segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Somos todos populistas


Tenho defendido por aqui que o europeísmo realmente existente é uma das últimas reincarnações do clássico elitismo liberal. Enfim, tem a palavra Viriato Soromenho Marques, talvez o principal pensador europeísta nacional: “o populismo é o discurso da rua, da taberna, que se torna em discurso de Estado”. Esta sintomática declaração é feita no contexto de uma peça, da autoria de Nuno Ribeiro, sobre “populismo” e “lusexit”, que diz mais sobre o estado do Público e das suas amalgamas ideológicas, parte do favorecimento da adaptação regressiva das preferências políticas, do que sobre outra coisa qualquer.

Não é preciso reduzir a realidade às suas articulações discursivas para concordar com Ernesto Laclau e vermos na tal razão populista, na construção de uma identidade popular a partir da fixação sempre precária de uma “fronteira do antagonismo”, de um nós e de um eles, um elemento central de toda a política de massas, de toda a política democrática, de toda a política contemporânea, na verdade, seja esta de direita, de esquerda ou para lá da esquerda e da direita.

Numa confirmação de que o populismo é num certo sentido inevitável, o próprio Soromenho Marques declara na mesma peça: “a nova aristocracia [financeira] que manda no mundo é uma pequena elite, e a esquerda social-democrata ou socialista foi atrás”. Pois é e pois foi, no continente graças sobretudo à integração europeia, e é por isso que a desglobalização pode vir a ser protagonizada pelas direitas, como justamente afiança. Por isso e pela posição de intelectuais críticos que é como se já tivessem sido derrotados, defendendo, como Chantal Mouffe, nem de propósito, que não existem alternativas à UE e ao Euro. É espantoso que não repare que o europeísmo é precisamente uma das razões pelas quais os socialistas entregaram a classe operária francesa à FN, como bem denuncia, e que o mesmo europeísmo cooptou o Syriza: quem pode confiar nos que privatizam, reduzem direitos e fazem cortes, ao mesmo tempo que pregam já não se sabe bem o quê na UE (nem isso interessa já para nada, de resto)?

Entretanto, o sujeito nacional-popular constrói-se na fronteira implicitamente identificada por Soromenho Marques, que saudavelmente tem de andar pelas ruas e pelas tabernas e chegar ao Estado nacional que organizará a desfinanceirização, incluindo a saída do euro: elite financeira versus povo. A razão populista pela esquerda pensa na activação deste último sujeito e nas políticas de recuperação da soberania democrática que convocará. Haverá algo de mais importante para pensar em todos os lugares?

12 comentários:

  1. O problema do populismo não é colocar o povo contra as elites, é oferecer soluções sem indicar caminhos. Porque Povo, João Rodrigues, também é quem poupa e se socorre dessas poupanças para ajudar os mais novos em épocas de crise, quem paga todos os meses uma hipoteca porque sonha ter uma casa, mesmo quem investe em obrigações de um Banco porque confia na palavra do gestor de conta, como confiava há 30 ou 40 anos. Há uma frase de Keynes, que você gosta tanto de citar, no 'Economic Consequences of Peace', em que ele atribui o seguinte pensamento a Lenine: "the best way to destroy the capitalist system [is] to debauch the currency." Eu diria que há luz desta frase, o comportamento de pessoas que defendem a saída do Euro sem dizerem por um momento como planeiam defender a nova moeda de ataques especulativos, como planeiam evitar falências de empresas dependentes do crédito externo que levarão a uma queda do PIB e à subida da inflação, etc, se torna perfeitamente cristalino. O seu interesse é tão só a luta pelo Poder e o bem-estar do Povo é, quando muito, algo de bem secundário. Resumindo, o cinismo habitual dos populistas no seu melhor... Pois fique sabendo que estes não deixarão de ser combatidos nas urnas, venham da Esquerda ou da Direita, e não queira pois esfolar um coelho antes de o caçar...

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  2. Mais uma vez um excelente texto que despertará não só a ira dos europeístas como a raiva dos que privatizam,reduzem direitos e fazem cortes.

    Num seu texto anterior João Rodrigues chamava logo no título a atenção para um outro título dum belo livro de Tabucchi , "Afirma Pereira" que aborda a tomada de consciência dum velho jornalista.
    Desenrolando-se no ambiente asfixiante do fascismo, Tabucchi mostra duma forma gradual mas perfeitamente notável o trajecto de alguém que rompe com a sua passividade e se transforma.

    Também a todos nós é chegada a hora de optarmos. E de agirmos em conformidade

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  3. Jaime Santos. Até onde vai a demagogia com essa descrição de "povo".

    Até onde vai a desfaçatez de fazer passar por elites "quem poupa e se socorre dessas poupanças para ajudar os mais novos em épocas de crise, quem paga todos os meses uma hipoteca porque sonha ter uma casa, mesmo quem investe em obrigações de um Banco porque confia na palavra do gestor de conta" ?

    Não tem vergonha?

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  4. Percebe-se que a denuncia do europeísmo incomode Jaime Santos.

    O que resta da ideia duma Europa Unida é uma caricatura. A europa foi e é um pretexto para o avançar do mais puro e duro neoliberalismo, com o consequente soçobrar da soberania e da dignidade dos povos, submetidos às garras do poder económico dos maiorais.

    "Quem pode confiar nos que privatizam, reduzem direitos e fazem cortes"? Quem pode confiar nos que traíram os seus ideais, dos que trocaram os princípios pelo agasalho temporário do neoliberalismo impante?
    Quem permite à direita avançar e conquistar um espaço que não é o seu?

