domingo, 23 de abril de 2017

Em busca do bloco central francês?

Começaram as negociações em França para as eleições legislativas de 11 e 18 de Junho. E o que se espera não é nada de bom.

O ponto de partida é mau. Um decepcionante resultado eleitoral coloca os eleitores diante da opção impossível entre a extrema-direita e as políticas que a colocaram na final das eleições presidenciais. E isso até na política externa, que alimenta a imigração e o terrorismo jiadista, com vendas crescentes de armamento à Arábia Saudita. A direita e um PS rendido à direita, que foram os pais da actual situação, acabaram arrastados na lama. Macron pôde ganhar hoje, mas perderá daqui a 5 anos.

Quando se ouve os debates na TV5, parece que várias coisas se tornam claras:
1) o discurso de Marine Le Pen é poderoso, mas o das suas segundas linhas é muito mais do que diz e o que não diz não é nada agradável;
2) os vencidos - a direita e o PS - sonham recuperar nas legislativas e dão já o seu voto a Macron;
3) a esquerda apoiante de Mélenchon critica o falso dilema, o que os coloca sob ataque público;
4) os apoiantes de Macron sabem que o voto útil na 2ª volta não é suficiente para criar uma vaga política e, sem máquina partidária por detrás, terão de negociar já para impedir que as eleições legislativas fragilizem o presidente. François Bayrou, que já se aliou a Macron e que sempre defendeu que primeiro ganha-se a eleição presidencial e depois pede-se aos franceses (ao som da marcha presidencial), que se crie uma maioria em seu torno, deu mostras na TV5 de querer dialogar à direita, face à desconfiança dos apoiantes de Fillon.

No seu discurso e conhecendo já as sondagens que lhe dão a vitória daqui a 15 dias, Macron deu sinais disso: apelou a um rassomblement ainda mais largo. Bem pode, porque o seu discurso foi mole, sem emoção, pequeno. Entre palavras a tocar ao coração e a tentativa de esvaziar Le Pen, o seu objectivo real deverá ser o de conseguir um centrão, mais adiante. O que torna o seu discurso ainda mais sonso.
"O desafio é romper com o sistema que foi incapaz de resolver os problemas do nosso país". "É abrir uma nova página. Em França e a na Europa. É esse o nosso desafio". "É por isso, que quero desde já construir uma maioria nova, com novas faces, novos talentos, em que cada um terá a o seu lugar". Uma força que esteja "de acordo com a renovação, a segurança, libertar o trabalho, refundar as escolas, permitir a cada um de progredir na sociedade..." - e faz uma pausa, levanta a voz - "... e relançar a construção europeia!".
E a plateia aplaude fortemente. Que programa, que mistura, que palavras! Ouvi-lo soa a Hollande em falso e fraco. Mas diz a pivot da TV5: "Grave e lúcido". Percebe-se em quem votou a comunicação social. Aliás, Malika Sorel, ensaísta e apoiante de Fillon, afirmou que os tempos dados pela comunicação social a Macron foram iguais aos tempos juntos dos outros quatro principais. "A comunicação social fez esta eleição", afirmou ela...

Teme-se o pior.

14 comentários:

  1. Mas por que é que as pessoas não veem a luz e vão todas a correr votar em Mélenchon? Porque, João Ramos de Almeida, elas acreditam em coisas em que você não acredita. Se os Franceses derem a maioria a Macron, fá-lo-ão porque um número maior concorda com as propostas desse candidato do que as de Mélenchon. Quanto a este, se não apelar ao voto no único candidato republicano, podem ele e todos os que pensam como ele pegar na sua pureza esquerdista e desaparecer no buraco mais escuro que não fazem cá falta nenhuma porque, como sempre, não percebem quem é o inimigo principal. Ou será que de facto, para eles, é o neoliberalismo o inimigo principal e não o fascismo? Mas, infelizmente, há quem pense que a Direita (e Macron é de Direita, diga-se) não tem direito de cidade e ache que entre ela e a Extrema-Direita não há diferença nenhuma. Mário Soares foi claro no debate com Cunhal. Se o PSD ganhar eleições, pois deve governar. Eu também acho. Por isso, espero bem que Macron ganhe de hoje a 15 dias...

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  2. Teme-se o pior.

    Para o autor deste post o pior é Macron vencer (que é aquilo que se perspetiva). Isso é pior do que Le Pen vencer. Deduzi bem?

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  3. «mole, sem emoção, pequeno» como o dia-a-dia da maioria...

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  4. Jaimes Santos:

    Face à sua analise ligeira q.b. lanço-lhe algumas pistas que podem ajudar a compreender melhor o que se passa face a esta maravilha que é o Macron:

    - parte do eleitorado de centro direita deu o seu voto a Macron por exclusao de partes, tendo em conta a desastrosa campanha do candidato Fillon e a falta de alternativas crediveis.

    "Se os Franceses derem a maioria a Macron, fá-lo-ão porque um número maior concorda com as propostas desse candidato do que as de Mélenchon."

