Nos últimos dois meses – e especialmente após o referendo britânico e as eleições em Espanha – assistimos a uma sucessão de declarações de responsáveis europeus sobre Portugal. Dombrovskis, Dijsselbloem, Regling, Schäuble e Oettinger têm vindo a exigir a imposição de sanções ao nosso país por incumprimento das regras orçamentais. Juncker, Schultz e Tusk, entre outros, mostram reservas à aplicação de sanções. Como se explica toda esta atenção e preocupação de tantos líderes europeus com Portugal?
À esquerda, em Portugal, tendemos a suspeitar que se trata de um ataque especificamente dirigido à actual maioria parlamentar. Não creio que isto seja suficiente para explicar o que se passa. Portugal não é assim tão importante - e é precisamente por isso que a pressão sobre o país se avoluma neste momento.
A direita europeia, em particular a alemã, tem uma visão sobre o que deve ser a União Europeia. Segundo esta visão, o continente europeu deve ser um mercado tão integrado como se de um só país se tratasse. Só assim as grandes empresas europeias (em particular as alemãs) poderão ganhar escala suficiente para competir globalmente com as multinacionais americanas e asiáticas. Para isso é preciso neutralizar todas as formas possíveis de interferência dos Estados nacionais sobre as economias respectivas. Isto passa, nomeadamente, por: abolir fronteiras, impor uma política de concorrência comum, gerir o comércio externo a partir de Bruxelas, privatizar as empresas públicas, criar uma moeda única gerida centralmente.
Há aqui um problema, porém. É que os países participantes têm situações económicas e estruturas produtivas muito distintas. Isso significa que as políticas económicas que são mais adequadas para uns poderão não sê-lo para outros. Se não forem criados mecanismos específicos para lidar com estas assimetrias, as economias mais frágeis tendem a ser afectadas por períodos longos de recessão económica e crise social, que facilmente se transformam em divergência económica e social permanente.
Este problema não é específico à UE, sendo ao invés comum a vários países compostos por economias sub-nacionais muito distintas (EUA, Alemanha, Itália, etc.). Em muitos desses países foram criados mecanismos para compensar as fragilidades económicas de algumas regiões e contrariar a tendência para a ocorrência de recessões prolongadas e de divergência económica e social intra-nacional. Por exemplo, quase um terço dos impostos pagos na Lombardia (região do Norte de Itália) servem para financiar as regiões do sul de Itália; cerca de metade do orçamento dos Estados do Leste da Alemanha é financiado pelos Estados ocidentais.
No seio da UE, porém, não existem condições para criar mecanismos semelhantes de transferências orçamentais permanentes para fazer face às diferenças de partida entre Estados Membros. Os movimentos nacionalistas nos países do Centro e Norte da Europa afirmam-se, em particular, pela oposição a tais transferências – e poucos governos estão dispostos a desafiar essa oposição neste momento, mesmo que quisessem (e muitos nunca o quiseram). As diferentes preferências nacionais quanto a aspectos centrais como a protecção social, os direitos laborais e o papel do Estado na economia constituirão sempre um entrave à criação de uma união orçamental robusta no seio da UE.
Como se pode, então, preservar o mercado interno e a moeda única na UE de modo a lidar com as enormes assimetrias no seu seio, sem poder recorrer a transferências orçamentais relevantes? Para a visão dominante na UE, a resposta é clara: as economias mais frágeis têm de estar preparadas para lidar com os piores cenários sem dependerem dos restantes países. Isso significa reduzir o endividamento público e privado de forma permanente, e tornar as suas economias mais flexíveis. Por outras palavras, é preciso reduzir os salários, as pensões, as transferências sociais, os direitos sociais e laborais, tudo isto visando aumentar as exportações, atrair o investimento, reduzir a despesa pública e, desta forma, tornar os países mais auto-suficientes.
Posto nestes termos a estratégia até soa lógica. O problema está nas suas implicações. Na prática, como sabemos por experiência própria, a tentativa de combater as crises através da redução dos rendimentos de trabalho torna as recessões económicas mais profundas e prolongadas. No imediato, isto agrava ainda mais a situação das finanças públicas. Para além disso, a crise afasta o investimento e destrói competências (nomeadamente por via do desemprego e da emigração), levando a que os supostos benefícios da estratégia seguida tardem em surgir.
Quanto mais a crise se arrasta maior é a pressão para que os países afectados “reformem” as suas instituições. É que o prolongamento de um ritmo de crescimento económico medíocre conduz, inevitavelmente, a dificuldades orçamentais acrescidas. Por isso as lideranças europeias exigem mais cortes naquela despesa pública que conta (educação, saúde, segurança social) e maior redução dos salários (por via do congelamento nominal do salário mínimo e da redução dos direitos sociais e laborais, visando diminuir o poder negocial dos trabalhadores).
Ou seja, para Dombrovskis, Dijsselbloem, Regling, Schäuble e Oettinger (entre outros) tudo isto é muito claro: para que o mercado interno e a moeda única sobrevivam é preciso assegurar que as metas orçamentais são cumpridas e que as economias são efectivamente flexibilizadas. Estes dirigentes não estão fundamentalmente interessados em saber quem põe em prática tais políticas: se um governo de esquerda ou de direita. Na verdade, se forem governos supostamente de esquerda – como o Syriza na Grécia – tanto melhor: fica assim mais claro que as regras são mesmo para cumprir, se querem ficar no euro.
O problema é que cada vez menos cidadãos europeus aceitam esta conclusão. Em países onde a crise se arrasta – com fraca criação de emprego, generalização da pobreza e perda permanente dos direitos sociais e laborais – cada vez mais pessoas se questionam: se é este o preço que se paga pelo mercado interno e pela moeda única, para que queremos afinal a integração económica europeia?
Juncker, Schultz e Tusk – todos eles responsáveis máximos por instituições da UE – percebem bem estes riscos e vão tentando minimizá-los. Na verdade, também eles sabem que as recessões prolongadas e a divergência de níveis de desenvolvimento entre Estados Membros é um resultado expectável da actual arquitectura macroeconómica da UE. No fundo, sabem que a UE, tal como existe hoje, só é viável se boa parte das populações europeias estiver disposta a aceitar a crise prolongada nos seus países (e, eventualmente, a procurar outra vida no estrangeiro). Sabem também que isto é politicamente insustentável a prazo. E sabem ainda que as hipóteses de uma alteração substancial da UE que existe é extremamente reduzida. Perante os riscos de desagregação da UE, procuram ir minimizando os problemas, à espera que o tempo traga uma solução que hoje não se vislumbra.
Os partidos socialistas e sociais-democratas europeus assumem uma posição semelhante, tendo ainda mais motivações para isso. Manter-se do lado de quem defende soluções que arrastam a crise e destroem direitos sociais e laborais é suicidário para partidos que deveriam defender exactamente o oposto. Perante isto, a social-democracia europeia vai tentando passar a mensagem de que é preciso “mais europa” e “mais união política”. Mas, até agora, todos os “avanços” na integração europeia – o Semestre Europeu, o Tratado Orçamental, a União Bancária, a condicionalidade associada ao financiamento pelo BCE e pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade – contribuíram para reforçar a pressão no sentido da perda de rendimentos e de direitos sociais. E às populações dos países em crise interessa muito mais a evolução das suas condições de vida a cada momento do que ideias mais ou menos abstractas sobre o futuro da UE.
