sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sair


Perante a perspectiva de uma mais uma ronda de austeridade deflacionária, Costas Lapavitsas, que actualmente é deputado do Syriza, escreveu ontem um artigo oportuno no The Guardian, de que traduzo rapidamente o excerto final (já agora, é útil também para certas esquerdas portuguesas que ainda queiram dizer algo de relevante neste campo daqui até Outubro, superando as performances penosas dos últimos dias e que, caso contrário, estão para ficar): 

“A verdadeira questão é a seguinte: será que o Syriza irá aceder às exigências dos credores? Será que se submeterá à chantagem? O Syriza ganhou as eleições de Janeiro de 2015 com uma estratégia que prometia acabar com a austeridade e trazer mudanças radicais à Grécia, permanecendo na Zona Euro. Acreditou que o seu forte mandato democrático o ajudaria à ser bem-sucedido nas duras negociações com os credores. A realidade provou ser bastante diferente, com os credores a usarem o quadro da Zona Euro para criar uma crise de liquidez e de financiamento que enfraqueceu o lado grego. Ao mesmo tempo, tanto os credores como as forças internas que querem continuar com a austeridade – incluindo, sobretudo, os ricos e a elite financeira – continuam de forma desavergonhada a assustar as pessoas sobre o impacto da saída da Grécia do Euro. Confrontada com o poder do dinheiro, a estratégia do Syriza está a desfazer-se.

A Grécia e o governo do Syriza confrontam-se agora com a dura realidade da Zona Euro. Para manter o país na união monetária, os credores exigem que este se submeta à chantagem e aceite políticas que conduziriam ao declínio nacional. A sociedade grega enfrentaria baixo crescimento, desemprego elevado, pobreza enraizada e emigração da sua juventude qualificada, como de resto a experiência dos últimos cinco anos demonstra.

Existe um caminho alternativo para Grécia. Este inclui sair da Zona Euro. A saída libertaria o país da moeda única, permitindo-lhe adoptar políticas que revitalizariam a economia e a sociedade. Abrir-se-ia um caminho realizável que ofereceria uma esperança renovada, mesmo que tivéssemos de enfrentar dificuldades significativas de ajustamento no período inicial.

A escolha em última instância cabe ao povo grego. Apesar de sondagens frequentemente divulgadas, supostamente indicando um forte apoio ao Euro, a realidade no terreno é de revolta e de frustração entre os trabalhadores, os pobres e uma classe média depauperada. Estes são os sectores que podem colocar o país numa trajectória de crescimento com justiça social. Neste contexto, cabe ao Syriza repensar a sua estratégia e liderar de forma renovada o povo grego. Nos próximos dias, é certa uma intervenção significativa da sua influente ala esquerda, a Plataforma de Esquerda. A Grécia necessita de um debate urgente e de uma mudança de política. O país tem a força para sobreviver e sobreviverá.”

13 comentários:

  1. Temos de um lado quem diz "ou me emprestam (dão) mais dinheiro, ou eu acabo com a UE", e do outro lado quem diz "ou tu fazes o que eu digo ou não te dou mais dinheiro".
    Não tenho dúvidas sobre quem está a chantagear quem.

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  2. Do ponto de vista interno (de Portugal) a situação Grega já teve o mérito de esclarecer um ponto: não há alternativas dentro do Euro e, nesse sentido, a coligação PSD/CDS teve e tem razão (repito, neste ponto).

    Agora a Grécia prepara-se (dolorosamente) para demonstrar um segundo ponto: a saída do Euro não só não vai resolver nenhum problema (da Grécia) como vai arrasar a economia e a sociedade grega. De um momento para o outro. No fundo é esta a alternativa à austeridade (leia-se, cortes na despesa para défices orçamentais limitados).