    - para sua informaçao, o programa do Macron foi feito em cima do joelho e apresentado tardiamente, e isso reflecte-se de forma clara nos discursos sonolentos e vazios que so sao salvos pela gigantesca operaçao de marketing que anda por tras.

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  5. Á BLINDAGEM DAS PROPOSTAS DOS "INSTALADOS",
    MAIS CEDO OU MAIS TARDE, OS "TRUMPS" TORNAM-SE INEVITÁVEIS.

    MOSTRAR A "COISA " DA EUROPA/GLOBALIZAÇÃO...
    OBRIGA A SUBSCREVER A LE PEN!

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  6. Não terá uma ponta de vergonha este Jaine Santos?

    Leia-se o que aqui posta JS com o que postou a respeito deo Brexit.

    Simplesmente agoniante a forma como descreve um processo e outro

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  7. Caro Jaime,

    Não me julgue mal. Claro que quem ganha deve governar. Aquilo que eu acho é que não governará por muito tempo.

    Porque esta direita - com Macron - pode reformular-se, reformatar-se, redesenhar-se, como bem sabe fazer. Mas apenas criará as condições - ampliando fossos sociais - para uma extrema-direita subir, já que - como bem sublinha - os Franceses preferem não olhar à esquerda.

    Ou seja, se a Direita governasse eficazmente, resolvendo e atenuasse as assimetrias e clivagens sociais, se desse garantias de protecção social em detrimento da desigualdade social que são frutos do seu programa económico, seria eficaz, mas não seria de direita liberal.

    Há alguma coisa que se tem de ser e de assumir. Macron não o faz. Os Franceses querem-no porque ele é tudo para todos. Mas Macron vai, por isso, desiludir. E nesse caso, os Franceses vão substitui-lo. Rapidamente.

    Este é o perigos dos Macrons, saídos da fábrica de políticos...

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  8. Quanto a Macron. Pode bem ir para o diabo que o carregue. E pode estar descansado que ele terá os votos da esquerda que não quer ver ganhar a extrema- direita.

    Mas se ainda não percebeu que o combate contra este molusco neoliberal vai começar por toda a parte e se ainda nao viu que a situação em França se vai agravar porque não vai haver qualquer saída democrática nas condições em que s França está, é porque JS e Macrom acreditsm nas bruxas.

    Quanto ao PS... É ver o que sucede s um partido que traiu o seu ideário e os seus eleitores.

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  9. Alguns maldizentes insinuam que certa “Forja” todo-poderosa, intitulada de «Fundação Saint-Simon» e´ a fonte de todos os Mácrons de França e não só…Se e´ verdade o que dizem, Ela e´ a bacia onde se despem e eliminam das impurezas societárias os futuros governantes da república francesa. La´ esta´ o Instituto Montaigne com um olho no burro e outro no cigano, não vá o diabo tecê-las…
    Por isso mesmo, os blocos centrais só terão lugar se e quando a Fundação quiser, e se os interesses do capital forem reforçados, penso eu! de Adelino Silva

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  10. Há cada vez mais indícios que confirman que de facto o neoliberalismo abre o caminho à extrema-direita

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  11. @Jaime Santos disse:

    «Mas, infelizmente, há quem pense que a Direita (e Macron é de Direita, diga-se) não tem direito de cidade e ache que entre ela e a Extrema-Direita não há diferença nenhuma»

    Parece-me que uma é a antecâmara da outra. Quando as desigualdades sociais «alavancadas» pelo neo-liberalismo (que é a Direita refinada) enfraquecem a própria substância da sociedade há que culpar alguém. E por regra não é aos neo-liberais que apontam a forquilha. É ao judeu, ao imigrante, ao homossexual, à prostituta, etc. E esse é o terreno da Extrema Direita.

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  12. Nem mais Filipe Martins. Assiste-se a uma vitória de Pirro que vai apressar a corrida para uma UE ainda mais germânica com a submissão de Macron aos ditames da Alemanha e do grande capital transnacional.

    E quando isto explodir em cacos, em França ou noutro sitio qualquer, que assuma as responsabilidades quem abre a porta assim à extrema-direita em nome dum direito à cidade (leia-se ao saque) a raiar a cumplicidade.

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  13. O impressionante nestas eleições de 2017 para o cargo de Presidente da República da França, são os três candidatos de extrema-direita apresentados pelo neoliberalismo, François Fillon, Emmanuel Macron, e Marine Le Pen.

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  14. Mas se os eleitores escolherem Le Pen, segundo o vosso Direito, não terá esta direito a governar? Os democratas de pacotilha tudo, mas tudo tem feito para manter este tipo de democracia formal, (pluralista?) e de rosto humano, ultrapassando para mal as constituições republicanas de seus países.
    Tem na ponta da língua o Veto – podem votar em todos menos no Melenchom ou na Le Pen, façam o que vos digo, nós e´ que sabemos como e´!
    Mas será que toda aquela gente (milhões) que levou Mary Le Pen a´ segunda volta e´ fascista?
    Se assim fosse, que seria da França Republicana que nos resta?
    Olhai os Lírios do Campo. de Adelino Silva

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