Este é um livro de história da economia política portuguesa nos vários sentidos que a economia política pode ter: história das ideias e dos interesses e história dos seus encontros e desencontros nas instituições de que são feitas as economias. Que “economia nova” é esta e quem é que a queria? Corporativismo e Salazar é uma resposta provisória. Este livro também é sobre a economia política do corporativismo no fascismo português.
Contra uma certa banalização ahistórica e com óbvios intuitos políticos do conceito de corporativismo, Álvaro Garrido indica ao que vem: “Pensar historicamente o corporativismo implica evocá-lo na sua própria historicidade, enquanto ideia em movimento no contexto de superação autoritária da crise do sistema liberal que atravessou o período entre as duas guerras mundiais, um tempo de múltiplas crises.”
Ao longo do livro, Garrido sublinha pelo menos dois pontos, ambos de resto assinalados por Fernando Rosas na justa introdução a esta obra. O primeiro ponto consiste na distinção entre corporativismo, enquanto “utopia”, uma espécie de terceira via ideológica, e “enquanto regime historicamente realizado”, ou seja, enquanto “expediente” estadual violento para acentuar a subordinação do trabalho ao capital numa época de crise, para usar os termos de Rosas. O segundo ponto é o da ligação intima entre a construção dos Estados fascistas, incluindo o Estado Novo, e a construção dessa pretensa economia nova, um capitalismo com regulação autoritária, lançando luz sobre uma fase da economia política nacional que em parte também foi europeia, aspeto que sempre me pareceu menos sublinhado por cá.
E tal como hoje se fala de variedades de capitalismo, também se pode falar de variedades de corporativismo fascista, e até, sombriamente, das novas e variadas vias autoritárias para perpetuar o capitalismo no seu “outono”, quando a “primavera dos povos” é esmagada na periferia europeia e mais a sul, digo eu, mobilizando os sugestivos termos de outra leitura recente.
Em suma, e na linha de anteriores trabalhos, esta versão desenvolvida das suas provas de agregação indica-nos, voltando ao início, que tal como a economia política tem de estar atenta à história, também a história tem de estar atenta à economia política: “ideias em movimento”, boas e más, no fundo.
O novo autoritarismo baseia-se na banalização da mentira e manipulação.
ResponderEliminarVamos pegar no exemplo de Passos Coelho, como é que é possível alguém mentir tanto e continuar como se nada fosse?
A direita radical neoliberal sabe bem quais são os seus objectivos e tem sabido salvaguardar os seus interesses, e para isso socorre-se da mentira em catadupa para provocar atordoamento e apatia nas suas vítimas, este é o modus operandi neoliberal.
A pergunta é, como é que se combate a Hydra neoliberal?
Porque até agora, embora alguns avanços da oposição, a Hydra neoliberal está de boa saúde, perde uma cabeça de vez em quando mas outras aparecem no seu lugar...
O corporativismo teve uma dimensão europeia porque os diferentes movimentos fascistas se inspiraram nas mesmas ideias, mas as diferentes implementações foram da responsabilidade de cada um dos governos nacionais. Se queremos falar de projetos de internacionalização de um modelo económico a partir de um centro geográfico, o dirigismo soviético pós II Guerra Mundial constitui uma analogia melhor com o que se passa hoje na UE, como notava há tempos o Porfírio Silva, numa entrevista que causou alguma celeuma na Direita, mas suspeito que sei a razão pela qual o João Rodrigues não quer trazer esse modelo à colação. Quanto ao 'Outono' do Capitalismo, ele já enterrou vários concorrentes que proclamavam o contrário (recordo-me em particular das palavras de Krutchev). Dados os riscos associados a um colapso do sistema presente, e que levaria provavelmente a uma nova aliança entre o Capitalismo e o Fascismo (como nota aliás), melhor seria que os progressistas se decidissem pelo restauro da Social-Democracia, até porque manifestamente não dispõem de nenhum modelo alternativo ao Capitalismo que ofereça o mínimo de garantias. As tentativas mais recentes para encontrar vias alternativas vão aliás a bom caminho da falência, veja-se a Venezuela, e ao mais que provável retorno em força da Direita ao poder... Infelizmente há quem só olhe para a parte da História que lhe interessa, não procurando tirar ilações das experiências históricas que contradizem aquilo em que acredita...
ResponderEliminar"suspeito que sei a razão pela qual o João Rodrigues não quer trazer esse modelo à colação."
ResponderEliminarSempre JS muito solicito a suspeitar.
"... Infelizmente há quem só olhe para a parte da História que lhe interessa"
ResponderEliminarÉ o caso de JS. Como se sabe, aliás.
Vejamos estes mimos:
"Quanto ao 'Outono' do Capitalismo, ele já enterrou vários concorrentes que proclamavam o contrário (recordo-me em particular das palavras de Krutchev).
Krutchev? Mas quem é este? Há quantos anos isto se passou?
Veja-se quem fala em morte matada do socialismo... andam quais abutres a repetirem o mesmo até á exaustão. As certidões de óbito passadas e sem data.
O jaime Santos foi um deles não foi? Olhe o Miguel de Sousa Tavares foi outro. Há mais de 25 anos. Com os resultados que se conhecem.
Quanto ao amado capitalismo ele parece que precisou de mais de 300 anos para se impor. Portanto e mais uma vez relaxe que o socialismo é muito mais novo e tem por aí muito terreno para andar.
E veja bem. Há quem diga que a Venezuela era socialista. O que prova duas coisas. Que não sabem o que é socialismo. E que não sabem o que é a Venezuela.
