terça-feira, 3 de maio de 2016

Eles ainda chegam lá

Um grupo de 51 pessoas apelou à “reconfiguração da banca”. Comecemos pelos subscritores de um documento que ocupou uma página do caderno principal do Expresso do passado sábado: vai do melhor ao pior, de João Ferreira do Amaral a Eduardo Catroga. Tal mistura não augurava em princípio nada de bom: uma daquelas mistelas do “meio” enviesado para a política de direita, dado o tema e o facto de lá termos responsáveis pelo estado a que isto chegou. Não é tão mau quanto se podia temer: lá se reconhece que a CGD tem de ser pública, que o controlo estrangeiro da banca, que está sendo organizado a partir do exterior, à boleia da União Bancária, é prejudicial à economia do país e que o “triste caso” do Banif não se pode repetir no Novo Banco, sugerindo-se para isso um adiamento da sua venda.

Neste contexto, admite-se um reforço da participação pública, como possibilidade, única forma de evitar novas tristezas, na realidade, mas tal só é admitido a “título transitório”, numa passagem algo obscura (e não são poucas). Sendo este o novo normal na banca, para muitos dos subscritores é o reconhecimento tardio da gravidade da situação criada pela prevalência da banca privada, pela austeridade e pelo aprofundamento da integração, que muitos apoiaram e apoiam.

O principal problema é que se quer traçar algures uma “linha vermelha”, mas sem colocar em causa “os compromissos europeus”, procurando ao longo do texto dar-se a ideia de que o governo pode explorar margens de manobra, mesmo que seja para fazer pouco mais do que diversificar as dependências estrangeiras: talvez Catroga consiga convencer o Estado chinês, já que me parece altamente improvável haver um banco significativo controlado por capitais privados nacionais, uma das ideias aventadas meio a medo, no meio de apelos algo desesperados ao valor da concorrência. No sector bancário, esta ou é perversamente geradora de crises ou é uma ficção, servindo entretanto à poderosa direcção da dita na CE, em articulação com o BCE, para favorecer os Santanderes desta vida. Isto para já não falar dos riscos apontandos de, na nova situação, as poupanças serem canalizadas para o exterior, processo em que a banca privada, a começar pelo antigo BES, há muito se tinha especializado. Neste campo, nada se muda sem reinstituir controlos de capitais, que têm de ir a par das mudanças de propriedade.

De resto, sou céptico em relação à possibilidade de traçar linhas vermelhas no quadro destas regras europeias cada vez mais constrangedoras: em geral e no que à banca diz respeito de forma particularmente intensa, dada a economia política da coisa. Diz que “o regulador nacional não é uma mera delegação do BCE”. Desculpem, mas é: de facto e até acho que de jure no quadro desta monstruosidade bancária que confirma Draghi como o político mais poderoso de Portugal.

Tenham esperança e não corram: quando tudo estiver controlado pelo estrangeiro, pelo Santander e quejandos, a nossa elite chega colectivamente lá...

12 comentários:

  1. «gravidade da situação criada pela prevalência da banca privada» - Disparate!
    O problema da banca foi antes demais seguir as políticas públicas de estímulo ao consumo e ao imobiliário; foi o ter de actuar numa economia empresarial sem regras de responsabilização dos gestores e de ineficácia de um sistema judicial que nunca encontra a tempo prevaricadores e vigaristas.
    NADA foi feito de substancial para alterar esses e outros paradigmas, salvo o imposto pelos credores.


    ResponderEliminar
  2. Este das 10 e 31 não deve estar bom da cabeça.

    O problema da banca foi antes demais as políticas públicas?

    Não terá vergonha esta forma escorregadia e viscosa de tantar inocentar os banqueiros e a banca privada? Mais as políticas criminosas, coniventes, do poder político submetido ao poder económico?

    E não se lembrará este saudosista do cacete e da porrada das odes que dispensava ao Ricardo Salgado e aos banqueiros em geral ,que tinham que ganhar o "seu" e recuperar o seu investimento"? "Os banqueiros e os políticos" era uma treteirice repetida ad nauseam, louvando os primeiros e fazendo o que a extrema-direita costuma fazer sobre os segundos

    Repsonsabilização dos gestores? Quais gestores? Não se lembra o choradinho a inocentar as patifarias do BPN - peanuts insinuava o coitado - e da defesa dos perdões pascais em relação às fraudes fiscais e da água benta cúmplice em torno do Carlos Costa? Quer ver escarrapachado o seu palavreado para ver se se recorda?

