quarta-feira, 29 de março de 2017

Acto de cidadania

Respeitando a vontade soberana da maioria popular, o governo britânico notificou hoje as instituições europeias da decisão de sair da UE. Infelizmente, este processo será liderado pela conservadora Theresa May. Até agora, é quem melhor tem sabido estar à altura das circunstâncias, com declarações que fixam o novo espírito da época nos seus termos. Aprende-se com os adversários.

Adaptando uma velha fórmula da política britânica, apanhou os adversários a tomar banho e ficou com as roupas deles (ou que deviam ser deles). Estou também a pensar nos termos que Theresa May mobilizou num já célebre discurso sobre as escalas da cidadania realmente existente e das obrigações ético-políticas que impõe, incluindo ao capital: “Se acreditam que são cidadãos do mundo, vocês são cidadãos de lugar nenhum”.

Lembrei-me disto, graças a um artigo do insuspeito Dani Rodrik. O autor do útil trilema da economia política internacional, reconhece as razões do muito criticado discurso de May. Vale a pena ler, mesmo que seja numa versão com alguns problemas de tradução, a começar no título, num dia em que ocorreu um acto de cidadania com significado histórico.

15 comentários:

  1. Mais uma para irritar alguns vendilhões do templo.

    Ler textos inteligentes é um prazer. Pensar um pouco sobre eles uma manifestação de vida.

    “Se acreditam que são cidadãos do mundo, vocês são cidadãos de lugar nenhum”.


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  2. "In attacking world citizenship in her dictum, “If you believe you are a citizen of the world, you’re a citizen of nowhere”, Theresa May is in effect repudiating Enlightenment values as a whole, for cosmopolitanism is the apex and indeed the glory of Enlightenment philosophy, encompassing liberty, equality, fraternity, and all our human rights.
    The greatest of all Enlightenment thinkers, Immanuel Kant, proposed the ideal of world citizenship as a means to achieve perpetual peace.
    In the 20th century, his views underwrote the founding of the United Nations, an organisation which invokes world citizenship as a means to attain world peace.
    The very different, pejorative sense of cosmopolitanism adopted by Ms May, however, originates in German antisemitic discourse.
    It emerged in the 19th century: the “rootless Jew” was seen as a “cosmopolitan” citizen from “nowhere”. This view is echoed in that most vile of all antisemitic texts, The Protocols of the Elders of Zion (1903).
    Subsequently, the prejudice was adopted by the Nazis, and used to justify the slaughter of the Jewish people as “non-citizens” and “non-persons” in the Holocaust.

    Is that where our xenophobic PM wants to lead us, this time by scapegoating “foreigners”?
    I don’t appear to be the only one who senses echoes of 1933 in our brave new Britain".
    Jeremy Adler

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  3. A capacidade da "coisa", gerir a detonação da convulsão, está cada vez mais refinada.

    Todo o processo pós-referendo,

    procurou incutir subliminarmente,

    a prerrogativa da democracia representativa...na DECISÃO!
    Os gabirus,PARA JÁ, aguentaram-se!

    Vai-se constatando que o acesso do Soberano á DECISÃO,
    só é viabilizado, por compromissos de iniciativa individual.

    Os "colectivos"...não abrem mão!
    E os mais incoerentes...são os da esquerda!

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  4. 'Se pensam que são cidadãos do mundo, são cidadãos de lugar nenhum'... Theresa May contra Sócrates (falo do filósofo grego, claro). Está mesmo visto para que lado rema a Esquerda da Esquerda. Para o das sociedades fechadas... Como o velho bloco de Leste estava cercado de arame farpado, isso não surpreende ninguém...

