segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Paralelismos
Vale a pena ler Francisco Louçã – Quanto custa a um economista não perceber a crise – sobre o fracasso de Irving Fisher (1867-1947), um dos mais importantes economistas, em 1929, tomando como pretexto o excelente A Queda de Wall Street.
Assinalo, no entanto, que Fisher redimiu-se, por assim dizer, através de uma análise profunda sobre as causas da depressão, a interacção perversa entre dívida e deflação, por exemplo num artigo de 1933. Tomáramos nós que todos os grandes economistas convencionais tivessem a mesma capacidade no actual contexto.
Deixem-me ser optimista, como se isto fosse uma mera questão intelectual. Talvez assim não fosse tão provável que tantos repetissem, sobretudo na televisão, o mantra que nos leva outra vez para o buraco: mais austeridade para “acalmar” os mercados, vistos quer como predadores hiper-racionais, quer como rebanhos assustados.
Estamos condenados a isto? Creio que enquanto vigorar a mentalidade do Euro, o equivalente contemporâneo da mentalidade do Padrão-Ouro, essa relíquia bárbara, como lhe chamou Keynes (e nisto Fisher e Keynes estavam de acordo), a resposta é clara. E sim, precisamos de um Plano B, e não, não é o do Eurogrupo.
O Francisco Louçã diz no artigo que os economistas devem ser mais modestos, evitando as certezas que frequentemente exibem. Mas isso é válido para todos os economistas, incluindo o próprio Louçã, que proclama desabrido, em artigo anterior da mesma série, a 18 de janeiro, que “uma nova crise financeira não é uma possibilidade. É uma certeza”.
ResponderEliminarEmbora não se enquadre na ortodoxia dos economistas convencionais, até aqui é pouco mais do que uma banalidade. Claro que uma nova crise é inevitável. O que me deixa abismada é a certeza – a certeza, não a possibilidade, ou mesmo a probabilidade – exibida de que será no curto prazo. Continuando a citação: «E essa certeza tem consequências para o euro, para a Europa, para as economias emergentes, para as relações internacionais de poder. Como terá para o Orçamento do Estado português para 2016».
A frase final indica claramente que essa grande crise seria já em 2016. Talvez, há indícios sugestivos, mas certezas não há e dificilmente poderia haver. Porque, ao contrário do que censura a Fisher, com a má imagem do relógio parado (que aliás acertam duas vezes por dia), a periodicidade da crise deve ser entendida como uma necessidade, mas uma necessidade estatística, não uma necessidade matemática, automática, determinística, rigorosa, com hora marcada.
Achar que a crise tem hora marcada é um perfeito disparate, a existência de oscilações não implica um período fixo. Louçã devia ser mais prudente ou, nas suas palavras, mais modesto.
O que, de qualquer modo, não deve fazer esquecer nem a necessidade geral, nem as insinuações de uma grande crise, económica e não apenas financeira.
Esses grandes pensadores mereciam que o mantra dos 'direitos e garantias' dos trabalhadores - em particular na função pública - fosse integrado no seu pensamento e planos de acção.
ResponderEliminarEstou certo que é matéria que o João Rodrigues poderá empreender.
Hoje o DN noticia que a "Zona euro vai pagar 252 mil milhões só em juros neste ano". Ao longo deste ano, os residentes da zona euro vão ver cerca de 252 mil milhões de euros dos seus impostos a servir apenas para pagar juros e os encargos das dívidas públicas da região.Uma das facetas mais relevantes nos actuais custos das dívidas está no facto de grande parte dos juros pagos pelos contribuintes do euro e de qualquer outro país terem como destino o sector financeiro, sector esse que foi também o maior responsável pelo crescimento recente das dívidas públicas .
ResponderEliminarSegundo um estudo de economistas do FMI publicado na última semana, o sector financeiro foi o maior responsável pelos "défices ocultos" - passivos contingentes materializados - que deterioraram as contas públicas.Estes "défices ocultos" do sector financeiro verificaram-se em grande parte na zona euro e nos anos mais recentes, tendo a maioria sido paga com dívida pública, dívida essa contraída junto do... sector financeiro. esta é apenas a ponta dum dos véus
O mantra do Capital é ir mudando o discurso porque sistematicamente a isso é obrigado. O ódio aos direitos e garantias do trabalho sempre existiu. O seu aparecimento sistemático e desta forma mantido é apenas indicativo do estado a que chegámos e dalgum desespero que se apodera de quem mais não tem a oferecer que o patibular e contínuo discurso contra o trabalho e os trabalhadores, mascarando os verdadeiros responsáveis pela situação
Antes do antes eram "os safanões dados a tempo." a que se seguiram os "para Angola e em força". Mais tarde a defesa acéfala e ideológica dos banqueiros e da banca privada. Até há bem pouco tempo a missa era o missa do "gastamos acima das nossas possibilidades" e as hossanas ao roubo de salários e pensões".
