1. Estava totalmente errado sobre o significado político da viragem referendária na Grécia, que pareceu iniciar um caminho alternativo liderado por Tsipras. Desculpem, mas foi o optimismo da vontade a falar. Voltará a acontecer, claro.
2. Quem afinal de contas nunca teve um plano B, técnico e político, que teria de ser o A num contexto de fusão da questão social com a questão nacional, tem de se sujeitar à austeridade, a privatizações, a ataques de difícil reversibilidade ao salário directo e indirecto, e a ver a dívida a ser usada pelos credores, nos seus tempos e interesses, como instrumento de conformação com uma ordem pós-democrática: do absurdo à tragédia continua ser um bom resumo grego destes dias negros, negros.
3. A ideia de expulsar a Grécia do Euro, que é sempre anunciada, mas que nunca será concretizada por iniciativa de quem manda e de quem beneficia com este arranjo, teve e terá por objectivo obter a rendição dentro do Euro, o que, numa certa óptica imperialista inerente à Zona, fez ainda mais sentido político depois da última proposta apresentada pelo governo grego e que anulava politicamente o efeito de um referendo tão custoso quanto corajoso.
4. Enquanto certa esquerda luta por mínimos, já longe dos que foram fixados programaticamente, neste quadro estrutural sem instrumentos até para esses mínimos, as direitas sabem o que querem e, mais importante, têm os instrumentos máximos do Euro.
5. Neste contexto, Francisco Louçã tem obviamente toda a razão quando escreve: “enganam-se os que escrevem, na Grécia e noutros países, que estamos a assistir à surpresa de um golpe: de facto, o golpe já está inscrito nos tratados e está simplesmente a ser aplicado.” Euro-imperialismo, de facto.
6. Entretanto, o papel desempenhado pelo governo “socialista” francês na semana que passou é absolutamente coerente com a trajetória desta gente desde a trágica capitulação de 1983. Têm conhecimento e experiência, de facto. A França ajuda a que todos fiquem trancados num arranjo, que não é só cambial, e que ajuda na dominação económica, e logo política, alemã.
7. Os termos fixados ainda antes da vitória do Syriza – saída ou capitulação – são os que sobrevivem e também foram reafirmados por um documento apresentado pela Plataforma de Esquerda do Syriza na semana passada. Não se desiste.
8. O método de análise que deverá ser seguido consiste em comparar o que o governo grego aceitou para os próximos anos com o que estava escrito no programa de Salónica. A verdade é que este exercício só nos levará à conclusão de que nesse programa havia uma contradicção insanável. Ela foi por agora resolvida pela pressão estrutural.
9. À esquerda portuguesa que se mantiver na contradicção de Salónica terá de ser dito: o vosso programa não vale o papel.
10. O europeísmo, entendido como a prioridade à reforma institucional na escala da moeda, morreu hoje à esquerda da antiga social-democracia.
11. A saída do Euro faz hoje parte do adquirido estratégico da esquerda portuguesa que quiser aprender com as lições gregas.
12. Não há atalhos políticos. Só um trabalho de construção programática e de acumulação de forças poderá fazer a prazo a diferença no contexto português.
Só alguém muito alienado pela dialética política vigente poderia acreditar que o "socialismo" burguês françês poderia fazer a diferença perante o quadro europeu actual.O sistema bi-partidário(tipo bloco central no euro)tomou conta da política e da estratégia ao serviço do sistema económico/financeiro e da visão de um mundo de competição entre blocos(já não só entre Estados)onde a Europa está agora(já o estava em outros sentidos)a meio caminho entre o sistema USA e o sistema China.E o pior é que perdemos 40 anos(não foram só 20)a encher "chouriços" com lutas ideológicas inúteis e ultrapassadas(que ainda persistem qual loucura,sendo muitas vezes apenas camuflagem para interesses oportunistas e corruptos)tendo como resultado as "mil" fracções na suposta "esquerda" e a alienação de uma percentagem importante do eleitorado(pondo de lado agora os abstencionistas e afins desconfiados)a qual poderia e deveria estar a "fomentar" uma alternativa verdadeira e credível(a qual se existe não se descortina)tendo em conta a realidade e a situação do país e do contexto na UE.Salva-se nisto tudo(no contexto nacional e europeu)até ver os tachos dos corruptos instalados(com algumas excepções) e dos "comentadores"(tv e rádio)...e do humor(onde não param de aumentar as novas oportunidades).Trágico
ResponderEliminarNotável análise:
ResponderEliminarCriar as novas Albânias no seio do Império Europeu, eis a luta que se coloca à verdadeira esquerda!
Lá se vai o internacionalismo; o futuro está na autarcia, único universo wm que o homem novo pode medrar pastoreado pelos 'melhores' dentre os homens velhos e derrotados.
Ainda há três anos, Louçã aterrorizava a população com motins e o exército à porta dos bancos em caso de saída do euro. Escrevia então, com Mariana Mortágua, que não era uma alternativa defensável: «Escrevemo-lo com clareza: no contexto atual, a saída do euro é a pior de todas as soluções e só pode ser imposta por vontade do diretório europeu».
ResponderEliminarEntretanto, a custo, muito a custo, lá foi abrindo os olhos e hoje defende o oposto, que dentro do euro não se põe verdadeiramente fim à austeridade.
E o bloco de esquerda, quantos anos precisará mais?
(Do PS já nem falo, há muito que se rendeu ao neoliberalismo, esteve sempre com a direita na sua implementação no país.)
Não há lições a tirar dos acontecimentos gregos? Mais uma vez, a confirmação da grande lição:
«Não é possível uma política de esquerda dentro do euro». Ou o Bloco aceita isto ou é melhor mudar de nome.
