domingo, 11 de outubro de 2015

Registo de uma semana boa

1. À direita, o pessoal está nervoso, muito nervoso. E isso é tão bom de sentir. Basta ouvir Paulo Rangel no "Expresso da Meia-Noite" ou ler os comentadores do Expresso, todos a ter de usar tantas palavras para excomungar um governo à esquerda que quase nem é preciso esforçarmo-nos para rebatê-las. Pressente-se o medo que os torna ridículos, como aquele alerta ao PS de que, se se meter com os comunistas, vai ser "espremido". "Não entendo o que ganha o PS com isso", disse Helena Garrido. José Gomes Ferreira já veio avisar que os mercados podem não gostar e que as taxas podem subir... Assim, sem peias, sem perceber que deu voz à chantagem contra a democracia e que a verdadeira soberania reina algures. Podemos votar se votarmos no que nos mandam. Como se ser capturado por uma ideologia de direita fosse o cartão necessário para entrar num clube privado, cheio de palmadas nas costas.

2. Mas há um argumento que é estranho e que - ainda por cima - é repetido à exaustão: o de que os comunistas não respeitam os tratados europeus. Porque é quase como dizer que os tratados europeus - quaisquer que eles sejam - são um fim em si mesmo. Como se assiná-los fosse o sinal de que pertencemos a um dada grupo, a uma civilização e não fosse, antes, um meio instrumental para atingir certos fins, como um crescimento sustentável e uma vida melhor para todos. Se os tratados europeus criam obstáculos àqueles objectivos maiores, se calhar todos - mesmo o pessoal honesto de direita (a direita nem sempre defendeu o centro da Europa) - consigam fazer esse percurso intelectual e, quem sabe?, chegar à conclusão de que os tratados europeus - desde Maastricht - são estúpidos, do ponto de vista económico e até do ponto de vista dos objectivos comunitários. Quem sabe?

3. Mais estranho ainda é o argumento alegado pela coligação de direita sobre a reunião com o PS, ao estranhar que o PS não trouxera exigências para um acordo. Mas afinal não é a coligação que está em estado de necessidade, de ter de encontrar um acordo de Governo, porque não tem a maioria no Parlamento? Quem quer comprar uma casa, faz ofertas de preço.

4. Mas - mais que tudo! - sabe bem ver as novas caras de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas em minoria.

Até pode ser que nada se concretize, que as pressões sobre Costa sejam intoleráveis. A demissão de Sérgio Sousa Pinto é apenas o início de muitas que se seguirão. Antevejo já António Vitorino a precipitar-se contra um governo de esquerda. Mas a sensação de que é possível outro caminho, que a direita pode sair do Governo, que esta política de austeridade pode ser revertida, vale muito. Foi uma semana inédita e espero que continue.

25 comentários:

  1. Uma semana em que o Bloco de Esquerda desapareceu em combate.

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  2. O nervosismo é justificado. Na hora em que os credores se interroguem sobre uma qualquer mudança de rumo - sabe-se lá o que os motivará – acabam-se os festejos sobre uma inexistente maioria.

    Os tratados são destinados a serem renegociados ou abandonados, assim o subscritor saiba manter a sua autonomia. Quando o tratado incorpora ou é incorporado numa hipoteca, negá-lo é estar disposto a pagar um preço certo. Quem faz contas tem medo, ainda que se julgue ousado.

    Para a mesquinha cena encapotadora da humilhante derrota vai o PaF contribuir pesquisando no programa do PS o que pode servir o ferido ego sem prejuízo grave para o país. Algumas pompas, reverências e mordomias terá de acrescentar para que também os próceres possam manter a petulância que é de uso na esquerda pequeno-burguesa.

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  3. Eu assino por baixo. Mas, mais difícil do que compreender o nervosismo da Direita é perceber até que ponto as posições ditas europeístas formatam a opinião de muitas pessoas no PS de modo francamente anti-democrático. Eu, apesar do meu Centrismo, calho de ser agrupado, segundo a classificação de Francisco Assis e de outros militantes do PS, no mesmo grupo que a Esquerda Radical ou a Extrema-Direita (que ele tem pelo menos a boa educação de separar um pouco, contrariamente à Direita, veja-se a posição de um José Manuel Fernandes), só porque considero que o Euro estrangula a nossa Economia (como muitos Centristas, inclusive do Centro-Direita, nos Países Anglo-Saxónicos, que sabem algo sobre zonas monetárias óptimas). Presumo que sou do Centro-Radical, só não quero que me agrupem com Blair e Giddens... Resumindo, se ser europeísta é isto, então sou euro-céptico com muito orgulho...

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  4. Escreve-se «espremido» e não «expremido». De resto, o artigo está bom.

