Em 2008 foram incapazes de perceber que a economia mundial estava à beira do colapso - depois foi o que se viu. No ano passado previram que a economia britânica ia colapsar com o Brexit - e afinal parece ir de vento em popa. O economista-chefe do Banco de Inglaterra vem agora dar a mão à palmatória, reconhecendo que os modelos de previsão macroeconómica habitualmente utilizados reflectem muito mal o mundo tal como ele existe.
É um alerta importante - ainda que velho de barbas - para aqueles que se deixam enfeitiçar pela sofisticação dos modelos matemáticos aplicados à análise económica. Esses modelos são úteis? Podem ser, desde que não esperemos mais deles do que têm para dar. Desde que não façamos deles o princípio e o fim da ciência económica. E desde que não abdiquemos de analisar a evolução económica nos contextos institucionais e políticos em que tem efectivamente lugar.
Nunca e´ tarde para dar a mão a´ palmatoria ainda que tenha custado caro às populações.
ResponderEliminarEm Portugal continua-se a protelar a saída deste Proto modelo económico sistémico que e´ a U.E. E´ pena!
E o pior, pior e´ ter apoio daqueles que se dizem contra este modelo económico. Deixar de ir a´ Sopa do Barroso para receber «caridadezinha» não deixa de ser a mesma coisa…já´ dizia a minha avo´
De Adelino Silva
Seria importante saber se esse alerta é velho porque não é relevante apesar de andar sempre a aparecer ao longo dos tempos ou porque mesmo sendo relevante não haja muito que se possa fazer.
ResponderEliminarQuais são as limitações desses modelos? Até que ponto é que são úteis? Haverá outros modelos com limitações e utilidades bastante distintas?
Um post muito útil e muito oportuno.
ResponderEliminarAntes de mais pelo alerta sobre os modelos matemáticos aplicados à análise económica.
Mas também pelo relembrar (sempre necessário) dos falhanços clamorosos citados por RPM e que deviam envergonhar a maior parte dos economistas "oficiais" que pululam nos media fidelizados
E quem diz modelos económicos, podia também dizer modelos climáticos.
ResponderEliminarJR
"... vemos como a utopia neoliberal tende a transformar-se na realidade numa espécie de máquina infernal, cuja necessidade se impõe até sobre os governantes... esta utopia evoca a crença poderosa — a fé do livre comercio — não só entre os que vivem dela, como dos financistas, dos donos e gerentes de grandes corporações, etc., mas também entre aqueles que como altos funcionários governamentais e políticos, aceitam a sua justificação vivendo dela. Eles santificam o poder dos mercados em nome da eficiência económica, que requer a eliminação de barreiras administrativas e políticas capazes de obstruir os donos do capital na sua busca da maximização do lucro individual, que se transformou num modelo de racionalidade.... E pregam a subordinação dos estados nacionais aos requisitos da liberdade económica para os mercados, a proibição dos défices e a inflação, a privatização geral dos serviços públicos e a redução das despesas públicas e sociais.
ResponderEliminarOs economistas podem não compartilhar necessariamente os interesses económicos e sociais dos devotos verdadeiros e podem ter diversos estados psíquicos individuais em relação aos efeitos económicos e sociais da utopia, que dissimulam a sua capa de razão matemática. Mas têm interesses específicos suficientes no campo da ciência económica para contribuir decisivamente para a produção e reprodução da devoção pela utopia neoliberal. Separados das realidades do mundo económico e social pela sua existência e sobretudo pela sua formação intelectual, na maior parte das vezes abstracta, livresca e teórica, estão particularmente inclinados a confundir as casas da lógica com a lógica das casas.
Estes economistas confiam em modelos que quase nunca têm oportunidades de submeter à verificação experimental e são levados a desprezar os resultados de outras ciências históricas, em que não reconhecem a pureza e transparência cristalina dos seus jogos matemáticos e cuja necessidade real e profunda complexidade com frequência são incapazes de compreender. Ainda assim algumas das suas consequências horrorizam-nos (podem ligar-se a um partido socialista e dar conselhos instruídos aos seus representantes na estrutura do poder), esta utopia não pode molestá-los porque, com o risco de poucas falhas, imputadas ao que às vezes se chama «bolhas especulativas», tendem a dar realidade à utopia ultralógica (ultralógica como certas formas de loucura) a que consagram as suas vidas".
Isto escreveu Pierre Bourdieu em 1998
Deixa estar que o Louçã não fica atrás. Já perdi a conta das vezes que garantia, sempre com a certeza categórica da ignorância, que tínhamos no curto prazo uma nova grande crise financeira. Que chegará, quase certamente, afinal são recorrentes, mas não nos prazos do Zandinga.
