sábado, 2 de julho de 2016

Preocupações


«Cada um escolhe aquilo que o preocupa. Eu tive milhares de alunos e às vezes encontrei alunos com preocupações muito originais. Faz parte da natureza humana às vezes ter preocupações assim estranhas ou inesperadas. Mas temos que respeitar a preocupação de cada qual. Eu preocupo-me com as minhas preocupações. Não me preocupo com a preocupação dos outros. Sobretudo acho que é importante as pessoas preocuparem-se na altura devida e com aquilo que merece ser objeto de preocupação. E não com aquilo que, como eu tive ocasião de dizer um dia... sempre que estamos em vésperas de uma decisão sobre Portugal (ou sobre outros países), relativamente à sua situação financeira, nós assistimos sempre às mesmas preocupações, a uma certa distância. E não é deste governo, já no anterior. Portanto faz parte da vida convivermos com essas preocupações e saber distinguir aquilo que é mesmo motivo de preocupação ou aquilo que é apenas uma forma de pressão, a cinco ou seis dias de uma decisão».

É deliciosa e certeira (vale a pena ver e ouvir) a resposta de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, a uma pergunta sobre as recentes declarações de Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, que disse estar «mais preocupado com a economia portuguesa do que com a saída do Reino Unido da União Europeia» (sic). Isto é, declarações na linha das proferidas por Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão que, por sua vez, «está mais preocupado com Portugal do que com o Deutsche Bank» (sic). Só foi pena, para estar tudo ainda mais concertado, que Subir Lall tenha faltado à reunião desta semana, que ele próprio convocou, onde poderia ter dito - para acrescentar inquietude à instituição que representa, o FMI - estar mais preocupado com Portugal do que com o rotundo fracasso da aplicação de doses sucessivas de austeridade na Grécia. Ou então, que um qualquer comissário europeu do Estado de Direito e dos Direitos Fundamentais abrisse a boca para dizer estar mais preocupado com o acolhimento de refugiados em Portugal que com a situação dos direitos humanos na Hungria.

Portugal parece pois estar no centro das preocupações de algumas pessoas e instituições, num momento em que o país regista melhorias na correção do défice e uma diminuição da sua dívida líquida, ao mesmo tempo que aumenta o emprego e se reduz o desemprego. Mas é como diz o presidente: cada um preocupa-se com o que quer (ou com o que mais lhe convém).

12 comentários:

  1. “Mas é como diz o presidente: cada um preocupa-se com o que quer (ou com o que mais lhe convém).”
    Todavia e no entanto, cada ser humano, por força da sua natureza, vive em permanente preocupação mesmo quando se julga não preocupado. Primeiro, instintivamente, depois, racionalmente vem a conveniência.
    Percebe-se que, que o professor de Direito disfarce a projeção geral do mal que nos preocupa, mas também se percebe que não o consegue – e´ uma espécie de gato escondido com o rabo de fora. Ainda que a preocupação seja difundida por ondas hertzianas e ele sabe disso. De Adelino Silva

    ResponderEliminar
  2. Estas palavras de Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, que disse estar «mais preocupado com a economia portuguesa do que com a saída do Reino Unido da União Europeia» e as de Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão que, por sua vez, «está mais preocupado com Portugal do que com o Deutsche Bank» mostram também o gigantesco logro que é esta União Europeia.
    A realidade dos eurocratas e do poder que os sustenta é paralela à realidade dos povos.
    Está tudo bem na UE é o discurso oficial, enquanto o edifício abre cada vez mais rachas e se continua a construir andares por cima para esmagarem de vez as veleidades das populações.
    O discurso a múltiplas vozes e muitas vezes contraditório de manda-chuvas do FMI reproduz-se também nas ditas instituições europeias. Porque apesar de tal variedade, o caminho é sempre o mesmo. Como uma locomotiva a dirigir-se furiosamente para um ponto fixo para cumprir o formulário necessário a uma ainda maior concentração do capital.

    Pode ser que.

    ResponderEliminar
  3. Que alívio!
    Fico à espera que me digam qual a altura devida para me preocupar. Um descanso!

    ResponderEliminar
  4. (Um "descanso"?
    Mas ó das 13 e 58 agora deu para esse fado?
    Se fosse um descanso para vossemecê, vossemecê não andava por aqui sistematicamente a fazer o papel que faz.
    No fundo um instrumento ao serviço de Schauble e de Klaus Reglin.

    Com as tremuras inevitáveis em tal tipo de tipos).

    ResponderEliminar
  5. Com os ataques que estão a ser desferidos contra Portugal por individualidades com altas responsabilidades no poder político alemão , todos os portugueses têm razões para estar preocupados seja qual for a sua simpatia partidária.
    é lamentável que os responsáveis alemães tratem desta maneira um país da UE e que alem disso também é seu aliado na NATO.
    A Alemanha já foi responsável pela origem de duas guerras mundiais e foi o país da Europa que mais beneficiou com o plano Marshall e não pagou qualquer divida de guerra
    aos países que estiveram ocupados.O que seria hoje a Alemanha se não tivesse sido o plano marshall.
    A Alemanha castiga hoje severamente a Grécia mas nunca lhe pagou as dívidas de guerra , tendo já afirmado claramente que nunca iria pagar.

    ResponderEliminar
  6. Mas agora que li os comentários acima, já não me é possível esperar!
    Vou ficar preocupadíssimo com o Deutsch Bank - será que a Alemanha o pode resgatar? - e com o Brexit - será que o UK sobrevive?
    Fico nervosíssimo com estas dúvidas!

    ResponderEliminar
  7. Na linha das despreocupações do socrates, dias antes do desastre , também temos o seu numero dois, dão sebastião Costa, acolitado pelo PCP e os liricos dos BE serenos e seguros que mais um resgate já cá canta.

    ResponderEliminar
  8. Já não há preocupações com a Grécia, vergada sob mais um resgate e afundada em divída, mas em que as compras alemãs, a preço de saldo, continuam a bom ritmo.Deixaram de haver preocupações com uma Espanha, sem governo à vista desde Dezembro do ano passado, ou com a saída anunciada do, ainda, RU, com as perturbações e ajustes necessários nas políticas financeiras e monetárias da, por enquanto, UE.A preocupação de todos estes desprezíveis designados por responsáveis do maior país da Europa é, exactamente, Portugal.E as razões são sempre as mesmas, não aceitam que haja estabilidade sem ser pela via da austeridade, não pretendem que haja democracia sem ser aceite a submissão, nem admitem qualquer outro resultado que não seja o do falhanço de todas as políticas que saiam da sua redutora prescrição.

    ResponderEliminar
  9. A.C.Magalhães, não deixe de nos vir dar notícias lá para Outubro.

    ResponderEliminar
  10. Se calhar, é melhor lerem isto , também.

    http://resistir.info/crise/vltchek_22jun16.html

    ResponderEliminar
  11. Mais uma vez aflito por verter águas, perdão comentários, sai em defesa do seu amado o tal jose
    Schauble e jose um a imitar o Dr Strangelove, o outro a imitar a Maria Luís Albuquerque.

    Estão bem um para o outro. Consta que Schauble tem fotografias suas de braço estendido na saudação típica.

    ResponderEliminar