário mínimo (e dos salários em geral) na dinâmica das nossas exportações. Já vamos em 11% de aumento acumulado do salário mínimo, os custos do trabalho aumentaram em 2,6%, também de acordo com o INE, e a tal hecatombe, nem vê-la.
Esta evolução, portanto, não faz senão confirmar a ideia de que a política económica actual só peca (e peca muito) pela timidez. A política de devolução de rendimentos tem tido um impacto positivo directo (consumo) e indirecto (investimento) na dinâmica de crescimento. E, ao contrário do que foi mil vezes repetido, não prejudicou em nada a evolução das exportações. Estes resultados devem servir para intensificar a política contra-cíclica, alargando-a a outras áreas das políticas públicas, com destaque para o investimento público, ainda em níveis miseráveis, e a legislação laboral, no combate à precariedade. É evidente que essa intensificação colocará outras questões inadiáveis à esquerda, sobre o país e sobre a Europa. E ainda bem.
Bom texto, inteligente, pertinente e oportuno, parabéns.
ResponderEliminarEu compreendo que se tenha que contrapor os oposicionistas ao bem geral da população portuguesa, eles estão em posições relevantes, tanto nos média como no parlamento, contudo, não deixa de ser fastidioso esta constante necessidade de desmontar de aldrabices, embustes, fraudes, manipulações, burlas, invenções e misticismos neoliberais.
ResponderEliminarNão sei o que será pior, ouvir adultos a afirmar que uma figura feminina alada vestida de branco apareceu a três crianças ou o Passos Coelho dizer seja lá o que for...
Esta extrema direita não convencional neoliberal ainda não se convenceu que o seu tempo acabou, ainda não percebeu que a suas conspirações contra o bem estar, democracia e progresso da sociedade não vingarão.
É preciso também lembrar a direita que afinal era possível continuar diminuir o défice e ainda assim crescer.
ResponderEliminarNo post imediatamente anterior.
ResponderEliminar"Embora não seja ainda possível saber em detalhe o que está na base deste desempenho, a nota do INE sugere que as exportações e o investimento estão a acelerar, enquanto o consumo privado mantém um contributo positivo, ainda que modesto."
Faltou falar do défice: afinal é possível crescer e diminuir o défice público. Todo o apoio a este governo para continuar a diminuir o défice, e a manter um contributo modesto do consumo privado, apostando nas exportações e no investimento privado (já que, como muito bem aponta, "o investimento público, ainda [está] em níveis miseráveis" e isso não impediu o crescimento robusto).
Alguém o oiça caro Geringonço, mas infelizmente tudo está em jogo.
ResponderEliminarE esta tralha neoliberal não só está viva como ansiando pela longa noite dos chacais.
Mas concordo com a qualificação do texto. Inteligente e oportuno
Um café vendido a um turista é uma exportação, não um consumo interno.
ResponderEliminarO euro desvalorizou, a Espanha e o mundo crescem - grandes medidas da geringonça.
Os fundos europeus começam a chegar - grande iniciativa da geringonça.
O orçamento de 2016 não foi executado - grande reversão da geringonça.
O PS já pagou o dízimo do poder? - grande sossego nos mercados.
Está no entanto a geringonça muito a tempo de mandar vir o diabo, assim geringonce o bastante.
Estou ansioso pela explicação «científica» que venha demolir esta argumentação fantasiosa do José Gusmão.
ResponderEliminarOlharapo José, despacha-te e apresenta-nos a tua (sempre) brilhante explicação «científica» das coisas.
Se não fosses tu, que sereia de nós, pobres coitados, à mercê destes Gusmões.
Nota: Espero que este comentário não tenha ficado em lista de espera para publicação atrás da ansiada explicação «científica» do José, trabalhada até à exaustão durante toda a noite para nos fazer luz ao raiar da aurora.
ResponderEliminarA direita está a tornar-se grotesca.
É facto que anunciaram uma desgraça com o “aumento do salário mínimo (e dos salários em geral) na dinâmica das nossas exportações”. (Seria bom sinal continuar a ouvi-los no mesmo registo mais 4-5 anos…)
O que vale é que as pessoas não esquecem o ambiente austero, meio salazarento, e até cinzento sob o ponto de vista psicológico, que a PàF desencadeou, incitando de bom grado à emigração maciça.