"Quanto ao restauro da social-democracia"
ResponderEliminarUma boa pergunta aos que se diziam sociais-democratas e que traíram os seus ideais.
É perguntar ao PASOK e aos sucedâneos de Blair. Ou a Hollande.
(A Blair , o tal da terceira via, é melhor não perguntar nada. Esse só mesmo numa prisão, com Barroso, Aznar e Bush... tão amigos que eles eram)
O capitalismo está tão moribundo que os seus adversários vivem em crescente inquietação de cada vez que lhe adicionam uma facada.
ResponderEliminarSuspeitam, sabe-se lá porquê, que ele possa ressuscitar de mau humor se lhe dão uma facada excessiva.
Uma cena algo estranha, que vai ao ponto de se incomodarem se ele não reage aos maus tratos, se não grita, se não dá sinais de lhes ter medo ou de lhes pedir misericórdia.
Despesa pública e impostos levar-vos-á à derrota.
Levar-vos-á à derrota.
ResponderEliminarPois claro.
Entretanto há quem queira gritos sabe-se lá vindos de onde, qual milagre tonto e avinagrado.
Na falta dele berra o do costume
Adicionam uma facada a quem?
ResponderEliminarHá aqui qualquer coisa surreal. Agravada pelo facto de poder ressuscitar. E ainda por cima de mau humor, pela facada excessiva.
E estranha-se pelo incómodo de não reagir, de não gritar, de não ter medo, de não pedir misericórdia.
Isto é um comentário? Um delírio? Um sonho húmido? Uma ode de amor? Uma prece piegas? Uma cena matrimonial? Uma cena de ciúmes?
Quem dá facadas no capitalismo é o próprio capitalismo. Basta ler um pouco Marx
ResponderEliminar"EUA exigem 14 mil milhões de dólares ao Deutsche BanK Pedido de compensação pelo papel do banco na crise financeira provoca descida em bolsa".
Ainda antes de se saber o montante da enorme multa aplicada ao Deutsche. B. pela manipulação das taxas de referência os investidores e gestores de fortunas alertavam :
"Deutsche Bank, la banque qui peut tout faire basculer
En ce qui concerne le troisième point, Deutsche Bank (DB) constitue peut-être le plus gros problème bancaire pour le système financier.
La quatrième banque de l'union européenne, DB, est assise sur le plus gros stock de dérivés du monde : 64 000 milliards de dollars,(64 000 mil milhões de dólares) soit 17 fois plus que le PIB allemand
Tout ça dans une seule banque.
En outre, les Allemands, terrifiés à l'idée que le NIRP (politique des taux négatifs) grignote leurs économies, ont commencé à retirer massivement leurs dépôts.
Pendant des années, les Allemands n'ont cessé d'épargner de l'argent sur des comptes épargnes malgré la chute des taux d'intérêt. Les épargnants considéraient que ces comptes étaient sécurisés, et qu'ils leur permettraient toujours d'accéder facilement à des liquidités. Mais dernièrement, nombre d'entre eux n'y croient plus.
Les taux d'intérêt s'enfonçant en territoire négatif, la demande en faveur de coffres-forts est en train de s'accélérer. Burg-Waechter KG, le plus grand fabricant de coffres, a enregistré une hausse record de 25% de ses ventes au premier semestre, par rapport à l'année dernière.
Autrement dit, des retraits massifs ont lieu. Et le marché commence à flairer que DB pourrait avoir des ennuis. Et si les actions DB plongent, l'Union européenne va être précipitée dans une véritable crise, semblable à celle de 2008.
Gardez cela en tête. Il s'agit d'un problème systémique. " La Qu . Croissance
(Pena Preta)
Os impostos e a propósito do que dizia todo o PAF e mais toda a comunicação social sobre o anterior orçamento de estado:
ResponderEliminar"com o governo PSD/CDS, as receitas de impostos aumentaram em Portugal em 6.126 milhões €, tendo a carga fiscal subido de 22% do PIB para 25,6% do PIB. Isto é que é “um gigantesco aumento de impostos”. E o imposto cujas receitas mais aumentaram foi o IRS, cujas receitas subiram em 3.007 milhões € (+31%),quase metade da subida verificada neste período nas receitas de todos os impostos. As receitas do IRC sobre as empresas registou apenas um aumento de 349 milhões €(apenas + 7,1%). E o IRS incide fundamentalmente sobre os rendimentos de trabalho e sobre as pensões já que, segundo dados do Ministério das Finanças (A.T.), estes rendimentos representaram em 2013 (últimos dados disponíveis, e a situação não se alterou) mais de 92,8% dos rendimentos declarados para efeitos de IRS. Em resumo, foi neste período que se verificou “um gigantesco aumento de impostos”, ou o “maior esforço fiscal registado em Portugal” para empregar as palavras dos dirigentes do PSD/CDS.
Em 2016, segundo o Programa de Estabilidade 2015-2019, se o PSD/CDS continuasse
no governo a carga fiscal continuaria a aumentar, pois passaria, entre 2015 e 2016, de 25,4% do PIB para 25,6% (em valor as receitas de impostos cresceriam de 45.628
milhões € para 47.759 milhões €, ou seja, em mais 2.131 milhões € em apenas um ano).
A proposta de OE-2016 apresentado pelo governo PS de António Costa representa um
menor aumento de impostos (1.334 milhões €, em vez do aumento de 2.131 milhões € do
PSD/CDS) e uma menor carga fiscal medida em percentagem do PIB (OE-2016 do
governo PS:25,2% do PIB; Programa de Estabilidade do PSD/CDS: 25,6% do PIB).