quinta-feira, 11 de maio de 2017

«E depois há o Papa, este papa Francisco»

«Hoje, em sociedades como a portuguesa, a Igreja tem um papel positivo e não custa a um não crente admitir que a sua ausência significaria um empobrecimento social muito significativo. Esse papel foi essencial nos anos de lixo do "ajustamento", em que as instituições da Igreja, a Cáritas, por exemplo, perceberam melhor do que ninguém a devastação desnecessária que estava a ser feita a muitas pessoas e famílias. E, como poucos, falou bastante mais alto do que a hierarquia, a denunciar aquilo que muitos governantes entendiam como sendo "efeitos colaterais" menosprezáveis da criação da Singapura portuguesa.
(...) Partidos como o PSD foram fundados com enorme influência da doutrina social da Igreja e, embora tal legado tenha em grande parte desaparecido na sua actual direcção, mais próxima das novas maçonarias de interesses, ele esteve lá na sua génese. Quando Sá Carneiro escreveu que o partido que criava considerava o "trabalhador como sujeito e não como objecto de qualquer actividade" e que o "homem português terá de libertar-se e ser libertado da condição de objecto em que tem vivido, para assumir a sua posição própria de sujeito autónomo e responsável por todo o processo social, cultural e económico", é da doutrina da Igreja que vêm estas palavras. O mesmo se passava na fase democrata-cristã do CDS, antes da deriva "popular", e mesmo em partidos como o PS e o PCP existe uma influência dos olhares cristãos e de vidas que assumem o papel de serem "testemunhais".
(...) Embora eu não me cuide dos passos da Igreja, que não é a minha casa, preciso da voz da Papa para ajudar no combate contra a ganância, a injustiça e a miséria, porque é uma voz cuja autoridade moral pode melhorar o mundo e a vida das pessoas. Para quem não acredita no paraíso celeste, e deseja viver numa sociedade democrática em que não é qualquer teleologia que define a política, é a melhoria da vida terrestre que conta. E hoje a voz do papa Francisco denuncia o que deve ser denunciado e apoia o que deve ser apoiado. Nalgumas coisas não é assim, mas não são as mais importantes, e a diferença de importância para fora é bastante significativa.
Por tudo isto, seja bem-vindo a Portugal, papa Francisco, e fale como tem falado, que também nos ajuda. Pode usar, aliás, as palavras de um seu companheiro jesuíta, o Padre António Vieira: "Entre todas as injustiças, nenhumas clamam tanto ao Céu como as que tiram a liberdade aos que nasceram livres e as que não pagam o suor aos que trabalham."»

Do artigo de Pacheco Pereira, no Público de sábado passado («O que significa a visita do Papa para um homem sem fé»), que vale a pena ler na íntegra. Sobre as luzes e sombras da Igreja Católica e a importância de vozes como a do papa Francisco, incluindo para ateus e agnósticos. E porque o pretexto é Fátima, não percam o último filme de João Canijo, que na verdade é quase nada sobre Fátima e as «aparições» e quase tudo sobre o país, também nas suas luzes e sombras (vale a pena ler, sobre o filme, este texto do Daniel Oliveira). Uma última sugestão, agora sim sobre Fátima e a necessidade da sua «evangelização»: a entrevista de Anselmo Borges ao Expresso, no passado dia 16 de abril.

12 comentários:

  1. Um bom post.

    Que concitará apesar de tudo a raiva dos fundamentalistas do mercado e dos pafistas perturbados

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  2. E depois há o César das Neves : http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/joao-cesar-das-neves/interior/a-senhora-veio-mesmo-6253889.html :)

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  3. O problema é que para pagar as mordomias a tanto mamão sobra pouco para pagar o suor aos que trabalham.

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  4. Ahahah!
    Essa do César das Neves é magnífica

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  5. Mamão e mordomias casam muito bem com herr jose-

    O que faz este tipo para fugir ao que é aqui apresentado. Até convoca o suor alheio para esconder "a raiva dos fundamentalistas do mercado e dos pafistas perturbados"

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  6. «E depois há o Papa, este papa Francisco»
    Porque me afirmo ateu, aceito que tivemos de beber, por imposição dos mais poderosos, esta religião dita cristã, como outros povos tiveram de assimilar outras religiões impostas pelas forças dominantes de então.
    Cristo negava a violência, dizem, mas os seus seguidores não tiveram pejo, em impor essa religião a tiro de canhão em Africa, América, Asia e Oceânia.
    Sinto vergonha de me fazerem lembrar a pobreza franciscana em que tenho vivido, tecendo loas e hossanas a´ Igreja Católica Apostólica Romana; quando vêm com o conto do vigário da Caritas e outros organismos da mesma confissão como se fossem a única salvação e apoio dos pobres - e´ o mesmo que lançarem poeira nos olhos das pessoas. Ate´ parece que se não existissem pobres, elas serviriam para alguma coisa..!
    Quanto ao Papa Francisco, não deixa de ser mais um entre tantos que exerceram antes dele. Ate´ parece que esta´ contra si mesmo…Os Cardeais não são burros, sabem bem porque o elegeram – a necessidade de maquilhar o rosto da Instituição urgia! de Adelino Silva

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  7. Estou a ficar confuso.
    Estão a falar no Papa ou no César das Neves?
    Se for no Papa eu ainda não tive tempo de formular uma opinião. Disseram-me em tempos que o Papa era socialista! Eu não quis acreditar!!!
    Se fosse o César das Neves,esse é de certeza um neoliberal com tiques....

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  8. Igreja Católica Apostólica Romana é uma multinacional em decadência e anda à procura de nova clientela para que lhe paguem novas catedrais, terços gigantes pindéricos plagiados e outras extravagâncias.
    O Papa Xico é marketing, uma tentativa da multinacional cativar os jovens abaixo dos 60 anos.
    Mas há um problema, religião passou de moda há décadas.
    A clientela da ICAR não está a ser renovada...

    E como não poderia faltar, o Presidente 12 mil € na RTP de Sousa tinha que estar na onda mediática do momento. Depois chama populistas aos outros...

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    1. Não há dúvida. É mesmo GERINGONÇO . As religiões, todas elas, jamais acabarão. Mal da humanidade que se limita e não vê para além de uns quilos de água, que lhe envolve o espírito.

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  9. O César das Neves neoliberal com tiques?

    Isso é por demais redutor.É isso e muito mais.

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  10. O grande problema dos socialistas com a Igreja Católica é que esta promove a dádiva e proíbe o roubo, essa aspiração maior de todo o socialista.

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  11. O grande problema dum tal jose é dar-nos a conhecer estas suas máximas que parecem saídas directamente da alcova do César das Neves.
    Bem um para o outro. Bem um com o outro

    Que miséria intelectual e de carácter.

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