quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O senhor Subir Lall e a realidade


Há qualquer coisa de Italo Calvino no modo como Nicolau Santos escreveu recentemente sobre o senhor Subir Lall. É talvez na forma como se refere ao traço de «regularidade» que o chefe de missão do FMI deixa nas suas visitas ao nosso país, com o «desembarque trimestral no aeroporto Humberto Delgado, para avaliar o andamento das contas públicas e da economia portuguesa», ou as litúrgicas declarações à imprensa, no final das visitas, para ditar as sentenças «sobre o que devemos fazer e quão longe estamos de chegar ao paraíso económico que ele imagina para nós».

Mas existe pelo menos uma diferença particularmente saliente entre o senhor Palomar de Italo Calvino e o senhor Subir Lall do FMI. Se o primeiro se permite que o mundo o interpele, alimentando a sua reflexão e pondo em causa as suas percepções e convicções, já o segundo (ou a instituição que representa, não sabemos ao certo), parece ficar sempre imperturbável perante quaisquer sinais da realidade, como se esta fosse apenas uma máquina tão bem regulada e conhecida que é incapaz de surpreender ou de abalar as sólidas certezas.

É que, aparentemente, não há mesmo maneira de o senhor Subir Lall reconhecer o quão infundadas se revelaram as suas teses sobre os impactos negativos do aumento do salário mínimo na criação de emprego, ou a necessidade de introduzir ainda mais «reformas laborais» no mercado de trabalho português. Por mais que entre pelos olhos dentro a trajetória de evolução do emprego em Portugal ao longo de 2016, naquele que é o mais robusto crescimento na UE28 e na zona euro. Nada. Aconteça o que acontecer, a missa será sempre a mesma e as advertências e conjuras não se deslocam um milímetro.

Mas o que surpreende ainda mais é que esta ausência de interação entre o senhor Subir Lall e a realidade tem um duplo sentido: não só o chefe de missão do FMI parece não conseguir apreender os impactos devastadores que resultaram da aplicação da sua receita a Portugal, como se mostra incapaz de reconhecer os efeitos que a suspensão dessa mesma receita gerou no emprego e na economia. O senhor Subir Lall será sempre muito bem-vindo, claro, mas não deixa de fazer sentido perguntar: se é para não ter contacto com a realidade, que vem tecnicamente o chefe de missão do FMI fazer ao nosso país, com a sua trimestral regularidade?

6 comentários:

  1. Um excelente comentário e uma muito saudada referência ao senhor Palomar de Calvino.

    Com um senão em que há discordância absoluta. De facto pessoalmente acho que o senhor Subir Lall não deveria ser bem-vindo

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  2. A robustez é sem dúvida a imagem de marca da economia portuguesa.
    O investimento no turismo e o turismo são os grandes sinais de um futuro à mercê das modas turísticas ou dos planos da jihad.
    É claro que sempre o emprego público - tão carentes que estamos de o incrementar - pode contribuir para um crescimento sustentável.
    E assim se escolham as variáveis e as coordenadas adequadas e assim se produzirão gráficos verdadeiramente impressionantes.

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  3. Não se pode fazer nada, é deixá-los falar...

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  4. Planos da jihad? Ah, esse apetite que lhe corroi o corpo.

    Mas parece que herr Jose está carente. E aqui surge ao lado de outra figura denunciada aqui, o Boy do FMI.

    Será que L. Rodrigues acertou em cheio?

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  5. Os gráficos verdadeiramente impressionantes são o lamento feito piegas que alguns usam quando confrontados con a realidade.

    E enquanto uns se fingem de parvos, surdos e cegos como o Sr Subir, outros arvoram a sua impotência tentando desmentir os fsctos com tretas sobre modas.

    Ontem era a moda da felicidade. Hoje é a moda turistica.

    Muito ternurenta e suzpirosa esta nova tendencia de serviço civico

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