quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Império ordoliberal?


O que faz com que a dominação de classe, ou o imperialismo, seja especificamente capitalista é o predomínio da coerção económica, ao invés de formas ‘extra-económicas’ de coerção, sejam estas políticas, militares ou judiciais. No entanto, isto não significa que o capitalismo possa dispensar a força extra-económica (...) O papel da força extra-económica no imperialismo capitalista, como na dominação de classe capitalista, é opaco, já que geralmente não opera através da intervenção directa na relação entre capital e trabalho, ou entre estados imperiais e subordinados, mas sim mais indirectamente, sustentando o sistema de compulsões económicas, o sistema de propriedade e a operação dos mercados. 

Ellen Meiksins Wood, Empire of Capital, 2003, p. 4, minha tradução.

Uma passagem que me parece útil, até para tentarmos identificar as novidades. Se olharmos para a União Europeia, em geral, e para a Zona Euro, em particular, com um quadro analítico deste tipo, como temos hoje quase a obrigação de fazer, o que sobressai é a visilidade da imbricação entre coerção económica e política na relação entre o centro imperial e os Estados subordinados da periferia europeia, até porque se trata de uma ordem internacional onde a componente de construção política deliberada, inspirada no ordoliberalismo alemão, se sobrepõe à componente espontânea. Basta pensar no BCE, na Comissão Europeia e em toda a tralha regulatória dos tratados, basta pensar no deliberado, e até há pouco tempo relativamente opaco, confisco da soberania dos Estados, em especial dos subordinados, e logo das conquistas democráticas que historicamente bloquearam algumas das formas mais óbvias de dominação.

Aqui chegados, proponho um exercício algo provocatório, para tentar provocar reflexão, claro, tendo em conta a luta que as esquerdas (nem todas, nem todas, claro...) historicamente travaram contra o imperialismo, a sua vinculação nacional-popular em tantas áreas do sistema mundial: imaginem que as esquerdas nesses contextos tinham ao invés apelado à democratização do imperialismo. Imaginem que se tinham enredado no que teria sido uma rematada contradicção nos termos. O que é que, olhando para trás, diríamos hoje delas?

5 comentários:

  1. Que tinham sido um tanto ou quanto inúteis?

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  2. A linha de raciocínio que desagua na provocação tem um pressuposto: a da não alteração das circunstâncias objetivas e subjetivas.
    Claro que não parece sensato que, no esforço para mudar o mundo para melhor, se lute, apenas, para moderar a coerção, sem a extinguir.
    Esse foi o papel dos sindicatos (alguns) que diziam combater o poder dos empregadores quando apenas pretendiam servir de válvula de escape à fúria dos espezinhados mediante pequenas concessões, as suficientes para que a estrutura de domínio se perpetuasse.
    Mais do que não aceitar o quadro de valores que suportam a dominação, torna-se imperioso que seja dada prevalência ao quadro de valores que impeça a existência da dominação, seja ordoliberal ou outra.
    Esse quadro de valores deve ter raízes na nossa humanidade.
    Somos todos pessoas e cidadãos livres e iguais. Embora se repita esta ideia, que todos aceitam, na verdade, a dominação impede a sua concretização.
    Mas não se trata, apenas, dessa concretização, é preciso que assumamos que devemos viver de forma solidária com os olhos postos numa sociedade em que essas ideias prevaleçam e se concretizem. Não se trata apenas de uma questão política ou económica, mas de uma forma radicalmente humana de ser.
    Vale a pena, no meu ver, lutar por um mundo assim, de todos para todos.
    Isto é, numa sociedade que constitua, na realidade, o que se propõe na Constituição da nossa República, com aditamento espiritual, que ali não tem cabimento.

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  3. «Somos todos pessoas e cidadãos livres e iguais. Embora se repita esta ideia, que todos aceitam, na verdade, a dominação impede a sua concretização.»

    Todos aceitam?
    Para todo e qualquer efeito?
    Nunca vi nem ouvi falar...talvez no anarquismo se falasse nisso, mas não estou certo.

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  4. «Desde 2010 ficou provado que a austeridade não é eficaz para responder aos problemas de países em desequilíbrio, num contexto de estagnação ou recessão económica».

    Ficou provado?
    Quem provou?
    Quem apareceu a querer pagar a alternativa?

    Brincamos com coisas sérias!

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  5. Quem apareceu a querer pagar a alternativa?
    Brincamos com coisas sérias.Brincamos,não. Tenta-se maipular coisas sérias.
    Quem cita "brincadeiras" é quem assume por inteiro a defesa dos que detém 1% dos rendimentos contra a imnesa maioria dos demais. É quem assume comportamentos "piegas" em defesa dos "ricos" , dos banqueiros, dos grandes empresários, dos que fogem ao fisco, dos que protegem os seus bens em offshores, como forma de autodefesa do produto do saque.
    Ficou provado ( por mais que isto doa alguns fanáticos fundamentalistas) que a "austeridade" não respondeu a nenhum problema de países em desiquilíbrio , num contexto de estagnação.
    O que se demonstrou foi que se andou a pagar do erário púbico e do bolso individual dos trabalhadores, para tapar os buracos deixados pela banca e pela especulação económico, pela jogatana bolsista e pela corrupção inerente a uma sociedade neoliberal/capitalista.
    Quem apareceu a pagar a alternativa foi o elo mais fraco. E os resultados da austeridade estão aí visíveis, para todos verem.
    Já todos somos crescidinhos o suficiente para perceber que conversa da treta é conversa da treta. Se este fulano que anda agora a pedir "provas" quiser ler o que já aqui se escreveu, as conclusões de fontes insuspeitas,os relatórios que pairam sobre os resultados a que chegámos que o faça.Mas tentar recomeçar a discussão desta forma é, no mínimo, desonesto.Que diga um só país em que este trilho tenha tido sussesso, nos limites impostos pelo texto. Um único só. Em que o sucesso tenha ido para além da classe dominante. Um país, a Islândia, conseguiu ter mais sucesso do que a miséria dos Passos e dos Portas e dos seus sequazes empoleirados na governança governamental.
    Admitindo que se age com um mínimo de boa-fé ( o que parece não ser o caso, diga-se de passagem) há contudo um problema que dificulta a compreensão do que se escreve e do se diz, e este é o problema da iliteracia de alguns, já citada e documentada.Mas este é , infelizmente , um problema que nos transcende.

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