Assim, a única estratégia que resta a quem valoriza os riscos de desagregação da UE e/ou se quer distanciar da estratégia que tem vindo a ser imposta sem pôr em causa o "projecto europeu" consiste em propor uma “leitura flexível” das regras existentes. Esperam, com isso, conseguir contrariar a tendência das forças eurocépticas, à esquerda e à direita. Esperam também ganhar espaço negocial para introduzir algumas alterações na arquitectura existente, que tornem menos pesadas/evidentes as consequências da UE actualmente existente para as populações.
Naturalmente, a liderança alemã e os seus aliados opõem-se a “leituras flexíveis” das regras actuais por três motivos. Primeiro, porque estão convencidos de que a complacência na aplicação das regras é um dos motivos que conduziu à crise da zona euro. Segundo, porque assumem que as medidas preconizadas terão de ser implementadas mais cedo ou mais tarde – e quanto mais tempo demorarem a sê-lo mais graves serão os problemas. Terceiro, porque são contrários e/ou não acreditam na viabilidade de uma arquitectura institucional diferente para a UE, percebendo bem que um dos objectivos de quem defende uma “leitura flexível” das regras consiste, precisamente, em tentar forçar essas alterações. Para que não haja equívocos sobre a sua oposição da liderança alemã a “leituras flexíveis” das regras europeias, Merkel já fez saber que estará disposta a forçar a demissão de Juncker da presidência da Comissão Europeia.
Esta é a luta que está hoje em curso na UE. Portugal não é o centro do debate: Portugal é um dos campos de batalha entre duas visões políticas sobre como lidar com os dilemas europeus no imediato. Em abstracto, poderia ser a França ou a Itália. Mas é mais fácil atacar elo mais fraco. Esse, de momento, somos nós. Porém, apesar de não ser o fulcro da questão, os riscos para o nosso país são mais que muitos.
Ao contrário do que a direita portuguesa quer fazer crer, não são as orientações de política económica do actual governo que põem Portugal em risco. A actual maioria governamental revela um compromisso claro com a consolidação das contas públicas e com a prossecução de políticas que promovem o crescimento económico a prazo.
O que põe o país em risco são outros dois factores: primeiro, a arquitectura macroeconómica da zona euro; segundo, e não menos importante, a vontade que a liderança alemã e os seus aliados têm de fazer de Portugal o exemplo da determinação em impor a sua solução para o futuro da UE. O primeiro factor destina o país a um período prolongado de crescimento medíocre, tornando pouco atractivo o investimento produtivo. O segundo factor transmite aos investidores internacionais a ideia de que as instituições europeias poderão a qualquer momento retirar o apoio financeiro a Portugal; isto faria com os investidores tivessem de suportar as perdas de um eventual incumprimento no pagamento das dívidas pública e privada do país, o que se reflecte no aumento do prémio de risco sobre a dívida portuguesa.
A sucessão de declarações de responsáveis alemães e dos seus aliados sobre a aplicação de sanções a Portugal tem de ser interpretada à luz do segundo factor acima referido. Tais declarações visam sinalizar uma maior predisposição de quem manda na Europa para “deixar cair” Portugal. O resultado esperado é um aumento dos custos de financiamento que, caso se agravem, só têm dois resultados possíveis: o incumprimento no pagamento da dívida pública (com consequências imprevisíveis) ou o recurso a um segundo resgate (que levaria à imposição das medidas consideradas adequadas para o país).
Quem hoje faz pressão sobre Portugal não acredita que o país vá pela via do incumprimento. Esta é a posição defendida pelos partidos mais à esquerda, mas não pelo PS. Também não desejam por completo a existência de um segundo resgate a Portugal (pois teriam a oposição dos movimentos nacionalistas do norte da Europa), embora vejam nisso algumas vantagens (para além de imporem mais facilmente a sua agenda de política, o resgate permitiria levar a cabo uma reestruturação da dívida disfarçada, ao substituir parte dos empréstimos existentes por empréstimos com taxas de juro mais reduzidas; é que, ao contrário do que se julga, toda a gente já percebeu que tem mesmo de haver uma reestruturação da dívida).
No imediato, o desejo de Schäuble e dos seus aliados é que o governo português adopte as medidas consideradas essenciais – reduza as despesas da segurança social, reduza as despesas com funcionários públicos, congele o salário mínimo nacional, flexibilize ainda mais o mercado de trabalho, etc. – pouco lhes interessando quais são as forças políticas nacionais que implementariam essas medidas. Esses líderes europeus têm, obviamente, a noção de que tal programa seria impossível de aplicar por um governo apoiado pelas esquerdas. E não deixariam de sentir algum prazer ao humilharem os seus ódios de estimação. Mas este seria um motivo subsidiário, não o principal.
Já o mesmo não se aplica aos actores políticos nacionais. Para a direita, o recurso a um segundo resgate seria ouro sobre azul. Poderia regressar ao poder, acusando as esquerdas de terem levado o país ao abismo e beneficiando de condições financeiras mais favoráveis para governar. Teria uma segunda oportunidade para impor a sua agenda de transformação do país, com uma força política renovada e com uma oposição enfraquecida. Daqui se explica a atitude entusiasmada com que Passos Coelho se refere às fragilidades financeiras do país – ele sabe bem os impactos negativos que isso pode ter nas condições de financiamento; sabe também que qualquer gesto que possa aumentar a probabilidade de um segundo resgate é do seu interesse pessoal.
A questão é: qual é o interesse do país? Deve Portugal arriscar um confronto com as forças que hoje dominam na Europa? Se isso desembocar num novo resgate, o que ganhamos com isso? E qual o preço que devemos estar dispostos a pagar para o evitar?
Este texto deve ajudar a perceber que não está apenas em causa o futuro imediato do país. O que resultar deste conflito interno à UE – que tem hoje em Portugal um dos principais campos de batalha – contribuirá para determinar também o padrão de desenvolvimento económico e social do país nas próximas décadas e, de uma forma geral, o rumo da UE como um todo.
Defendo que o governo português deve resistir ao máximo às pressões para impor medidas que reduzem ainda mais os direitos sociais e laborais, e/ou que impliquem degradar ainda mais as perspectivas de criação de emprego no curto prazo. Mas tal estratégia só poderá ser bem-sucedida no curto-prazo se puder contar com fortes apoios entre os governos e instituições europeus. Tal não depende apenas do que os responsáveis políticos nacionais fizerem. Mas há alguns cuidados internos que podem ajudar, como sejam:
- a razoabilidade da estratégia orçamental tem de ser clara e devidamente explicitada;
- as reformas que interessam ao desenvolvimento do país a prazo (nos domínios da educação e formação, da ciência e da tecnologia, da redução das desigualdades, do ordenamento do território, etc.) têm de ser prosseguidas de forma determinada e eficaz;
- os potenciais aliados externos da posição portuguesa devem ser convencidos do sentido de responsabilidade e da determinação dos dirigentes políticos portugueses na estratégia que está a ser seguida (e dos custos políticos de uma eventual derrota dessa estratégia);
- o país tem de estar preparado para todas as eventualidades, incluindo os vários cenários que decorrem de um resultado indesejável do conflito actualmente em curso na UE (em vez de se limitar a aguardar esperançosamente que as coisas corram pelo melhor).
Seja como for, o monstro disforme que é a actual UE vai dar preocupações de sobra às populações dos vários países europeus (e não só) durante muitos anos.
