quarta-feira, 31 de maio de 2017

É o consumo, estúpido!


Depois de conhecida a estimativa rápida do INE sobre o crescimento homólogo do 1º Trimestre de 2017, vários comentadores festejaram a alteração do modelo de crescimento baseado na devolução de rendimentos para um modelo "virtuoso" assente no comércio externo. Hoje saíram os dados do INE, que serão certamente uma decepção para esses comentadores. O que verificamos, fábulas à parte, é que o consumo privado, embora tenha perdido peso, continua a ser a variável determinante, explicando exactamente metade da variação do PIB.

O facto de a procura externa ter passado a ter um contributo positivo é sem dúvida uma boa notícia, que deve ser encarada com cautela, uma vez que se trata da variável mais volátil e menos dependente das políticas públicas de curto prazo. Mas a melhor notícia é mesmo o aumento significativo do investimento.

Portanto, o estado do debate político é este: A direita percebeu que não consegue continuar a desmentir os resultados positivos na economia. Como não consegue convencer ninguém de que o país caminha para a catástrofe, mudou de plano. A direita está reduzida a tentar convencer o país de que, sim, o país está melhor, mas isso não tem nada a ver com a política de devolução de rendimentos que a esquerda impôs. Mas tem, como os números mostram. Pedimos desculpa pelo incómodo político causado.

8 comentários:

  1. Diga a Direita o que lhe convém agora, que nunca foi contra a devolução de rendimentos, que não convence ninguém. Por vontade da PàF, da ministra Maria Luís e da Dª Cristas, como bem nos lembramos, a devolução de rendimentos era para ser levada muuuuito lentamente, quanto mais devagar melhor ou nunca. Para mim, essa opção da direita foi sobretudo um distintivo ideológico, uma reaproximação ao cinzentismo salazarento, sem qualquer racionalidade.

    Com estes dados do INE, vão continuar a apanhar bonés...

    ResponderEliminar
  2. Viva,

    Nao foi exactamente com essa tendência (PIB crescendo maioritariamente com Consumo)(acho que começou no tempo do Eng Guterres) que fomos paulatinamente degradando a nossa situação?



    ResponderEliminar
  3. «Como não consegue convencer ninguém de que o país caminha para a catástrofe, mudou de plano.»

    Tendo o PS mudado do programa de campanha para o lixo,
    Tendo o Governo rectificado o orçamento que traria o Diabo

    ...sobre retomar o caminho que vinha de 2013, acrescido de broas e dívida.

    ResponderEliminar
  4. A Direita a dar continuidade ao excelente trabalho que faz na oposição que é enterrar-se. Só tenho pena que o país não lhes dê a atenção devida. Se o fizesse a direita tinha a mesma popularidade que o Temer.

    ResponderEliminar
  5. Jorge Alves,

    Se bem me lembro o grande tombo no tempo do Guterres teve um forte contributo externo. Esquecer a crise do subprime e a falência de grandes bancos internacionais e tentar culpar apenas o consumo interno parece-me um pouco estranho.

    ResponderEliminar
  6. Eu não entendo como é que se pode comparar consumo com exportações deduzidas das importações totais (cujo nome aqui atribuído é de "procura externa"). Compreendo que as exportações tenham muito conteúdo importado, mas até parece que o consumo não tem qualquer conteúdo importado...

    ResponderEliminar
  7. A recuperação deve-se em grande parte às políticas do BCE, assim como a crise.
    Assim como era bullshit da direita dizer que a culpa da crise era culpa dos portugueses que eram muito gastadores, também é bullshit dar grandes elogios a este governo quando o fator mais relevante é o facto de o BCE dar garantias de comprar continuamente a nossa divida.
    Eventualmente poderemos referir que a grande alteração foi, pelo menos a nível interno, passarmos de uma situação em que os nossos políticos olhavam com subserviência para as decisões de Bruxelas e do BCE, para uma atitude mais de análise crítica e por vezes confronto com este novo governo. Mas de qualquer forma este suavizar de posição de Bruxelas deve-se muito mais amo BREXIT e à deriva para a direita em França do que propriamente à nossa postura interna.

    ResponderEliminar
  8. "A sua análise peca por pensar que o peso do Consumo = peso do Investimento = peso da Procura Externa na composição do PIB. Ora isso é um erro grosseiro e que tenta esconder o falhanço do modelo aspirational do crescimento pelo consumo. O Consumo pesa o triplo do Investimento e umas 50 vezes mais do que pesa a procura externa. Se os contributos fossem proporcionais seria essa a relação. Tal como se vê, o motor da economia está na procura Externa e no investimento (e dentro deste a construção) como tenho dito e escrito à exaustão... vamos continuar assim? Depende da procura externa e da capacidade das grandes empresas ("o grande capital") que são as que são verdadeiramente relevantes na exportam."

    João Duque

    ResponderEliminar