ResponderEliminarPor exemplo, escrevia a 18 de Janeiro no blog do Público: «Uma nova crise financeira não é uma possibilidade. É uma certeza. E essa certeza tem consequências para o euro, para a Europa, para as economias emergentes, para as relações internacionais de poder. Como terá para o Orçamento do Estado português para 2016».
Descontem-se as banalidades das implicações de uma grande crise mundial e atente-se nas consequências específicas para o nosso Orçamento de… 2016. Ah, pois é, mais uma profecia furada. Que continue a lançar os seus búzios, algum dia acerta… como sucedia uma vez por outra ao astrólogo.
O Brexit não ocorreu nem está definido e o que dele possa resultar não é ainda modelável.
ResponderEliminarDe facto nada o é de momento: a variável Trump/Putin/Xi Jinping não tem parâmetros definidos e as condicionantes da guerra económica estão a ser alinhadas para entrar em funções a curto prazo, protegendo fronteiras e ameaçando o estrangeiro.
O entusiasmo da esquerda indígena por essa eventualidade, a ambição de a ela se abalançarem com assomos de um arrojo que será nova maravilha fatal da nossa idade.
Qual internacionalismo, qual terceiro-mundismo, qual comércio justo e justas razões de troca.
Às armas é o brado, travestido de moeda desvalorizada, dívida esquecida e Europa desacreditada e dividida.
Ah ... Esse travestimento feito paleio para boi dormir, passeando.se pela idade fatal e pelo comércio justo e pelo brado e por outras pieguices a armar ao pingarelho...só para fugir ao que se denuncia neste excelente post
ResponderEliminar( Ameaçando o estrangeiro.mais do que a Nato e os EUA e a França e o RU e etc que ameaçaram o Iraque e a Libia e a Siria? A mortandade e os masacres a decorrerem e herr jose a pedir mais músculo e mais intervenção armada e mais bombas e mais genocídios.
ResponderEliminarNão se lembrará herr jose destas ameaças ao estrangeiro? Então deixe de ser cinico e aldrabão ou de pensar que por aqui não existe memória ).
Caro Ricardo:
ResponderEliminarQue melhor encontra do que o rigor científico da Matemática para caucionar as opções ideológicas?
José(zito):
ResponderEliminarFoi descoberto um novo medicamento para a disfunção cognitiva.
Vai à farmácia.
Trata-te- troll.
ResponderEliminarEsta coisa a que deram o título de Crise veio para ficar, ela e´ perene neste sistémico sistema capitalista, ela acaba quando o sistema for banido, quando o capital for derrubado pelo trabalho!
Portanto, não haverá nova crise, esta se renovara´ por si própria, tanto quanto o capitalismo se exorcizar…
Os arautos da mediocridade bem podem continuar a deixar as suas larachas em tudo que e´ comunicação social, pintar de cores garridas o quadro social ou vender gato por lebre…Dentro do sistema actual nem a geringonça se salvara´. Já deviam ter percebido!
Estamos no interlúdio sem compasso de espera.
De Adelino Silva
Uma grande crise vai começar?!
ResponderEliminarÉ preciso ser muito ingénuo para acreditar que saíram de qualquer crise…
Estamos em crise contínua há muitos anos, e se as coisas melhoraram porque é que a crispação continua?
Trump, Brexit são apenas sintomas de uma globalização neoliberal capitalista em decadência, e isto para alguns é terrível pois pensavam que a sua utopia (ou será distopia…) era uma inevitabilidade.
Bem podem tentar escamotear o mal, não o conseguirão, a propaganda já não funciona os povos começaram a rebelar-se contra a tirania que lhes andou a ser imposta.
O que de desesperança anda por aqui!
ResponderEliminarNem a matemática nem as inevitabilidades marxistas parecem já aplicáveis!
A descrença no Homem só pode justificar-se por o terem tornado num coitadinho destinado a ser vitimado por 'sistemas' em que, sem fé nem sonho, nem é autor nem actor.
Assim será enquanto, espartilhado nas baias de um igualdade que lhe nega o espírito, desprovido de uma moral individual e colectiva, o transformam em mero destino de um qualquer PIB.
