sábado, 27 de fevereiro de 2016
Esqueçam, mas depois não se queixem
O mais grave disto tudo é que há quem goste e prefira ser funcionário menor europeu do que político de um país soberano. É muito difícil encontrar sobre esta questão a tradicional divisão esquerda-direita, e, se a procurássemos o que encontraríamos seria contrário ao senso comum tradicional: uma esquerda patriótica, e uma direita rendida a trocar a soberania pelo diktat de uma política económica e de interesses de que gosta e que lhe dá força.
José Pacheco Pereira
[É] verdade que Portugal dispõe hoje de uma quinta coluna bastante disponível para prejudicar os interesses nacionais em favor dos interesses dos países mais fortes da UE. São muitos, vivem de cara destapada, multiplicam-se pelas televisões (às vezes parecem omnipresentes) e desejam que Portugal seja derrotado, os portugueses sejam levados para mais cortes, as agências de rating rebentem com o país e os juros da dívida subam à velocidade dos balões.
Ana Sá Lopes
Peço desde já desculpa a muitos, com estômagos fragilizados devido a um pretenso cosmopolitismo pretensamente liberal, por estas duas reflexões algo pesadas e já com algumas semanas. Mas é que são verdadeiras e bem achadas, embora ainda raras. Têm de multiplicar-se. Vão multiplicar-se. Se à direita o incómodo com esta retórica é bom sinal, a muitos dos que à esquerda ainda ficam horrorizados com a apropriação do nacionalismo, chamemos-lhe mesmo assim, por este campo ou por democratas de direita, aliados nesta luta, parte do mesmo campo, na realidade, digo meia dúzia de coisas.
Esqueçam as nacionalizações necessárias, o serviço nacional de saúde, o salário mínimo nacional ou o artigo 1º da Constituição, o da vontade popular, já que o nacional não está lá por acaso. Esqueçam grande parte da história da esquerda, revolucionária, reformista ou reformista revolucionária, a que venceu ou que tentou vencer por esses elos mais ou menos fracos afora do sistema mundial no século XX: esqueçam a social-democracia sueca, a da Suécia como “casa do povo” a partir do final dos anos vinte, esqueçam o Che Guevara, esqueçam o pátria ou morte por ele também proclamado nas Nações Unidas, nos anos sessenta; esqueçam o chamado nacionalismo internacionalista, de recorte anti-imperial, que culminou no projecto, a retomar, de uma nova ordem económica internacional, em 1974, feita para permitir a assunção universal da soberania económica por parte dos Estados.
De novo por cá, esqueçam a nossa revolução, democrática e nacional, o Movimento das Forças Armadas, o tal que agiu em nome da “salvação da pátria” também no ano de 1974. Esqueçam que, precisamente graças a um certo espírito de 1974, dispomos à esquerda de um vasto reportório patriótico, que ainda anda por aí, à espera de ser trabalhado, actualizado e ligado a forças sociais dinâmicas, portadoras de um programa de superação desta ordem pós-democrática que vem de fora e que corrói a comunidade por dentro.
Esqueçam a criação da tal fronteira do antagonismo de que é feita a política popular, potencialmente maioritária, e que passa, qual condição necessária, por conseguir imaginar uma outra nação, uma outra comunidade política soberana e por dar densidade institucional ao que é, na realidade, também um acto político de separação das águas internas para ganhar margem de manobra externa.
Esqueçam que o nacionalismo, como brilhantemente sublinhou Benedict Anderson, num livro tão bom e tão bem traduzido, é um conjunto de dispositivos culturais flexíveis e logo mobilizáveis por projectos político-ideológicos muito distintos: a variante popular do nacionalismo tem um potencial inclusivo e democratizador inigualável.
Esqueçam que a demissão dos intelectuais progressistas passa, aqui e agora, pela desistência explícita de imaginar a nação e a sua progressiva libertação (na realidade, há quem imagine e Miguel Gomes, no cinema, é o melhor de todos, mas parece-me que falta imaginação no que Anderson chamou o “capitalismo da imprensa”, no debate público por escrito).
