Com poder de síntese, Jacques Sapir resume as regressivas alterações da legislação laboral, literalmente decretadas pelo governo francês, ao “pagamento de um resgate” à UE, em geral, e ao Euro, em particular, para ter uma limitada tolerância em matéria de défice, confirmando que a extorsão faz parte deste regime europeu de esvaziamento da soberania democrática nacional.
Numa outra reflexão, Sapir aponta para a natureza do movimento social em curso, comparando-o com o de 1995 e sublinhando nesse exercício uma eventual diferença: “constitui, na prática e mesmo que uma parte dos actores não tenha disso consciência, o primeiro movimento contra a União Europeia e as regras que esta impõe”.
Felizmente, existe uma certa França que se revolta, que recusa as medidas de Hollande, Valls ou de outro desses produtos de décadas de transformação do PSF num partido sem o S e sem o F (desde 1983, em nome da Europa...). É uma França que recusa então os termos de um pesadelo político: europeísmo social-liberal, na melhor das hipóteses, retintamente neoliberal na mais realista, ou extrema-direita. Por isso, tenho repetido por aqui a pergunta: como é que se diz depois queixem-se em francês?
Jacques Sapir não está sozinho e o facto de outro grande economia político soberanista democrático, Frédéric Lordon, ter emergido à sua maneira como uma espécie de Pierre Bourdieu nestes tempos é um bom sinal. Bourdieu foi, no ciclo de protestos de 1995, um dos raros e corajosos intelectuais públicos a intervir a favor das reivindicações populares, numa paisagem ainda dominada pelo ranço intelectual dos “novos filósofos” e similares neoliberais. O Le Monde diplomatique, onde Bourdieu também escrevia e onde Lordon hoje escreve, era e é uma ave rara numa imprensa cada vez mais empresarialmente condicionada.
Pode ser que entre a CGT, o movimento Noite a Pé e a candidatura presidencial de Jean-Luc Mélenchon surja algo das cinzas da esquerda francesa, a que entretanto ardeu nas chamas do europeísmo social-liberal e dos compromissos eleitorais gerados por um sistema político injusto.
Temos de ter sempre uma certa França, também nas ideias que são forças materiais nas ruas e nas praças, fiel, em 2016, a um certo espírito de uma certa história que não acabou: 1789, 1848, 1871, 1936, 1945, 1968, 1995...
Todos querem uma moedinha para brincar às inflações e às lutas.
ResponderEliminarÉ outra vida, outra animação!
Competitividade pela eficiência, orçamentos equilibrados - tudo grandes secas que bloqueiam a livre expressão da criatividade dos trabalhadores e dos povos e ameaçam tornar irrelevante o papel dos treteiros nossos guias.
Muito bom post.
ResponderEliminarE com uma lufada de ar fresco a soprar de França
Moedinha anda este a pedi-la para os patrões dos colégios privados.
ResponderEliminarPara quando alguma higiene nestas caixas de comentários?
ResponderEliminar"Competividade" é uma das fórmulas usadas pelos darwinistas sociais. Necessário é manter a taxa de lucro para o Capital sem pátria
ResponderEliminarPela "eficiência" será a eficiência para assegurar a renda do estado a privados interesses de colégios privados. Ao mesmo tempo que se tenta por em cheque o ensino público. É esta a eficiência procurada por esta grande seca que anda aqui de cacete na mão e de ámen na boca.
"Treteiros" é a muleta usada quando quer dizer outra coisa. Que lhe salta do chinelo perante posts com esta clareza
Um prazer ler um texto em que se fala de Sapir, Lordon e Bourdieu.
ResponderEliminarMas sobretudo ler um texto em que se se destaca o surgimento dum "primeiro movimento contra a União Europeia e as regras que esta impõe"
"Felizmente, existe uma certa França que se revolta". A História de facto não acabou.
Cabe-nos a todos nós tomarmos o nosso destino nas mãos
O mais certo é a Le Pen acabar com a UE do que a esquerda francesa ou esquerda de qualquer outro país.
ResponderEliminarPorque a esquerda, quase toda ela, acha que acabar com a UE (tal como é hoje, ou completamente) é voltar aos tempos em que os europeus matavam-se como se matam hoje os árabes.