    Ou talvez não se lembre da ambrosice com que tentatva defender a sua classe invocando ridiculamente um artigozito dum código com a mão de Cavaco por cima?

    E esta nojeira da submissão rasteira, cobarde, repleta do bafio e da pesporrência, das choramingas em alemão e em todas as línguas faladas pelo Capital em prol dos credores e dos seus lucros demenciais?

    Ainda dizem que não há luta de classes

    ResponderEliminar
  3. Pela enésima vez a maestria económica burguesa se propõe moldar o sistema bancário português a seu contento.
    E isto só acontece devido as divergências existentes no seio da mesma burguesia. (Como e quem vai ficar com o bolo) ou partes dele…
    Há bastantes razoes para alterar o sistema, mas não são os interesses da burguesia.
    Estes cavalheiros, alguns deles com bastantes responsabilidades governativas, foram e são mentores do caos político, económico e social vigente.
    Eles estão simplesmente a informar o governo PS e os partidos que o apoiam, que estão atentos a possíveis desvios mais a‘ esquerda.
    Este Manifesto insere-se no processo da Luta de Classes que decorre hoje… de Adelino Silva

    ResponderEliminar
  4. Diacho

    Quem falava em agenda dos coitadinhos abre aqui um compêndio completo para albergar os coitadinhos ...dos banqueiros e da banca,privada pois então.

    Coitadinhos. O problema foi que "seguiram as políticas públicas" e que actuaram numa "economia empresarial".

    Lê-se e não se acredita esta forma triste e quase demencial de tentar esconder o modus faciendo do Capital com o seguidismo da banca e com as regras sem responsabilização. Já se viu os coitadinhos o que sofreram com tal situação? O saque que fizeram a todos nós está assim explicado,depois de nos terem servido as histórias da carochinha sobre o andar-se à viver acima das nossas posses. Os offshores onde esconderam o dinheiro da pilhagem serviram apenas para garantir o justo retorno aos seus investimentos

    Um provocador ou um vigarista? É que ambos os casos são possíveis ,atendendo à realidade dos factos e a esta agenda dos coitadinhos tão coitadinha

    ResponderEliminar
  5. Mais uma vez a objectividade e a lucidez aqui espelhados neste post de João Rodrigues

    ResponderEliminar
  6. O nada, perdão, o NADA, e o ilusionismo servido em forma de pieguismo banqueiro já só permitem uma gargalhada e um encolher de ombros pela desfaçatez a raiar o sórdido

    "É a própria natureza da banca no sistema capitalista que deve ser identificada e é o embuste da regulação e supervisão que devem ser desmascarados. Os custos de ter uma banca ao serviço dos monopólios e de grandes grupos económicos são demasiado elevados para que exista qualquer justificação para manter a banca nas mãos desses mesmos grupos, pois, no fim da linha, são sempre os trabalhadores que vão pagar o próprio assalto de que foram vítimas. Não podemos esquecer que não é o Estado que paga a dívida da banca, são os trabalhadores. O Estado é o instrumento utilizado pelos monopólios para concretizar a operação.

    Os sucessivos casos de falências com resgates públicos, por todo o mundo, ilustram bem a forma como o Estado é utilizado ao serviço da acumulação. Portugal é o exemplo mais próximo. BPN, BPP, BES, BANIF e alguns outros bancos foram alvos de intervenções, empréstimos, atribuição de garantias públicas, recapitalizações, resoluções ou falsas nacionalizações, com o comprometimento de milhares de milhões de euros. Só ao abrigo do Pacto de Agressão assinado entre PS, PSD, CDS e FMI, BCE e UE, foram entregues directamente à banca portuguesa 12 mil milhões de euros para recapitalizações e 35 mil milhões em garantias pessoais do Estado (que também representam custos para o Estado e lucros para bancos nacionais e estrangeiros).

    Os casos verificados em Portugal são o exemplo prático de que o Estado foi, no que ao resgate a bancos diz respeito, inteiramente capturado pelos interesses dos grandes grupos económicos. Não só capitalizando as instituições, não para as controlar pelo capital social, mas apara amparar as aventuras e o «empreendedorismo» dos accionistas privados (de que o caso BANIF é gravíssimo e claro exemplo) – tal como sucedia durante o fascismo em boa parte dos grupos monopolistas; mas também utilizando os recursos e a capacidade de endividamento públicos para sanar os balanços dos bancos e os entregar já libertos de problemas a outros grupos económicos. BPN, BANIF, BES foram todos alvos de processos que, sendo diferentes na forma jurídica, correspondem à mesma operação: o accionista privado tira o dinheiro do banco, o Estado mete o dinheiro dos trabalhadores no banco e volta a entregar aos mesmos ou a outros accionistas privados o banco já com o capital público, agora privatizado por apenas uma parte do seu valor."

