segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Lançar três notas sobre o banif


1. O governo “resolveu”, de forma só aparentemente expedita, um problema político legado pelas direitas no Banif. Estas andaram a adiar o problema para iludir os portugueses sobre a natureza da banca: um problema de todos, cuja propriedade teria de reflectir este facto e é preciso repetir isto muitas vezes. Teria, mas não tem: para assegurar a venda rápida neste contexto decidiu-se criar todas as condições ao Santander, o que significa que o controlo da parte “boa” pode continuar a ser privado, mas os custos são sempre socializados, ou seja, tudo o que é mau e duvidoso fica, de forma assumida, por conta do Estado. Fala-se – a Comissão Europeia, que é, com o Banco Central Europeu, quem manda mais, já fala – em cerca de quatro mil milhões de euros de envolvimento estatal global, directo e indirecto, no Banif antes e depois da resolução: entre os mil e cem milhões já injectados, e hoje de resto aprovados em Bruxelas, até aos mais de dois mil milhões para cobrir a tal resolução, passando por uma almofada de centenas de milhões para cobrir riscos do Santander. E isto para um banco relativamente pequeno, com pouco mais de seis mil milhões de euros de depósitos.

2. Tal decisão do governo foi compelida por Bruxelas e por Frankfurt: o Banco que não é de Portugal, mas sim uma sucursal de Frankfurt, “tem em conta” pelo menos os seguintes aspectos: “as consequências de uma provável declaração de ilegalidade do auxílio de Estado ao Banif pela Comissão Europeia (...) a posição das instâncias europeias no sentido de que a alienação do Banif, com auxílio de Estado, é apenas viável num cenário de resolução”. Para tais poderes europeus, o ideal é a promoção de um processo de concentração à escala europeia, com grandes bancos estrangeiros no controlo do que resta na periferia no contexto de uma crise de financeirização indissociável da integração realmente existente. É isto que está de acordo com as suas regras e para isso os recursos públicos da periferia servem. Tudo o resto é ilegal.

3. O Banif deveria ter sido “resolvido”, mas com custos partilhados também pelos grandes depositantes, dado que a garantia pública de depósitos só vai em teoria até aos cem mil euros, e diluído num pólo bancário público revigorado, porque toda a conversa de regulação sem propriedade não passa aqui do equivalente intelectual ao que o sistema financeiro privado fez em grande escala: fraude. Mas este último ponto exigiria desafiar em grande medida as regras europeias (e evitar o primeiro ponto é outra das hipóteses para a pressa). Nada se faz no campo das alternativas sem controlo do Banco Central, sem um Banco de Portugal. A alternativa é rectificar e calar. Atenção, isto não é um país. No campo da moeda e do crédito, do que conta mais no poder económico, isto é uma região. E dependente.

10 comentários:

  1. Mais um prego no caixão das nossas "poupanças" forçadas...Uns levam alegremente os seus meios financeiros para os paraísos fiscais e os restantes, aqueles que nunca podem escapar às contribuições sociais, pagam até ao fundo do poço a rebaldaria da fraude colectiva. Em nome da estabilidade e confiança dos "Mercados"!...Que os "Mercados" não podem estremecer, nem que seja de frio. -Nós os que malandram a trabalhar dia após dia, podemos sim estremecer até nos caírem os dentes todos!...E em boa verdade parece que sim, os Bancos Nacionais vão desaparecendo nas mão de outros Bancos maiores até existirem apenas meia dúzia de grandes Bancos Internacionais. E o que fazer de todos os grandes gestores -tudo gente muito séria- destes falidos Bancos Nacionais?...Reformas Douradas ou transferências para esses grandes Bancos? Sim, porque estes trabalharam bem para aqueles. Merecem melhor que uma reforma dourada, talvez um gabinete forrado a telas de Van Gogh ou Paul Cézanne, que maravilha de futuro, que Céu Estrelado!...