Bom postal!
O aumento do salário mínimo com a consequente aquisição de bens de primeira necessidade de produção nacional é um consumo interno, troll.
ResponderEliminar(O euro desvalorizou, a Espanha e o mundo crescem), o ambiente político nacional está mais respirável, a confiança aumenta - grandes medidas da geringonça, troll
(Os fundos europeus começam a chegar), como forma de uma parcial compensação pela destruição da produção nacional e empobrecimento imposto, e começam a ser executados - grande iniciativa da geringonça, troll.
(O orçamento de 2016 não foi executado), parcialmente, com a troca da baixa do défice "para além de Bruxelas" por investimento, diversas vezes criticada à esquerda do PS - grande reversão governamental, troll.
O PS paga o mesmo dízimo que os pafiosos pagam e mesmo assim não dá grande sossego aos mercados, troll.
Quanto ao mais vai pró inferno, troll dos diabos.
Ouve-se, lê-se Passos Coelho e já nao há paxhorra para tanto autismo, pesporrência , choraminguice e idiotice.
ResponderEliminarOs seus prosélitos vão pelo mesmo caminho.
Sem investimento nao há crescimento.
ResponderEliminarÉ ler este blog e se possível informar-se antes de pensar
"Os 2,8% e as cambalhotas da direita"
ResponderEliminarEste crescimento de 2,8%, que eu acho pouco, mas admitindo que nos tempos que correm foi o possível, tira a mascara a´ dita cuja e reafirma a mentira/fraude com que desgovernaram o país. de Adelino Silva
Que a geringonça continue o seu trabalho. E que o tipo do café vendido a um turista em forma de material exportável continue a geringonçar desta forma tão sugestiva.
ResponderEliminarEle mai-lo Passos ao sabor do cafezinho como consumo interno.
Cristas, a parceira de Passos Coelho na governança neoliberal, (a boss daquele rapaz de nome Paulo Núncio que foi desmascarado por Azevedo Pereira- ele e mais a cambada- e que cola as insígnias de fiscalista à de advogado e à militância do PP), anda também numa roda de cambalhotas.
ResponderEliminarA candidata do CDS-PP formalizou um acordo de coligação com o PPM e o MPT para as autárquicas em Lisboa
"A iniciativa de uma candidatura conjunta partiu do CDS-PP, que parece querer apresentar-se nos boletins de voto a 1 de Outubro, em Lisboa, sem o nome do partido. Foi isso mesmo que Cristas confirmou no final da sessão de apresentação, no Largo do Caldas: a coligação vai ter nome próprio.
Mas o que animou a sede do CDS-PP acabou por ser a intervenção do vice-presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), Gonçalo da Câmara Pereira. O dirigente monárquico justificou o apoio a Cristas, «acima de tudo», por ser uma «mulher casada, que provou que pode trabalhar e ter filhos», visto que «não descurou o trabalho e não descurou a casa».
Câmara Pereira continuou e deu a deixa à candidata: «Para se trabalhar, não se pode usar espartilho nem a saia travada, a saia tem de ser larga e, se necessário, vestir calças.» Cristas pegou na temática e aproveitou para explicar que, já em campanha, tem «calçado botas e calças de ganga muitas vezes, para estar nos bairros sociais».
Espartilho e saia travada ou botas e calças de ganga
"...quem é que esta gente julga que é? Presumem que governar uma cidade é dar pão aos pobres, como se dá milho aos pombos?"
Cristas e Passos e Câmara Pereira e o tipo do café. Todos juntos neste molho de mediocridades a mostrarem uma grande medida e um grande desassossego nestas calinadas de marialvas machistas e em decomposição
Diz o amigo Gusmão:
ResponderEliminar"É verdade que a direita usou até à exaustão o argumento do comércio internacional para justificar a compressão dos salários, mas isso não torna verdade que a esquerda se esteja a borrifar para a evolução da balança comercial".
- A verdade é que a esquerda não se pode borrifar para a evolução da balança corrente: pois, se voltarmos a ter enormes défices externos, consequentemente o endividamento externo também voltará a crescer acentuadamente. E será uma questão de tempo até sermos forçados a apanhar com mais uma dose de austeridade em cima.