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  5. Clara Ferreira Alves ontem no Eixo do Mal também me surpreendeu dizendo que o seu voto em António Costa não tinha sido para um governo de esquerda.Então foi pra quê? Pra não deixar a direita governar à vontade. Não será esta uma opção com conotação negativa? Não deixar governar versus governar. Será que ha muitas Claras?

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  6. É mesmo isso: o coro da direita está a começar a cantar…ignorando que uma maioria não quer este governo.

    Na tentativa de clarificação encetada por A. Costa, que considero, aliás, de grande utilidade, na medida que pode desfazer enganos e desenganos, era previsível haver amuos e deserções. Ainda bem que as pessoas se revelam e mostram a face.
    Isso mesmo se está a passar com a UGT, cujo secretário-geral não quer a aproximação do PS ao PCP e BE. Ele lá terá as suas razões (pessoais, estratégicas?); no entanto, de uma vez por todas a UGT mostra definitivamente de que lado está. Pena que haja ainda algumas associações sindicais de mérito, que pertençam à UGT…Até quando?

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  7. regressarás já com Governo pela Esquerda? se assim for espero-te no aeroporto com cartaz

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  8. Assinaria, um por um, todos os parágrafos deste post.
    Sabe bem ver a cara de pânico deles, ah, isso sabe...

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  9. Para além da derrota eleitoral, que significou a ineficácia de 4 anos de discurso político, vai a esquerda engolir a sua suposta maioria.
    Bom apetite!

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  10. A entrada de Portugal na CEE não foi plebiscitada, foi decidida e ponto final. Mas o PCP nem sequer põe em causa isso e muito inteligentemente. Apenas exige uma política que sirva os interesses de toda a população, SNS melhor, Segurança Social melhor, nível de vida melhor, emprego condigno. Se isso não vai ao encontro das necessidades de TODOS o que é que vai?...

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  11. Ah e a UGT aquela Organização Sindical criada à pressa!

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  12. A disponibilidade do BE e PCP contribuirem para o governo da nação é uma alteração muito positiva na vida nacional. Passando por cima das recusas anteriores de falar com a troika,odio a recuperação e passagem das avaliações e o silencio na campanha, temos que saudar esta nova postura dos esquerdistas. O páis não é só deles e estão dispostos em dialogo, darem o seu contributo para o progresso. com todos os outros.
    Se não der rsultado, teremos sempre após uns seis meses siryzicos, a troika cã novamente; nada que estranhemos.

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  13. Meireles no país das maravilhas!
    'vai ao encontro das necessidades de TODOS'? Primpimpim...faça-se!

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  14. até o pobre Jose está nervoso
    mas pensando melhor, ele sempre foi nervoso, sempre latiu a todos os transeuntes que passam

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  15. "Sabe bem ver a cara de pânico deles, ah, isso sabe..."

    Ontem fui almoçar ao Gambrinus e o pânico era generalizado. Alguns até deixaram de comer, coitados.

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  16. Hoje é o dia em que o Costa vai levar a Belém o programa que é o consenso dos três partidos ditos de esquerda - Um comuna clássico, um trotskista e um social-democrata, para simplificar.

    Que emoção!
    Uma frente de esquerda enfim! Ao fim de 41 anos de deriva ideológica, em menos de duas semanas, sob a liderança do Mahatma nacional, faz-se luz e treteiros transfiguram-se em governates. Não é pouca coisa!

    A confirmar-se, aproximam-se dias trágico-cómicos!
    Trágicos no sentido da mais recente versão da tragédia grega.
    Cómicos no sentido da originalidade abrilesca, treteira e delirante.

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  17. "À direita, o pessoal está nervoso, muito nervoso."

    Deve estar a gozar, não?

    PS “partido” (http://www.ionline.pt/artigo/416336/bloco-fora-do-governo-do-ps-mas-quer-viabilizar-orcamento-socialista?seccao=Portugal_i) - no interior

    Sérgio Sousa Pinto rompe com a política de Costa para a esquerda (http://www.publico.pt/politica/noticia/sergio-sousa-pinto-demitese-da-direccao-do-ps-1710754)

    UGT não vê com bons olhos um acordo do PS à esquerda (http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4828412)

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  18. Redobra-se a esperança da maioria de esquerda!
    Uma nova aventura sacode de emoção um país embrutecido por quatro anos de mensagens conservadoras: poupar, pagar dívidas, viver dentro das suas popossibilidades.
    Reaviva-see Abril na audácia dos novos líderes decididos a reescrever a História que teima em querer negar aos povos fazer do pouco muito.
    Que emoção!
    Avante Mahatma Costa!

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  19. Sou um centrista nato, antes das eleições eu diria que um bloco central era o melhor.