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  5. “Não há paz entre as oliveiras”, título de um filme italiano que recordo com saudade, para ilustrar a atualidade da pseudo politica/económica da U.E.
    Os Britânicos exerceram democracia ao participarem contra ou a favor do Brexite da U.E. tal qual os Escoceses a exercerão sobre a sua independência da Coroa Inglesa.
    Convém lembrar que nós, portugueses, não tivemos o “privilégio” de participar, democraticamente, na adesão a´ então CEE. Coisa de «somenos importância» para os ´europeístas´...
    Nesse tempo o CDS, extrema-direita, dizia-se contra a CEE tal qual a Front de Mary Le Pen de hoje, mas em França. Nesse mesmo tempo o PCP, tal como hoje, coerente como sempre, dizia e diz Não a´ CEE,
    Na Holanda o parlamento diz não a´ moeda única, entretanto o núcleo central indica Europa a duas velocidades e os países do Sul reúnem-se para dar palpites sobre o Estado da “União“… E todavia a OTAN vai vincando com sulcos profundos o seu “soberbo” poderio
    Militar a Leste.
    A meu ver não e´ o “mercado” que esta em perigo, o que periga são os cerca de 5oo Milhões de habitantes desta “União”, senão toda a humanidade. Não brinquemos com o fogo. de Adelino Silva

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  6. Essa mania de Jaime Santos extrapolar as coisas da forma ocmo o faz...

    Repare-se na quase histeria;
    " está mesmo visto para que lado rema a esquerda"
    "para o das sociedades fechadas"
    "Cercado de arame farpado"
    "isso não surpreende ninguém"

    Isto também é preguiça intelectual. Responde-se como uma cassete em forma de gemido acusatório. Não há a mínima preocupação em fazer um exame objecticvo dos dados que vão sendo apresentados. Não. Apenas "isto".

    A propósito deste muiuto bom texto de João Rodrigues parte-se para este despautério de "camnisa rasgada" a sublinhar certezas que fazem lembrar as certezas inquisitoriais.

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  7. «E, ainda assim, a declaração de May toca num ponto sensível. Contém uma verdade fundamental – uma desconsideração que diz muito sobre como nós (a elite mundial tecnocrática, política e financeira) - nos distanciamos dos nossos compatriotas e perdemos a sua confiança.»

    Quanto aos ecos de 1933, então e a austeridade? Parece que há muita gente por aqui a confundir a causa com o efeito.

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  8. Um tipo aí em cima invoca por interposta pessoa " in that most vile of all antisemitic texts, The Protocols of the Elders of Zion (1903)".

    As coisas são o que são. O ridículo não mata, mas contribui e muito para desacreditar quem faz afirmações deste tipo, exdrúxulas e definitivas.

    Os designados protocolos do Sião são muito provavelmente um texto antissemita forjado, ligado provavelmente à polícia secreta do Czar Nicolau II. Há quem diga que estes são talvez o seu legado mais duradouro, o que diz muito de quem era Nicolau II. Foi esta trampa utilizada também por Hitler. Tem sido utilizado também nos tempos modernos para alimentar um sub-género de "literatura" que funciona para determinado tipo de.

    Citando a wikipedia:"Numerosas investigações repetidamente provaram tratar-se de um embuste, especialmente uma série de artigos do The Times of London, de 16 a 18 de agosto de 1921, o que leva a crer que muito do material utilizado no texto era plágio de Serge Nilus ou Serguei Nilus de sátiras políticas existentes (principalmente do livro "O diálogo no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu", do escritor Maurice Joly, publicado em 1865), que não tematizavam a questão antissemita. Em 1920, Lucien Wolf publicara "The Jewish Bogey and the Forged Protocols of the Learned Elders of Zion" (London: Press Committee of the Jewish Board of Deputies."

    Ir-se atascar nos Protocolos elegendo-o como o faz Adler faz suspeitar que este gosta de tratar do anti-semitismo duma forma no mínimo leviana, que não obedece a um nínimo de rigor com que devem ser tratados assuntos tão sérios.

    Umberto Eco, com muito mais profundidade e acutilãncia, põe os pontos nos is .
    Questionando-se como tal livro resiste às provas de que é falso, responde: "Não são os Protocolos que geram antissemitismo; é a profunda necessidade das pessoas de isolarem um inimigo, que as leva a acreditar nos Protocolos".

    Isto diz muito do rigor reflexivo de Eco e põe a nú a vacuidade do discurso de Adler. Mas Adler não é Eco

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  9. Pode-se assim dizer que Adler é apenas um malabarista a jogar com as palavras e a usar argumentos como o anti-semitismo e o nazismo e os eccos de 1933 para tentar valer os seus pontos de vista?

