sábado, 12 de dezembro de 2015

Uma boca de incêndio

Estranhos tempos estes em que temos um candidato apoiado pelos partidos de direita a fazer declarações amistosas a um governo apoiado pelos partidos da esquerda e uma candidata, que espera ser apoiada pela esquerda, a defender que dissolverá o Parlamento se o Governo de esquerda não respeitar os tratados europeus, mas que, na sua página, prefere sublinhar que não iria dissolver o Parlamento ao governo de esquerda.

Estranhos e sagrados tempos que nos permitem ver Paulo Portas a sustentar a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa quando, em tempos idos, cortara relações com ele por: "a lealdade não ser o forte dele", ser mau e por lhe ter mentido sobre um encontro em Belém com constitucionalistas (o célebre jantar de vichyssoise). Portas cortou com Marcelo porque, "se tem publicado aquela notícia, tinha enganado as pessoas". Disse-lhe: "Não quero vê-lo nem mais uma vez". "Para uma pessoa que quer ser primeiro-ministro, tem de se tornar confiável. E tornar-se confiável significa acreditarmos nele".

Recorde-se que esse corte de relações não resistiu até aos anos 90, quando Marcelo e Portas tentam recriar a AD. Digo "tentam" porque, depois de intrigas em que Marcelo tenta fazer com que o CDS afaste Portas, Portas estoira com tudo numa entrevista à SIC em março de 1999, em que conta o que Marcelo lhe contara que "a maioria da comissão permanente do PSD considera que Portas não era uma pessoa de bem nem uma pessoa honrada… E que Leonor Beleza até tinha insistido para não fazer campanha ao lado dele… E também diz que a comissão diretiva do PP colocou a rutura em cima da mesa… e agora revela que a maioria da direção do PSD era a favor do fim da coligação… Ele pede e exige ao PSD a lealdade que ele próprio deu… Diz que o PSD quer evacuá-lo… Se o PSD duvida e hesita, então cada um segue o seu caminho… O PSD que diga se confia ou não no líder do PP… Era a segunda vez na vida que Paulo Portas tramava Rebelo de Sousa na televisão. Desta vez o caso seria mais definitivo e grave que o da vichyssoise." Marcelo perde o PSD.

A História é uma farsa.

Voltem os tempos límpidos de uma ideologia clara e de um respeito pela inteligência das pessoas. E de alguma, pelo menos, alguma honestidade moral, sem um pensamento estratégico ancorado em sondagens.

Há momentos em que sonho com uma mangueira ligada a uma boca de incêndio. Mas depois retenho-me porque não é muito democrático não aceitar que pessoas esquivas e viscosas, verdadeiros hipócritas de pensamento, possam chegar ao mais alto cargo da Nação.

4 comentários:

  1. Sem dúvida, mesmo quem é torpe tem direito a ser eleito, Mas não devemos nunca deixá-lo envolver-se no manto diáfano da hipocrisia e da mentira. As pessoas devem estar avisadas sobre o carácter de quem vem a jogo. Depois, pelo menos não se podem queixar. Palpita-me que Marcelo irá dissolver a AR assim que tiver oportunidade e julgo que Costa fez muito mal em não ter tomado posição, considerando que apesar de tudo, Marcelo Rebelo de Sousa é um Mal Menor comparado com Maria de Belém Roseira. Não é. Isto dito, não se compreende porque o BE e o PCP não concentram os votos e o eleitorado em Sampaio da Nóvoa. O objetivo último das Presidenciais não é discutir o País, embora isso deva ser feito, é eleger um/uma Presidente da República cujos poderes, sobretudo se mal exercidos, não são de menosprezar. Como o cavacal exemplo demonstra...

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  2. Peço desculpa por fugir ao tema e licença para colocar uma pergunta relacionada com os rankings do secundário qu estão a suscitar os comentários do costume:

    Por que é que no secundário o privado é superior e no superior o privado é secundário?

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  3. Milagres em Portugal e´ raro mas acontecem…Um belo dia do verão de 1963, no arquipélago dos Açores, questionei um quadro superior, militar de seu modo de vida, sobre a sua carreira enquanto – alcoólatra inveterado e viciado em alucinogénicos e actividades sexuais “improprias” ao tempo. Sendo que poderia vir a ser Presidente da Republica, dizia então esse quadro… Foi dos primeiros a ser saneado com o 25 de Abril.
    Ontem como hoje, parece não haver limites para a “permissividade”. O culto da honradez passou a ser medido por milhares ou milhões de Euros. Por isso não admira que a´ falta de melhor, o povo vá contando anedotas populares picantes.
    Será que, para gente desse jaez, o povo terá de fazer o seu saneamento, embora como diz, seja pouco democrático? De Adelino Silva

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  4. A política é isto:
    Portas, o irrevogável, insinuado corrupto em unidversidades e submarinos, dito 'das feiras' e o mais que convenha em cada momento,
    passa a padrão pelo qual Marcelo, conquistada a primazia como alvo, seja avaliado, julgado e condenado.

    Uma merda.

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