    Mas ao ver a atitude do PSD/CDS, que apesar de perder a maioria que tinha, agir como se os restantes partidos tivessem de "lhe beijar a mão", irrito-me e digo: Venha de lá a coligação com o PCP/BE.

    Não irão sair nem da NATO, nem da UE, nem do Euro. Terão à mesma as restrições orçamentais que Portugal tem.
    Mas ao menos podem provar que:
    a) Não comem criancinhas
    b) Têm gente competente, que pode fazer coisas bem feitas
    c) Apesar das restrições que temos, continuamos a ter opções.


    Ao PCP/BE apelo:
    Ninguém vos pede para gostarem da NATO e Euro, apenas que compreendam que isso não foi discutido nas eleições. Não vale a pena forçar o assunto.
    E creio que o cidadão comum comprenderá se disserem "não somos a favor, mas em negociações não se pode ter tudo"
    Provem aos outros, e a vós mesmos, que podem construir algo para o Pais.

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  20. Sou sindicalizada num sindicato integrante da UGT, já avisei o sindicato, ou vejo medidas para expulsar esse traidor dos trabalhadores que lhe pagam, um tal Carlos Silva, ou abandono o sindicato... Cheira-me que como eu haverá boas centenas de milhar. Deixem-se de desculpas esfarrapadas, é hora de cumprir a constituição e mais do que 50% votou em partidos cujo lema principal foi oposição a esta politica , não é novidade de agora, o que marcou os programas com que PS, BE e PCP se apresentaram a votos foi entrar por outra vi,a outro caminho oposto a este percurso de desgraça a que este governo nos submeteu, por isso é natural que a convergência se faça entre estas forças que têm toda a legitimidade para governar... Quanto às forças do PS já é tempo de limpar o partido de PPDs camuflados, quem manda no PS são os militantes e as bases Tem sido massacradas por este Governo cuja principal obra foi arrasar a classe média. Não o venham com acordos com o PSD porque isso não lhes garante tachos, a lei social é implacável: no dia em que fizerem acordos com o PPD contem com o abandono das bases que terão de procurar um partido que represente os seus interesses.

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  21. Venha o bloco de esquerda a formar governo com o PS e cometerá um erro estratégico que lhe será certamente fatal.

    Albertobei

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  22. Nada a opor a um governo que será uma espécie de mínimo denominador comum de PS/BE/CDU, com o mote "menos mau do que os que lá estão". Tenho, no entanto, que fazer 2 reparos ao autor, a bem da verdade:
    1. No ponto 2 do post, quanto à questão estratégica dos tratados internacionais, UE, NATO e companhia. A verdade é esta: os partidos que defendem o status quo atual, i.e., a manutenção de tais tratados, obtiveram 80% dos votos dos portugueses, tendo sido o maior consenso que foi obtido nestas eleições. Colocar em causa isto é ter uma leitura enviesada dos resultados eleitorais. Por isso mesmo CDU e BE, retiraram toda e qualquer exigência direta ou indireta a esse respeito, mas o argumento tem toda a propriedade.
    2. Quanto ao ponto 3, as negociações entre os diversos partidos, também me parece que o autor sofre de alguma clubite. Aparentemente, como o PS quer chefiar um governo com BE e CDU, estes apresentaram as condições para o viabilizar. Da mesma forma, como o PSD/PP quer chefiar um governo com o PS, se este tivesse de boa fé a negociar, teria apresentado as condições para viabilizar tal governo. Mas não foi assim, porque o PS não quer. E está no seu direito, mas tem de o dizer claramente aos portugueses.

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  23. K:
    Ok, isso mesmo é o que eu penso.
    Já somos muitos e isso é que "inquieta" quem acha que a eles não existe alternativa. Existe e mesmo dentro de alguns constrangimentos, o mais importante é o conseguido: -Governar mais à esquerda que estes senhores da "Frente - Portugal Ao Fundo".

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  24. A grande estratégia do PS está já definida:
    Se o PaF se aproximar o bastante do seu programa a resposta será: Para governar com o nosso programa somos nós quem está melhor preparado: temos modelos, estudos, economistas, grandes dirigentes.
    Se o PaF não se aproximar o bastante aliam-se à esquerda
    Gente deste calibre merece o poder! São verdadeiros caudilhos.

    O Sócrates meteu a mão na massa.
    O Costa mete a mão nos votos.
    De facto o Seguro não estava à altura de tais pergaminhos

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  25. José : e o durte lima mata velhinhas, o luis filipe menezes estoira camara de VNG,a SLN,oops!, rebranded Galileu saca milhares de milhões de € e, eu PAGO!Seu grande filho da puta!Paga tu, os demandos dos aparatchyks, dos banksters e oligarcas

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