Os ataques a quem trabalha são uma forma de tentar apagar a realidade mas também mostram que de facto há luta de classes com interesses antagónicos. O estribilho da "função pública" é apenas o slogan mais demagógico e primário, vindo directamente dos centros de informação da direita e da extrema-direita, com intuitos claramente ideológicos. Tal como o foram os slogans contra os judeus e os comunistas no século passado.
Estamos nisto. Entre a necessidade dum plano B cada vez mais evidente e a mais abjecta campanha contra os que trabalham e em prol dos donos disto tudo ( leia-se da europa toda).
Será que Schäuble o os seus acólitos conhecem a história de Fisher?
ResponderEliminarÉ lamentável que a ânsia pelo poder leve a um sectarismo tal, que mostre cidadãos portugueses em negação total face à chantagem de que somos alvo. Não é possível viver em ameaça permanente, na corda bamba do “nervosismo dos mercados”. Tal como já aconteceu na manobra do 1º resgate, ninguém garante que o mesmo não volta a acontecer, como se de um golpe se tratasse.
Por isso é altura de pensar-se num Plano B, mesmo que essa ideia seja obviamente do desagrado dos defensores do TINA. Que tenham lá paciência os rendeiros das PPP, os beneficiários das negociatas e fraudes financeiras, o governador do BdP, os spin doctors, e etc. Este país não é deles!
O sector financeiro; leia-se, o sector a quem os políticos deram o poder de criar moeda para sustentar a sua demagogia.
ResponderEliminarsabujo zé
ResponderEliminarsempre com a sua argumentação de dona de casa
Não e´ por acaso que a cidade dos “fenómenos” Entroncamento, se situa em Portugal…
ResponderEliminarEm Portugal, verifica-se atualmente uma situação que não deixa de ser insólita. Autentico paradoxo.
Órgãos de comunicação social, comentadores, jornalistas, associações patronais e etc. e tal, protestam e com razão contra o aumento do imposto de 6 cêntimos/litro sobre os combustíveis, em contramão ninguém protesta contra os preços e lucros exorbitantes (MILHARES DE MILHOES) da GALP, e outras petroleiras. Isto e´ “ver o cisco no olho do parceiro e não ver o argueiro sobre seus próprios olhos” De Adelino Silva
O sector financeiro. Esse mesmo, tão carinhosamente tratado por alguns, que vão ao ponto de o tentarem absolver, mercê do apontar de armas contra os políticos que demagogicamente etc e tal.
ResponderEliminarA incompreensão total ou a maior demagogia? A maior fraude ou a maior desonestidade?
Esta é "a dinâmica interna do capitalismo. E essa dinâmica, que é de queda tendencial da taxa de lucro, sobreprodução, crise, e aprofundamento da exploração dos trabalhadores para que a bola continue a girar, é a verdadeira causa das falências de bancos, sejam o BPN e o BANIF, sejam o Lehman Brothers e o Deutsche Bank. Dinâmica perfeitamente irracional, contraditória, escusada, fruto de um regime social que o desenvolvimento das forças produtivas tornou não apenas obsoleta e desnecessária, mas de facto corrosiva e destrutiva em termos sociais: a propriedade privada dos meios de produção, a exploração do homem pelo homem, o modo de produção capitalista".
A memória ( ou a desfaçatez) é uma coisa tramada.
ResponderEliminarEm tom laudatório afirmava o das 15 e 27 há pouco mais de um ano:
"A capacidade de os bancos criarem moeda é-lhe reconhecida pelos bancos centrais que cumprem regras impostas pelos governos"
Mas andamos há que tempos a denunciar isto:
Na UE, a criação da moeda foi entregue ( qual "reconhecida" qual carapuça) à banca privada, via BCE, sem qualquer justificação teórica e desastrosas consequências práticas, conduzindo à deformação do crédito para as actividades especulativas e não para as produtivas
O B de P podia proporcionar dinheiro ao Estado sem juros e gerando lucro. O absurdo do banco central não poder fornecer moeda directamente ao Estado representa um ódio ao colectivo, ao social, para entregar dinheiro praticamente sem juros, à banca privada para esta aplicar na usura e na especulação, impondo o garrote da austeridade. É o "vírus capitalista" (Robert Hunziker)
Uma pequena pergunta. Quem é que deu o poder à banca privada para criar moeda?
