“Que conselhos têm os argentinos para dar à Grécia? Não saiam do euro. O antigo ministro
da economia Domingo Cavallo...”. É incrível como o Público, um jornal dito de referência, tenta enganar os seus leitores no editorial de hoje: Cavallo é certamente um dos economistas políticos mais odiados pela maioria dos argentinos, já que está associado a uma das páginas mais negras da sua história económica recente.
Da última vez que se candidatou a qualquer coisa, Cavallo teve pouco mais de 1% dos votos. Pudera. Enquanto Ministro de Carlos de Meném, foi responsável pela infame lei da convertibilidade, que culminou na indexação do peso ao dólar, um regime de taxa de câmbio fixa, que foi parte de um selvagem plano de neoliberalização gerador do desastre económico argentino do início do milénio.
A economia argentina só começou a recuperar quando reestruturou a dívida, saiu desse colete-de-forças cambial, desvalorizando a moeda, ganhando margem de manobra para uma política económica desenvolvimentista baseada sobretudo na dinamização do mercado interno, que produziu excelentes resultados para a maioria, quer em termos de crecimento económico, quer na sua tradução em bem-estar social, como indica este estudo.
Em 2010, Cristina Kirchner, essa sim uma digna representante do seu povo, como o saudoso Néstor Kirchner já o tinha sido, alertou o FMI para não fazer à Grécia o que tinha feito à Argentina. O notável Ministro da Economia actual, Axel Kicillof, repetiu o mesmo ainda agora. Não serviu e não serve de nada, claro.
É verdade que, como sublinham Joseph Stiglitz e Martin Guzman, o exemplo argentino pós-FMI só nos dá uma indicação imperfeita dos mecanismos que poderão impulsionar a sociedade grega em caso de ruptura, dados os desafios adicionais de gerir a transição para uma nova moeda, mas não deixa de ser uma útil indicação a seguir, infelizmente só depois de terem tentado tudo o resto.
Agora, o que dizer de um jornal que toma Cavallo pelos “argentinos”, que liga aos seus conselhos? O que dizer mais? Apenas isto: que parvo que sou por continuar a ligar à ziguezagueante linha editorial de tal jornal.
É uma linha editorial perfeitamente coerente com o seu apoio descarado ao PS de Costa.
ResponderEliminarUma boa denúncia dum jornal dito de referÊncia que se comporta como um pasquim as mais das vezes.
ResponderEliminarA linha editorial não é a de apoio a Costa.É de apoio a (quase) tudo que singre pela ala direita e pela ala que sirva os interesses desta (incuindo Costa). Com a pesperrência neoliberal da ordem.
De
Caro João,o Stiglitz refere o caso argentino para dizer que há vida para além do "default"e que mais difícil é a austeridade ("Hope vs. Depression:There May Be Life After Default",Common Dreams)-e o Krugman que há outra rampa de saída para a ruína,a Grécia não tem de ser um estado falhado e reverte o problema para a Europa que é o de lidar com a reversibilidade do euro (Truthout,"Greece Doesn't Have to End Up a "Failed State")são dois exemplos singelos que demonstram a inutilidade do pasquim.Saudações democráticas.
ResponderEliminarQue exemplo este ministro Caballo, ele mesmo a cara da fraude e corrupção do governo de Menem!|
ResponderEliminarMesmo com estes “conselhos” do Público, parece que a intenção de voto do NÃO (a mais medidas de austeridade da troika) supera a do SIM (venha de lá essa asfixia).
Isto significa que nada pode ser pior do que já está, para a maioria dos gregos. Para esses, que lhes interessa que os euros continuem a sair da Grécia?
Comunicação a zigzaguear é um perigo para a democracia.
ResponderEliminarNada como a linha recta para conduzir à 'verdadeira democracia' dos anti-democráticos.
Resta saber de que FMI estamos a falar. Ainda hoje saiu aí um documento que sustenta a tese do Syriza sobre a dívida grega. De facto nota-se que o FMI anda à pesca no governo Português, tal a facilidade de dizerem tudo e o seu contrário!
ResponderEliminarNão é o Público, são todos os jornais em Portugal. A única coisa que recomendo é que quem tem net fuja da imprensa e dos sites portugueses, a menos que o que procure seja validação dos seus preconceitos. A cobertura do Guardian tem sido exemplar, e o Voxeurop, pela sua natureza, também é um bom local para ir procurar informação (apesar de ser muito mais limitado desde que deixou de ser o Presseurop).
ResponderEliminarJá na questão de quem vai à frente, o conselho é mesmo esperar por segunda de manhã. Nenhuma sondagem fidedigna arrisca dar a vantagem a nenhum dos lados. É fácil perceber por quê, se pensarmos um bocadinho.