Bem, eu tenho apenas que dizer que bato palmas a esta posta do Ricardo Paes Mamede. Aquilo que eu tento defender aqui de forma tosca, ele defende de maneira brilhante e com conhecimento de Economista. I rest my case...
ResponderEliminarO Ricardo escreveu um longo texto sobre a UE sem mencionar que a desintegração da UE já começou…
ResponderEliminarO Ricardo imagina cenários que se estão a tornar cada vez menos prováveis de acontecer...
Designadamente???????....
EliminarAnónimo das 14h52:
ResponderEliminarPode explicitar a sua ideia de que a desagregação da UE já começou?
Esta batalha com Bruxelas resulta da recente visita da troika a Portugal, que detetou inúmeras reversões de políticas do governo anterior, que pôem em causa os objectivos orçamentais e as regras europeias. Os vários indicadores económicos que sustentam as metas do governo para 2016 estão-se a deteriorar: menor crescimento económico (1% em 2016 e 2017), investimento estrangeiro parado, menor volume de receitas, maior despesa do Estado com salários. Bruxelas simplesmente pede mais medidas e critica o optimismo das contas do governo - nada mais. Portugal não é o campo de batalha de uma luta europeia - aliás, o presidente do Eurogrupo e o comissário francês são ambos socialistas. Isto não é uma batalha ideológica, trata-se simplesmente de travar o ilusionismo de António Costa.
ResponderEliminarClaro, o que faz falta,não é a avisar (esclarecer, abrir os olhos, enfim, fazer pedagogia) a malta com textos do nível deste do Ricardo Paes Mamede, o que faz falta (aos pafistas ainda ressabiados e aziados) é evacuar aqui umas bocas, como apelidar de ilusionista a um dos políticos mais experimentados da nossa (pobre) praça, e apelar ao regresso, não de ilusionistas, mas de "ilustres estadistas" como os passos&cavacos&portas&gaspares&relvas&migueismacedos&isaltinos&duarteslimas&cia!...
EliminarSó que, legislativas em Portugal, só lá para 2015, e depois, adagiando: "Os cães ladram, e a caravana passa!"
Ou, adaptando ao momento politico que Portugal vive desde há 7 meses a esta parte:
"Os escribas evacuam suas masturbações intelectualoides, e a geringonça funciona!"
A grande questão, para mim, é política -- ou, melhor, geopolítica.
ResponderEliminarÉ-me difícil acreditar que uma estratégia condicionada desta forma pelos alemães, de acordo com o post de RPMamede, seja meramente tecnocrática, sem levar em conta todas as questões de carácter político, histórico e simbólico dos estados (e nações) de que se compõe a UE. É-me difícil, pois isso revelaria por parte da liderança política alemã um total e pavoroso desconhecimento e/ou irresponsabilidade, uma vez que este é um caminho para acabar com a UE, ou transformá-la numa "UE menos", sem países desgradáveis como Portugal ou a Grécia.
Mas se me é difícil acreditar numa leviandade destas, a tentativa de explicação alternativa é pior. Lembro-me de há uns anos ter lido uma crónica do Geheral Loureiro dos Santos, que então me pareceu exagerada, e que defendia que a estratégia seguida por Merkel levaria a que a Alemanha trilhasse por caminhos económico e fimanceiros o que Hitler não conseguira pela via das armas: a dominação da Europa.
Ora, eu considero que não estamos nessa fase -- pelo menos recuso-me a tomá-la a sério, por enquanto.
Entre a igorância e/ou irresponsabilidade, e o ensaio de uma germanização da Europa, ou seja entre a guerra e a peste, não encontro outra explicação nem vejo racionalidade, para além da dos números, na actual política alemã.
Mais uma vez lúcido e esclarecedor ! Obrigado !
ResponderEliminarRPM já imaginou o seguinte cenario?
ResponderEliminar1 a UE foi criada para manter a paz entre Alemanha e França e para fazer a reunificação alemã
2 estes objectivos são atingíveis sem os custos da solidariedade
3 basta que a UE regresse aos 6 originais
4 resta forçar a saída voluntária dos outros pq obrigatória era feio.
Não querendo responder pelo Anónimo, coloco a questão: o que significa a saída do Reino Unido se não a desintegração da U.E.? Ou o que significam a imposição de controlos de capitais em alguns países? Ou o fechamento de fronteiras e o incumprimento generalizado da liberdade de circulação dentro da U.E.? A incapacidade de lidar com os refugiados? A ascensão de partidos de extrema direita ao poder na Polónia, na Hungria, na Croácia e não só? O desligamento do franco suíço em relação ao euro? A própria divisão, ao nível dos interesses em jogo e das narrativas e posições político-ideológicas para defender esses interesses, que o Ricardo expõe no seu texto, não são uma forma de desagregação? Acho que os factos são contundentes e se não é possível democratizar a U.E. para unir o que está desavindo então só é possível fascizar, ou seja, unir tudo pela força do autoritarismo, pelo constrangimento efectuado através dos mecanismos de disciplina que tão bem se conhecem. Se Schauble se permite passar a ferro a Grécia e mesmo Portugal se necessário for para efectivar a sua política, a desagregação é apenas uma questão de tempo. Ou então vamos esperar por eleições em França, ou na Alemanha, a ver se desta vez é que é...
ResponderEliminarEm geral concordo com a analise que o Tiago faz sobre de como se move hoje o xadrez europeu. Mas nas condições actuais, que o Tiago tão bem identifica, creio que Portugal como um todo (classe politica e sociedade em geral) devem seriamente colocar-se a seguinte questão: Deve Portugal sair voluntariamente do euro? Na minha optica penso que sim!
ResponderEliminarSó falta dizer que as políticas económicas e sociais dessas áreas são definidas, não autonomamente mas pelo poder central.
ResponderEliminarPortugal é contribuinte líquido para a UE?
O texto é muito bom, mas concordo em grande medida com o comentário do anónimo, pelo seguinte:
ResponderEliminar1) Toda a argumentação apresentada para justificar os ataques atuais a Portugal aplicam-se a 100% à França e à Itália.
2) No caso da França veja-se a dificuldade de Valls impor à agenda neoliberal de flexibilização do mercado de trabalho que também a França é exigida.
3) Ora, como o Ricardo reconhece, somos os "escolhidos" do momento por sermos o elo mais fraco.
4) Mas o tempo não para. Quando chegar o dia de a Alemanha tentar impor, com a mesma força que hoje está a usar connosco, à Itália e à França, a mesma agenda, acha que ainda haverá União Europeia, admitindo que esses países e/ou os seus eleitorados não irão aceitar as "ordo-imposições" alemãs?
5) Como, esse dia está a caminho, como se depreende do próprio texto, acho que, "de facto" - ainda que não "de jure", a desagregação já começou.
6) Isso mesmo se depreende das últimas declarações de Schauble: se não houver "unanimismo" a 27, ele propõe que o "unanimismo" se faça com os que houver.
7) Ora que mais será essa proposta do que um convite a que se formalize a assunção de que a desagregação da Europa, tal como existe hoje, deve avançar, "se assim tiver que ser?
A Europa vai-se desagregar. No fim do processo e mais uma vez os derrotados serão os do costume. Não esses do sul os tais PIGS que logo pensaram ... mas os super homens incapazes de aprender lições dadas pelos seus próprios lideres. HS é o alemão mais ignorado por todos os seus compatriotas e por todos os seguidores da cegueira!