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  3. Stardust
    vê-se mesmo que ou não queres ou não consegues lá chegar
    muita dust pouca star

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  4. “Esta toirada, UE vs. Grécia faz lembrar as largadas de toiros – só são boas quando há mortes e feridos”. Infelizmente!
    A Rifa saiu ao povo Grego. Mas a roleta do grande capital não para – os portugueses que se cuidem.
    Com os dados viciados na posse do PSD, não pode o PS lança-los…pois são os mesmos dados.
    Uma mudança radical? Uma implosão?
    Há milénios de lutas, revoltas e guerras para voltar ao mesmo de sempre… e não se cansam…E ainda dizem que a história não se repete…
    Enfim, e´ a vida! De Adelino Silva


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  5. Caro Anónimo que respondeu às 10:54,
    Importa-se de elaborar o seu comentário para me tentar explicar o seu ponto de vista.
    Considero-me uma pessoa inteligente e, com argumentos válidos, certamente conseguirei "lá chegar".

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  6. Como toda a esquerda estúpida, o Syriza nem se decide a gerir o capitalismo nem se propõe implementar o socialismo.
    Fica nas meias-águas de espantar o capital e de entreter com tretas as classes com poucas ou nenhumas posses.

    E o que pede à Europa é que se substitua ao capital que espantou e subsidie as promessas que fez.

    Entretanto faz nada de significativo pela organização do Estado. Um exemplo do que valem os treteiros.

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  7. Stardust, ambos os lados nas negociações têm maneiras de fazer chantagem, pois é assim que têm poder negocial. Este é o 1º ponto.

    Depois, no meu entender quem tem mais poder negocial, ou seja, quem tem capacidade para fazer de facto uma chantagem (dentro do euro) são os credores, porque a Grécia não é totalmente soberana (não tem banco central soberano). O parlamento grego ainda é Soberano, esse sim.

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  8. Ambos os lados têm os seus argumentos negociais, mas só um dos lados está a chantagear. Mais poder negocial é sempre relativo às expectativas e não é sinónimo de chantagem:

    "chantagem, Extorsão de dinheiro ou favores com ameaça de escândalo ou outras consequências nefastas, no caso de negativa."
    in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/chantagem [consultado em 26-06-2015].

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  9. Pois, tem toda a razão, só a UE é que está a chantagear e à margem dos tratados europeus para que a Grécia seja o único país a cumprir os tratados economicamente idiotas sobre o euro.
    A verdade é que o Syriza quer pura e simplesmente que se siga as mais básicas e elementares teorias económicas para que as próximas gerações tenham esperança de viver melhor, ao contrário da ideia Europeia inscrita no TO de mais austeridade por 50 anos. Só quem não sabe ler nem fazer contas é que acha o contrário.

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  10. Quando acabam os argumentos chama-se analfabeto a quem tem opinião contrária.

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  11. A Direita estúpida nunca desarma. Como verdadeiros treteiros, falsos e mentirosos continuam a sonhar com a instauração da escravatura expressa, aliás, entre outros, no tratado orçamental. A saida do euro é, por isso, o melhor caminho para os Gregos mas também para Portugal.
    Claro que a direita estúpida (ela é toda estúpida, diga-se) a acontecer a saida da Grécia tudo irá fazer para boicotar a sua recuperação económica porque isso irá demonstar a armadilha que é o euro e fazer acelerar a saída de outros países. Que assim seja e o mais rápido possivel.

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  12. Stardust, então acha que os credores não estão a ameaçar também com a recusa de empréstimos? E só emprestam se os gregos cumprirem o programa económico dos credores que a democracia sem soberania monetária não tem muito poder... Isso não é uma ameaça e uma chantagem? Chantagem é alguém querer forçar algo através do recurso a outras medidas punitivas. "Ou fazes isto, ou então vai acontecer-te aquilo".
    Acha que o BCE pode muito bem cortar o cordão umbilical ao sistema bancário grego e que é normal?
    A UE é, ou pelo menos devia ser, uma União europeia. Uma união.

    A Grécia não acaba com a UE, poderia era sair.

    Eu tenho a sensação que nesta discussão uma grande parte das pessoas cai no erro de achar que os direitos dos credores são mais importantes que o resto. Até que ponto têm que ser responsabilizados os gregos?

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  13. OS POVOS...NÃO ACABAM!

    AS CRIAÇÕES DOS "FEUDAIS ILUMINADOS",

    É QUE TÊM DE ACABAR.

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