    Pode e deve. E usar palavras mais rudes para qualificar tal tipo de atitudes. De resto quem utiliza tais argumentos cai numa velha pecha argumentativa. Seria bom que Adler soubesse o que é a Lei de Godwin

    Invocar tais meios é não só patetice, porque não validados por qualquer análise independente dos factos, como também é perigoso, porque utiliza processos que nos afastam do verdadeiro perigo da extrema-direita e do combate feroz e eficaz que se deve ter contra os xenófobos e racistas.

    Agiganta Adler as palavras de May.
    May é o que é. Mas votou e fez campanha pela permanência do RU na UE. E agora age de acordo com a vontade do povo britânico. E no tempo do, para alguns saudoso, Cameron, muitas das políticas racistas anti-estrangeiros estavam já em marcha, até para se tentar conter a força do Brexit

    Podia-se falar no acordo UE-Turquia como símbolo maior duma decadência sem retorno duma classe política europeia hipócrita, amoral, subjugada pelos seus interesses económicos e de poder. E profundamente xenófoba.

    Mas já cheira mal.

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  10. José M. Sousa repesca certeiramente uma frase de Dani Rodrik.
    Tem uma grande qualidae José M.Sousa. A sua capacidade de síntese.

    Mais do texto de Rodrik

    "No passado mês de Outubro, a primeira-ministra britânica, Theresa May, chocou muitos quando desprezou a ideia de cidadania global. "Se acreditam que são cidadãos do mundo", disse ela, "vocês são cidadãos de lugar nenhum".

    A sua declaração foi encarada com desdém e alarme nos órgãos de comunicação social financeiros ( sublinhe-se os financeiros) e entre os comentadores liberais "A forma mais útil de cidadania por estes dias" apontou um analista "é uma que se dedique não apenas ao bem-estar das pessoas do município de Berkshire mas, digamos, de todo o planeta". A The Economist apelidou a declaração como uma viragem "iliberal". Um académico acusou Theresa May de repudiar os valores do Iluminismo e alertou para os "ecos de 1933" presentes no seu discurso.

    Sei como é um "cidadão global": Vejo um exemplo perfeito de cada vez que passo em frente a um espelho. Cresci num país, vivo noutro e tenho um passaporte dos dois. Escrevo sobre a economia mundial e o meu trabalho leva-me para lugares longínquos. Passo mais tempo a viajar em outros países do que o faço nos dois países que me consideram seu cidadão.

    A maioria dos meus colegas de trabalho também nasceu no estrangeiro. Devoro notícias internacionais enquanto o meu jornal local fica por abrir na maioria das vezes. Em termos desportivos, não tenho ideia nenhuma sobre o desempenho das minhas equipas locais, mas sou um fã devoto de uma equipa de futebol do outro lado do Atlântico.

    E, ainda assim, a declaração de May toca num ponto sensível. Contém uma verdade fundamental – uma desconsideração que diz muito sobre como nós (a elite mundial tecnocrática, política e financeira) - nos distanciamos dos nossos compatriotas e perdemos a sua confiança.

    Comecemos primeiro pelo significado da palavra "cidadão". O dicionário de inglês de Oxford define a palavra como "sujeito legalmente reconhecido de um Estado ou da Commonwealth". Consequentemente, cidadania supõe uma política estabelecida – "de um Estado ou Commonwealth" – da qual uma pessoa é membro. Os países têm esse tipo de constituições, o mundo não.( lapidar)

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  11. "Os apoiantes da cidadania global rapidamente reconhecem que não têm uma definição literal em mente para este conceito. Eles pensam de forma figurativa. As revoluções tecnológicas nas comunicações e a globalização económica aproximaram os cidadãos de diferentes países, argumentam. O mundo diminuiu e temos de actuar tendo em mente as implicações mundiais. Além disso, todos temos identidades múltiplas e sobrepostas. A cidadania global não excluiu – nem precisa – as responsabilidades nacionais ou municipais.

    Até aqui tudo bem. Mas o que é que os cidadãos globais fazem?

    Os cidadãos reais têm de interagir e debater com os outros cidadãos numa comunidade política partilhada. Isto significa, por um lado, responsabilizar quem toma as decisões e, por outro, que as pessoas participam na política de forma a moldarem os desfechos políticos. Durante esse processo, as minhas ideias sobre os fins desejáveis e os meios para alcançar isso são confrontados e testados pelos meus concidadãos.