Esqueçam que este exercício nunca fica por fazer se ainda houver por aí uma réstia de vitalidade num país condenado a humilhações semicoloniais.
Esqueçam, mas depois não se queixem.
O Pacheco é daquelas almas heroicas que arrotam bravatas como quem não quer saber donde lhe vem o dinheiro...deles é o Reino dos Céus.
ResponderEliminarUm bom texto.De novo um bom texto de João Rodrigues.
ResponderEliminarQue o odiozito peculiar do das 16 e 51 por Pacheco Pereira não vem manchar.
A obediência ao dinheiro, com tudo o que isto tem de mais repulsivo e de abjecto, tomada como padrão de conduta e como modelo de acção está aqui no entanto completamente espelhada.
Não, nem todos têm o comportamento dos beatos que invocando perpetuamente o reino dos céus, tentam vender-nos as suas tretas sobre os seus deuses e os seus amos
Ainda bem.Até por uma questão de higiene da humanidade
Nacionalismo? de certeza que essa é uma boa razão?
ResponderEliminarO que a verdadeira esquerda nunca esquece é que uma política de criação de riqueza, através da valorização das competências nacionais já é uma política redistributiva, que cria empregos e premeia quem trabalha (quem inova, quem arrisca, quem produz) e retira rendas injustificadas a quem vive da importação, da compra injustificada, do boicote ao que é produzido em Portugal.
ResponderEliminarPara prejudicar o interesse nacional temos um governo geringonçoso pelo que a quinta coluna, a existi,r é suposto ter o objectivo contrário.
ResponderEliminarSob o mote de ‘Mentira dada Mentira honrada’ nada de bom há a esperar de tamanha cambada de treteiros cuidando cada seita dos seus interesses, os olhos postos em eleições em que se comam uns aos outros.
« no projecto, a retomar, de uma nova ordem económica internacional, em 1974…»
ResponderEliminarLogo em 1974 a nossa originalidade levou esse projecto a um tal extremo que, não só o Estado tomou conta dos nossos recursos (pesada herança incluída), como a curto prazo começou a tomar os recursos dos outros na medida em que se esgotavam os nossos. E valentemente temos mantido esse percurso, com pequenos períodos de timidez logo recuperados por acção do forte patriotismo dos nossos líderes, que os trabalhadores e o nosso povo seguem fielmente.
Retomemos pois o caminho na construção de uma nova ordem.
« …feita para permitir a assunção universal da soberania económica por parte dos Estados.»
Esta Assunção Universal é que me parece inconveniente; em final alguém tem que pagar a conta!
"Para prejudicar o interesse nacional"?
ResponderEliminarQuem diz esta treta foi quem em vésperas de eleições legislativas dizia alto e bom som com aquele sotaque peculiar:
"Talvez mais útil fosse continuar com a troika…"
Lapidar quanto ao gosto pela servidão a quem der mais.
Admire-se de qualquer forma o elogio à quinta coluna.
Ou de como a direita-extrema que antes de Abril comungava com as missas em prol da defesa da nação e com as misses em prol da testosterona falida se converte no presente nesta mescla de vendidos e traidores.
Miguel de Vasconcelos não renegaria a ideia da quinta coluna, embora pensasse que estava bem protegido pelos que lhe pagavam. Joseph Darnand,homem de mão de Pétain,juntou-se a Waffen-SS nazi e fez um juramento de lealdade a Hitler. Ele formou uma milícia de colaboradores franceses de 35 mil homens e sabia bem como organizar uma quinta coluna.As suas hostes foram responsáveis por crimes de guerra imperdoáveis. Foi nomeado Sturmbannführer em 1 de Novembro de 1944. Capturado pelos britânicos em 25 de Junho de 1945 foi levado de volta para a França. Julgado por traição, ele foi condenado a morte e executado por um pelotão de fuzilamento em 10 de Outubro de 1945 .
