sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Parar, reverter e avançar
Embora tenhamos por hábito falar de integração económica internacional e dos seus problemas, a verdade é que não temos escrito muito sobre o espectro dos novos acordos promovidos por essa máquina pós-democrática de liberalização económica internacional que dá pelo nome de UE. O eco da Comissão e das grandes potências, também conhecido por Parlamento Europeu, aprovou naturalmente o CETA, o acordo liberalizador entre a UE e o Canadá. Falta o mais importante, ou seja, a aprovação pelas democracias realmente existentes, pelos parlamentos dos vários Estados.
Infelizmente, só a socialista Ana Gomes acompanhou os eurodeputados comunistas e bloquistas. Os socialistas portugueses contrastaram, por exemplo, com os seus homólogos franceses, que começam a perceber o que está a destruir a social-democracia. Este padrão não augura nada de bom, confirmando que em matéria de soberania ainda não se rompeu com velhos hábitos que produziram a estagnação dependente que ainda se vê e sente.
Entre as razões para a posição crítica de Ana Gomes está a seguinte: “o Sistema de Tribunais de Investimento previsto contorna os sistemas judiciais estaduais através de tribunais privados de arbitragem que favorecem o setor privado contra o interesse público”. Quando um social-liberal, como Francisco Assis, dando o exemplo do CETA, fala na sua coluna do Público de “regulação da globalização”, devemos dizer que regras há muitas e que são sempre inevitáveis no capitalismo, qualquer que seja a sua escala. No capitalismo neoliberal essa regulação é calibrada para expandir o campo de actuação das forças capitalistas mais agressivas e destina-se a reduzir o espaço da soberania democrática, sendo tendencialmente fixada à escala supranacional, onde o grande capital está politicamente mais à vontade.
Entretanto, os comunistas portugueses sublinharam em comunicado o que há de mais relevante na economia política do CETA: “A pretensão de fazer entrar em vigor o CETA, mesmo antes da sua obrigatória ratificação pelos 28 Estados-membros da UE, é uma expressão da natureza antidemocrática da UE. O CETA tem como principal objectivo avançar ainda mais na liberalização do comércio e serviços, tentando eliminar quaisquer barreiras ao domínio das grandes multinacionais sobre as economias de Estados soberanos. O CETA é um instrumento para rebaixar os direitos sociais, laborais, ambientais e de saúde pública, para colocar os interesses das multinacionais acima dos direitos e interesses dos povos e das constituições e soberania dos Estados, representando mais um passo na escalada de liberalização do comércio mundial – com graves consequências para Portugal. O CETA é na verdade, um TTIP disfarçado, porque cerca de 24 mil empresas dos EUA operam no Canadá. 81 por cento das companhias canadianas estão ligadas, como subsidiárias, a empresas dos EUA, e perante o impasse em torno do TTIP, o CETA será a sua porta de entrada na UE.”
Mas mas mas mas "comércio livre"!!!!
ResponderEliminarDisseram-nos que abrir as portas ao comércio desregrado com a China seria óptimo!
Disseram-nos que o Euro seria óptimo!
E hoje estamos no pântano.
Agora dizem que o CETA vai ser óptimo!
Sim, agora vai diferente...
Mas não há já "comercio livre" o suficiente!?
Estou a ver, isto nem é sobre comércio é mais sobre a destruição das democracias e do estado-social ocidental.
A China é o nosso novo modelo social-económico-político.
Capitalistas do mundo unam-se!!!
E não é que se uniram...
Mais uma vez um post a chamar o nome pelos bois. Mais uma vez um excelente post
ResponderEliminarEntretanto um artigo de Jacques Sapir que aborda a globalização e o comércio-livre e que vale a pena ler:
"Trump et la critique du libre-échange"
http://foicebook.blogspot.pt/2017/02/um-importante-artigo.html#more
Aguardemos que alguém o traduza para permitir uma sua mais ampla divulgação
Esta permanente invocação do que é ou não democrático, para além de panaceia argumentativa, traduz no caso do comércio, procurar ignorar dois factos relevantes:
ResponderEliminar- Tribunal arbitral não significa tribunal arbitrário ou isento de regras
- Ao comércio importa sobretudo não ficar refém de burocracias ronceiras que absorvem recursos em absoluto desproporcionados em relação à certeza, oportunidade e qualidade das suas decisões.
Quanto ao mais, tudo se resumo ao soberanismo instrumental de nacionalismos oportunistas.
Para o sujeito das 22 e 52 tudo parece resumir-se sempre a alguma coisa. A infantilidade primária do seu discurso passa sempre por estes resumos ridículos, expelidos como se se tratassem de slogans para débeis mentais.
ResponderEliminarSobre a social democracia "bastava saber que". Sobre o descalabro neoliberal era suficiente aceitar que o caminho da austeridade era inevitável.
A menorização do outro é uma antiga e funda pecha da pesporrência caceteira de quem optou há muito pelo combate em prol dos mercados e do lucro obtido à custa da exploração desenfreada dos demais
O incómodo patente e manifesto do sujeito das 22 e 52 pela democracia é indisfarçável
ResponderEliminarParece que acima desta está uma coisa chamada "comércio", divinizada como entidade com natureza e com veleidades próprias. Comércio sujeito até a essa coisa de tribunal ( arbitral e patati-patata) tentando justificar a sua posição autónoma e acima de crítica.Como a tentar atribuir um certificado de coisa honrada a um proxeneta sem escrúpulos. Atrás de palavreado tonto como burocracias ou ronceiras ou certezas ou oportunidades ou qualidades tenta-se esconder que o "interesse" vem acima de tudo dos que ganham com os negócios. Dos que lucram com as negociatas. Dos que invocam a fraude do comércio livre como motor do progresso, quando de facto é o motor para o enriquecimento de alguns.
