Da entrevista de Varoufakis à ABC:
"Como governo responsável, sabendo muito bem que havia uma aliança muito significativa no Eurogrupo cujo objectivo era lançar-nos para fora do euro, tivemos que fazer contingências". "Tínhamos de ter uma pequena equipa de pessoas a trabalhar em segredo que criaria o plano no caso de sermos forçados a sair da união monetária conhecida como zona do euro."
"Claro, há aqui um problema. Quando este plano começa a ser implementado, a partir do momento em que se passa de cinco pessoas a trabalhar nele para 500, que é o mínimo necessário para implementá-lo, o plano torna-se do conhecimento público. No momento em que se torna do conhecimento público, o poder da profecia cria uma dinâmica própria... Nós nunca fizemos essa transição de cinco para 500 pessoas. Nós nunca sentimos que tínhamos um mandato para fazê-lo. Nós nunca planeámos fazê-lo. Tivemos o projecto no papel, mas nunca foi activado."
Ou seja, um governo que esteja determinado em travar a austeridade no seu país tem de estar preparado para tudo e ter um mandato democrático claro para o efeito. Quem jura que não imporá austeridade nem sairá do euro arrisca-se a entrar rapidamente em contradição.
De resto, foi o que sempre aqui escrevemos.
Pelos vistos o próprio Varoufakis concorda com isso mesmo:
ResponderEliminar"aroufakis fala também pela primeira vez da derrota política que o levou a sair do governo. Segundo a versão do ex-ministro, propôs ao governo um plano com três ações caso o BCE obrigasse ao encerramento dos bancos: a emissão (ou o anúncio) de uma moeda paralela (uma promessa de dívida conhecida como IOU), o corte na dívida detida pelo BCE desde 2012 e tomar o controlo do Banco da Grécia. “Perdi por seis contra dois”, diz Varoufakis, que voltou a insistir no plano na noite da vitória do OXI.
Mas o governo tinha outros planos, segundo Varoufakis, que levaria a “mais concessões ao outro lado: a reunião dos líderes partidários, com o nosso primeiro-ministro a aceitar a premissa de que o que quer que aconteça, o que quer que o outro lado faça, nunca vamos responder de forma desafiante. E basicamente isso significa desistir… deixa-se de negociar”."
E assim morre aquilo que foi a esperança de que alguma coisa mudasse!
Este Varufaquis só vem confirmar o que já se sabe.
ResponderEliminarComo académico que é, e vivendo no mundo dos livros (como o nosso Pais Mamede) é perfeitamente inconsequente.
Já estava "cheinho" de medo, só esperava que o SIM ganha-se para se demitir e sair pela porta da frente.
Enganou-se redondamente (a teoria dos jogos no papel dá resultados diferentes ) e assim teve de fugir saindo pela porta dos fundos, virando as costas a um Povo que acreditava nele.
cumps
Rui Silva
É tempo de acabar com o argumento, na verdade com a desculpa, de que o governo grego não estava mandatado para sair do euro. A saída não vinha no programa eleitoral, mas a contrária também não. Sem dúvida houve muitas declarações de campanha irrefletidas, irresponsáveis ou oportunistas sobre a permanência no euro. Mas uma coisa é certa, o que o governo grego não estava era mandatado para reforçar a austeridade aceite pelos governos anteriores, muito pelo contrário. Em caso de conflito, a escolha de um governo de esquerda, um governo eleito para combater e vencer a austeridade, não pode ter hesitações. A população grega, maioritariamente, não hesitou no referendo e repare-se que o risco de saída estava bem presente (como se viu tanto em declarações de votantes do Sim como do Não).
ResponderEliminarEstar preparado para tudo e não escolher nada, ou pior, como no caso de Varoufakis, Tsipras e Cia., escolher ficar dentro do euro, é um caminho que leva rapidamente à derrota (Varoufakis) ou, ainda pior, à traição (Tsipras).
Espero que os que acham muito importante estar preparados para tudo, mas deixam “desativados”, “no papel”, no segredo dos gabinetes, no meio ultra-restrito de 5 pessoas em vez de 500 (quando deviam ser 5 milhões!), com o argumento confrangedoramente ridículo “do poder da profecia que cria uma dinâmica própria”, tenham aprendido entretanto que, dessa forma, não se está na verdade preparado para nada.
Porque o grande capital europeu e os seus agentes políticos, esses não têm medo das suas dinâmicas auto-realizadoras. Aliás, nem as deixam a realizar-se a si próprias, reforçam-nas com todo a força da institucionalidade europeia. Não têm medo das suas profecias, das suas escolhas, fazem por elas.
Não há política verdadeiramente de esquerda dentro do euro. Claro que pode haver tal ou tal medida bem-intencionada, vagamente progressista, humanitária, parcial, limitada, muito limitada, para não colidir com a austeridade imposta pelos constrangimentos económicos, monetários e financeiros do euro (pacto de estabilidade e crescimento, tratado orçamental, governação económica, enfim, de toda a arquitetura da união económica e monetária).