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ResponderEliminarEsses ataques a Portugal não são mais que a procura de meios para relançar a construção europeia agora sem o Reino Unido.
Portugal e os portugueses ao votarem livremente deram um exemplo/lição ao mundo e em especial a´ cúpula europeia de que a soberania do país não se foi de todo!
E que há varias fórmulas e métodos de se governar – mesmo no seio do sub-imperio…
Faz lembrar o dito antigo “ para la´ do Marão mandam os que la´ estão”
Se o governo português não claudicar às fortes pressões,
Externas e internas nada mais poderá evitar o afundamento deste vergonhoso sistema.
Portugal não e´ o elo mais fraco, muito pelo contrario!
E´ que aquilo que está em jogo não é a União Europeia, em si mesma, mas o conjunto das instituições que permitem a dominação do Imperio no mundo e a própria integridade desse mesmo Imperio!
De Adelino Silva
A Alemanha é uma potência relutante. Não embarcou por exemplo no evangelismo da França ou do RU em relação à Líbia ou à Síria que tantos problema nos causou ultimamente. Os alemães já inventaram um verbo, 'merkeln', sobre a arte de adiar decisões. O Governo alemão parece por vezes uma cacofonia. Não creio que tenham intenções hegemónicas, mas concordo que até certo ponto olham para os Países do Sul (França incluída) como uma 'nuisance' que possivelmente gostariam de expurgar do Euro (algo que a população alemã aprovaria, penso eu) ou então submeter a uma 'cura' acentuada de austeridade e de reformas, à semelhança do que aconteceu nos Países bálticos para recuperarem o que nos emprestaram (para salvar os seus bancos ou os bancos franceses). Mas acho que já perceberam que não é possível para Países maiores exportar uma parte significativa da sua mão de obra, como aconteceu nas repúblicas bálticas. Ou melhor, ser é, mas causa uma data de chatices nos Países ricos. Abandonarão os alemães facilmente o ordoliberalismo e embarcarão numa política mais expansionista que abrirá os seus mercados aos produtos de Países como Portugal? Facilmente, não, mas convém não esquecer que as desigualdades aumentaram muito na Alemanha, assim como o Euroceticismo. Eu gostava de fazer figas e acreditar que Merkel por razões de política interna (sobretudo) e externa vai mandar calar o chato do Schaeuble e dar alguma folga aqui ao Sul. Mas não sei se tem poder para isso. De qualquer maneira, parece-me que a estratégia correta para Portugal é tentar cooptar a fação que nos poderá ser mais favorável, como diz o Ricardo Paes Mamede. E acho que Costa é um perito em distinguir o que deve ser resolvido já, do que deve ser merkelnizado... O mesmo provavelmente acontece às lideranças do BE e do PCP/PEV, retórica à parte...
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ResponderEliminarRESUMINDO:
Os países do euro estão sob a ocupação alemã.
É a Alemanha que dita as regras.
É a Alemanha que dá ordens e fiscaliza o seu cumprimento em parceria com os governos colaboracionistas.
Há quem goste.
Não só não acredito na teoria de desintegração da UE (contra-histórico), como gostaria de relembrar um ponto fulcral dos ensinamentos democráticos de J.J.Rousseau:
ResponderEliminarConforme o tamanho do estado há um tipo de governação mais plausível de resultar: quanto maior for mais autoritária a sua governação; quanto menor for o estado mais democrática pode ser.
A Alemanha? Qual potência relutante qual quê.
ResponderEliminarA Alemanha sabe muito bem o que quer e as aventuras militares gozam ainda de muito pouca popularidade entre eles. Mas seguem em frente para o que é essencial e o essencial gira à volta do seu país e do seu Euro que tanto lhe tem dado a ganhar.Para quê avançar com o exército se conseguem a hegemonia europeia sem gastar um tiro e com uma margem de lucro enorme?
A UE está a desfazer-se. Os interesses das grandes potências nunca deixaram de o ser. A pretensa partilha de soberania é uma fraude. Há uns que são mais iguais do que outros. Ora os interesses da França e da Alemanha dificilmente se vão equilibrar sem uma potência como o Reino Unido para manter algum distanciamento e para suster um pouco o abraço hegemónico de Berlim. É uma questão mesmo de tempo para os franceses mandarem Hollande e Valls para o diabo. Eno dia em que estes votarem pelo sim ou não ao Euro ou mesmo à UE os resultados vão ser menos surpreendentes que o Brexit. Nem o namoro das instituições europeias aos franceses lhes vai servir para alguma coisa
Carlos Sério tem toda a razão no seu resumo.
ResponderEliminarUma observação contudo. Os que gostam podem um dia ser apanhados na curva da estrada pelos que não gostam mesmo nada. E são estes que estão a crescer. Basta ver as estatísticas da própria UE.
O Ricardo haveria de melhor usar os seus chapéus.
ResponderEliminarNão pode, usando o chapéu científico, dizer que compete à Europa esperar até ao final do ano para saber se haverá ou não infracção às regras ou aos compromissos europeus, quando o governo afirma não haver nada a alterar.
Esse é o seu chapéu político, e use-o quanto queira mas sem se dar ares de verdade científica!
E só pode dizê-lo, como político, porque a Política,de arte do possível, passou a ser a arte do engano!
Essa dos chapéus é dum chapeleiro.
ResponderEliminarMelhor, dum barreteiro, que anda a tentar enfiar barretes.
Repare-se como de substantivo não há nada no "comentário " do sujeito das 8 e 52 : "chapéus,chapéu,verdade, científica,só pode,possivel, político,arte, arte (de novo), engano".
Uma ladainha sem substância nem tino.Com uma acusação final a ver se passa.
Um verdaderio artista. Do engano a ver se engana.
Vem de longe e por isso amava Salazar mais a sua arte do cacete, perdão , do possível.
Ou de como nem todos somos iguais, por mais que isso afecte o princípio do barrete
Eu gostava de lembrar aos que afirmam que a UE se está a desagregar que podem ser acusados de 'wishful thinking'. E mais, cuidado com o que desejam. É que a situação política no RU mostra que os populistas não dispõem de uma estratégia alternativa para o que fazer num dia seguinte a um referendo (tanto assim que se estão a retirar de cena). O RU provavelmente vai precisar de 7 anos para renegociar todos os acordos de comércio e os prognósticos económicos não são risonhos, até porque vai provavelmente perder o acesso ao Mercado Comum, uma vez que as principais candidatas à liderança do Partido Conservador já afirmaram que irá mesmo haver controle de fronteiras. Não vem aí uma catástrofe, mas é provável que aqueles que estão nos escalões mais baixos da sociedade sofram com isto (e não, Corbyn não conseguirá ganhar qualquer eleição). Portugal seria particularmente atingido por uma desagregação da UE, porque a situação dos nossos emigrantes ficaria em risco e arriscaríamos um regresso de muitos, e porque não teríamos acesso aos fundos estruturais. Mais, nada garante que depois de uma saída do Euro não seríamos obrigados a políticas orçamentais restritivas, já que a nossa reputação ficaria seriamente abalada depois de um default, ou mesmo de uma reestruturação acordada da dívida, se quiséssemos ter acesso aos mercados financeiros (não vi ainda ninguém dizer, nem aqui neste blog, que Portugal deve deixar de pedir dinheiro emprestado nos mercados, apenas ouvi dizer que eles facilmente (!) perdoam a bancarrota dos países). Ou seja, se o objetivo dos soberanistas é uma revolução política, então estão a ser coerentes, mas se é simplesmente uma melhoria das condições de vida dos mais pobres, então aconselha-se prudência... De nada serve retomar o controlo se for sobre um deserto... E, já agora, afirmar que os alemães per si têm intenções hegemónicas é uma boa forma de prolongar estereótipos. A xenofobia do fraco ao forte não é menos censurável, só mais compreensível...