ResponderEliminarFMI admite perdão de dívida para a Grécia e mais 36 mil milhões de resgate europeu
16:05 Económico
Relatório preliminar de sustentabilidade da dívida grega aponta para a necessidade de credores europeus continuarem a apoiar Atenas.
http://economico.sapo.pt/noticias/fmi-admite-perdao-de-divida-para-a-grecia-e-mais-36-mil-milhoes-de-resgate-europeu_222644.html
Mendes de Carvalho
a infame lei da convertibilidade, que culminou na indexação do peso ao dólar, um regime de taxa de câmbio fixa, que foi parte de um selvagem plano de neoliberalização gerador do desastre económico argentino do início do milénio
ResponderEliminarConvem dizer que nem sempre um regime de taxa de câmbio fixa é desastroso. Há muitos países que utiliza(ra)m taxas de câmbio fixas. Por exemplo, os países balticos tiverem durante muitos anos taxas de câmbio com o euro fixas. A China teve taxa de câmbio com o dólar fixa, e a Arábia Saudita continua a ter. A Suíça também manteve durante alguns anos taxa de câmbio fixa com o euro. E assim por diante.
As taxas de câmbio fixas utilizadas pela Argentina não aparecem, a esta luz, como algo de tão chocante.
Não tendo conhecimentos de economia para poder fazer uma avaliação do editorial do Público como o autor do post, devo dizer que quer o estilo de redacção do dito (curto, limitando-se a citar quase as palavras do tal ministro argentino como uma espécie de velho do Restelo) me fez suspeitar imediatamente que por detrás desse editorial não estaria em causa uma tentativa de analisar a crise grega de forma desapaixonada e crítica, mas sim uma tentativa mais "scaremongering (passe o anglicismo). Obrigada por descodificar o truque.
ResponderEliminarContinuem com o bom trabalho
o josé é um completo anti-democratra, mas o que nos lixe é que esteja reformado ou que não trabalhe. Vem para aqui fazer-nos perder tempo com os seus apelos ao ódio e ao autoritarismo boçal.
ResponderEliminarUm dos 'sucessos progressistas' da América do Sul tem uma taxa mais ue fixa como o dólar, tão fixa que usa o dólar (USD) como moeada - Equador!!!
ResponderEliminarVale tudo para impôr o pensamento único!
19.00 só se lhe ligares. Se ignorares vais ver que com o tempo ele vai para outra freguesia.
ResponderEliminarO delicioso da pequena tirada do das 19 e 56 é que o seu pensamento e acção estejam acantonados precisamente num "pensamento único" - a austeridade uber alles e os mandamentos troikistas, a cumprir custe o que custar e se possível ainda mais longe que. Até crisma os que não lhe seguem os mandamentos de "pulhas"
ResponderEliminarEnfim, a via do caminho único desembocando nesta pequena manifestação de incontinência cognitiva
De
Já tinha notado que, lá no Público, a linha editorial andava um bocado "agarrada" ao Cavallo...
ResponderEliminarEu sou assinante do Público, mas estou muito desgostoso com a sua orientação jornalística e não é de agora, já vem de trás da época do José Manuel Fernandes.
ResponderEliminarE cada dia que passa a sua colagem ao Poder Financeiro é maior e despudorada. Assim como a SIC o que não surpreende pois o seu fundador é o nº 1 dos Laranjas.
Enfim a vergonha mata, mas a falta dela, não.
O meu desejo(muito infantil) é que a Grecia nos possa dar uma real imagem do que será sair do euro. Gosto de opinioes o mais variadas possiveis e se contarias as minhas melhor. Quando tenho falta de auto estima falo ao espelho e concordo com tudo o que ouço.
ResponderEliminarSempre os membros do coral se incomodam com vozes dissonantes.
ResponderEliminarSempre atribuo essa dependência de se ouvirem em eco a frouxas convicções.
vozes dissonantes José; eu que não vivi o 25 de abril com consciência tenho a certeza absoluta que agora sim, perdemos a democracia à custa dos bobos e claques da direita e do ps de igual jaez.
ResponderEliminar… Mas deixem os gregos votar!
ResponderEliminarNunca ví tanta pressão no sentido de impedir que ocorra uma simples votação. Vem de dentro da própria Grécia, é a partir da União Europeia, é da maior parte dos media.
Tanto democrata de pacotilha, tanto arauto da “cidadania governante”, tanto palavreado folclórico, mas todos a quererem “impedir” o referendo, custe o que custar.
(o positivo nisto tudo: os tiques autoritários, que desfazem por completo, as aparências)
As receitas económicas do FMI são sempreas as mesmas. São a aplicação do Chicago`s Boys de Milton Fridemenn e que levam os países sobre sua tutela à degradação económica.É a história contemporânea que nos diz.Os estados que quizerem ser independentes devem urgentemente criar uma alternativa ao FMI
ResponderEliminarOuviu-se em eco o das 1 e 44.