Foi Keynes quem disse, creio, que preferia estar em linhas gerais certo, a estar precisamente errado. No entanto, os ditos modelos e planos têm uma vantagem. Se falham, podemos criticá-los onde falharam. Por outro lado, de quem se refugia na ideologia nunca podemos esperar mais do que afirmações vagas e o eterno otimismo de quem acredita que os sacrifícios não devem ser nomeados, porque serão sempre pequenos. E depois, o que é curioso é que essa ideologia se baseia normalmente em modelos determinísticos da História que já falharam vezes sem conta e num grau que faria empalidecer de inveja as modestas previsões dos modernos economistas. Ou seja, a ação política moderna deveria antes de tudo nortear-se por um modesto e belo princípio enunciado por Tony Judt pouco antes da sua morte: devemos, acima de tudo, procurar evitar mundos piores...
ResponderEliminarParece que há quem avance que prefere estar em linhas gerais certo a estar precisamente errado.
ResponderEliminarA questão que atravessa esta frase, a grande questão que atravessa esta frase é esta:
O que é isto de estar em linhas gerais certo e estar precisamente errado? Quem define tal? O próprio? Os seus parceiros? Os sues opositores? A História? Em que momento da sua leitura?
Passos Coelho poderá subscrever esta frase. Quem anda a defender os seus interesses de classe jurará isto mesmo. Quaisquer que sejam estes interesses.
Pelo que é uma frase pobre, paupérrima para esconder a miséria denunciada por aqui.
A acção política poder-se-ia nortear por muitos e bons princípios. O procurar evitar mundos piores é com toda a certeza um deles, sabendo nós que o mundo está de tal forma que isto não basta. E sabendo nós que a maioria das vezes a tal acção política deixou o mundo pior do que já estava.
ResponderEliminarAqui entroncam necessariamente as"modestas previsões dos modernos economistas". É que a maioria destes "modestos" tipos deixaram o mundo bem pior do que já estava. E de acordo com tais modestas previsões deram origem a um agravamento das condições de vida de muitos milhões e milhões de seres humanos.
Claro que para tais tipos que desenvolveram modelos e planos que falharam pode sempre haver a Critica. E até lhes dar uma condecoração pelo seu esforço modesto de terem contribuído com os seus planos e os seus modelos para um qualquer futuro.
Acontece que a maioria de tais planos e de tais modelos falharam. Conduziram o mundo a um lugar pior. E vão por água abaixo as piedosas palavras que fazem empalidecer de inveja os males tantas vezes nomeados num processo de disco riscado a repetir a cassete do costume.
E os tais ditos modestos ( modestos? Só mesmo a gozar)economistas podem ser absolvidos pelos confrades mediante não sei quantos Padres-Nossos e Avé-Marias, porque são passíveis, veja-se bem, da Crítica.
Quando a escola de Chicago avançou como os seus sinistros planos e modelos sob a batuta de Friedman e capitaneada por Pinochet, pode-se dizer que abriu a caixa de Pandora. Podem no entanto as suas vítimas ficar consoladas porque tal doutrina foi criticada.
E quando os axiomas neoliberais se espalharam pelo globo, fazendo crer em "planos e modelos" bem sujos e emporcalhados....podem as suas vítimas terem descanso e sossego. Foram apenas erros matemáticos. E basta a sua crítica para lavar os sacrifícios que não devem ser nomeados, porque serão sempre sacrifícios pequenos.
Há aqui algo que não cola. E não só não cola como adquire foros de desonestidade e de má fé
Temos assim que para refutar este belo texto de RPM,Jaime Santos opte por duas escassas linhas em que tenta justificar a honra perdida dos "planos e modelos". Virando-se depois, por uma série mais numerosa de outras linhas para outro lado, repetindo pela enésima vez um discurso que não justifica em nada as suas opções ideológicas ou a eventual bondade destas.
ResponderEliminarTenta-nos assim convencer da velha treta do mal-menor sem se aperceber de duas coisas:
- que os factos são tão poderosos que esvaziam de conteúdo o discurso em torno das benesses do mundo ofertado por Jaime Santos ( reduzidas a duas linhas de justificações mal paridas)
- que quem tem deixado o seu legado ao mundo o tem feito quase que invariavelmente tornando-o um lugar pior. E assim se arruína uma bela e piedosa frase mas que é utilizada aqui de forma profundamente hipócrita.
As citações têm destas coisas. Por vezes servem apenas para ocultar a vacuidade argumentativa de quem as utiliza.
Deve ser duro ouvir uma verdade de la Palisse que no entanto é ocultada por todos os meios mediáticos do poder dominante:
ResponderEliminar"Em 2008 foram incapazes de perceber que a economia mundial estava à beira do colapso - depois foi o que se viu"
Um facto incontestável que mina por completo a pretensa cientificidade da economia. Mas que mina outra coisa. Mina a credibilidade da maioria dos economistas, afinal peões entretidos num jogo em que tomaram o seu lugar dum dos lados da barricada e em que forneceram os "planos e os modelos" tidos por adequados para justificar as políticas que nos conduziram até aqui. Cúmplices e coniventes foi o que foram
Tal como deve ser duro ler isto:
"No ano passado previram que a economia britânica ia colapsar com o Brexit - e afinal parece ir de vento em popa. O economista-chefe do Banco de Inglaterra vem agora dar a mão à palmatória, reconhecendo que os modelos de previsão macroeconómica habitualmente utilizados reflectem muito mal o mundo tal como ele existe".