    ResponderEliminar
  7. Pior que tudo é, a confirmar-se a notícia do Jornal de Negócios, o governo PS vender o Novo Banco para antecipar o pagamento da dívida ao FMI. Exatamente o que o PSD e CDS fariam.
    Um governo que vende bancos, que podiam integrar o setor empresarial público e desempenhar um papel muito relevante no financiamento especialmente das pequenas e médias empresas nacionais para reembolsar antecipadamente a troika NÃO É UM GOVERNO DE ESQUERDA!
    É um governo a atascar-se na mais miserável das políticas de direita.
    Que vergonha, António Costa!

    ResponderEliminar
  8. O cuco das 13:32, incapaz de formular um argumento, lá vem com alusões truncadas e falseadas!
    Um outro mais acima vem pôr o Spínola contra uma Constituição um ano antes dela existir!
    A propósito, essa Constituição nunca foi votada senão por partidos entaipados no acordo MFA-Partidos, um primor democrático único na Europa, daí que se diga ser muito original.

    ResponderEliminar
  9. "O problema da banca foi antes demais seguir as políticas públicas..."

    Sério?

    Em janeiro de 2014 este tipo defendia assim os "negócios privados da banca:
    "Se não sabes que o papel dos bancos é pedirem emprestado (endividarem-se) para emprestar (ficarem credores) lucrando no processo, sabes pouco."

    ResponderEliminar
  10. "nunca encontra a tempo prevaricadores e vigaristas."

    Sério?

    E a desculpabilização destes desta forma grosseira e inqualificável, em Janeiro de 2013, referindo-se ao caso BPN?:

    "Fico preocupadíssimo!!!!
    Devendo o país 190.000 milhões, parece que há uma 1.600 milhões que mudaram de sítio nas contas."

    "O BPN é nada comparado com o despesismo do Estado, supostamente realizado em benefício de todos. E à luz de uma tal suposição que a todos é exigido o pagamento".

    Não só cúmplice com os prevaricadores e vigaristas, como também exigindo que "todos" paguemos as vigarices e os roubos dos prevaricadores e vigaristas da sua classe.

    ResponderEliminar
  11. Entaipados?

    Como? Entaipados devem estar a inteligência e a dignidade de quem assim se expressa.

    Quanto à Constituição da República Portuguesa, se porventura os amigos do dito cujo não os tiveram no sítio para votarem Não isso é um problema deles. Mas ao MFA se deve a possibilidade de eleições. Só alguém com uma pesporrência anti-democrática muito grande é que prefere a farsa das "eleições", ou melhor eleições entaipadas entre o cacete da Pide e as ordens de Salazar. Como também só alguém com um vínculo muito grande à ideologia do estado novo é que prefere a Constituição de 1933, como é o caso em apreço.

    Claro que resta o silêncio de tudo o resto denunciado aí em cima. Mas que fazer? É o mister do sujeito e a sua "honestidade" particular.
    E,claro está, as suas opções ideológicas

    ResponderEliminar

  12. Ouvir as vozes dos Presidente da Republica e do 1º Ministro, com sorrisos nos labios (eleitos pelo povo) que esta´ tudo conforme as regras da EU ate mete do´. Ouvir a deputaçao da Camara Baixa, (eleitos pelo povo) digo C.B. pela cruel razao da Camara Alta estar em Bruxelas…e´ uma tristeza..!
    Sera´ que esta gente alguma vez sentiu o pulsar dos Portugueses?
    Ate o governador do BdP (não eleito pelo povo) sob a egide dp BCE sobrepoe-se ao Governo da Naçao e a´ Camara Baixa.
    Nesta situaçao, dizer que somos um estado soberano,
    Imdependente ou mesmo autonomo e´ mentir a Portugal inteiro…
    Ah… Camoes, que morreste Portugues…Felicidade a tua!
    Como dizia o brasileiro, “Vamos a´ luta, a vitória ou a derrota chegarão. Mas só podemos nos envergonhar da capitulação”. De Adelino Silva

    ResponderEliminar