E porque a esquerda (dos partidos e opinante) acha que o problema da Europa se resolve importando milhões da África e Médio Oriente, a esquerda (dos partidos e opinante) que vá perguntar à outra esquerda (das ruas) o que acha dessa ideia…
A Front National avança com muitos dos votos dos trabalhadores e pessoas que votavam tradicionalmente na esquerda porque usa a retórica de esquerda + o medo das outras culturas.
Livre expressão da criatividade! hahahahahahahahahaha
ResponderEliminarComo é isso possível se não tens a mínima segurança enquanto trabalhador?!?!
Vai lá tentar ser criativo vivendo na pobreza!!
Execrável Jose!
Miserável Jose!
FASCISTA JOSE!!!!
E até te deves sentir elogiado, mas que fique claro para todos os que tem o desprazer de se cruzar com este verme, ele é mesmo um grandessíssimo fascista!
O diagnóstico está feito. Falta é reconhecer uma coisa, a saber, a profunda fraqueza dos países que aplicam as medidas de que fala o João Rodrigues. Poderá até ser injusto para a Esquerda da Esquerda, que sempre chamou a atenção para os perigos da mudança do modelo económico (mesmo se a alternativa apresentada de manutenção de indústrias mais ou menos obsoletas ou dependentes de recursos cada vez mais escassos, como a siderurgia ou as pescas, não fazia grande sentido), mas dada a presente situação, isso não interessa nada. Interessa quem está do lado fraco da corda e esses somos nós. Continuo, em todos os textos que leio, de autores portugueses ou estrangeiros (pode dar-se o caso de andar distraído, claro), a ver soluções como a 'saída do Euro' ou 'a recuperação da Soberania para o espaço em que pode ser exercida, o nacional', tratadas como uma espécie de 'Deus ex Machina', fazem-se e pronto. Com uma Esquerda como esta, incapaz de ir além dos slogans (e honra seja feita ao BE e PCP que moderaram as pretensões nesta matéria, talvez por terem concluído que é mais fácil dizer do que fazer), a Direita Neoliberal pode dormir descansada. O espírito do Syriza pré-Julho de 2015 está vivo e recomenda-se. É que, dado o caráter timorato, para não dizer colaboracionista, dos despojos da Social-Democracia Europeia, não esperem que sejam eles a apresentar soluções...
ResponderEliminarÉ na soberania nacional onde pode haver alguma espécie de democracia, não existe qualquer democracia europeia e nem vai existir porque está mais que visto que o interesse não existe.
ResponderEliminarComo disse João Ferreira do Amaral deixem-se de fantasias e sirvam os interesses dos 10 milhões de habitantes deste país.
A esquerda, que diz servir o povo, tem a obrigação de formular um plano de saída/ desmantelamento do Euro (e possivelmente da U.E.).
Existem pessoas em Portugal capazes tanto no carácter como em competências técnicas para apresentar uma solução à população.
Pode até ser que que a saída do Euro leve mais tempo que se desejaria devido a circunstancias técnicas, não se mudou do escudo para o euro de um dia para o outro, contudo, como o futuro do Euro e da U.E. é uma afronta à democracia, os responsáveis que ocupam cargos governativos simplesmente não podem ignorar este facto, eles não foram eleitos para servir o Euro/UE, eles foram e são eleitos para servir a população portuguesa!
Hoje estou meio sentimental, e quero ajudar o das 11:41.
ResponderEliminar«não tens a mínima segurança enquanto trabalhador?!?!»
Já experimentas-te ser útil? Justificar o que ganhas, e (ainda que a custo) contribuíres para que o patrão também ganhe algum?
Ò Jose, o que é que parasitas como tu, como o Passos, Relvas sabem o que é ser útil?!
ResponderEliminarNão passas de um salazarento frustrado com o facto de que a tua lenga-lenga fascista já ser percetível de muito longe!
No passado, como Jose ou Jgmenos, ainda te esforçavas em manter as aparências mas o reacionarismo veio ao de cima como era previsível, agora já só te restam provocações nada sofisticadas e insalubres.
Faz-nos o favor de ser útil e desaparece daqui de vez! Vai para o antro onde iguais a ti lambem as feridas do ego uns dos outros, porque muita pancada têm levado!
Já "experimentas-te"?
