domingo, 3 de janeiro de 2016
O mérito do jornalismo
Alexandra Lucas Coelho escreveu um bom artigo sobre o futuro da imprensa: para resumir, os jornais devem passar a ser obra de beneméritos a exemplo, sei lá, do Grupo Jerónimo Martins, que neles investirão para evitarem temas aborrecidos como a concorrência fiscal na União Europeia. Os jornalistas dedicar-se-ão menos às reportagens do que à extorsão. Ou se calhar percebi mal.
Estou com Luís M. Jorge, já que também posso não ter percebido. Partilhando a preocupação com os impactos negativos da profunda crise do jornais e do jornalismo, a mim espanta-me que no artigo de Lucas Coelho não haja menções explícitas a políticas públicas.
O enlevo com o filantrocapitalismo é assim tão forte, o senso comum da época é assim tão irresistível? A crença na fraude da responsabilidade social dos grupos empresariais está assim tão arreigada? Até a The Economist, na sua coluna Schumpeter, baseando-se num artigo da Accounting Review, indica que quanto maior é o investimento na dita responsabilidade, maiores são os esforços empresariais feitos para fugir aos impostos: o Pingo Doce, com o seu investimento ideológico, o qual passa por responsabilidade social, acompanhado pelo chamado planeamento fiscal agressivo, ilustra isso mesmo.
Se os jornais e revistas de qualidade são um bem de mérito, satisfazendo uma necessidade relevante, tendo externalidades positivas sob a forma de um espaço público com vitalidade, então o Estado pode ter de assumir mais responsabilidades nesta área: seja através da subsdiação, em moldes, sei lá, inspirados numa Fundação para a Ciência e Tecnologia ou, talvez mais apropriado, dado que é de um bem cultural que, afinal de contas, estamos a falar, num Ministério da Cultura; seja, ai a heresia, através da propriedade pública directa de jornais. Os mercados estão a falhar e as forças de mercado, na realidade, estão hoje a destruir este bem. Que coisas destas, aparentemente, ainda não passem pelo teclado de uma jornalista competente, diz realmente muito sobre o espírito deste tempo.
«a preocupação com os impactos negativos da profunda crise do jornais e do jornalismo»
ResponderEliminar«satisfazendo uma necessidade relevante, tendo externalidades positivas sob a forma de um espaço público com vitalidade»
« Os mercados estão a falhar e as forças de mercado, na realidade, estão hoje a destruir este bem»
PIM, PAM, PUM …venham os impostos salvar-nos!
Felizmente ainda vamos tendo a isenção e qualidade noticiosa da RTP, completamente imune a pressões politico-partidárias. Venha portanto um jornal público resolver o problema.
ResponderEliminar"Os mercados estão a falhar e as forças de mercado, na realidade, estão hoje a destruir este bem."
ResponderEliminarAs pessoas parecem estar a preferir comprar raspadinhas e tabaco a comprar jornais. E dos que compram, a maioria opta por desportivos e tablóides. Está mal. Há que corrigir. Subsídios já!
Quero crer que a partir deste novo ano, (há sempre um começo) “os novos” combates socioinformativos e comunicacionais vão ser travados mais pela diversidade do que pela unidade, e em conformidade com o espirito/desejo, por mais liberdade do que por mais participação.
ResponderEliminarEstas questoes jornalisticas vao ser conflituais visto que o domínio da “cultura tendera´ a sobrepor-se ao da economia” . E´ que nunca em tempo algum o capital se deu bem com a cultura dos povos.
Pertence aos Jornalistas e suas Organizaçoes tomarem iniciativa do avanço cultural. Compete ao consumidor deste serviço cultural necessario, apoiar essa iniciativa.
Os proprietarios dos orgaos de informaçao irao resignar por imperativo nacional ..! Não estou a sonhar! De adelino Silva