ResponderEliminarSe frouxo ou não é cousa pessoal, que não interessa para aqui.
Continua a ser delicioso ouvir falar em vozes dissonantes quem andou e anda para aqui a pregar sistematicamante a via de sentido único. E a invectivar os que não lhe seguiam ou seguem os processos e os amores.
Estou a falar concretamente no jose mais as suas certezas troikistas e submissas aos mandamentos únicos duma europa em que o fundamentalismo neoliberal é a regra
Entretanto os membros do tal coral são mesmo "não só o Público, mas todos os jornais em Portugal"
Não ver isto é estar cego ou querer ser cego.
Fica apenas o registo da incongruência espatafúrdia...mas sublinhe-se...deliciosa
De
Isso de o Público estar cada vez mais conotado... Quer dizer, sendo o patrão quem é o que admira é como o Público ainda é dos jornais com maior pluralidade de opinião no mercado português, mesmo com editoriais como este que se demonstra aqui. Quem se mude para o DN a única voz dissonante que ainda por lá se lê são as pequenas intervenções do Viriato Soromenho Marques. Outros jornais, como o i ou o CM, levam ainda mais longe o seu enviesamento. Se os considerarmos imprensa séria claro (mas têm de ser considerados, porque o alcance, oh! o alcance!).
ResponderEliminarE isso não é muito diferente do que se passa na Grécia. Na Grécia o sim vai ganhar porque os barões da imprensa ( ;) ) estão com um dos lados e isso sente-se nas notícias que chegam ao comum dos cidadãos que não tem literacia cibernética para se informar. Porque os outros, os outros, como em Portugal, já fugiram...
Há por aqui gente que enche a boca com democracia em termos tais que duvido que algum dia tenham tido luzes mínimas de ética e honestidade pessoal.
ResponderEliminarEm termos gerais a coisa pode ser descrita assim: as pessoas adquiriram meios e nível de vida sem nunca se terem questionado como tais meios lhes foram facultados ou como tal nível pôde ser atingido.
Quando se comprova que tal ocorreu porque alguém emprestou dinheiro a democracia entra em funcionamento para garantir que tais meios permanecem disponíveis e mantido o nível de vida; verificado que para que tal seja possível requer não só não pagar a dívida mas obter mais empréstimos, recorre-se à democracuia para decidir que outros continuem a emprestar.
Ser democrata resolve todos os problemas e o FMI só atrapalha porque não respeita as democracias.
Simples, rápido e muito compensador!
R.B. NorTør disse, no jornal i tem sempre o Tiago Mota Saraiva e o Jorge Bateira, sempre é menos enviesamento que no Público.
ResponderEliminarMas é um pouco verdade que todos os grandes órgãos de Comunicação Social Portuguesa estão ligados aos interesses da grande Finança. Há uma excepção de registar o Canal de Cabo "Q". Ali há pluralidade e muita crítica bem humorada e construída.
ResponderEliminar18.56 - Esqueci o Jorge, o Tiago não conheço. Também gosto da Ana Sá Lopes. Mesmo assim acho o Público mais plural, basta ber o leque de cronistas.
ResponderEliminarContinua o espectáculo "delicioso" de ver um fulano que insulta os que não seguem os mandamentos troikistas (chamando-lhes concretamente de "bestas " e ameaçando-os com a "força bruta") vir invocar a "ética" e a "honestidade pessoal.
ResponderEliminar(ver aqui: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/12/se-te-mexes-morres.html)
( deixemos para lá essa questão filosófica dss "luzes mínimas de Ética" que só por si confere um estatuto particular à forma como um ou outro abordam questões de que só conhecem o que escutam dos pasquins de serviço )
Vejamos mais um pormenor delicioso. A fuga. De repente deixámos de discutir os plumitivos de serviço e as "vozes dissonantes", (vozes que de tão tolas e ridículas são perfeitamente insustentáveis) para um discurso n vezes repetido pelos órgãos de informação ( e daí também o caricato da questão) e pela governança servil e serventuária sobre as qualidades dos agiotas e dos que "emprestam dinheiro. Quer dizer, de súbito deixámos para trás a atitude "piegas" de se considerar os demais como portadores dum pensamento único ,para um discurso que replica ipsis verbis o tal pensamento único. e que o faz , diga-se em abono da verdade, como é hábito entre as hordas neoliberais, de forma primária e desonesta.
Abandonámos o tema, passámos à cassete e ao slogan.
Com uma qualidade" todavia relativamente ameaçadora. É que é convocada a "democracia" para a confrontar com os agiotas e com o FMI , subalternizando aquela e defendendo de forma trauliteira precisamente os agiotas e o FMI.