ResponderEliminarEm tom laudatório o das 15 e 27 escrevia há pouco mais de um ano:
"A capacidade de os bancos criarem moeda é-lhe reconhecida pelos bancos centrais que cumprem regras impostas pelos governos".
Não se sabe se há um problema de memória, se se trata simplesmente de má fé ou se se vai mudando o discurso desta forma desconexa para tentar escorar o edifício a ruir dos mitos neoliberais
"Na UE, a criação da moeda foi entregue ( qual "reconhecida qual carapuça) à banca privada, via BCE, sem qualquer justificação teórica e desastrosas consequências práticas, conduzindo à deformação do crédito para as actividades especulativas e não para as produtivas
O Banco de Portugal podia proporcionar dinheiro ao Estado sem juros e gerando lucro. O absurdo do banco central não poder fornecer moeda directamente ao Estado representa um ódio ao colectivo, ao social, para entregar dinheiro praticamente sem juros, à banca privada para esta aplicar na usura e na especulação, impondo o garrote da austeridade. É o "vírus capitalista" (Robert Hunziker)
A indigência ideológica de esquerda alimenta-se pelos seus mantras.
ResponderEliminarQue não lhe tirem a imagem do banqueiro Dickensiano, obeso e sentado num saco de libras de ouro, não vá entrar em cena o bancário oportunista e venal, inconveniente subproduto proletariado.
Mas então onde anda agora o sector financeiro?
ResponderEliminarOnde anda agora o tal sector financeiro que depois da tentativa de absolvição mais canhestra de que há memória se converte nesta indigência intelectual aí em cima transcrita?
Dickens,o mantra,o banqueiro e o bancário. O mais do resto é silêncio, a fuga e a cobardia
.
A banca privada e os sonhos oportunistas e venais dos subprodutos ideológicos a tentarem desmentir o verdadeiro produto.
ResponderEliminar"O gigante financeiro alemão Deutsche Bank corre o risco de colapsar. É um choque de frente para toda a direita neoliberal e para todas os seus sonhos e expectativas, um mundo que se arruína e naufraga, deixando um cortejo de suplicantes gemendo e chorando a sua perda. Um banco, para mais privado, para mais alemão, para mais empreendedor, para mais proactivo, e dinâmico, e acostumado a bater punho, esfarelar-se assim, sem mais nem menos. Teria maus gestores? Mas se todos sabemos que só o Estado, porque não tem a noção de estar a gerir o que é seu, é mau gestor! Teria havido incompetência dos supervisores? Mas se sabemos que só os supervisores portugueses são incompetentes! Há-de ter sido culpa dos trabalhadores alemães, esses calaceiros que vivem acima das possibilidades e depois não pagam os empréstimos que pediram. Mas acaso não nos disseram que os calaceiros éramos nós, os trabalhadores portugueses? E que por nossa culpa o Estado devia dinheiro que pediu emprestado para construir escolas, e os bancos deviam ao estrangeiro para comprarmos férias em Cancun, e que lá fora, onde os protestantes eram comedidos e regrados (sim, eu ouvi o Viriato Soromenho Marques sair-se com esta), não havia situações assim? "
Sai mais um banqueiro disfarçado de "gestor" a fazer-se passar por um proletário para esconder o vírus capitalista em todo o seu esplendor.
Como diria Charles Dickens: "Acidentes acontecem até nas melhores famílias".
Por favor um pouco de seriedade no debate. Embora se confesse que não deixa de ser divertido reler o escrito aí há tempos pelo das 21 e 40:
ResponderEliminar"E sabes porque é que os credores impõem o financiamento dos bancos?
Porque mais confiam neles do que nos políticos sujeitos ao vozeirio abrilesco para quem tudo foi obra de demónios capitalistas e que só por isso é que o regabofe não pode continuar."
Já percebemos lolol. A banca privada precisa de continuar este imundo carrocel.(mesmo que os tempos obriguem agora que um ou outro a tente esconder atrás dos "gestores" e dos "bancários").
Que falta de.
ResponderEliminarQue tal começar por acabar com o salário mínimo?