    Mas onde está o "planeamento" para nos soltarmos deste abraço de serpente que nos vai conduzindo de derrota em derrota para o abismo? O que nos ofereceu esta gente? O que ofereceu Hollande e o Syriza? Merkel e Dragui? Junker e Barroso? Qual o "planeamento" para combater as chantagens e as intimações do directório pós-democrático?

    Parece que não teria havido tomada da Bastilha por falta de tal planeamento. Nem teria sido assinada a magna Carta. E ainda estaríamos no esclavagismo, porque os escravos nunca teriam tido a ousadia de se revoltarem, sem os benditos planos para o efeito

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  5. Infelizmente há uma outra coisa a apontar a JS. Que infelizmente já foi aqui abordada no LdB, num ou noutro comentário.

    É este inqualificável ataque ao carácter do autor destes textos. Só alguém que perdeu as estribeiras, só alguém que não planeia o que pensa e que não pensa o que diz é capaz de usar como argumentário coisas tão baixas como "O seu interesse é tão só a luta pelo Poder e o bem-estar do Povo é, quando muito, algo de bem secundário. Resumindo, o cinismo habitual dos populistas no seu melhor".

    Uma tristeza pegada. Já não se é capaz de apontar uma trajectória coerente para esta Europa que não seja a submissão total. Já não se é capaz de defender um discurso mobilizador para a Europa e nesta Europa. Já se está reduzido a um cansado e repetido pedido de planos e planos sobre os planos, ocultando a ausência dos seus próprios planos.

    E agora o insulto vão e gratuito?

    É "isto" que se nos oferece o europeísmo?

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  6. "ois fique sabendo que estes não deixarão de ser combatidos nas urnas, venham da Esquerda ou da Direita, e não queira pois esfolar um coelho antes de o caçar...

    Pois, nas urnas. Foi o Brexit e foi o que se viu. É a Frente Nacional e é o que se vê. É em Espanha e é o espectáculo que se antevê, a seguir ao espectáculo que se desenrola
    Só não vê quem não quer ver

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  7. A falta do instrumento desvalorização/inflação reduz os populistas a um condicionamento de 'contas certas' que é uma permanente agonia para espíritos criativos e treteiros.
    Quem se realiza e afirma pela produção de mantras e ladainhas, agonia-se que a medida de efectivos contributos para o bem-estar do povo lhe possam ser exigidos.
    E nunca, jamais, em tempo algum se projecte mais do que o próximo saque, a iminente benesse, a 'luta' desse dia; o futuro e a sua construção é desvio de carácter e suspeitosa perversão ideológica de tenebrosos acumuladores de poupanças.

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  8. Herr Jose.
    Deixe.se de tretas e de exercicios onanistas. Já sabemos que está aqui a cumprir o serviço cívico. Ao lado de quem tem mais. Ao lado dos vampiros. Ao lado dos saqueadores.

    Herr jose não se lembra da sua histeria a defender o saque nos colegios privados?

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  9. Mas porque motivo esta agonia invocada assim por este espírito treteiro, prenhe de mantras e ladainhas, que agora parece esconder o saque atrás de poupanças suspeitas?

    Quando proclamava o paraíso na terra com o saque dos ordenados e das pensões estava a contar que o produto desse saque entrasse no rol das ditas poupanças? De meia dizia de vampiros? A colocar depois nos offshores que defendia e defende?

    Que agonia esta a do pobre coitado s fazer tais exercícios da treta quando há bem pouco tempo dizia que nao queris saber das condições do povo, queria sim era daber do que era dele. E em tom ameaçador invocava outras agonias

    A memória é uma coisa lixada. O serviço cívico deste dia arruinado

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  10. Cuco, das citações passas-te às transcrições truncadas e trafulhadas.
    Agora temos a pura calúnia.
    O teu carácter aproxima-se da sua realização plena.

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  11. Quem será o cuco?

    Alguém porventura que não deixa dormir o das 00 e 40. Não o deixa dormir nem sossegar.

    Provavelmente um velho conhecido da família que terá sido responsável quem sabe pela "aprendizagem" do sujeito:
    Cita-se:
    "passas-te"............?

    O coitado "passou-se".

    E já agora que caminhos são os do Senhor para ter guiado alguém a proferir tal frase estrondosamente bíblica
    "O teu carácter aproxima-se da sua realização plena".

    Sairá na nova versão dos opúsculos, dos mantras ou das fatwas?

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  12. Quando confrontado com a realidade de depois de tantos sacrifícios impostos aos portugueses e da venda a saldo de empresas públicas, a dívida pública ter disparado com a troika, respondia assim o das 00 e 40:

    "Lógicamente não se vendeu nem 'austerizou' o bastante"
    http://manifesto74.blogspot.pt/2014/05/os-3-ps-do-emprego-que-devia-ser.html
    17 de Maio de 2014 pelas 14 e 54


    Quando confrontado como, em termos sociais, vivia a população antes da Revolução Francesa era esta a resposta:
    "Quero pouco saber de como se vivia antes da RF para a qualificar como uma selvajaria de terror e morte.
    Quero pouco saber se um cão está raivoso porque o maltrataram - se vem para me morder é raivoso e é tudo quanto cuido de saber.
    O Daesh é a mais recente edição de uma bestialidade comparável".
    http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2016/09/as-preferencias-mudam.html
    17 de setembro de 2016 às 02:09


    Há mais. Mas francamente fiquei mal disposto ao deparar-me com esta berro saído do dito sujeito a 11 de Setembro deste ano sobre Catarina Martins:
    "Grande cretina, porta-voz de cretinos"
    (num local de esgoto que nem merece a sua identificação)

    Ou com este berro histérico
    "Só te venho falar de uns cabrões duns socialistas..."

    Há mesmo mais. Mas tem que se deixar arejar o ambiente

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