Quem não percebeu isto, quem não percebeu que é preciso fazer escolhas e que é preciso estar preparado, não para tudo (isto é para nada, ou para não mudar nada), mas para essas escolhas, desistiu da política de esquerda, desistiu da política progressista, desistiu da política autónoma, num certo sentido até quase que desistiu da política, substituindo-a pelo acato da tecnocracia comunitária, cada vez mais reforçada e enviesada para servir o grande capital financeiro. Como ensina o processo grego desde o referendo, até desistiu da democracia.
Não, meu caro, tem alguma, mas cada vez menos razão. É tempo é de começar a fazer escolhas e de preparar-se para elas. Não de preparar-se para tudo e deixar tudo na mesma (ou pior).
Complementando o Anónimo, ou fazemos as escolhas ou elas serão feitas por nós, e depois é o que as entidades divinas quiserem.
ResponderEliminar"Assim morre aquilo que foi esperança que alguma coisa mudasse?
ResponderEliminarIsto é um disparate de todo o tamsmho (um outro tipo diria, "isto é uma treta")
Homens ditos providenciais quase sempre foram pequenos ou grandes crápulas , como por exemplo oliveira salazar.
E não o sendo, Varoufakis não pode ser acusado de tal.Pode ser-lhe imputada muita coisa, mnas de tal não.
Portanto mitos salazarentos , salazaristas e afins...não obrigado.Não passam.
De
Do Anónimo acima: "Não há política verdadeiramente de esquerda dentro do euro. Claro que pode haver tal ou tal medida bem-intencionada, vagamente progressista, humanitária, parcial, limitada, muito limitada, para não colidir com a austeridade imposta pelos constrangimentos económicos, monetários e financeiros do euro".
ResponderEliminarTalvez tenha sido isso que o Syrisa não quis ou não foi capaz de entender. Temos também de questionar a mentalidade pequeno-burguesa de Tsipras. Quem cede não transforma, fortalece o opressor, e a libertação faz-se nas ruas e com a certeza firme da inegociabilidade dos princípios. Resistiu meses, mas cedendo aos poucos, e o único apelo que fez ao seu povo foi o bem comportado referendo. Nem depois do OXI maciço foi capaz de se apoiar no desejo dos espoliados,indicando-lhe que só restava à Grécia um caminho de esperança, a saída do Euro.
Há alguém que não esteja preparado para tudo,neste pobre país? A existir,mandem-no para Fátima!
ResponderEliminarEstou na generalidade de acordo com o que diz o anónimo das 19 e 33.Um texto muito bem construído, tanto do ponto de vista da sua dinâmica expositiva, como no seu conteúdo.
ResponderEliminarUm texto com garra.Com muita garra
De
O processo de “luta de classes” global que se intensificou, pode levar a´ implosão da U.Europeia, como levou a´ implosão da U.Soviética. OS próprios USA poderão esfumar-se…
ResponderEliminarO que esta´ em jogo e´ toda humanidade e não só a Grécia ou a Europa.
Neste momento vê-se o aparecimento de blocos de países em dik-tack económico ou geoestratégico que procuram opor-se a´ hegemonia do império norte-americano mas AINDA sem condições militares que ofusque a NATO, ponta de lança.
A Russa Gasprom com acordos já assinados quer passar com o gasoduto pela Turquia e a Grécia. Da Asia-Menor para a Europa. Os americanos não veem com bons olhos tal operação, como não gostaram do gasoduto Russo Báltico/Alemanha.
Os BRIC´S apresentam-se em força em todos os continentes com poderosos países e a geopolítica Chinesa e Indiana como cavalos de troia com seus milhares de milhões de pessoas darão uma ajudinha.
A América do sul onde se intensificou mais a “luta de classes” esta´ a impor um novo stato quo. Mas de sentido contrario.
Não são profecias do Bandarra! Por Adelino Silva
O grande erro do Syriza foi só um: assumir o poder a destempo. Quando o Syriza chegou ao poder, já os bancos germânicos e gauleses tinham saído de cena com os bolsos bem forrados. Fosse a assumpção do poder do partido de Tsipras mais precoce, e tivesse ele a coragem de exigir a reestruturação da dívida ou, caso contrário, a Grécia saíria do euro, e o pânico seria geral. Bem vistas as coisas, só assim se teria resgatado a Grécia e o moribundo projecto europeu. Agora, é tarde para a Grécia, mas também, embora haja por aí muita gente cheia de fé em milagres, para a UE.