Por isso, o aumento do consumo deve ser moderado de molde a não dar cabo do actual equilibrio da balança corrente, o qual foi conseguido à custa de 400.000 desempregados e de um forte empobrecimento.
Espantoso como o miserável aumento do salário mínimo é elevado à categoria de variável macroeconómica significativa!
ResponderEliminarTravou as reversões e esse parece ser o seu mais relevante efeito no clima de negócios cujo ambiente externo é favorável.
Mas à falta de qualquer medida ou reforma que pareça ser um plano económico...
"Miserável aumento do salário Mínimo"?
ResponderEliminarHerr jose quererá que se apresente os esgares de ódio, de ameaça do diabo e da sua vinda, da previsão da furia de deus e da Alemanha, que acompanhou a subida do SMN?
E quem debitava em voz enrouquecida de raiva contra o SMN?
Herr jose,pois então
Herr jose, quererá também que se recorde os seus poeminhas dedicados à Troika, aos troikistas, aos roubos de salários, de pensões, aos roubos por via fiscal, à diminuição das férias, ao aumento do tempo de trabalho, à emigração forçada, aos berros néscios que acompanhavam outros néscios a pedir para se sair da sua zona de conforto, às negociatas na educação, à tentativa de liquidação do SNS e do seu esmagamento pelos interesses privados. E evidentemente ao desemprego e à necessidade de se ir mais longe do que.
ResponderEliminarMas herr jose também exultava com medidas directas da governança de Passos Coelho em prol dos grandes interesses económicos.Por exemplo, o perdão fiscal aos grandes patrões. Por exemplo as fugas para os paraísos fiscais. Núncio era um ídolo e o seu papel na fuga ao fisco de algumas fortunas ligadas ao BES teve como contrapartida o insulto soez a quem desmascarou o advogado do PP
Medida ou reforma fazendo parte do plano económico do sujeito das 21 e 08. Pelo próprio:
ResponderEliminar-"fica clara e confirmada a utilidade dos offshores: pôr a salvo de políticos treteiros e vigaristas as poupanças de quem não quer dar para tais peditórios".
-"O que não correm ( nos offshores) é risco de confisco, o que evitam são os cretinos dos impostos sobre a fortuna, o que acautelam é que a penhora decorrente de avales e outros riscos garantam a subsistência de quem corre riscos de investimento"
-"A cena do paraíso fiscal é matéria um tanto ridícula...
Ora o dinheiro não vai estagiar - feito vinho de boa colheita - nos paraísos fiscais e tarde ou cedo acaba por movimentar a economia algures ( ou mais prosaicamente financia governos compradores de votos).
Por outro lado, é completamente seguro que a manutenção de sociedades como as europeias - envelhecidas e confortadas a níveis que não poderão ser indefinidamente crescentes - dependem em absoluto do crescimento em outras paragens".
Os paraísos fiscais fazendo parte integrante do plano de reforma económica do sujeito em causa.
Há um capítulo intitulado até: "Os bordéis tributários e a sua utilização mais do que segura" , escrito por um tal Paulo Núncio.
O ambiente externo era e é favorável, não é mesmo?
É importante desmascarar a narrativa da direita e da extrema-direita, enfim da ex- governança neoliberal, sobre a política de "reformas" da dita, quer esta apareça como propaganda às claras, quer oculta sob a forma de cafezinhos a exportar.
ResponderEliminarPela palavra da própria ex-governante:
Numa audição na Assembleia da República, enquanto ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque assumiu que, afinal, resolução do BES, decidida pelo seu governo, implicou custos para os contribuintes.
"A ministra do governo do PSD e do CDS-PP assumiu na Comissão de Orçamento e Finanças que, ao contrário do que anunciou em Agosto de 2014, a forma como geriu a falência do BES vai custar muitos milhões ao Estado.
Maria Luís Albuquerque reconheceu que os bancos não tinham condições para pagar o empréstimo concedido pelo Estado, no valor de 3,9 mil milhões de euros, ao Fundo de Resolução no prazo previsto. Ainda assim tentou justificar as afirmações de há três anos, considerando que, dada a injecção de 4,9 mil milhões na criação do Novo Banco, «temos que supor que o banco tinha valor».