Porque arruína o discurso de muitos sobre o assunto, entre os quais Jaime Santos, que incapazes de assumir o que disseram e de tirarem daí ilações, preferem outros processos.
Por isso a fuga para o perdão divino e salvífico da "crítica" e para um "outro lado", qualquer que este seja.
Duma forma muito mais elegante Pierre Bourdieu citado aí em cima:
ResponderEliminar"Os economistas podem não compartilhar necessariamente os interesses económicos e sociais dos devotos verdadeiros e podem ter diversos estados psíquicos individuais em relação aos efeitos económicos e sociais da utopia, que dissimulam a sua capa de razão matemática. Mas têm interesses específicos suficientes no campo da ciência económica para contribuir decisivamente para a produção e reprodução da devoção pela utopia neoliberal. Separados das realidades do mundo económico e social pela sua existência e sobretudo pela sua formação intelectual, na maior parte das vezes abstracta, livresca e teórica, estão particularmente inclinados a confundir as casas da lógica com a lógica das casas.
Estes economistas confiam em modelos que quase nunca têm oportunidades de submeter à verificação experimental e são levados a desprezar os resultados de outras ciências históricas, em que não reconhecem a pureza e transparência cristalina dos seus jogos matemáticos e cuja necessidade real e profunda complexidade com frequência são incapazes de compreender."
Honra seja feita contudo às excepções que as houve e as há. E exemplo destas, com todo o mérito, os autores do LdB.
O comentário do sujeito das 17 e 52 não merece sequer grandes reparos, já que se auto-desqualifica por si próprio.
ResponderEliminarO coitado nem se apercebe que a desesperança que aí critica, dinamita o seu comentário anterior,cheio de choradinhos com as variáveis Trump e Putin e Xi e condicionantes da guerra económica a curto prazo, e ameaças ao estrangeiro e maravilhas fatais e travestis de moeda desvalorizada e dívida esquecida e Europa desacreditada e dividida.
Pelo que ficamos sem saber se a sua crença ou descrença no Homem varia na exacta medida em que assume o seu papel da forma mais conveniente para a defesa, como autor ou como actor, do seu "sistema".
Mas deixando para lá a patetice ignara da "moral individual" há outra coisa que destrói o seu comentário, cheio de coisas pias ,como essa de moral individual e na descrença no Homem e na fé e no espírito e na moral.
É quando fala no "espartilhado nas baias de um igualdade".
Preferirá com toda a certeza as baias da desigualdade.
Essa história da igualdade só mesmo para animais como é expresso desta forma tão grotesca e que nem os eventuais estados de embriaguez ou de senilidade permitem atenuar a sua gravidade.
Há discordância que são o meu conforto.
ResponderEliminarÉ um problema dos formalismos matemáticos em geral: qual a sua ligação ao real? Na mecânica clássica, funcionam razoavelmente; já quando passamos à biologia a sua adequação é, no mínimo, problemática e serve de regra o que disse René Thom: uma teoria que explica, não prevê, e a que prevê, não explica. E ao nível das Ciências Sociais, como a Economia (!), o uso desses modelos quantitativos é sempre secundário e dependente das avaliações qualitativas, duma Sensibilidade aos problemas.
ResponderEliminarAmém dirá o coneqo jose.
ResponderEliminarE partirá para elaborar uma Fátua contra quem nao obedeça sos mercados, à competição selvagem e à tia Cristas
ResponderEliminar“A esquerda, em consequência de sua história, aprendeu muito bem a resistir a cenários adversos. Esse esforço foi fundamental para a sua sobrevivência, mas deixou de ser suficiente”. Hoje e pela primeira vez na nossa historia democratica tem um governo e um parlamento com maioria absoluta dando aso a criar condiçoes propicias ao estabelecimento de uma democracia mais avançada.
O desafio não é somente resistir a uma U.E. federalista e sua agenda de eliminação de direitos que provocará graves prejuízos aos trabalhadores. E´ tambem preciso saber reexistir, reinventar a nossa existência e dar um novo sentido ao nosso papel e às nossas práticas, principalmente em relação àqueles que pensam diferente de nós. Eis a importância do trabalho de base. De Adelino Silva