Quem lhe pagava o soldo de traidor e quem lhe elogiava a obediência à mão que lhe pagava?
Os saudosistas da trôpega e pifada tralha do estado novo nunca perdoaram o 25 de Abril.
ResponderEliminarAcometidos nos primeiros tempos aos esconderijos familiares, aos refúgios do Brasil e da África do Sul, às casernas inundadas pela sua própria urina e suor, saíram rápido para o ar livre, tomando de novo as rédeas do poder económico. E não só. Valentemente tem-se mantido esse percurso, em que os donos de Portugal recuperaram o seu pulsar, e em que os seus descendentes, afilhados, capangas e sequazes retomaram a comanda do país.
Com as consequências que todos sabemos. Com o assalto ao nosso trabalho e aos nossos bens, com as privatizações privadas, com a volta das missas em torno do (seu) lucro,nada mais do que o (seu) lucro,só o (seu) lucro. E com o elogio à mais indigna subserviência nacional.
O sotaque alemão ainda se adivinha por vezes, embora agora necessariamente disfarçado, aguardando tempos melhores. Porque quando se descaem escuta-se-lhes o que lhes vai na alma.
Quem disse "Às bestas serve-se a força bruta se forem insensíveis a outros meios" foi precisamente quem fala na conta por pagar
Percebemos todos até onde vão as contas que nos querem fazer pagar
A autofagia do “sistema representativo”, levará inevitavelmente ao seu esgotamento e…implosão!
ResponderEliminarA persistência na apropriação de pretensos dogmas ideológicos,
pelas organizadas elites autofágicas,
segregando a origem,de objectivos propagandeados,
compartimenta os representados universos, reduzindo a capacidade de decisão consequente,
manipulando-os na decisão outorgada...
em interesse próprio!
Porquê ir tão longe para encontrar exemplos de fidelidades ao estrangeiro?
ResponderEliminarPorque ultrapassar os longos anos de fidelidade à Pátria Soviética onde tanta da esquerda portuguesa colocou a sua fidelidade e o seu serviço?
Porque ignorar que tantos conservam essa pavloviana subserviência que, como o perturbado autor das linhas acima, o transfere para uma Rússia czarista e ainda e sempre imperialista?
Porquê ir tão longe tão longe tão longe?
ResponderEliminarUma cantilena ou outra tanto faz.A fuga apatetada( porque por demais evidente) e acobardada ( porque por demais treteira também).
Infelizmente o algodão não engana. Parece que pavlovianamente ( de Pavlov, um russo BUUUU!) os capangas do regime anterior salivavam assim, apostrofando todos de "fidelidade à Pátria Soviética".
Qual o preço que pagavam a tais fulanos para obedeceram assim à mão que lhes dava de comer?
A pergunta que se impõe é esta:
ResponderEliminarEsta direita rendida a trocar a soberania pelo diktat de uma política económica e de interesses de que gosta e que lhe dá força é a continuação daquela direita nacionalista e fascista do "orgulhosamente sós"?
É !
A mão que lhes dá o dinheiro é a mesma.A mão que se apropria do trabalho alheio a mesma é
sabujo zé está em forma com 3 posts
ResponderEliminarsabujo zé ficou incomodado porque também ele alinha na trincheira dos traidores
sabujo zé é um vendido ranhoso que só arrota primarismos
Os palhaços esquerdalhos arrotam postas e estendem a mão à caridade.
ResponderEliminarE dizem-se autónomos e independentes e patriotas.
Uns cretinos!
Cretinos?
ResponderEliminarQue falta de nível
É a mão que marca a dependência e a subserviência.
A mão do dono.
A mão que lhes dá o dinheiro é a mesma.A mão que se apropria do trabalho alheio a mesma é