ResponderEliminarCoitado ..o filho do industrial foi para uma escola privada tirar uma espécie de "curso" para produzir uma coisa assim
Já experimentou ser útil? Justificar os escudos pagos pelo papá nessa fraude educativa? Justificar o que debita ( a custo para manter um nível mínimo) e contribuir para que as tolices não proliferem como cogumelos?
Mais do que as tolices...a pesporrência ideológica que acompanha esse perpétuo movimento para ver se os patrões ganham algum à custa da exploração do trabalho e à custa dos subsídios estatais.
O Estado Português não tem um plano B para o possível colapso da União Europeia, como algumas previsões mais otimistas sugerem…
ResponderEliminarA dissolução da U. E. arrasta-se porque os partidos/governos do grande capital se deixam levar pela cantilena pretensiosa do Imperio USA. ”Tudo menos um Estado Independente!” Os “europeístas” preferem a guerra, sentem-se protegidos pela NATO, como se uma guerra nuclear salve alguém do “Final Ultimo” !
A dissolução pacífica da União Europeia seria Ouro sobre Azul, mas pelos vistos preferem a falência desonrosa e o caos…
Tanto federalistas como não federalistas sabem o que e´ ´Viver´ sob regimes antidemocráticos e ditatoriais, sob a tirania de outros estados, monárquicos ou republicanos, todos sabemos e, as provas disso estão ´a vista desarmada, que a U.E e´ uma ditadura de tipo económico-farisaico. Preferem os anéis aos dedos
De Adelino Silva
Na perene demonstração de quanto é ineficiente a UE (para dizer o menos), fala-se com frequência na iniciativa dos USA que rapidamente os tirou da recessão e relançou a economia.
ResponderEliminarMas sempre que se abordam os instrumentos que dão à economia dos USA a agilidade que é fundamental razão dos seus sucessos, as virgens rasgam as vestes!
E quando digo abordar, estou longe de defender e recomendar a integralidade do modelo US, mas a idiotice 'fisiocrática' da estabilidade dos meios de produção, mormente da força de trabalho, e vai daí dá-lhe de precariedade e dá-lhe de direitos e garantias e toma de estagnação, degradação e desperdício de tempo e de
oportunidades.
Sejam servidos.
Esta aí do "meio sentimental" significa exactamente o quê?
ResponderEliminar-Uma crise de pieguismo a desobedecer às ordens formais do admirado Passos/Relvas?
-O enfileirar na agenda dos coitadinhos que foi criada propositadamente pelos algozes para culpabilizar as vítimas e que este está sempre a citar?
-O assumir uma lagrimazita ao canto do olho pelo remorso de nunca ter justificado o que ganhava, tendo sido apenas um instrumento útil ao patrão para que este ganhasse cada vez mais através da exploração e da corrupção instalada?
Ineficiente a UE?
ResponderEliminarMas para quem é ineficiente? Deixe-se de fitas de virgem a fingir que é púdica e recatada
É que é sobremaneira eficiente para os grandes interesses , nomeadamente para o grande capital alemão. E como se sabe este tipo das 23 e 42 serve a idiotice fisiocrática e em alemão...
Enquanto bufa contra o trabalho com dignidade e com direitos
«"No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade."»
ResponderEliminarEstranhamente, os que a todo o tempo proclamam o seu horror pelos mercados, pretendem criar um mercado para a dignidade, com cotações bem definidas pelo regulador!
Já não há mercado do trabalho, há o mercado da dignidade!
Não é difícil comprender o que Kant quer dizer com a frase aí em cima exposta.
ResponderEliminarContinuaria o filósofo na sua "Fundamentação da Metafísica dos Costumes": "o que se faz condição para alguma coisa que seja fim em si mesma, isso não tem simplesmente valor relativo ou preço, mas um valor interno, e isso quer dizer, dignidade."
Vê-se assim que a posição de Kant está nos antípodas do que a interpretação grosseira e manipuladora do das 01 e 03 quer fazer crer.
Fala Kant na dignidade humana.Traveste o das 1 e 03 tal conceito, vestindo-o com um "mercado da dignidade" e comparando tal ( até onde vai a desonestidade) ao deus mercado que adora e endeusa
Há mercado de trabalho há. E querem acabar com a dignidade, querem.
Basta ver os berros e os urros de quem saúda o roubo de salários e pensões.