Há sempre boas razões para se olhar de forma crítica para o campo mediático. Mas por vezes os cidadãos estão particularmente despertos para essa reflexão, porque o quadro que a suscita entra pelos olhos e pelas casas adentro, quase se impondo à observação. Esses momentos não significam necessariamente uma grande alteração, nem sequer degradação, dos defeitos e constrangimentos que pesam sobre as práticas jornalísticas. Podem traduzir apenas as desarrumações que ocorrem em momentos de instabilidade, de mudanças de maior ou menor grau. A questão é esta: como fazer com que essa percepção de desconforto perante uma informação que devia ser muito mais do que é, porque ela enforma as nossas escolhas resulte num aprofundamento da democracia? Para começar, aproveitando esses momentos para nos determos nos aspectos sistémicos deste campo, para lá da fulanização e das caricaturas, e para treinarmos o olhar crítico, mesmo em situações em que as «normalidades» nos são apresentadas como tão «naturais» e estáveis que esquecemos que elas são terrenos de debate e de escolhas.
Sandra Monteiro, Media e Política, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2016.
Embora o que se lê não diga nada...confio que a senhora tenha alguma coisa para dizer.
ResponderEliminarQuanto ao aprofundamento da democracia, sempre suspeito que a maior parte dos seus defensores queiram isso mesmo, levá-la para bem fundo e longe da vista.
"Entendamo-nos: a imprensa, seja um jornal ou uma televisão, tem espaços de opinião e espaços de informação. Nos espaços de opinião, existem pessoas que são livres de defender as suas opiniões, quaisquer que elas sejam. Nos espaços de informação, da responsabilidade de jornalistas, espera-se uma abordagem isenta. Repare-se: isenta. Não uma abordagem que mostre “os dois lados da história” - porque uma história tanto pode ter dois lados como dez e porque dois sectarismos não são a mesma coisa que isenção - mas uma abordagem que explique o que está a acontecer, as consequências do que está a acontecer e que desmonte a propaganda.
ResponderEliminarPara desgraça de todos nós, o jornalismo é caro e o bom jornalismo mais caro ainda (porque exige profissionais de qualidade, equipas multidisciplinares com meios e tempo) e, por isso, a informação tem vindo a ser substituída com prejuízo por espaços com opinadores. O problema é que, não só a cobertura jornalística da política em geral é de um enorme sectarismo (muitos jornalistas são de direita e fazem propaganda das suas preferências políticas ou são maus e limitam-se a repetir o discurso hegemónico do poder, de direita) como os espaços de opinião estão invadidos por comentadores de direita ou do “centro” - alguns apresentados sob uma roupagem técnica como “economistas”, “politólogos” ou mesmo “jornalistas” - e estão praticamente desprovidos de uma visão alternativa. Qualquer jornalista sabe isto e sabe que isto é desonesto. O resultado é um brutal enviesamento da informação e da opinião oferecida aos cidadãos, que não podem deixar de aderir às teses que lhe são marteladas de manhã à noite, em particular pelas televisões, por falsas que sejam (como a tese do aumento da carga fiscal ou do ataque à classe média). E é por isso que todos conhecemos as mil coisas que podem correr mal na execução orçamental e que se fala tanto disso. A direita radical quer que este orçamento corra mal, que o governo caia e que o pais entre em bancarrota. Não está a olhar a meios para o conseguir. E o meio principal é esta lavagem ao cérebro que espera que se torne uma profecia auto-realizadora."
José Vitor Malheiros no Público
Acima um exemplo de um 'brutal enviesamento da informação':
ResponderEliminar«por falsas que sejam (como a tese do aumento da carga fiscal ou do ataque à classe média)»
A direita radical esforça-se por fazer o seu trabalho na frente mediática ou na frente de Bruxelas.
ResponderEliminarVamos ficar à espera que o representante da direita radical desminta os factos apresentados pelo JVMalheiros.
"Embora o que se lê não diga nada...confio que a senhora tenha alguma coisa para dizer".
ResponderEliminarÉ também um problema de iliteracia ou apenas o perfil ideológico a mandar desta forma a raiar a desonestidade?
Aprofundar é enraizar, entranhar,investigar, pesquisar, examinar, estudar.
ResponderEliminarExactamente o oposto de "levar para bem fundo e longe da vista"
Posto este esclarecimento básico, necessário será também registar como alguém assumidamente adepto do salazarismo se expressa assim desta forma tão curiosa.
O que fazem as necessidades "imediatas", não é?
A palavra democracia serve para tudo e mais um par de botas.
ResponderEliminarQuando os comunas clamam por uma sociedade mais democrática, trata-se de um aprofundamento cujo fundo já foi visto e revisto em inúmeras experiências sempre terminadas de modo bem diferente do que temos sob os nossos olhos como sendo democrático.
Mas a cobardia não lhes permite invocar a ditadura do proletariado (agora travestido de 'povo trabalhador') e preferem aprofundar a democracia.
Aprendeu o que era aprofundar?
ResponderEliminarEntão deixe-se por favor de cenas piegas e assuma a sua bacorada escrita em letra de forma.
Posta esta correcção elementar, passemos a outro assunto, mais ideológico.Não se refugie nem em comunas nem cobardiemente atrás da ditadura do proletariado e outras coisas afins.O que temos notado é o seu fervor, suspeito mas tão ternamente enternecedor, pelo pervertido Salazar e pelos seus capangas e acólitos. Por isso deixe-se mais uma vez de cenas piegas e assuma-se. Portugal já sabe o que foi o fascismo e não está para aturar resquícios saudosistas que ainda por cima tem tais arrobos de iliteracia ao nem sequer perceber o que está escrito. Como aí em cioma demonstrado,lolol