Daqui ao questionar das (frágeis ) estruturas democráticas vai um passo. Que tal derive de gente que se formatou no Estado dito Novo e que assume a defesa dos grandes interesses económicos permite ver com maior nitidez o risco do que está em jogo. E é a barbárie que desponta por trás de tal tipo de discursos
De
Vejmaos como o discurso ou melhor, a cartilha neoliberal rebenta por todos os lados e assenta na lama mais abjecta e mais demagógica.
ResponderEliminar"as pessoas adquiriram meios e nível de vida sem nunca se terem questionado como tais meios lhes foram facultados ou como tal nível pôde ser atingido."
Veja-se o carácter da questão. "As pessoas". Generaliza-se para depois tentar generalizar-se a "cobrança" a todos. O que é um tremendo disparate e má-fé autêntica. Nem foram todas as pessoas como alarvemente se pretende fazer crer, nem pagam todas. Mais. Foram os próprios "financiadores" que muitas vezes promoveram de forma ilegal, criminosa, mafiosa, fraudulenta as dívidas aos demais. Veja-se o caso exemplar da Goldman Sachs na Grécia e a forma como manipulou a realidade económica e como subornou á governança de turno.
Mas há mais. Parece que o pecado também reside nas "pessoas não se terem questionado". É verdadeiramente espantosa tal afirmação. Um passa-culpas para "as pessoas" enquanto se silencia e não se questiona o saque às riquezas do país e às pessoas pelo poder político e económico que precisamente jose apoia Porque não se questionaram eles dos processos fraudulentos e criminosos que usaram? O BPN e os Swap e as PPP e as rendas cobradas ao estado e os juros das dívidas? Porque motivo têm as pessoas que pagar os desmandos do ricardo salgado ou dos mellos ou do banco laranja do BPN ou dos submarinos do Portas ou os "esquecimentos" do passos no pagamento à segurança social?
Quem ganhou com toda esta história? Que fortunas foram feitas? Quando eram denunciados os proventos escandalosos dos maiorais do regime, jose por exemplo, dizia que era apenas o "retorno justo" e a "retribuição adequada" pelos seus "contactos".Nessa altura não questionava o motivo pelo qual "as pessoas" tinham que pagar os desmandos dos seus e as autênticas fortunas geradas e consolidadas pela governança em exercício.
De
Uma última nota a respeito doutra frase;
ResponderEliminar"porque alguém emprestou dinheiro "
Eis o bezerro de ouro. O empréstimo a ultrapassar tudo e todos. Mesmo a própria democracia. Mas vejamos. Quem emprestou não devia assumir os riscos do empréstimo? Então porque motivo quem emprestou tem os seus riscos protegidos e as dívidas do estado aos pequenos, aos que vivem do produto do seu trabalho não são acauteladas? Porque motivo as dívidas em salários e em pensões são escamoteadas e são preteridas em função dos grandes interesses? Porque motivo o estado rouba salários e pensões e reformas e estes roubos não têm o seu retorno? O produto do trabalho é para todos os efeitos um bem que resultou dum contrato. Porque motivo este contrato é rasgado pelo estado e as "dividas" aos tubarões, aos especuladores, aos agiotas são para cumprir religiosamente?
E aqui deriva outra grande questão. Que parte da dívida é legítima e que parte a não é. Porque motivo temos que pagar as aventuras criminosas dos banqueiros e da banca? ou porque motivo temos que pagar os proventos tão elogiados pelo jose, do Borges ou do Catroga ou os submarinos do portas ou as acções do cavaco ou os negócios sujos do passos ou os swap da Albuquerque? Ou as rendas resultantes das negociatas entre a governança e os interesses privados?
Um último reparo. Nada disto é verdadeiramente novo. Há cerca de 60 anos, 70 países decidiram perdoar quase dois terços da dívida externa alemã. Mais perdões de dívida são registados na História.
(E outros perdões ocorrem consecutivamente mas destes não se fala nunca, até porque agravam a situação económica do país e confortam algumas bolsas. São os enormes perdões fiscais concedidos a grandes empresas. Para benefício duma elite que também ganha imenso dinheiro com os "negócios" da dívida. Mas isso fica para depois)
De
Mesmo que não haja um perdão tão considerável da Dívida -fala-se num valor próximo dos 50%- se os prazos e os juros dos pagamentos se estenderem por períodos aceitáveis a Dívida será perfeitamente pagável até porque os valores correntes sofrerão inevitavelmente inflação ao longo do tempo e assim a resposta será ainda melhor.
ResponderEliminarAgora impor pagamentos insuportáveis de Dívida e ainda assim com a imposição do sacrifício de enormes camadas da População, é, como disse Varoufakis, autêntico Terrorismo de Estado imposto pela Finança Mundial. É o caminho da miséria. E não é nenhuma treta ela anda por aí é só estar atento aos sinais.