ResponderEliminarDizem agora os nossos doutos "comentadeiros" que o problema foi a Europa "empurrar o problema com a barriga". Enganam-se redondamente: o grande problema foi a criação de uma casta de politiqueiros europeus que nunca, mas nunca, se deram ao trabalho, nem para isso tinham capacidade, de pensar a Europa e os seus velhos, velhíssimos pecados. Quando ouço alguns senhores e algumas senhoras a lamentarem o descalabro do "projecto europeu" mais os seus setenta anos de "paz", eu pergunto: que paz? Acaso a paz é paz, só por a guerra não ser dentro da nossa sala de estar? Que paz foi essa de setenta anos que levou a guerra imperialista à Indochina e à Indonésia, à Argélia e à Malásia, a Angola, à Guiné, a Moçambique e ao Canal do Suez, ao Congo e aos diversos conflitos balcânicos? Que paz é essa que destruiu o Iraque, arrasou a Líbia e semeou a guerra por procuração na Síria e, por ausência, na Ucrânia? Perguntar-me-ão que tem isto a ver com a situação actual. Pois eu digo-vos: quando os velhos erros e pechas não são devidamente pensados, racionalizados e resolvidos, eles, mais tarde ou mais cedo, voltam para assombrar-nos. E o que voltou (alguma vez terá ido embora?)para nos assombrar foi a velha desgraça do imperialismo europeu triturador de povos e destruidor de territórios, imperialismo esse agora travestido de criptofascismo monetário. O que fazem agora à Grécia e aos gregos já o fizeram a outros, há muito ou há pouco tempo. O bacilo voltou para casa e recomeçou o seu trabalho. A paz, que nunca foi paz, acabou.
A tragicomédia, cá pelo luso rincão, continua imparável: se o bom do Passos Coelho garante que a benfeitoria feita à Grécia teve o singelo contributo da sua profundíssima sapiência política, já António Costa nada mais inteligente achou para dizer do que afiançar que a feliz conclusão da crise grega só foi possível graças à intransigente posição dos socialistas europeus... Credo!!! Eu bem sei que, em território europeu, não há onças ao natural, nem consta que os ditos senhores sejam assíduos frequentadores de jardins zoológicos, e, assim sendo, nem Pedro nem António podem dela declarar-se amigos. No entanto, o cuco é nele relativamente abundante... Mas, vendo a coisa melhor, os ditos senhores cucos não podem, também, ser: é que o sábio cuco põe o ovo em ninho alheio não dando disso notícia. O que, digamos, quando o ninho onde se põe o ovo não passa de uma trágica cloaca infernal, é do mais chão bom senso cucal.
ResponderEliminarEstou siderado!
ResponderEliminar-Tsipras renunciou ao que sempre defendeu por amor à Grécia e ao seu Povo, mas o resultado pode ser trágico, porque imprevisível, como certamente trágico seria aceitar sair do Euro sem nenhuns apoios firmes.
-A Rússia não tem capacidade de fazer seja o que for em termos económicos no Mundo. A sua alta Finança está disseminada e comprometida com toda esta situação.
-A Alemanha e cúmplices do Norte, dominam completamente à vontade a zona Euro. -Portugal deu um par de arrotos na cimeira Euro e Pedro Passos quer que isso se saiba em todo o País.
Valha-nos Zeus!!!
Os Gregos têm, como sabiamente por aqui têm veementemente afirmado alguns altos pensadores da direita, de viver do que é seu. Esses "mamões" criaram o péssimo e muito desagradável costume de viver à grande com aquilo que é dos outros. Mirem-se esses gregos no magno exemplo de um povo do Sul que sempre viveu daquilo que era rigorosamente seu: nós.
ResponderEliminarCumprem-se agora 600 anos que tomámos Ceuta para... vivermos do que era nosso. Seguidamente, fomos pilhando a costa ocidental africana para... vivermos do que era nosso. Em 1498, chegámos à Índia (e só de lá saímos em 1961, "empurrados" por Neru) para... vivermos do que era nosso. Em 1500, tivemos a sorte de tropeçar no Brasil e, obviamente, enchemo-nos de ouro e diamantes que... eram nossos. Acabada a mina brasileira, virámo-nos para Angola mais os seus escravos, ouro e diamantes que... eram, sem dúvida nenhuma, nossos. Quando os angolanos, esses ingratos, acharam que nada do que pertencia à sua terra era nosso, a coisa deu para o torto. Num ápice, após os aziagos sucessos de 1974/1975, deitámos fora o caqui da nossa vocação africanista e descobrimos, maravilhados, a nossa filiação de rija cepa europeia. Com o maná de fundos comunitários, os incentivos à criação de carapaus a seco, uns milhões para o desenvolvimento da estirpe aquática do kiwi, o plano de apoio à multiplicação do saco de cimento engravatado financiador de partidos do "Centrão", a Expo 98 e o Europeu de Futebol, continuámos, certamente, a viver do que... era nosso. Ele há que aprender com os melhores, seus gregos madraços e esbulhadores, ele há que aprender com os melhores...
Caro Ricardo Paes Mamede, a resposta política, ou melhor, a proposta política não pode ser apenas o enunciado de prudencia nem a tibieza estrita!! Varoufakis, como sabemos, não tinha nem resposta nem proposta política, reduzindo-se à condição de um diletante inveterado!!Pergunto, porquê continuar a citar vazios políticos!!?? Mais, indigências políticas!!
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