segunda-feira, 25 de julho de 2016
Perdidos ideologicamente na tradução
“Um súbito aumento da população, frequentemente concentrado em regiões específicas, produzirá também um aumento excessivo de serviços públicos-chave, como a educação e os cuidados de saúde.” Excerto de um artigo do social-liberal Adair Turner sobre o Brexit.
No entanto, no Negócios perderam-se na tradução: “overcrowding”, no original, não é obviamente “aumento excessivo”, mas sim sobrelotação, como de resto se percebe pela frase completa (bem sei que corrigida deve ser soar chocante para certos ouvidos):
“Um súbito aumento da população, frequentemente concentrado em regiões específicas, produzirá também uma sobrelotação de serviços públicos-chave, como a educação e os cuidados de saúde, a menos que isso seja compensado por um aumento bem planeado e bem financiado do investimento público. No Reino Unido, esse investimento não aconteceu.”
Não é a primeira vez que vejo jornais portugueses perdidos ideologicamente na tradução. Seja como for, a posição de Turner é crescentemente contraditória, dado que as forças da globalização, e a sua expressão continental, a UE, impedem as tais políticas bem planeadas que incrustrariam social e democraticamente a economia. Para tal, é preciso mesmo desglobalizar...
A globalização é a pretexto dos capitalistas para destruírem o que os trabalhadores conquistaram!
ResponderEliminarCom a globalização os capitalistas viram ao seu dispor milhões e milhões de desesperados por qualquer coisa acima da miséria que estão habituados, mas existem muitos mais milhões que também querem algo acima da miséria que estão habituados.
Quando os capitalistas acharem que estão a pagar demasiado ao trabalhador chinês há sempre um Bangladesh ali ao lado, quando os capitalistas acharem que estão a pagar demasiado ao trabalhador do Bangladesh há sempre o Botsuana e por aí adiante! E entretanto, os trabalhares da Europa, EUA e outros países em vias de desindustrialização tornaram-se miseráveis como os outros. O nivelamento está a ser feito por baixo, tal como sempre foi o desejo dos capitalistas!
Não é apenas a radical direita radical neoliberal que é responsável, a esquerda é também responsável por este nivelamento por baixo, porque boa parte da esquerda é europeista e globalista sem que queira saber as consequências para quem vive do seu trabalho!
A arrogância e o auto-convencimento não permite que eles vejam, mas esta esquerda europeísta-globalista está a cometer o suicídio e quem está a recolher despojos (votos) é a outra extrema direita (nacionalista e racista), a direita da Le Pen e Trump.
Entre 'aumento excessivo' e 'sobrelotação' vai a eventual diferença que ideologicamente separa a transferência da população do aumento da população.
ResponderEliminarSendo necessariamente o aumento a requerer maior investimento, e sendo na reacção a tais aumentos que o Brexit se consolidou, eu diria que essa oração antiglobalização deveria satisfazer o João Rodrigues por ideológica e linguisticamente correcta.
Não será só incompetência? Não se devem invocar conspirações quando a incompetência chega. Os nossos jornalistas não se caracterizam por uma cultura vastíssima, pelo contrário. Quanto à sua conclusão sobre a necessidade de desglobalizar, regista-se a clareza da posição. Só é mau que para uma Economia aberta como a nossa, que depende em grande medida do mercado exterior, veja a contribuição do turismo para quase 10% do PIB no ano passado, a desglobalização seja uma má notícia. Mas, como de costume, e de forma não muito diferente da Direita, utilizam-se termos de caráter mais ou menos técnico (o newspeak do Orwell se quiser), sem se explicar às pessoas quais são as ideias que realmente estão por trás desses ditos termos... Falta-lhe, João Rodrigues, um programa de Governo com muitos números lá pelo meio...
ResponderEliminar"eventual diferença que ideologicamente separa a transferência da população do aumento da população".
ResponderEliminarComo? que disparate é este?
Agora há uma separação ideológica entre duas realidades? E que ainda por cima, a julgar pelo exemplo dado, parece repousar no limbo das confusões conceptuais?