ResponderEliminarEmbora esteja de acordo com o conteúdo do post , a ameaça de sanções a Portugal poderá ser um ataque especifico contra a actual maioria parlamentar , no fundo será um acto de vingança.O actuante é a Eurocracia de Bruxelas com os seus comissários mas o mandante , sem qualquer dúvida, é a Alemanha que se encontra por trás,essencialmente o seu ministro das finanças , um indivíduo que tem desferido sucessivamente ataques a Portugal.
ResponderEliminarA saída do Reino Unido da UE poderá ser o começo de uma cisão de dimensão apreciável. O Reino Unido tem todo o mercado do Comonowelt e poderá regressar à EFTA e convidar outros países a fazê-lo, sendo assim a UE seria fraccionada e o Euro teria os dias contados.
ResponderEliminarMais uma vez Jaime Santos agita os seus fantasmas. E um deles é Corbyn.
ResponderEliminarAinda não percebeu um princípio básico do jogo democrático, quer a nível da tradução da vontade duma sociedade quer a nível de eleições envolvendo militantes de partidos.
E infelizmente sofre daquilo que acusa os demais : 'wishful thinking'
A definição de populista tem vários sentidos. Populista pode ser por exemplo quem acusa os demais de populistas. Mas num outro sentido mais amplo já João Rodrigues alertara aqui em tempos num seu post certeiro para o uso da palavra "populista " por certas elites que se notabilizam na defesa da manutenção do status quo
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/05/arriscar-ser-populista-e-euroceptico.html
Num parágrafo notável e desmascarando essa coisa de nome António Vitorino.: "recordo o europeísta Vitorino, um dos que dirige o cada vez mais irrelevante e bizarro culto Delors, quando afirmou um dia que “a linha entre populismo e cosmopolitismo é a grande confrontação na Europa”. Esperemos mesmo que seja e que o povo português encontre forma de ganhar este confronto e de retirar poder aos vende-pátrias, o verdadeiro significado desse cosmopolitismo nas presentes circunstâncias, aos que têm andado estas últimas décadas a defender o, e a beneficiar do, esvaziamento da soberania nacional e logo da democracia na escala onde esta pode existir."
Quanto à famosa falta de estratégia que Jaime Santos passa aqui o tempo a perorar o que esperava este?
ResponderEliminar"Os Nigel Farages (chefe do UKIP) e os Boris Johnsons do mundo são particularmente incapazes de liderá-los em qualquer luta contra a finança globalizada (de facto, como todos os fascistas, o UKIP estaria à espera de ser cortejado pelo capital financeiro e o mesmo seria verdadeiro em relação a Johnson)."
Ora onde está o capital financeiro, de que lado votou o capital financeiro? Do lado do Remain
Continuemos a ler Prabhat Patnaik, um economista indiano:
ResponderEliminar"é o capital financeiro globalizado, não importa quais as suas origens nacionais, que se opõe ao Brexit). A City sempre foi resolutamente a favor da Europa, a fim de frustrar a ambição de Frankfurt de substituir Londres como centro financeiro do continente, o que seria o caso se a Grã-Bretanha se afastasse. A City foi instrumental na promoção da entrada da Grã-Bretnha na Europa. Ela também foi instrumental em livrar-se de Margaret Thatcher como primeiro-ministro quando ela começou a exprimir sentimentos anti-europeus. Mesmo neste referendo, a City fez campanha vigorosa contra o Brexit. E não deveria ser surpresa que além da Escócia e Irlanda do Norte, onde sentimentos pró-europeus podem ter sido fortalecidos por um nacionalismo anti-inglês (o que mais uma vez testemunha uma leitura totalmente errada da situação por parte da esquerda que de outra forma poderia ter acalmado suas preocupações), a única outra região do país que apoiou a "permanência" fosse a cidade de Londres (apesar de Boris Johnson). Sem dúvida o facto de Londres ter uma população imigrante apreciável que estaria inclinada a opor-se ao Brexit foi um factor por trás da sua votação no "remain". Mas a influência do capital financeiro britânico também desempenhou um papel significativo".
Curiosa esta nota do voto no Remain em Lodres...apesar de Boris Johnson
"Quase todos os comentaristas que dissertaram acerca do voto do eleitorado britânico a favor do abandono da União Europeia, quer da direita quer da esquerda, deixaram de captar o ponto essencial do mesmo: que se trata de uma revolta maciça contra a hegemonia da finança globalizada. Na verdade, o facto de não terem percebido este ponto é em si mesmo indicativo da omnipresença desta hegemonia entre os literati, dos quais o eleitorado britânico, de modo interessante, parece ter-se libertado substancialmente.
ResponderEliminar...Eles em suma defendiam a globalização, a qual sustentam ser benéfica, enquanto ignoravam sua principal característica, nomeadamente a globalização do capital financeiro, cujas consequências perniciosas preferiram ignorar.
Esta tendência de destacar os benefícios da globalização ("traz maior aproximação à espécie humana"), enquanto se minimizam as implicações da hegemonia do capital financeiro sobre este processo, caracteriza, infelizmente, a atitude de grande parte da própria esquerda europeia. Grande parte desta esquerda tem sido uma forte apoiante da União Europeia, como corporificação da transcendência de conflitos "nacionais" que infestaram a Europa na primeira metade do século XX, muito embora a própria UE tenha sido dominada pelo capital financeiro alemão. A referida esquerda procurou ultrapassar esta contradição óbvia com a esperança irreal, a qual não é senão uma mera suposição, de que dentro da UE a hegemonia do capital financeiro alemão pode ser neutralizada (negated) através de pressão democrática.
...Este processo também incapacitou a esquerda como um todo de se tornar uma força coerente, deixando assim o caminho aberto para partidos de extrema-direita, racistas, fascistas ou semi-fascistas aproveitarem o descontentamento do povo com a crise engendrada pela globalização sob a hegemonia do capital financeiro.
O facto de o voto "exit" ter sido aparentemente influenciado pela retórica contra a imigração (as regras da UE impõem que todos os países membros aceitem imigrantes dos outros países membros) e portanto tingida por uma visão racista do mundo, foi mencionado pelos seus oponentes como argumento para rejeitar a opção da "saída". Não está claro em que medida esta acusação é verdadeira. Mas, qualquer que tenha sido o matiz racista atado ao campo do "exit" ele verificou-se precisamente porque a esquerda e o centro-esquerda (incluindo acima de tudo o Partido Trabalhista) preferiram ignorar a cólera do povo contra o alto desemprego e a crise imposta pelo capital financeiro e pediram-lhe que votasse pela "permanência".