A actual deputada e vice-presidente do PSD lamenta que o banco não tenha sido vendido em 2015, empurrando a responsabilidade da decisão de não vender para o Banco de Portugal. Uma afirmação que parece corroborar a confissão de Assunção Cristas, então também ministra, que o executivo não tratava matérias relacionadas com o sistema financeiro.
Ao entrar no segundo tema da audição, a ocultação das estatísticas referentes às transferências financeiras para paraísos fiscais, Maria Luís Albuquerque afirmou não conhecer o despacho que estabelecia a divulgação dos dados.
Resumindo, classificou a decisão tomada pelo seu secretário de Estado, Paulo Núncia (CDS), como uma «má decisão política» e sublinhou que foi tomada sem o seu conhecimento."
Também perpassa por aqui algum sabor a roedores a abandonar o navio...
A CGTP-IN considera positivo o crescimento económico de 2,8% verificado no primeiro trimestre deste ano, mas chama a atenção para a necessidade de aumento da procura interna e do aumento dos salários.
ResponderEliminar"A central sindical considera que os dados divulgados, «ainda que insuficientes para avaliar a situação presente da economia por constituírem uma estimativa rápida», desmentem que uma política económica apoiada pela recuperação dos rendimentos põe em causa o crescimento da economia e tem «efeitos desastrosos no emprego e no aumento das importações».
A CGTP-IN lembra que sempre defendeu que o aumento das exportações, uma política de substituição de importações e um maior recurso a energias renováveis «são instrumentos essenciais para reduzir a nossa dependência externa» e que esta reconversão deve ser apoiada na procura interna, que continua a ser o factor determinante do crescimento, «com vista a assegurar a melhoria das condições de vida dos portugueses e o funcionamento da esmagadora maioria das empresas».
A Intersindical considera preocupante que a evolução dos salários nos primeiros meses (aumento de 1,6%) aponte para uma estagnação do poder de compra, atendendo a que a inflação está em aceleração, e pode ultrapassar a previsão anual de 1,4% do Governo, confirmando «que o aumento geral dos salários é indissociável de uma mais justa distribuição da riqueza e da procura interna».
«Estes resultados devem servir para intensificar a política contra-cíclica»
ResponderEliminarEstou certo que num contexto onde o crescimento é o maior dos tempos mais recentes o José Gusmão não quer "intensificar a política contra-cíclica". Pelo menos espero bem que não.
Uma série de serviços públicos estão no limite (a greve dos médicos denuncia a pressão a que tem sido sujeito o SNS; as Universidades estão a operar em condições inaceitáveis e até ilegais, já que o dinheiro das propinas não poderia ser usado para cobrir despesas correntes mas nem sequer tem sido suficiente para esse efeito) e nestas coisas quando se puxa a corda para lá do ponto de ruptura depois fica bem mais caro reparar. Este país apanhou com vários anos de austeridade pelas mãos da coligação PaFiosa, e há serviços públicos que não aguentam outros tantos anos sub-orçamentados. Isso pode lembrar a história do dono do burro que o alimentava com cada vez menos palha, à medida que o burro ficava cada vez mais fragilizado dizia "está quase", e quando o burro morre de fome acaba por dizer "logo agora que já comia tão pouco é que isto aconteceu".
Outro exemplo de como certas poupanças podem sair caras é relativo ao investimento público, mais precisamente à falta de manutenção de uma série de equipamentos e infra-estruturas. Por exemplo, a PàF pôs as empresas de transportes públicos numa situação completamente insustentável para mascarar as suas contas e assim concessionar aos privados, este Governo travou - e muito bem! - esse processo, mas ainda não fez as intervenções que se impunham para que as empresas de transportes públicos estivessem numa situação minimamente sustentável. A degradação continuada do seu equipamento e da confiança dos utentes vai ser bem mais cara no longo prazo do que os tostões que se poupam para bater recordes do défice mais baixo de sempre.
Este governo tem um superavit primário muito alto. Ora um superavit primário alto faz sentido como parte de uma política anti-cíclica, mas não podemos exagerar. Ou se abranda um pouco o ritmo de consolidação orçamental, ou o barato sai muito caro. Eu até suponha que neste diagnóstico tinha no José Gusmão um aliado. Daí ter ficado surpreendido com aquela citação.