    Os cidadãos do mundo não têm direitos ou responsabilidades semelhantes. Ninguém é responsável por eles e não há ninguém a quem eles se tenham de justificar. Na melhor das hipóteses, eles formam comunidades com indivíduos com a mesma mentalidade, mas originários de outros países. Os seus homólogos não são cidadãos de toda a parte mas designam-se a si próprios como "cidadãos globais" em outros países.

    Claro que os cidadãos globais têm acesso aos seus sistemas políticos domésticos para tentarem levar as suas ideias para a frente. Mas os representantes políticos são eleitos para promover os interesses das pessoas que os colocaram naquele lugar. Os governos nacionais devem olhar pelos interesses nacionais. Isto não exclui a possibilidade de os constituintes actuarem no seu próprio interesse ao terem em conta as consequências da acção doméstica para os outros.

    Mas o que é que acontece quando o bem-estar dos residentes locais entra em conflito com o bem-estar dos estrangeiros – como frequentemente acontece? Não é o desrespeito dos seus compatriotas em tais situações que dá precisamente às apelidadas elites cosmopolitas o seu mau nome? ( e que faz crescer o racismo e a extrema-direita?)

    Os cidadãos globais receiam que os interesses comuns globais possam ser prejudicados quando cada governo persegue os seus próprios interesses. Sem dúvida, entre as questões que verdadeiramente preocupam as pessoas estão as mudanças climáticas ou as pandemias. Mas na maioria das áreas económicas – impostos, política comercial, estabilidade financeira, gestão monetária e orçamental – o que faz sentido a partir de uma perspectiva mundial, também faz sentido partir de uma perspectiva doméstica".

    O "insuspeito" Rodrik a fazer ver que a ligeireza com que se argumenta é , na maioria dos casos, um pretexto para que não se discutam de facto as coisas. É a lei da prpaganda a dominar. Por quem tem a arma da propaganda engatilhada"

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  12. As Sociedades humanas tem destas coisas, para além do que chamam de obstáculos naturais ergueram muros físicos gigantescos, como a Grande Muralha na China, assim como hoje erguem obstáculos espirituais mais sofisticados às suas próprias mentes.
    O que foi considerado crime lesa humanidade como o Muro de Berlim, hoje passou a um processo banal, erguendo-se muros desde o velho México ate´ a´ Terra dos Magiares. Quem diria! E como sempre, os interesses dos “ manda chuva ” ultrapassam as vontades dos povos, todavia, não passam de maus copiadores/trituradores da Historia.
    Estou convicto que após a implosão da U.E. outro arremedo de organização económica-comercial-militar neoliberal havemos de ver…
    E´ que o ser humano e´ irrequieto por natureza…Só isso! E tanto se irritem a Sra. May como a Sra. Merkel ou o Sr. Jaime Santos, o “Novo processo já esta em marcha”- E´ como diz o outro: são sucessos sucessivos sem possibilidade de cessar. de Adelino Silva

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  13. O entusiasmo pela libertação do RU das regulamentações da UE, será um triunfo liberal que entusiasma os esquerdalhos tugas insuspeitos de serem liberais.
    O que seria uma contradição não é mais do que a crença de que uma mesma causa traria a Portugal o espartilho regulatório autocrático que é o seu sonho húmido.

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  14. Herr jose tem probleams de memória ou tem problemas de coluna vertebral.

    O tal triunfo liberal que lhe acalenta os ossos e as fauces é algo relativamente recente.

    Não se lembra herr jose dos impropérios que lançou aquando da vitória do Brexit?

    Não se lembra do estupor e da raiva que o acometeram?

    Herr jose. Quererá que lhe esfreguemos nas ditas os seus perturbados e odientos comentários?

    Pode ser que o ajude nos tais sonhos húmidos de que tanto fala e de que se assume particular adepto, vá-se lá saber porquê.

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  15. Uma pergunta a esse tal Jose ou lá o que é:

    Quando fala assim sobre o "espartilho regulatório" é uma dica para dar liberdade de frequência aos bordéis tributários que tanto elogia e por quem tem sonhos húmidos?

    Ou é uma dica para a desregulação total dos mercados?

    Ou será uma dica para a continuação do saque ao mundo do trabalho por parte dos que o exploram? Para acabar com o salário mínimo, com o estado social, com o direito à saúde, educação,cultura?

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