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  2. Tudo bem explicado para pôr toda a responsabilidade nessas figuras predilectas do anti-capitalismo que é O Banqueiro:
    1 - Mais que 'O banqueiro' o que nós temos são 'Os Bancários': um enorme trupe de hipotéticos gestores de risco que na maior parte não foram senão penhoristas de casas e negociadores de dívida pública (PPPs e outras).
    2 - O risco do crédito às empresas é brutalmente agravado pela não responsabilização dos gestores -o que vale também para o risco bancário - pela suspensão (desde a sua nascença!) da aplicação do artº 53º do Código das Sociedades.
    É curioso que ninguém fala desta norma imposta pela UE e que é central na forma como esta põe na ordem os seus gestores. Por cá, na periferia mental, resolvemos irresponsabilizá-los, e agora queixam-se da Europa? Hipocrisias que logo se resolviam assaltando os ricos (grandes depositantes) outro dos lemas do progressismo oportunista.
    3 - E se regulação não há, o que impede de a organizarem? Mas estou em crer que o ponto anterior tornava este irrelevante pois assim que houvesse sinais de crise, mil vozes a proclamariam a defendor os costados da cadeia.

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  3. millhões e milhões queimados na banca e depois andam a discutir tostões de aumento no miserável salário minimo... Sabem que mais, ide-vos foder!!!

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  4. A crise, parece que acabou com os bancos públicos!

    Há aí uns vivaços

    que procuram misturar tudo no mesmo balde e, colocam a "coisa" nos mercados!

    Se faço um depósito na CGD - um banco público, ainda! -

    o garante será o ESTADO, certo?!

    Se faço um depósito no Santander, um banco PRIVADO,

    o garante será o " Botin " lá do sítio, certo?!

    Parece que não...!!!

    Porque será?!

    Talvez EU depois não vá ao " Botin "...!!!

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  5. É sempre a mesma cantiga: só é legal a socialização dos prejuízos!
    (Renegociar a dívida, isso não, é ilegal, e não incomodem os mercados que eles podem chatear-se…)
    O governador do dito BdP é mesmo um incompetente e um vendido; perante tanta passividade, o dinheiro não ardeu, só mudou de mãos. E este povo foi condenado por um contínuo fartar vilanagem.

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  6. "O Banif deveria ter sido “resolvido”, mas com custos partilhados também pelos grandes depositantes ..."

    Duas notas:
    - Essa foi a solução "Chipre", muito criticada à esquerda na altura;
    - É quase impossível manter os grandes depositantes no banco entre o momento em que surgem suspeitas fundadas e o momento da resolução: os grandes depositantes (talvez não todos mas a grande maioria certamente) sabem com grande antecipação que o banco tem problemas e retiram os seus depósitos.

    Independentemente de todas as considerações que é possível fazer a propósito do BPP, BPN, BES e BANIF há um problema de fundo que resulta do próprio negócio bancário tal como ele é feito hoje: são as poupanças que financiam o crédito. As poupanças são consideradas sem risco (garantidas até aos 100 mil euros) e o crédito, como sabemos, tem riscos de incumprimento (já para não falar da má gestão e da gestão fraudulenta). Nessas circunstâncias haverá sempre o risco de um banco perder dinheiro no crédito e em determinado momento não conseguir garantir os depósitos, obrigando os contribuintes a pagar. Essa situação agrava-se pelo facto de os depositantes poderem retirar o seu capital a qualquer momento e em qualquer montante, sem perdas, enquanto o crédito concedido tem prazos alargados e pré-estabelecidos para a sua resolução.
    E isso é um problema de fundo que não se resolve com banca pública (aí os contribuintes até pagam de duas formas: como accionistas e como avalizadores dos depósitos). Quando o Estado português podia imprimir dinheiro, no limite (e com outros custos ocultos) era possível garantir tudo. Agora não. Podemos não gostar mas é um facto.
    Conclusão: o problema de fundo só se resolve quando o crédito for inteiramente concedido através de fundos financeiros cotados cujos accionistas (obrigatoriamente os grandes depositantes, mas podendo incluir pequenos aforradores) partilharem explicitamente o risco (perdas e ganhos continuamente reflectidas nas cotações).
    Quanto à poupança propriamente dita (até 100 mil euros) essa terá de ser exclusivamente efectuada através de um mecanismo único (certificados de aforro?) com garantia, supervisão e nas condições importas pelo BCE (que é quem pode, no limite, imprimir o dinheiro).
    Só nestas condições a falência de um banco não teria qualquer custo para pequenos aforradores ou contribuintes.