Já lá iremos ao mito da Alemanha e à "xenofobia do fraco ao forte" um outro estereotipo curioso que também actua como uma cortina de fumo
Caro Ricardo, a frase:
ResponderEliminar"Por outras palavras, é preciso reduzir os salários, as pensões, as transferências sociais, os direitos sociais e laborais, tudo isto visando aumentar as exportações, atrair o investimento, reduzir a despesa pública e, desta forma, tornar os países mais auto-suficientes."; faz muito pouco sentido. Sendo a lógica do pensamento de quem manda, é muito ilógica. Os países que conheço terem esse modelo económico, são sub-desenvolvidos ou lá perto. Basear tudo nas exportações é entregar-se de mãos atadas aos ciclos infernais do modelo capitalista; qualquer convulsão e lá vamoss nós. Talvez na China funcione mas não aqui. Esse, não é, de resto, o modelo das Economias avançadas e com forte componente exportadora. Em primeiro lugar os salários não são mínimos, segundo, o nível de formação médio permite adaptar-se a novos desafios de forma menos dolorosa e por fim, em terceiro lugar, esses países não exportam nem cerveja nem azeite, mas sim alta tecnologia sobre rodas entre outras formas de morrer ou matar, por entre máquinas e medicamentos para salvar vidas. Já para não falar no nível de estado social que alguns desses países possuem. Sendo este o argumento central do seu texto, pareceu-me dever expôr a contradição.
Saudações,
Sandro
Caro anónimos, O meu uso do termo populista refere-se neste contexto apenas aos populistas de Direita que lideraram a campanha do Brexit. Mas também há populismo de Esquerda, é verdade. Um político populista (de Esquerda ou de Direita) pode ser reconhecido por ser incapaz (por incompetência ou por má fé) de fornecer descrições detalhadas sobre a forma como deseja implementar as suas propostas políticas (policies), ou ainda por considerar que o 'Due Process' da Democracia Representativa é uma forma de dominação (o referendo marcado agora por Orban contra a UE é um bom exemplo desta atitude). Mas só os populistas de Direita são capazes de acicatar os ódios de grupos desfavorecidos contra pessoas ainda mais fracas. Isto não esgota as características dos populistas, mas o espaço não chega. É algo difícil de definir, mas tal como a pornografia, se virem um populista reconhecem-no, com certeza. Nesse sentido, o que se passa agora no RU é um perfeito exemplo de populismo. Johnson, Gove e Farage juntaram a incompetência, a mentira e a má fé ao ódio aos estrangeiros...
ResponderEliminarO facto de que o Capital Financeiro queria que o RU permanecesse na UE tem de facto explicações simples, a saber, a garantia de que a City pode continuar a operar como Centro Financeiro da Europa e que o RU mantém o acesso ao Mercado Único. Para além disso, a capacidade de firmas britânicas poderem continuar a contratar trabalhadores estrangeiros (qualificados ou não qualificados) também dá jeito, entre outras razões porque reduz o salário médio. Sucede que as pessoas no RU não votaram contra o Capitalismo Global, nem contra a City. Votaram para sair da UE. Ponto. O facto desta ser uma organização que defende um modelo económico capitalista, não implica que quem contra ela é seja necessariamente anti-capitalista. Acham que Ruppert Murdoch, ou Dacre ou Farage são exemplo de Socialismo? Acham que os 60% dos votantes Conservadores que votaram pelo Leave são Socialistas? Como sabemos, o Capitalismo tem uma notável capacidade de se adaptar, e encontrará certamente vantagens num País governado por Theresa May ou por Andrea Leadsom. Já as zonas pobres de Gales que ficarão sem fundos comunitários, ou os trabalhadores que perderão as (escassas) proteções das Leis Europeias, provavelmente ficarão pior. É revelador que Lord Lawson, antigo Chanceler Conservador (que vive em França), tenha dito que o Brexit permitirá acabar o trabalho de Thatcher e transformar a Economia Britânica na mais dinâmica da Europa e servir de exemplo aos países do Continente (ver http://www.bbc.com/news/uk-politics-36717050). Heads I win, tails you loose...
Precisamente porque o termo "populista" é controverso e é usado como arma de arremesso muitas vezes de forma imprópria e demagógica à boa maneira populista foi feita a chamada de atenção
ResponderEliminarNada se retira do que se disse sobre tal termo.
As pessoas votaram para sair da UE.
ResponderEliminarQue enorme avanço metodológico. Aleluia pelo reconhecimento do facto.
Até que enfim que não se vem com a treta sobre a vitória da direita e da extrema-direita.
A saída da UE representa um Não a esta globalização forçada.
O que se afirma acima é isso mesmo: que se trata de uma revolta maciça contra a hegemonia da finança globalizada. Quem quiser que o contradiga.Mas é ver aí todos os "globalizadores" em processo de semi-histeria. Como a city. E quanto aos motivos pelas quais a city queria ficar na UE sabemos nós quais são. Apontadas algumas, há que dizer que esse é mais um motivo de satisfação pelo Brexit.
Não , não se trata dum voto contra o capitalismo ou contra o capitalismo global seja lá o que isso for. Ninguém tirou tal conclusão. Ninguém o disse. Isso é pura estultícia. O que se anda há dias a dizer é que foi um voto contra esta UE. Tão simples como isso.Pelo que não adianta colocar palavras nos outros que nunca se disseram.
O que se diz, num tom muito directo e muito firme, é que a esquerda devia ter optado de forma decidida pelo apoio às classes trabalhadoras e pelo apoio ao trabalho. Por estar ao lado da "cólera do povo contra o alto desemprego e a crise imposta pelo capital financeiro" . Assumindo um papel que cabe à esquerda. E identificando claramente o inimigo.
O liderar a contestação à UE , a esta UE é um dever de quem defende o trabalho contra o capital.Ao contrário do que pensam muitos intelectuais, incluindo de esquerda, tal ideia tem receptividade entre as populações. Estas não precisam que lhes digam que vão sofrer e os que mais vão sofrer são os pobres e os que não vão ter acesso aos fundos comunitários e outras palavras pias.
ResponderEliminarEles já sofrem.Todos os dias e de há anos para cá. E cada dia que passa mais se sentem humilhados e esmagados
Eu repito a frase que alguns não gostam:
A posição a favor da UE é o melhor “agente de recrutamento do UKIP na Grã-Bretanha”.
Abandonar princípios e não ver a realidade, ignorar o sentimento que cresce contra este modelo de sociedade é deixar campo livre a todas as xenofobias, a todos os movimentos de extrema-direita. É trair a esquerda e fazer crescer a extrema-direita
Vamos a ver se Lord Lawson terá razão. O que sabemos no entanto desde já, é que todo o poder económico, precisamente aquele que esmaga quem trabalha , que se apropria da maior parte da riqueza produzida, está contra o Brexit. E é este poder que mais cedo ou mais tarde irá alimentar os movimentos fascistas e racistas.
ResponderEliminarComo poderiam Johnson ou Farage assumir um papel de relevo pós Brexit, se o Capital está tão "zangado" com eles? Eles não são nada sem o apoio da City e dos grandes patrões. Eles estão limitados na sua actividade porque são a expressão de classe dos interesses citados. Vão desaparecer de cena e só os mais interessados nas tricas e nos bastidores alimentaram conversas de folhetim sobre as motivações e as "indecisões" de tais personagens.