O "nacionalismo oportunista" citado é assim o produto directo da gula de quem o cita. Da gula mas também do desespero. Desespero pelo facto da globalização não ser o caminho de via única e inevitável cantada e soletrada pelo sujeito das 22 e 52 durante anos a fio. E que esconde uma realidade atroz. O enriquecimento cada vez maior dos mais ricos e o empobrecimento generalizado de cada vez mais largos sectores.
Estamos assim em face dum globalizador oportunista. Oportunista mas não só. Mas isso era sair do âmbito deste comentário.
Basta ler o texto de Sapir aí em cima citado para nos depararmos com uma esmagadora demolição da ideologia abraçada pelo tal jose. Precisamente sobre o conteúdo do seu "resumo" comentado.
O que não deixa de ser agradavelmente surpreendente. Pouco a pouco os dogmas neoliberais estão a cair. Cada vez mais a podridão deste sistema revolta e mobiliza as pessoas.
«Concebida para dar esperança aos povos europeus, a União Europeia deixou-se inquinar por uma tecnocracia burocraticamente aprisionada na regressão social e na anemia política, guiada por um automatismo economicista que reproduz privilégios e desigualdades, cada vez mais se afastando do horizonte inicialmente prometido. É este o difícil contexto que constrange o nosso país, tolhendo o poder democrático e impedindo-o de percorrer com verdadeira liberdade o caminho que o povo escolha».
ResponderEliminarAo aprovarem o CETA, os eurodeputados mostraram a´ evidência de que lado estão, se há algum lado definido. Para estes deputados em primeiro lugar estão os grandes consórcios internacionais. O capital não tem pátria.
Para eles a dependência de estados e povos ao grande capital internacional e´ mera gestão dos “Livres Mercados”.
O Sr. Soros e´ dono do mundo, os eurodeputados estão la´ para o servir. de Adelino Silva
A captura da democracia representativa, é o cerne do problema.
ResponderEliminarA petrificação da "coisa" como fatalidade, diligentemente administrada pelos "instalados",
reinventando a arte do adjectivo, no que á opinião do Povo diz respeito,, vai blindando os patamares de Decisão.
A propalada inimputabilidade do Povo para DECIDIR,
é a razão da paternidade serôdia, dos "empenhados representantes"!
Não fosse a garantia percepcionada pelos credores pelo facto de estarmos sob a supervisão 'pós-democrática' da UE e estaríamos em resgates para os próximos 20 anos.
ResponderEliminarMas há que manter os mantras fracturantes para que o povo de esquerda não se sinta governamentalizado em regime capitalista...
Abandona agora herr jose as suas odes ao comércio, feitas em nome do combate às "burocracias ronceiras" e da "certeza, oportunidade e qualidade das suas decisões".
ResponderEliminarDuas notas curiosas:
- Este era também um dos argumentos dos veros e ferozes colonialistas que se consideravam muito mais eficazes na exploraçao dos povos e riquezas dos indígenas. Ao diabo o direito destes à sua soberania, direitos, dignidade e bens.
- Concomitantemente adivinha-se o desejo alarve pelos lucros gerados por uma máquina bem oleada ao serviço dos Mercados e dos monopólios. Ao diabo os direitos de soberania, direitos democráticos ("panaceias"), direitos sociais, direitos económicos, direitos de dignidade, direitos ecológicos.
O Capital uber alles. E o direito ao lucro dos tais 1% triturando tudo o que está à volta
Mas herr jose abandona ( provisoriamente) este discurso (após terem sido desmantelados os seus mantras sobre o "comércio"). Abandona este discurso sem retomar o que se discute.
ResponderEliminarHerr jose, essa fixação, adoração e subserviência aos credores está-lhe incrustrada na sua pessoa, não é? Passa pela sua ideologia de certeza, passa por tudo e mais um par de botas, mas é intrínseco à sua própria personalidade, não é?
Tal como esse hino à "supervisão pós-democrática". Hino aliás que confirma o tal carácter anti-democrático tantas vezes já referido.
Mas francamente herr jose, um pouco de coerência não lhe ficava mal.
Há meia dúzia de dias ameaçava com o dilúvio- mais falência, mais bancarrota, mais resgates.
E agora protela por 20 anos? Em nome da supervisão? E da percepção dos credores? Má percepção, não é mesmo herr Jose?
O discurso que muda em função de interesses estratégicos maiores, ou seja da sua defesa a este modelo de sociedade venal e corrupto, certo?
Geringonço falou e disse...
ResponderEliminarMas mas mas mas "comércio livre"!!!!
Disseram-nos que abrir as portas ao comércio desregrado com a China seria óptimo!
Disseram-nos que o Euro seria óptimo!
E hoje estamos no pântano.
Por estas bandas, no Reino Unido, tambem ha quem pense desta forma. Que o Euro e um falhanco, que a UE e uma utopia de burocratas e um problema para todos os outros.
As alternativas que eles tem em mente para um pais mais soberano que tem o crescimento economico entre os seus objectivos? Renovados lacos de cooperacao e comercio com a Commonwealth, e com paises com quem nao se tem negociado tanto como o desejado (alegadamente por causa das regras da UE): Arabia Saudita, China, India estao no topo da lista.
Quais os instrumentos e prioridades para um renovado e liberto Reino Unido? estabelecer acordos de comercio livre com eses paises. E como eles dizem no Facebook "it's complicated".