Mas o disparate infelizmente continua. Parece que, na sequência duma conclusão sobre a consolidação do Brexit, há uma outra conclusão do autor da frase em relação ao texto do João Rodrigues.
Ideológica e linguisticamente correctos?
Pois claro!
Não é este que esperneia só de pensar no Barroso como praça ou como marceneiro?
Confundir aquilo que diz a direita e a esquerda e depois acusar a esquerda de ter um discurso que não anda longe do da direita é, no mínimo, andar distraído. Embora se suspeite que haja aqui algum grau de desonestidade.
ResponderEliminarInvocar o turismo como prova das vantagens da globalização nem merece resposta. Ideologicamente formatados em defesa da dita cuja, parte-se para a demagogia com a mesma facilidade como se diz que a geringonça está agónica
Mas como interessa eacalpelizar o que é isto da globalização, então recorra-se a um texto, por acaso aqui linkado e do mesmo autor, datado de 2011 (!):
"Defender a “desglobalização” não é defender a autarcia, mas sim uma renegociação do grau de abertura da economia por forma a que esta volte a ser pilotada pelo poder político democrático, mantenha relações sustentáveis com o resto do mundo, reduzindo, na medida do possível, o poder da economia da chantagem, da opacidade, da desigualdade e da crise permanente.
Chantagem. A liberdade de circulação de capitais, reconquistada a partir dos anos oitenta, facilita as deslocalizações, a ameaça permanente que impende sobre os Estados e as classes trabalhadoras, o que favoreceu, por exemplo, a redução da taxação sobre o capital e dificulta a organização de uma corrida para cima em termos de standards ambientais ou sociais. Opacidade. As estruturas da finança liberal, de que os paraísos fiscais são um dos elementos centrais, facilitam todas as ilegalidades e todas reciclagens. Desigualdade. A abertura irrestrita às forças do mercado global é uma dos mais importantes factores na base da quebra de rendimentos do trabalho e do aumento de todas desigualdades económicas, comprimindo a procura salarial e substituindo-a por insustentáveis ciclos de crédito. Crise permamente. A intensificação da instabilidade financeira traduzida na multiplicação de crises financeiras, ou seja, de crises bancárias e/ou cambiais, é um dos principais padrões gerados pela globalização"
Há mais. Fica para depois.
(E o texto é de João Rodrigues: "Organizar a desglobalização". Como expressamente aí dito em cima)
Quanto à competência ou à não competência ou à incompetência. Ou mesmo quanto à invocação de teorias de conspiração....
ResponderEliminarIndependentemente das causas e das "traduções ideológicas" perdidas o que há que sublinhar é a necessiade de se corrigir tais desmandos jornalísticos. Porque assim se vai fazendo a narrativa do poder e das vias de sentido único. Assente também, como se comprova, nestes "aleijões" voluntários ou involuntários, embora se estranhe que a "qualidade" dos escribas penda as mais das vezes para.
Daí que haja que louvar o autor do texto pela sua atenção a estas objectivas manipulações ( independentemente do que está por detrás delas) e pela sua atenção em as tornar públicas.
Cuco, não te afoites para lá do beaba da linguística ou agravas a tua já triste figura.
ResponderEliminarLá está o das 17 e 08 preocupado com um cuco que terá posto os ovos em ninho alheio.
ResponderEliminarFreud explica.
Mas independentemente do diálogo cuco-questão pessoal do dito, talvez seja bom ele afirmar-se um pouco para lá do bê-á-bá da linguística.
Percebe-se que o seu "beaba" seja um acto falhado dos seus estudos da língua privada e peculiar. Invocaria possivelmente qualquer missa beata e o dedo escorregou-lhe, coitado , na sua ânsia de fazer rapidamente qualquer coisa.
Mas o pior não é de facto isso. É mesmo esse aviso angustiante à navegação sobre o ideológico que "separa a transferência da população do aumento da população". Ou a "oração... ideológica e linguisticamente correcta".
Um mimo, lolol.
Provavelmente o espernear pela imagem de Barroso como praça ou como marceneiro tem também algo de auto-referencial. (Embora estas sejam ambas profissões dignas, o que não se passa com a profissão de cortesã de luxo no caso da figura referenciada de Barroso).