O que é importante passará por outros e para outros. E os factos aí estão para o demonstrar
"O desmoronar de um pilar importante do projecto de integração do «mercado europeu», designado por «europa» ou «união europeia», criou desespero e peles de galinha a quem o defende e seria difícil fugir ao tema pelo significado desse abalo no programa de exploração da «Europa dos cidadãos», sempre apregoado como «sem alternativa».
ResponderEliminarE talvez seja essa ideia de alternativa, ou a possibilidade de ela existir pela simples afirmação da vontade de um povo, a primeira impressão que ressalta do resultado de um referendo convocado como truque de ilusionismo eleiçoeiro que acabou por enterrar quem o concebeu, menosprezando a revolta, heterogénea mas real, contra essa «europa» abusiva e agressora que, para além de maltratar os seus cidadãos, leva a guerra a terras alheias, desestabilizando os regimes laicos do mundo árabe, recusando depois o apoio aos refugiados que causou, difusamente apresentados como potenciais terroristas ou como agressivos concorrentes dos que vegetam no mundo da miséria e do desemprego europeu."
" A segunda impressão será, provavelmente, a da aparente diversidade da motivação dos eleitores ou da heterogénea e contraditória forma de recusa de um estatuto de exploração, reflexo do mal-estar de um quotidiano ameaçador e precário, que aflora, indelével, mobilizando as classes e estratos sociais de mais fracos recursos.
ResponderEliminarBem podem os media ligar os defensores do «remain» a uma juventude letrada e cosmopolita e os do «Brexit» a pategos, desempregados e analfabetos, e à praga grisalha, numa conversa da treta já nossa bem conhecida. A verdade é que, se existe fragmentação, ela é fundamentalmente fruto de uma propaganda repetitiva, manipuladora e divisionista, constantemente martelada por uma comunicação social ideologicamente empenhada em afastar quem trabalha da defesa dos seus reais direitos, cada vez mais ameaçados por uma elite dominante predadora e retrógrada, que se sentiu mais forte depois da queda do muro de Berlim".
(Jorge Freitas Seabra)
Mas pelos vistos é preciso lembrar o que é esta UE. E de novo Jorge Freitas Seabra:
ResponderEliminar"O contraste entre o brutal tratamento dado à Grécia, como retaliação do referendo em que o seu povo recusou mais «austeridade», e as cedências feitas a Cameron só para assegurar o seu apoio no referendo britânico (afinal, como agora se vê, inutilmente…), ou a tolerância subserviente para com o elevado superavit alemão violador das mesmas «regras», dificilmente encontram qualquer justificação moral e muito menos democrática. O tratamento com pinças do défice gaulês «porque a França é a França» (Junker dixit), enquanto se ameaçam a Espanha e Portugal com «sanções», apesar dos «bons alunos» nacionais terem cumprido à risca a orientação que a sua «europa» lhes ditava, mostra a hipocrisia de toda esta farsa.
O próprio Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, retrata bem a podridão dessa «europa» do capital, capitaneada por Merkel que parece apostada em trazer à tona as piores lembranças de uma Alemanha que, depois da guerra, se queria «um país normal». Afastado, em 2013, de primeiro ministro do Luxemburgo devido a escandalosos favores fiscais prestados às multinacionais (o chamado Luxleaks), mas também - facto menos divulgado -, por, enquanto ministro do Interior, ter dado cobertura à polícia secreta do Grão-Ducado (SREL) implicada em tráfico de automóveis, proxenetismo, pedofilia e em duas dezenas de atentados bombistas nos anos 80, falsamente atribuídos aos comunistas numa «estratégia de tensão» para favorecer a emergência de um regime autoritário (Le Monde 10/7/2013 e relatório SREL), esta figura, tão falsamente sorridente como sinistra, foi premiada com a ascensão ao cargo que hoje ocupa à frente da Comissão Europeia.
A sua nomeação e permanência após ter rebentado o escândalo do Luxleaks, contou com apoio do Grupo Socialista Europeu, talvez porque, como então justificou (sem se rir) a eurodeputada Ana Gomes, se a ideia era a de combater a fuga ao fisco, «nada melhor que um caçador furtivo para dar caça aos caçadores furtivos»…
Contudo, apesar dessa sua habilitada colaboração, pouco mudou quanto à fuga dos grandes às suas obrigações tributárias (como mostram os «Panamá papers»), e quem acabou por ser condenado pelo o Tribunal Criminal do Luxemburgo não foi o «caçador furtivo» que ajudou a roubar os cidadãos europeus para encher os bolsos de mais de três centenas conhecidas multinacionais - entre as quais a Aple, a Ikea, a Starbucks, a Amazon, a Fiat, a Vodafone, a Timberland, a Pepsi, a Heinz, a Burberry, a Louis Vuitton -, mas os dois funcionários da consultora Pricewaterhouse Coopers, uma das «Big Four» (as outras são a Deloitte, a Ernst & Young e a KPMG), organizadoras do fraudulento esquema.
Antoine Deltour e Raphael Halet tiveram a coragem de denunciar a trapaça e puseram Junker e associados a descoberto. Por isso, foram agora condenados, embora com pena suspensa, depois de terem sofrido inúmeros incómodos e pressões. A mensagem para o vulgar cidadão não podia ser mais clara: vejam o que acontece se quiserem (ou ousarem) fazer o mesmo!"
A luta contra a globalização está em alta.
ResponderEliminarOs seus defensores falam disso abundantemente mas abstêm-se de formular as políticas que viabilizam esse projecto.
Como o tema não me interessa não vou desenvolvê-lo mas chamo a atenção para uma das acções desse tipo mais estruturada e consistente: a criação por Maduro do Ministério Popular para a Agricultura Urbana.
Repensar o uso do telemóvel parece-me uma via também muito prometedora.
Peço desculpa, mas alguém acima disse e cito, que o voto no Brexit é 'uma revolta maciça contra a hegemonia da finança globalizada'. Se assinassem o que escrevem, eu saberia a quem me dirigir. Por isso, convém dizer alto e bom som que o Brexit representou e só a saída do RU da UE. A maioria do eleitorado que votou Leave votou na Direita e a hegemonia da finança certamente que não o preocupa, têm votado a favor dessa hegemonia desde Thatcher. Pode ser-se a favor do Brexit porque se deseja a devolução de poderes a Westminster, ou porque se deseja controlar a imigração, ou porque se deseja o fim da regulamentação de Bruxelas (incluindo as garantias de direitos sociais). Isso é perfeitamente coerente. Assim como se pode celebrar do lado de cá da Mancha esse voto porque ele faz soçobrar a UE ou porque deslocará o seu centro financeiro de Londres para Frankfurt. Isso também é coerente. Agora, dizer que o voto no Brexit é do interesse dos trabalhadores, quando estes perderão apoios e direitos e serão confrontados com um Governo ainda mais à Direita do que o de Cameron, isso é ter pouco sentido tático. A Brexit representa uma saída pela Direita, gostem os seus defensores ou não. A não ser que se pretenda sacrificar o bem-estar presente das pessoas a supostas conquistas futuras. Sucede que as pessoas não são instrumentos e a melhor forma de garantir os seus interesses é através de medidas de cariz reformista, como a História bem mostra aliás...
ResponderEliminarA maioria do eleitorado que votou no Brexit votou na direita.
ResponderEliminarEis uma afirmação temerária que carece de confirmação. Votou na direita quando? No acto do referendo não o foi porque não era isso que estava em jogo.
O Brexit é um espinho encravado na direita e na extrema-direita.E aqueles que se submetem aos ditâmes dos grandes interesses económicos.
