segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pensar


Pensava que os exércitos de operárias e operários pobres e explorados que contribuíram para a acumulação primitiva do capital industrial têxtil que pagou a folia e o requinte de Serralves estavam finalmente justiçados com a abertura do jardim e do museu à res publica. Engano. O Estado e os tios e tias dos fundadores da fundação mais as suas empresas e piedosas obras de mecenato e outras manobras de distinção e tudo que lhes dá um verniz de arte contemporânea e de empenhamento social decidiram apoiar esta decisão inteligente e oportuna num tempo em que a entrada grátis ao domingo de manhã era mais que justificável.

Se a fundação não tem guito, que mude a programação e, em vez da arte pop, do minimalismo, do pós-minimalismo, da arte conceptual e da arte povera, que invista mesmo na arte pobre para os pobres. Ficávamos mais contentes, permanecia o amor ao museu e seguiríamos mais conciliados com uma verdadeira arte capaz de iluminar a nossa condição contemporânea de estarmos por conta de um punhado de ricos escandalosamente ricos a reinar num planeta de pobres desgraçados aos milhões.

Álvaro Domingues, Serralves, para que te quero?, Público. Crónica exemplar dos tempos que correm, denúncia invulgar de uma forma de exclusão que se vai vulgarizando, aliás em linha com o atento trabalho deste geógrafo das nossas transformações. Domingues devia mas é ter uma coluna regular num jornal de referência...

10 comentários:

  1. Grato por me dar a conhecer um novo herói.
    Colocá-lo-ei em adequado pedestal na justa exaltação da deriva esquerdalha para a paranoia.
    Pois ele ainda há ricos?
    Pois nem todas as obras de arte são encomendadas e expostas pelo Estado através das sua múltiplas formas, ora corporativas, ora parasitárias, ora ideologicamente comprometidas, ora úteis?
    Pois então, a hora é de luta e Dominguss é sem dúvida um líder à altura da circunstância.

    ResponderEliminar
  2. Que falta de nível o do comentário das 17 e 11.
    Que mediocridade boçal a deste sujeito a justificar outros adjectivos que todavia se evitam por uma questão de respeito a quem chama a atenção para Álvaro Domingues.

    Sabe-se que por aqui passa a iliteracia já por aí apontada. Mas há aqui algo mais que ultrapassa esta, que vai mais além do que o rancor rebarbativo ao conhecimento e ao saber, que se estende para além do ódio às artes e aos artistas

    Há um fundo de pesporrência ideológica que enegrece ainda mais o quadro. E que nos adverte da "qualidade intrínseca" de tais adversários

    ResponderEliminar
  3. Existem centenas de fundações por essa Europa fora, a Serralves, Cadaval, Gulbenkian e Alfred Nobel estão entre as mais conhecidas, para além, claro, da fundação Mário Soares.
    Uns por explorarem trabalhadores têxteis, outros por explorarem escravos campesinos, outros ainda pelo saque do petróleo no oriente medio e tanto quanto sabemos até a dinamite serviu para enriquecer. Dai a virar mecenas foi um saltinho de pardal. E todos eles multimilionários. Quase todos se protegendo sob a Lei do Mecenato. Ajudaram em muito o encarecimento da ARTE sem que aumentasse o número de artistas…Fazem lembrar as Misericórdias que se formaram há mais de quinhentos anos e cada vez há mais mendigos e sem teto…de Adelino Silva



    ResponderEliminar
  4. Eis porque continuo convicto de que a verdadeira Arte acontece nas ruas. Museus e galerias com entrada gratuita, em que os próprios espectadores podem rabiscar e interferir com os objetos estéticos que têm diante de si, obras interativas num espaço público que na essência é plural. Ali dá-se o contraditório. Os cidadãos devem ocupar o que é seu. A troca de ideias, estéticas e não só, verdadeiramente livre de censura, ocorre nas ruas. A institucionalização das figuras do artista, de um lado, e do fruidor culto, rico, selecto e presunçoso, do outro, tresanda a bafio.

    ResponderEliminar
  5. Desde que abandonamos o clã de caçadores-recolectores perdeu-se a justiça no mundo- salvo as reservas que o PAN possa colocar, estou certo que toda a geringonça estará de acordo.

    ResponderEliminar
  6. Abandonou o "clã dos caçadores-colectores"?
    "Perdeu-se a Justiça no mundo"?

    Que patetices estas? A iliteracia agora disfarçada de clã e em perdas justiceiras ?

    E sempre a geringonça enfiada na garganta. Adivinhando-se o corpo seco e descarnado impotente e incapaz de um mínimo de respeito pela democracia e convívio democrático

    ResponderEliminar
  7. Visitei por diversas ocasiões Serralves e fiquei com uma idéia muito positiva do Museu nomeadamente quanto ao acesso. Entrei algumas vezes de borla, aos domingos. Entendo ser um serviço inestimável essa "facilitação" na divulgação cultural para aqueles que precisam e merecem fruir do "belo". A não ser que os desígnios de certas elites seja manter a "iliteracia" cultural da esmagadora maioria da população que, por razões economicas, se vê sem possibilidades de acesso.

    ResponderEliminar
  8. Ó das 18:54!
    Começamos a estimar a democracia burguesa? Notável!

    ResponderEliminar
  9. Estimar sobretudo a falta do mínimo de respeito ( mesmo o ódio) pela democracia e convívio democrático.
    Traduzida naquela impotente e raivosa afirmação da "ilegitimidade substancial da geringonça"

    ResponderEliminar
  10. Uma lição ( gratuita) sobre a geringonça a azia, a legitimidade e a democracia:

    "Sobre ontem, disse-se que foi "histórico" (nunca o PCP e o BE tinham aprovado um Orçamento) e "poético" (Sérgio Godinho foi citadíssimo). Ora, o mais importante a dizer de ontem fazia-se com aritmética. Todos disseram que o OE passou com votos de PS, BE, PCP e Verdes, e de todos os seus deputados, pois a votação era em bloco. Está certo, mas são letras a mais e osso a menos. Se eu fizesse o título deste acontecimento, seria assim: "122". Uma aprovação inevitável, pois maior do que a metade de todos os deputados. Isto é, superior ao mágico 116, onde as coisas políticas começam a ser. E, abaixo desse 116, a ainda não ser. Poria, pois, esse 122, porque ele é uma lição. Este ano letivo político começou a 4 de outubro, quando tanta gente honrada e sábia meteu os pés pelas mãos. Uns disseram "ganhámos", outros "perdemos", e o que se seguiu mostrou que estavam todos enganados. A política é dinâmica, mas deve cumprir aquela leizinha do 116. PSD e PP não ganharam porque não chegaram lá, ponto. Costa serviu-se da dinâmica, fez dos seus 86, em outubro, 122, ontem, e por isso governa, ponto.
    Devíamos agradecer a quem nos livrou dela cá. Geringonça, o tanas! Este governo funciona: 122.

    Fernando Fernandes

    ResponderEliminar