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  7. Quero dar parabéns ao PCP por votar contra o orçamento retificativo, revisto para transferir mais uma vez para os contribuintes, afinal os trabalhadores e o povo português, os encargos com a banca, neste caso do BANIF, que deviam ser integralmente pagos pelos respetivos donos, credores e grandes depositantes (salvaguardando aqueles até aos cem mil euros).

    O governo PS, neste caso sem nada que o distinga do governo de direita que o precedeu, dá continuidade à linha de favorecimento da acumulação privada do grande capital financeiro e da monopolização estrangeira sobre a banca nacional, com a venda ao Santader, em vez de favorecer o reforço da propriedade e gestão públicas, com a inclusão de um BANIF devidamente saneado (fazendo pagar quem deve pagar) num "pólo bancário público revigorado", como muito bem se diz no texto, e a reorientação do crédito das aventuras e da especulação financeiras para o investimento produtivo e socialmente útil, nomeadamente nas pequenas e médias empresas, na economia nacional.

    O governo PS não tem dinheiro para recuperar mais depressa o salário mínimo nacional, mas tem o dinheiro que for preciso, mesmo que isso coloque em causa a meta do défice e o objetivo de saída do procedimento dos défices excessivos, tão invocados quando se trata de conter os rendimentos dos trabalhadores, dos reformados e dos pensionistas, o dinheiro que for preciso para despejar nos buracos da banca privada, socialmente irresponsável, enleada em negociatas obscuras, eventualmente ilegais e criminosas, em ocultação de contas e evasões fiscais, em fugas e lavagens de capitais, na aspiração da riqueza dos setores produtivos para a especulação financeira e o favorecimento ilegítimo dos grupos empresariais a que está umbilicalmente ligada.

    Para o salário mínimo, para as pensões e as reformas, para as prestações sociais, para a completa eliminação das sobretaxas e das contribuições extraordinárias, para a recuperação do poder de compra das populações, o dinheiro não chega. Para tapar os buracos do grande negócio privado, o dinheiro chega sempre, sem limites.

    Mas insisto, afinal, digam-me lá neste caso, o que distingue o governo PS, de Costa, do governo PSD/CDS, de Passos e Portas?

    Haja alguém, neste "putedo" todo, como dizia o outro tonto, que saiba manter-se fiel aos compromissos com o seu povo.

    Parabéns PCP. No meio disto tudo é um pouco tranquilizador saber que há alguém com que se pode contar.

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  8. Aqueles que pugnaram por uma integração europeia, e entre eles o PS, podem tirar o cavalinho da chuva, tem de pagar o mal que fizeram a‘ velhinha!
    Muito se tem falado sobre o sistema que impera neste país, nesta Europa dita comunitária sem que se resolva minimamente o Bem-estar-social tao apregoado pelas Elites sociais-democratizantes!
    Meus senhores, já e´ tempo de acabar com o engano ou de se enganarem -: foi proclamado o “estado de sítio” por negligência e os culpados vão sofrer as consequências de actos perpetrados e considerados crimes de lesa sociedade portuguesa…!
    Esta nação e´ uma caixa de surpresas…esta gente e´ bem capaz de “roubar os ovos debaixo da´e uma Cartaxa”.
    Na poupança são piores que a Poupa, que de tanto poupar poe os ovos em ninho de trampa.
    Os espanhóis já não precisam de canhões para integrar Portugal na Hispânia a´ Posteriory. Basta-lhes os migueis de Vasconcelos de ca´. De Adelino Silva

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  9. A geringonça vai funcionar no seu melhor....qual seja, ver-se-à!

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  10. O problema é que os bancos funcionam, embora numa outra escala, à maneira da D. Branca que, como alguns devem estar lembrados, foi parar à cadeia. Emprestam e ganham dinheiro com o dinheiro dos clientes e quando um cai é como um castelo de cartas cai tudo. Toda a gente conhece hoje, ou devia conhecer, os desvarios que em varias partes do mundo os bancos tem cometido, concedendo créditos dificilmente pagáveis, distribuindo irresponsavelmente chorudos dividendos, etc. etc. dando bonus milionários aos seus capatazes. Quando a coisa fica negra, aí esquecem o neoliberalismo e venha o Estado gastador perdulário mau gestor. Só lhe digo que é preciso ter lata...

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