A maioria do eleitorado não votou na direita. Votou na saída da UE.
ResponderEliminarCitando:"Labour, meanwhile, has gone into self-destruct mode with even more abandon, as party high-ups scramble to avoid blame for a collective failure to recognise the most basic concerns of millions of traditional Labour voters – concerns which ultimately tipped the national balance in last week’s historic vote to Leave."
Ou de como foram os votantes tradicionais do Labour que votaram Bexit.E que inverteram as contas e a chantagem das elites britânicas e da alta finança.
Se os juízos de opinião são legítimos e as leituras díspares são bem-vindas não se pode todavia partir destas para se tirarem conclusões que os factos demonstram ser errados
Ainda bem que foi reconhecido que o voto no Brexit foi o voto na saída da UE.Logo foi um voto contra esta globalização forçada. O povo britânico disse que não queria este modelo "evolucionista". Disse que quer um trajecto alternativo.Afinal não há um caminho único e inevitável
ResponderEliminarIsto são evidências básicas.
Não se percebe como se tira a conclusão que o povo britânico não votou contra a hegemonia da finança no Brexit e se afirma imediatamente a seguir que se votou desde Thatcher a favor de tal hegemonia. A distorção da interpretação dos factos de acordo com o que se pretende demonstrar a posteriori não colhe.
ResponderEliminarTal como não colhe este perpétuo e contínuo fechar de olhos a uma evidencia básica. Os eleitores não querem esta UE. Estão fartos dela.
E mais uma vez se avisa porque parece que não se aprendeu a lição. Se mais referendos houvera,mais "surpresas" surgiriam no campo dos que continuam apostados em considerar que esta Europa interessa ao mundo do Trabalho.
Veja-se o rasgar de vestes e a histeria pelo Brexit de quem detém o poder económico Os que se apropriam da riqueza produzida sabem bem o que está em jogo. E as vozes e o camor contra este estado de coisas cresce.
Entretanto, no directório, os vários interesses começam a surgir e a degladiar-se. A confirmar que esta UE é uma fraude.E a denominada "partilha de soberania" um isco e uma enorme treta
Eles querem que nos contentemos com um bicicleta roubada Grande Sicca, andava eu a estudar quando vi este filme numa sessão do CCUL). Agradeço ao RPM os seus doutos pontos de vista, não só aqui como nos "Números do Dinheiro" (apesar de ter de gramar com BdM) e neste momento estou lendo "A Economia como desporto de Combate" com muita atenção. Não sei como arranja tempo para tanto.
ResponderEliminarO filósofo islâmico do século XIV, Ibn Khaldun, estimava que toda dinastia se esgota em cerca de 120 anos (quatro gerações). A tendência é arrancar com um progressista "sentimento de grupo" de ajuda mútua. Mas com o tempo, as dinastias sucumbem ao luxo e à cobiça e tornam-se corruptas e facilmente manejáveis por interesses especiais.
ResponderEliminarO mesmo pode ser dito de partidos políticos. Todo partido que se identificou com a esquerda na Era Progressista – o Labour e partidos socialistas da Europa, bem como o Partido Democrata nos EUA – moveram-se agora para a direita neoliberal pois tornaram-se parte do "establishment".
É como se partidos de esquerda e direita houvessem comutado de posições politicamente. A esquerda socialista não está a protestar contra a austeridade da eurozona, mas aplaude-a. Tal como Tony Blair e Gordon Brown na Grã-Bretanha, eles tornaram-se thatcheristas, pressionando pela privatização e o corporatismo"
(Michael Hudson).
"Os tablóides britânicos opuseram-se à UE ao retratarem burocratas não eleitos de Bruxelas a fazerem leis que obrigavam a Grã-Bretanha. O argumento era em grande medida um apelo nacionalista a "leis britânicas para ajudar o povo britânico".
ResponderEliminarO problema real não é simplesmente que burocratas estejam a fazer as leis, mas a espécie de leis que estão a fazer: a favor da banca, da austeridade anti-trabalho. A política fiscal e da despesa pública foi retirada das mãos dos governos nacionais e entregue aos centros bancários. Eles insistem na austeridade e em desescalar pensões e programas de gastos sociais.
Os tratados de Maastricht e Lisboa – juntamente com a constituição alemã – privam a eurozona de ter um banco central que gaste dinheiro para ressuscitar a economia europeia. Em vez de trabalhar para aliviar a economia da deflação da dívida que se tem verificado desde 2008, o Banco Central Europeu (BCE) financia bancos e obriga governos a salvar de perdas os possuidores de títulos ao invés de cancelar parcialmente (writing down) dívidas podres.
Em matérias importantes, os burocratas de Bruxelas parecem bastante inclináveis às pressões estado-unidenses para assinar o TTIP: o neoliberal Tratado Transatlântico e de Parceria de Investimento da administração Obama. Isto é um programa corporatista que transfere a política regulatória para mãos corporativas, afastando-a do governo: política ambiental, política de saúde pública e de etiquetagem de alimentos para começar.
A burocracia de Bruxelas foi sequestrada não só pelos bancos como também pela NATO. Ela pretende que há um perigo real de a Rússia montar uma invasão militar da Europa – como se algum país no mundo de hoje pudesse montar uma guerra terrestre contra outro.
Esta ameaça fictícia é a desculpa para reservar 2% dos orçamentos europeus para gastos com compras de armas do complexo militar-industrial dos EUA e dos seus congéneres em França e de outros países. Belicistas de Bruxelas-NATO são utilizados para descrever a esquerda favorável ao trabalho como "frouxa" quanto à segurança nacional – como se a Europa realmente enfrentasse um problema de invasão russa. Oponentes à euro-austeridade são pintados como agentes de Putin.
A voz dissidente tem sido o partido da Frente Nacional de Le Pen, em França. Ela condena a participação francesa na NATO, considerando que esta cede controle militar aos EUA e ao seu aventureirismo.
Aquilo que costumava ser uma esquerda socialista tem estado silenciosa acerca do facto de que há muito boas razões para o povo dizer que esta não é a espécie de Europa de que pretende fazer parte. Está a tornar-se uma zona morta. E ela não pode ser "democratizada" sem substituir os tratados de Lisboa e de Maastricht sobre os quais está fundamentada e remover a oposição alemã a gastos públicos com a recuperação da Espanha, Itália, Portugal, Grécia e outros países.
O que é notável é que face à ascensão de ressentimento por parte dos "perdedores" do neoliberalismo – os 99 por cento – só partidos nacionalistas de direita tenham criticado o neoliberalismo da UE e o TTIP. Os partidos socialistas antes de esquerda da França e Espanha, os social-democratas alemães, socialistas gregos e assim por diante endossaram o programa de austeridade neoliberal e a favor da finança e reduzem o poder de sindicatos, salários e pensões"
(Michael Hudson).
"Antigos partidos de esquerda idiotizaram-se e rejeitaram as suas origens favoráveis ao trabalho para apoiar o thatcherismo, a privatização, orçamentos equilibrados e austeridade em favor da banca. Ao rejeitarem Marx, eles aderiram à Nova Guerra Fria.
ResponderEliminarHá uma outra economia europeia que é possível. Mas ela não pode ser construída sobre as fundações actuais. É necessário dissolver a eurozona para reconstruir uma Europa favorável ao trabalho.
(Michael Hudson)