A iminência do desmascaramento da treta da alternância( país ),
ResponderEliminarlevou os gabirus instalados a subir uns degraus no processo de decisão
( europa ),
enquanto consolidam o patamar de decisão seguinte
( europa ).
Tudo em nome do POVO mas... não REPRESENTANDO o POVO.
A democracia representativa, é um LOGRO.
O Syriza é mais um... " em nome do POVO ",
...ainda por cima, da "esquerda radical" e... com REFERENDO!
A bem da CREDIBILIDADE, tem de se "tirar o tapete".
NÃO VAI LÁ COM "MAL MENOR".
Uma correcção,
ResponderEliminar"enquanto consolidam o patamar de decisão seguinte
( global )."
Isso mesmo
ResponderEliminaré o que penso
e... não foi por acaso
que não fui enganado
Tsypras falhou. Ao abdicar desde o início das negociações do seu melhor argumento que seria admitir uma eventual saída da Grécia do euro tornou as ultimas “negociações” mais difíceis para si. Seguros de que jamais Tsipras admitia uma saída do euro os agiotas credores deram-se até ao luxo de lhe proporem uma saída “negociada”.
ResponderEliminarTsypras deveria compreender que esgotadas todas as cedências razoáveis, para além das quais já não faz qualquer sentido falar-se de uma alternativa à austeridade, que constituiu a base das suas promessas eleitorais e uma estratégia que foi sufragadas pelo povo grego no referendo da semana passada, só um caminho lhe restava, a saída do euro.
Se não é possível um caminho alternativo à austeridade dentro do euro então não resta outro caminho aos partidos de esquerda, aos povos dos países sufocados e aprisionados no euro, do que procurar outra via fora do euro por mais custos iniciais que tal possa acarretar.
Aceitar a austeridade sem fim, aceitar os ditames da ditadura financeira, aceitar o futuro sombrio do empobrecimento e do agravamento das desigualdades sociais, aceitar a capitulação de todos os seus ideais é miserável, totalmente desonroso e constitui uma deslealdade para com seu povo.
Espero, de facto, que isto seja o fim do europeísmo ingénuo de quem se diz de esquerda. Espero que esta lição seja aprendida pelo BE, pelo PCP, e por todos os outros partidos e movimentos de esquerda. Espero que fique claro que não há volta a dar: ou se sai do Euro, se renuncia aos tratados vigentes nesta UE que temos, e se alteram estas regras de acumulação capitalista em que vivemos, ou espera-nos um belo paraíso de Direita nesta UE.
ResponderEliminarE, já agora, que estamos tão centrados no nosso umbigo europeu, não nos esqueçamos do TTIP, agora aprovado pelo Parlamento Europeu. Se ele entrar em vigor, tudo o que acontece hoje-em-dia na UE parecerá uma brincadeira de crianças... veja-se https://www.nao-ao-ttip.pt/
«Dis-toi bien une chose: Le pouvoir, d'òu qu'il vienne, c'est vraiment de la merde» (Leo Ferré)
ResponderEliminarFrancisco Oneto
Quando a mais forte arma desta "Europa da solidariedade" é a chantagem da fome e da destruição, podemos concluir que o futuro é brilhante. O recado ficou dado: há que calar a boquita e voar baixinho, muito baixinho, caso contrário a mamã Merkel, coadjuvada pelo queixinhas do Hollande, dá tau-tau.
ResponderEliminarEntre a solícita sabujice dos santinhos Pedro e Paulo e o milagreiro António dos "nins" faseadamente "construtivos" e geradores de "grupos de pressão alargados", o caminho para o (nosso) desastre continua a bom ritmo. E, sobretudo, nada de perguntar ao povo o que o povo quer, pois o castigo cairá do céu de Bruxelas fulminante como a ira divina.
Ao João Rodrigues eu recomendo a leitura deste artigo, que diz tudo o que eu penso:
ResponderEliminarhttps://www.byline.com/column/11/article/164
Um muito bom post de João Rodrigues, completado pelas intervenções dos anónimos das 11 e 38 e das 16 e 30. E de Rogério V.G.Pereira, Carlos Serio e Carlos.
ResponderEliminarO desenho está a cada dia que passa a ficar mais completo. Cabe a cada um de nós tirar as conclusões devidas. Pesem os ditos sobre os "homens velhos e derrotados" com que um ou outro canta vitória, enquanto não repara que a velhice e a decadência lhes roem o corpo e a "alma".
Será só pelo cheiro que um dia repararão que...E o fundo das casernas será o seu destino à espera que apareça outro providencial homem para lhe oferecer o presente de aniversário esperado.
Pode ser que se enganem de novo
De
Os factos não confirmam as fantasias: 85% dos alemaes querem a Grecia fora do euro.
ResponderEliminarOs portugueses x% apoiam os valorosos incompetentes que governam a Grecia, mas não pretendem seguir as pisadas.
Os portugueses não vão seguir as pisadas de ninguém: já enterrados até ao pescoço, vão ficar no mesmo sítio e irão, inexoravelmente, ao fundo, ainda que "os valorosos incompetentes" que governam este país repitam um milhão de vezes que "nós não somos a Grécia".
ResponderEliminarEnquanto a solidariedade for entendida como mama inesgotável, adivinha-se que se prolonguem as angústias da esquerda!
ResponderEliminarEnquanto a esquerda é alegadamente consumida pela angústia, os germanófilos de serviço deitam foguetes e soltam urras pelo advento oficial do IV Reich alemão, cuja "bandeira de sangue" é a destruição da Grécia... Diga-me cá, caro senhor "José", nesse seu opíparo banquete germânico de que parte do Schäuble é que gosta mais: do "Wolf" ou do "gang(ue)"?
ResponderEliminarAhahah
ResponderEliminarE a sistemática "mama"não deixa de ser mui elucidatica